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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Felicidades e preocupações

Hoje tive um dia daqueles!De manhã vieram as crianças quase todas, cerca de 15, mas faltaram que me lembre, faltaram 2, a mais importante um recém nascido de mãe cigana, que só na altura do parto se descobriu estar infectada com hepatite! Nas famílias ciganas a vida tem outra dimensão, as mulheres dependem dos homens, não vão a uma consulta sózinhas, e este problema, a infecção, só ter sido diagnosticada no parto anda a criar problemas naquelas cabeças, espero que não aconteça nada. Na próxima semana temos que ir novamente a casa deles, já faltaram 2 x seguidas. Família muito jovem, este é o seu 2º filho, não sei quais são os seus rendimentos, não sei se andam nas feiras, não sei nada, mas trago esta preocupação para casa. A enfermeira que esteve comigo, não é a minha habitual, nem deu conta que as crianças faltaram, nem sequer se preocupou, se fosse a minha habitual este problema já tinha tido um encaminhamento hoje e eu não vinha preocupada. Ninguém trabalha sózinho, o nosso trabalho depende em 90% da nossa equipa, os 10% restantes têm a ver com a nossa capacidade. Depois o que mais me preocupou hoje? Este dia quase nem me deixou respirar, deixei muitos papéis para arquivar, informações para escrever, pedidos de consultas para enviar, se tivesse uma secretária só para mim, não trazia na cabeça trabalho em falta, mas não tenho, nem vou ter. Às vezes apetecia-me pensar que podia decidir no meu trabalho, e se assim fosse , tinha uma secretária a tempo inteiro e uma enfermeira e tomava conta de 3000 utentes, mas não posso, não é isso que está estipulado na nossa vida diária num centro de Saúde, por isso tenho que andar mais devagar. Não quero pensar mais no trabalho, amanhã é feriado, vou descansar e se as lojas estiverem abertas vou fazer compras de Natal no comércio local, com toda a calma, com o meu PQ, as filhas não vem, porque na 6ª feira trabalhamos todos.
O tempo frio finalmente chegou; como eu gostava de ter uma Natal com toda a família, já vai ser bom, ter as filhas e os seus companheiros, de 4 passamos a 6, agora é só esperar pelos netos e a nossa casa volta a estar cheia de amor e alegria, quem me dera ser capaz de ser tão boa avó como a minha mãe foi, e a minha avó, e as minhas bisas, tinha muita gente em casa e era muito bom. A minha avó Cachica, porque o nome era Francisca, e ficou assim, Cachica, era mãe da minha avó Maria Antónia, que era mãe da minha mãe, era uma querida, mas fazia muita asneirola, o meu pai naquela altura passava-se, e eu achava que ele não era nada compreensivo, que mal fazia ela fazer chichi de pé no quintal, ao pé da loiça que estava para lavar? A loiça lavava-se e ficava do melhor e a minha avó também, não andava inibida, porque ela antes de estar na nossa casa, sempre viveu no monte, e estava habituada a andar à vontade, só que o meu pai nunca a entendeu, nunca a desculpou, e mais, conseguiu que a minha mãe a impedisse de lavar a loiça, ela ficou aborrecida, mas fez de conta que não estava; para ela não ficar triste a gente jogava todas as noites às cartas, isso é que era uma paróida, mas o sono pregava-me partidas e a maior parte das vezes eu adormecia ao canto do lume, era muito agradável.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Conhecimento

Os números baralham-me. A questão que é simples é esta: a causa de morte por cancro gástrico nos 5 centros de saúde do Alentejo Litoral, é de 20 casos novos por ano, com uma idade média de 69 anos e uma mortalidade aos 388 dias, quer dizer que no panorama Nacional também estamos dentro da média. Se por um lado ficamos descansados, andamos na média, valia a pena tentar diminuir, sabendo nós que os números tem tendencia a diminuir quanto mais cuidada for a alimentação com a redução do sal e o aumento da fruta e dos vegetais. É de tal maneira verdade que os países desenvolvidos já não fazem estudos sobre este tipo de cancro, e os estudo mais actuais publicados são da Coreia, os de Portugal, os últimos que li são de 2006. Dá que pensar e não sou de Saúde Pública.
Estou um bocadinho cansada, andei por Lisboa com a minha filha maior e soube-me muito bem, mas ainda tenho que ir fazer um trabalho sobre Buling, amanhã conto.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Ignorâncias

Tudo está a mudar muito rápidamente à nossa volta, ouvir o que diz o Dr.º Medina Carreira, a gente percebe bem o que ele diz e fica assim, então vamos viver como? Percebemos que há muita gente a trabalhar no Estado, digamos que há muitos funcionários públicos, percebo! Não percebo ainda porque será que todos os países têm dívidas, todos sem excepção, mesmo os EUA mesmo os doidos dos alemães que é um povo que não gosto, fica mal dizer isto assim, mas fazem-me sentir mal, quando estão connosco; estive uns dias em Frankfurt com as filhas e o meu PQ, durante o dia almoçávamos fóra, no sítio onde andávamos a passear, mas que dificuldade! Parecia que não entendiam o nosso Inglês, não queriam sequer falar senão alemão, quando alguns dos empregados dos restaurantes deviam ser talvez até Portugueses? Será? Ainda fico pior, quer dizer, até os trabalhadores se fazem passar por alemães?
Continuo a ouvir o Dr.º Medina Carreira, e parece que não vamos nunca mais ter subsíduo de férias nem de Natal, lembro-me que antes do 25 de Abril, o meu pai trabalhava muito, todos os dias, mesmo ao sábado e às vezes ao domingo, nessa altura não havia férias, e claro que não havia subsíduo de coisa nenhuma, a Ti Marcena não tinha direito a nada, não tinha qualquer reforma, vivia com as moedinhas e a caridade das vizinhas, a minha bisavó, a Avó Galucha que eu adorava, era bem velhinha e lavava roupa, e fazia limpezas no quartel da GNR, e toda a gente gostava muito dela, sempre trabalhou até à altura em que o seu adorado cão foi morto e ela passados 15 dias, teve uma AVC, acho eu agora, e ficou acamada. Quem tratava dela éramos todas nós, eu, a minha mãe e de vez em quando a minha avó Maria Antónia, e ela um dia faleceu, ficámos com ela durante a noite e no dia a seguir foi o funeral. O meu Avó Luís, seu filho, acho que chorou mas eu nunca vi. Nessa altura, já não me lembro se ela já tinha morrido, ou se estava em coma em casa, nunca foi para o Hospital, foi observada pelo Dr.º Canelas, feito o diagnóstico e era apenas esperar o desfecho habitual, mas estava eu a lembrar-me que nessa altura, havia a festa do 5º ano do colégio, e o meu avô que me conhecia muito bem, veio falar comigo, para me dizer que eu devia ir ao baile, porque a minha avó não ia querer que eu ficasse em casa; fiquei tão contente com ele, seria a única pessoa que me podia deixar ir, e com essa conversa fui e fui feliz.
Se passarmos a não ter direito a subsíduos, não fico preocupada, não queria era perceber que as pessoas iam ficar cada vez mais pobres e outras cada vez mais ricas, porque agora já não há vizinhos, e deve haver algumas Ti Marcenas que vão ficar sem moedinhas.
Tudo muda tão depressa à nossa volta, mas quando vamos a olhar melhor para a situação compreendemos que afinal não há grandes mudanças, é se calhar os círculos que todos temos à nossa volta, uma vez estamos mais em cima, outras vezes estamos mais em baixo, e se formos capazes, cada vez vamos tendo círculos cada vez mais pequenos, mais pequenos e deixam de existir, qual é a religião que explica a vida com círculos? Sei muito pouco, bem me parecia.

domingo, 27 de novembro de 2011

Medos

Não sei o que sinto, tenho um nó no meu corpo todo, sinto-me ainda com medo. Medo é uma coisa que não nos deixa respirar, nos perturba a alma, nos perturba o raciocínio, se pudesse ver-me por fora de mim, diria que estou em posição fetal, toda enroscadinha, a proteger-me. Medo é irracional, mas também sempre foi protector, senão o Homem Sapiens não tinha vencido e resistido, protege ainda hoje, não precisava era de ser tão demorado a ir embora. A filha já chegou da sua longa viagem, já a vi e senti bem perto de mim, mas continuo com medo que não esteja bem, que não esteja feliz, também eu ainda a quero proteger, nem sei bem do quê, quando esta protecção é primária, porque a filha é grande e para se tornar ainda mais autónoma tem mais é que viver liberta das minhas saias. Racionalmente sei isso tudo, sei que estou errada com esta necessidade de querer a felicidade eterna, emocionalmente é-me dificil gerir emoções. A Alice diz que eu estou a evoluir, que uma parte de mim já consegue lidar muito melhor com as emoções e com a minha necessidade de controlar tudo e todos, mas ainda não saí do 1º degrau, e pelo que me apercebi deveria subir até ao 12º degrau, ainda que nem todos o sejam capaz de fazer. Meu Deus, se até agora ainda não passei do 1º a minha tarefa de aprendizagem ainda práticamente não começou. Não vai ser fácil, mas como não é impossível, cada dia vou tentando um pouco mais.Não sei ainda bem a que é que a Alice se refere, que percurso é este, poderei fazê-lo na minha estradinha de conforto ou vou ter que sair dela? É um percurso de conhecimento e prendizagem do eu interior e do mundo espiritual? O tempo vai-me explicando, não preciso ter pressa, basta estar atenta, não vá cair do 1º degrau.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Desde os Romanos

Hoje foi um dia muito calmo, não fiz greve porque o feriado municipal coincidiu, se assim não fosse, não sei se faria; já me tiram todos os meses 10% do meu ordenado, fiquei sem uma boa parte do subsídio de Natal, para não ficar triste vou ficar sem o de Natal e o de férias durante 2 anos consecutivos, é já para a gente se habituar. As horas extraordinárias do próximo ano vão ficar por metade, que mais quero? Sei que tenho trabalho, e ainda melhor que isso é que gosto e estou viciada, sinto falta quando estou alguns dias sem trabalhar, gosto de tudo o que faço. Gostava de receber o que me era devido, tudo bem, gastámos além das nossas possibilidades, se formos a perguntar quem foram os responsáveis, não vamos ser capazes de os encontrar, por mim nem os procuro, sei quem são: todos nós. Já uma vez escrevi esta frase, espero que não me torne aborrecida: na altura em que éramos uma colónia de Roma, o general romano que tomáva conta desta terra, dizia para os seus superiores hierárquicos: "é um povo que não se governa nem se deixa governar". Só depois é que apareceu o D. Afonso Henriques, o Sócrates, o D. Dinis, o Mário Soares e agora os alemães e os franceses cheios de ideias brilhantes, para mim são todos iguais e nós também não deixámos de ser o mesmo povo: mas quem quer ser governado por estes cromos?
Gostava que - na verdade não precisamos de quase nada para ser feliz, passo bem com uma açordinha por dia, uma fruta, roupa assim pouco mais ou menos nova, que eu ácerca desse tema já sou doutorada e dinheiro que baste, preciso é de mimo, de cólo, de sentir - me acompanhada e de poder trabalhar, o resto são - peanuts (está bem escrito?), do resto eu percebo que anda tudo a ver se se safa, alguns conseguem acalmar a alma com trabalhos para a comunidade, voluntariado, mas a comunidade começa na nossa casa, e só podemos dar o que temos, é primeiro em nós que temos que apostar na mudança, mas agora a esta hora já não quero pensar mais nada, amanhã é outro dia e a minha filha vem no outro, por isso vou ficar muito ansiosa, muito fraquinha e de certeza muito feliz, depois conto.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Injecções

Hoje sinto-me muito cansada, muito fraquinha. Quando era bem pequena, antes de entrar para a escola primária era muito magrinha, só pele e osso, brincava o dia todo, recordo-me que às vezes comia à pressa para ir para a brincadeira, mas sem dar muito nas vistas, senão era certo e sabido que havia lição de moral, o meu pai ralhava com a minha mãe porque eu não estava sossegada??? Porque não ralhava directamente comigo??? Bom, mas como era muito magrinha, e como o Padrinho Martins era veterinário, a minha madrinha Toninha (nomes há muitos, ninguém vai saber quem é, e se se souber, paciência) resolveu aprender a dar injecções; não sei bem porquê mas a cobaia fui eu. De modo que o Padrinho receitou as vitaminas, ela dáva-me a injecção diariamente para ver se eu melhorava, e eu achava bem, doía que se fartava, mas como era a minha madrinha a dar-me estava tudo bem, logo nessa altura devia ter-me apercebido que eu não era muito "boa da cabeça". A seringa e a agulha eram do médico da Miseridórdia, o meu vizinho, Dr.º Guedes, mas ele acho que nem sequer sabia, quem fervia a seringa e a agulha era a minha avó Maria Antónia num tachinho de esmalte mesmo próprio, mas quem as trazia era a que fazia de enfermeira, a ...Bia??? estou a lembrar-me lindamente da cara e do corpo, mas o nome, não sei! Aquilo era uma festa, primeiro ferviam-se os instrumentos, agulha grande e gorda, seringa enorme de vidro, o líquido uma boa quantidade e a habilidade da aprendiz não sei, na verdade não guardo lembrança da dor, se calhar estava tão contente que nem tinha dor! Maria Custódia, parece que era o nome da ajudante, mas tanto faz, o meu rabo devia ser bem pequeno, a seringa enorme, e nem um ai. Engordei? Não, fui crescendo sempre na mesma, magrinha, mas aos nove anos, quando fui menstruada comecei a ter umas pernas mais gordinhas e um corpinho diferente, e as pessoas perguntavam à minha mãe:
- Joana, então a Maria Celestina já é menstruada?
- Já já minha prima, ou ...

Naquela altura, Cabeção em peso tinha de certa forma uma ligação familiar, era quase tudo da mesma família. Mas porque é que não falavam directamente comigo?
Sinto-me tão fraquinha, não estou magrinha, mas talvez me fizesse bem levar uma dúziazinha de injecções, mas dadas pela madrinha.
Agora ninguém pergunta nada, sei que já não estou pele e osso, mas sinto-me tão fraquinha, a precisar de tanto mimo, não me importava de ser eu mesmo a responder:
-Já já minha prima, ou...

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Equilíbrios

A nossa vida gira à nossa volta em círculos, e é preciso que a gente se dê conta que os círculos não nos apertam muito e não nos estrangulam; quero eu dizer que nós precisamos de comer, de tomarmos banho, cuidarmos da nossa higiene, de tomar conta da nossa casa e dos que vivem connosco, e também precisamos de dormir e de trabalhar, claro! Ora bem, com tanta actividade como fica a nossa cabeça? ÀS voltas, eu sinto-me muitas vezes tonta, e preciso parar para encontrar o meu equilibrio e poder erguer-me e sentir-me em paz comigo. Para poder sentir-me bem, preciso de ter à minha volta um círculo de amor e bem estar, preciso de me sentir bem na minha pele e preciso de dormir e muito; sei que não sou muito preguiçosa, só o necessário, mas o sono é o meu "elixir para a vida eterna". Ontem dormi a sesta e hoje também, conclusão, tenho o meu intestino agradecido, a funcionar tranquilamente e isso faz-me sentir muito feliz; quando não durmo o suficiente, o intestino não trabalha e ando 4 e 5 dias, à espera à espera até que o desenlace se dá nos sítios menos próprios, podia não falar desta questão, mas a verdade é que sinto-me tão bem hoje, com o intestino livre e agradávelmente limpo, que acho que fui abençoada; não, sei que tudo isto se deve a um sono reparador e equilibrado, e não me venham com cantigas a dizer que se levantam às 4 h da manhã ou que só precisam de dormir 5 h por noite, pois mas que também, cada um acredita no que quer, e vê o que quer, eu também, e trabalho todos os dias. Bom, isto vem a propósito de uma jovem que hoje vi na consulta de saúde materna, acompanhada do actual companheiro. Vai em 2ª gravidez e sente-se muito irritada, com vontade de bater em todos e em tudo, sem paciência; falou, falou e fui apontando as palavras que ela ia dizendo sem fazer uma selecção e quando me pareceu que já tinha material para falar, falei um pouco, talvez mais do que devia, sempre o mesmo erro. Esta jovem, viveu uma 1ª gravidez pouco gratificante, nasceu o bébé que agora já está grande, e segundo contou, o ex faz-lhe a vida ainda negra porque faz tudo para a arreliar? Pequei só nisto:
-Arreliar porquê?
-Porque quando vem buscar a filha é só para me chatear, em casa no fim-de-semana não lhe dá atenção e e e, um rol de defeitos; até já tinha tentado conversar com ele, mas sem êxito.
-Conversar para quê?
-Para ele entender o mal que está a fazer à filha e a mim!
-Mas quando se separaram foi por isso mesmo, não foi?
-Foi!
-Se nessa altura não conseguiu que ele a entendesse como é que agora vai conseguir?
-Pois é, tem razão!
-Não quero ter razão quero é que pense. Para que o quer mudar? Quer voltar para ele?
-Nem pensar!
-Então já pensou que se calhar é mais importante perceber porque fica tão aborrecida com a presença dele? Ainda não sarou a mágoa que lhe provocou a vivência com ele, talvez valesse a pena, primeiro e antes de tudo livrar-se dessa mágoa!
Concordou comigo, as lágrimas pararam, vamos ver na próxima consulta o efeito que esta conversa provocou. Normalmente, levamos a vida a tentar modificar o comportamento dos outros, e nunca achamos que precisamos mudar, porque a nossa verdade é bem mais importante. Pois é, antes de tudo olhemos para os nossos círculos, os que nos envolvem diáriamente e tentemos ser mais compreensivos, mudemos a força com que nos sentimos presos, vamos ficar bem mais tranquilos e sábiamente em paz. Mas é difícil.

domingo, 20 de novembro de 2011

Portais

Quando o frio aperta, a minha Carlota torna-se mais aborrecida, quer estar bem perto de mim, debaixo da manta, com a cabeça tapada em cima do sofá, claro! Se a minha Avó Maria Antónia visse ia ralhar comigo, e assim que eu virasse a cara, a cadela não tinha hipotese saía mesmo de cima do sofá, ficava muito bem no chão, que até tem carpete e uma almofada ao pé do lume, e caso eu perguntasse alguma coisa, a minha avó ia dizer que não tinha nada a ver com isso! A Ti Marcena costumava dizer, quando entrava na minha casa de Cabeção, era eu bem pequena: ai, ai, quem me dera ser gato nesta casa! Naquela altura só tinha um gato, cinzento, raiado de preto, que eu adorava, e que ficava no melhor sitio da nossa casa, consoante estivesse frio, calor, manhã, tarde ou noite e comidinha tinha sempre, com muitas festas. Até para ser gato é preciso ter sorte, às vezes fico impressionada com os animais mortos na estrada não serem reclamados por ninguém, e quando vejo cães a deambular na estrada, fico ainda mais apreensiva e tenho vontade de parar o carro e levá-los para o quentinho da minha casa de Grândola, o que também ia desagradar muito ao meu PQ. Como o nosso cérebro vagueia entre lembranças e emoções quase ao sabor do "vento intelectual". As imagens na nossa cabeça, uma vai buscar a outra e atrás dessa, veiem mais cinquenta, parecem-se com as cerejas e, muitas delas, passam quase sem as revermos na sua totalidade, enquanto que outras, vá-se lá saber porquê ficam muito mais tempo, e às vezes até nem queríamos revê-las, mas se aparecem e ficam é porque a gente precisa. Na verdade tanta coisa que se passa e que a gente não pode aprender, ouvir, ver, sentir, tantas são as loucuras de informação que temos ao nosso dispôr. Era bem mais fácil quando tinha apenas os livros da carrinha da Gulbenkien?? estará bem escrito? uma vez por mês, e durante muito tempo só tinha idade para ler os livros da primeira prateleira, só quando passava mais um ano de idade podía ler os da outra prateleira, sentia-me tão bem, com livros novos para mim, porque já tinham a marca de tantos dedos a manuseá-los, nunca me importei com isso. Agora, gosto de ser eu a ler o livro, e gosto pouco de emprestá-lo. Finuras parvas. Isto tudo a propósito já nem sei bem do quê, mas também não faz mal, não devia ser importante. Há cerca de 2 ou 3 dias, alguém me falou no Portal que tinha sido aberto!!! Portal, qual portal? Lá me explicaram assim a fugir, que era o portal que se abriu no dia 11.11.2011, no Universo! Fiquei a olhar, ainda não me tinha apercebido que o Universo tinha portais, e que tinha dias em que abriam e devem ter dias em que se calhar se fecham, não sei, mas nunca tinha ouvido falar em tal desta forma, com tanta certeza? Fiquei a pensar que estou um bocadinho atrasada nestas coisas da ciência espiritual, eu que fui batizada, crismada, frequentei a Igreja Romana Apostólica e não sei que mais, que sinto que temos o nosso eu espiritual juntamente com o nosso eu físico, mas do Universo não sei nada. Começo por onde? Amanhã logo se vê, hoje sinto-me muito baralhada, corresponde a uma nova estrada que eu nunca percorri e tenho medo que seja uma estrada cheia de dificuldades, com muitos medos, muitas almas do outro mundo, e que não tenho ninguém a quem contá-los, sim, os meus medos! Acho que nem a Ti Marcena nem a minha Avó Maria Antónia iam gostar que eu fosse para uma estrada desconhecida: filha o que o Sr.º Prior diz já chega para moer a nossa cabeça, não merece a pena saber mais, diriam elas na certa. Talvez fale com o nosso prior,aqui em Grândola, sempre posso ser aconselhada e acompanhada nessa nova aprendizagem.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Confusão

Vamos começar a ter a crise económica cada vez mais em cima, já temos muita gente que ainda está a trabalhar mas que tem os vencimentos atrasados, e há também já algumas pessoas desempregadas sem direito a subsídio, e há também aquelas que se despedem porque o trabalho numa cozinha de uma escola é muito pesado, e 7h seguidas a trabalhar são muitas horas! Na vida do nosso dia a dia, não se percebe o que leva determinada pessoa a tomar uma atitude que é uma idiotice, ou então a história dela não está completa. Jovem de 30 anos, que aos 15 anos fugiu de casa dos pais, juntou-se com o primeiro homem de quem teve a 1ª filha, passados uns anos, separam-se e apareceu outro homem que ela ainda não sabe se vivem juntos, porque tem dias em que ele fica lá em casa e outros dias em que vai para casa dos pais, está desempregado, a receber o subsidio de desemprego; desta relação nasceram mais duas meninas, ele contribuie com o que o tribunal decidiu que havia de dar! Tribunal? No total, mãe e 3 filhas, 11 anos, 4 e 2 anos, mãe que resolveu despedir-se da cozinha do refeitório, não tem direito a subsidio; este homem com quem vive, ou acha que vive há 6 anos, chama-lhe preguiçosa, interesseira, porque vive com o dinheiro que ele dá para as filhas.
Vai à consulta porque tem uma dor no estomago, não consegue dormir e tem uma grande dor e confusão na cabeça!
Pois deve ter isso tudo e muito mais que nem consegue expressar, verbalizar, falar, porque nem sequer tomou consciência, mas que devo fazer, eu, perante um quadro destes?
Pergunto: Como estás a pensar resolver este problema, a falta de emprego?
Responde: Talvez peça ajuda à minha ex-sogra, está na Inglaterra, consegue-me um emprego, só não pedi já porque está lá o meu ex e não me apetecia encontrá-lo!
Fico ainda com a cabeça mais atordoada, na verdade, ela não pensou nada, não gostava do trabalho, o resto logo se vê!
Para mim este crise que já está a dar sinal de vida, vai modificar muitas vidas, será que servirá para se aprender alguma coisa?

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Bendita cavilha

Os dias em que tenho domicílios deixam-me mais aborrecida, eu gosto de ir a casa dos doentes, gosto até muito, não gosto é de encontrar tanta desgraça. A Luísa com 83 anos, teve uma fractura no tornozelo esquerdo, ficou com grande deficiência porque foi operada com mais de 15 dias após a queda, andava a ver se melhorava com umas mezinhas, como não melhorou lá foi ao hospital, mas foi uma desgraça ainda ficou pior; puseram-lhe umas cavilhas para melhorar? a articulação, mas como não há 2 sem três, fez uma pequena rejeição ao material de osteosíntese e tem uma ferida aberta desde há mais de 5 anos, sem hipótese de fechar, porque ninguém da ortopedia quer tocar ali, conclusão, a enfermeira tem que deslocar-se a sua casa 3 x semana, para além desta pequena grande situação a Luísa é cega, os diabetes não foram diagnosticados a tempo, não foi medicada e quando se apercebeu que via mal, também tinha alterações graves cardíacas, por isso lhe foi colocado um pace-maker; como tem as articulações todas deformadas, razão da sua queda, tem dores intensas que se agravam com a imobilidade e com o frio; como vive no campo, e o terreno está todo cheio de altos e covas, e cócó das galinhas e dos patos e dos gatos e dos cães que andam à solta, ela tem ainda mais dificuldade em fazer um pequeno passeio, como não vê, pior um pouco. O frio agora também está difícil, porque o filho que vive em Álcacer e lhe traz a lenha 1 x por ano, não compra muita, de modo que o lume nunca pode ser muito grande, tem que poupar a lenha, mas mesmo que fizesse um lume bom, a casa que é muito pequenina tem um telhado tão velhinho, que as telhas já não protejem e puseram-lhe placar, não sei o nome, a tapar o telhado por dentro, mas já está todo repassado com a chuva, e o frio nem se fala, é por isso que a cama não tem lençóis, só cobertores todos da mesma cor, escuros, porque devem dormir todos juntos, cães e gatos donos e quem mais se quiser juntar será bem vindo que sempre contribuie para o aquecimento; assim a Luísa que é uma mulher desembraçada está presa de pés e mãos, porque se não se sentisse presa já tinha dado um destino diferente, olhe, mas mesmo assim, se não aguentar as dores acabo comigo! Valha-me Deus Dona Luísa, não quero que tenha dores vou mandar-lhe um comprimido para tomar à noite e vai ver que passa melhor! Ficou pouco convencida, ela conhece os comprimidos todos, ela sabe muito, não deve ser assim, mas experimenta e depois logo me diz, à urgência do hospital é que nunca mais lá a apanham, até o cardiologista ralhou com ela, há 2 anos que não me via, como é que ele quer que eu lá vá, não tenho transporte!
A Luísa vive com o José que é homem pouco dado, mas que agora sente-se dono de tudo, ele é que faz a comida, decide o que se compra e o que se faz, ele é que manda em tudo, e não quer lá ninguém que só sabem é gastar-lhe o dinheiro, as senhoras da Misericórdia levavam o almoço, e em troca ficavam-lhe com a reforma e ainda queriam dar volta à casa, nam nem pensar; o filho que está na Holanda queria dar um jeito à casa, vá lá, lavou os cobertores da cama e já foi bom, nam nem pensar; os vizinhos entram, mas por pouco tempo, está um frio de rachar e vão -se logo embora, não quero cá ninguém em casa, nam nem pensar. Senhor José vamos medir a sua tensão? Pode ser! Olhe que está altita, então tem tomado os comprimidos? Eu, nam nem pensar, não gasto dinheiro com isso,amanhã está melhor!
Então enfermeira vamos embora? Vamos! Dona Luísa então até 6ª feira... Enfermeira... Sim, diga Sr.º José... Veja lá se vem mais cedo, não pode vir à minha hora de almoço... Mas Sr.º José é agora meio - dia...por isso mesmo, tem que vir mais cedo, essa é boa!!!

Fico sempre mal quando faço domicílios, não poder decidir e fazer o que nós achamos melhor para eles, é frustante, termos que adaptarmo-nos às suas necessidades é desgastante, avaliar o que lá vamos fazer e os ganhos em saúde que daí tiramos, que ninguém se aperceba, é uma perda de tempo e dinheiro??? A verdade é que a enfermeira é a única alma que eles sabem que os visita e que lhe mexe na pele, os afaga e lhe presta atenção, 3 x semana, não há dinheiro que pague isso, eu vou quando ela já está desorientada, para ficarmos mal as duas. E quando a televisão deixar de funcionar porque é preciso comprar aquele aparelho milagroso para a televisão de alta definição, como será que o Sr.º José vai fazer??
Não merece a pena sofrer por antecipação e pode sempre haver milagres.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Ansiedade

Cada dia é um desafio diferente que eu quero muito que seja igual, na verdade, tenho um pouco de medo da mudança, sei que a mudança nos faz bem, nos ajuda a crescer, nos ajuda a ser mais sábios, mas custa. Hoje não estou nos meus melhores momentos, porque estou aqui no meu canto da escrita, a pensar em mil e uma coisa, na lista de prendas que quero dar no Natal, nas folhas de artigos que preciso ler, na preocupação do regresso da minha filha maior que volta da Austrália e que me deixa ainda mais ansiosa e ao mesmo tempo muito contente, tão contente até às lágrimas, penso na quantidade de processos que tenho para arrumar na minha sala de trabalho, e ao mesmo tempo deito o rabisco do olho para a televisão, e estou constantemente a ser incomodada pela Carlota que por sinal, está desassossegada como não é hábito; tudo isto e o mais que nem me apercebo, cria-me uma dor, um mau estar epigástrico, que parece subir pela zona retro-esternal até à garganta, resumindo, ansiedade pura e dura, cada dia que passa mais se acentua. Sei que uma maneira objectiva e eficaz para reduzir a ansiedade é criar para mim uma lista diária de prioridades, e ir efectuando cada uma delas ao meu ritmo, mas não sei se é por ser do signo Carneiro, há alturas em que mesmo sabendo a forma de atenuar o problema, não faço nada do que devo, vir aqui falar do que me aflige atenua um bocado, parece que ao ver em palavras escritas muito devagar também o meu pensamento se torna mais lento, obedecendo-me mais e melhor. Andar também me faz muito bem, e se não chove, saímos sempre a seguir ao jantar, e nem preciso de ir lá fora ver o tempo, o Vicente é melhor que qualquer barómetro dos mais sofisticados, se mostrar que quer sair, daquela forma que só ele sabe, podemos sair sem problema, se a seguir ao jantar ele não fizer nada e vier deitar-se ao lume, não merece a pena chegar à porta. Agora parece que a dor no estomâgo está menos intensa, a vontade de fazer tudo ao mesmo tempo o que acho que preciso, também se tornou evidente que não posso fazê-lo, só me resta mesmo resolver a lista de prioridades para o dia de amanhã, e hoje ainda vou escrever uma mensagens à filha Cristina que em breve estará comigo, mandar beijinhos à minha querida sobrinha Joana que está no Mexico a tratar-se da sua ansiedade crónica e que eu sinto cada vez melhor, e ainda, mandar beijinhos à minha querida sobrinha Rita que também adoro, vou depois fazer a lista para o dia de amanhã e se der tempo começar com tranquilidade a lista para o Natal com o meu PQ, tranquilamente, confortávelmente e saudávelmente sem ansiedade nem stress, uma coisa de cada vez, e de cada vez uma coisa, não se vê o tempo que uma coisa leva a fazer, mas se está bem feita ou mal feita, mais uma recordação de infância, outro dia falo desta, agora já estou melhor, as palavras são boas para controlar o meu stress.

domingo, 13 de novembro de 2011

As nossas estradas

Quando começo a escrever, nunca sei muito bem por onde vou, é assim como se fosse o momento, único no dia em que me permito sair da "minha vereda". Não sei se toda a gente tem uma estradinha que segue no seu dia a dia, eu tenho, e essa estradinha vem desde a minha infância, os seus limites foram-me dados pelos meus pais, avós, irmão e as madrinhas, sempre presentes, mas desde os meus 15 anos de idade eu afastei e começaram a estar cada vez mais ausentes. No entanto, marcaram muito a minha adolescência e mostraram-me outro mundo paralelo ao que eu estava habituada a viver, um mundo em que eu não estava no centro, e contráriamente ao que se possa pensar, deslumbrou-me, um sentimento igual ao que sentimos quando encaramos uma situação nova e bonita, cheia de requinte. Se eu tivesse certezas, que não tenho, diria que esse mundo do luxo e da riqueza??? eu já conhecia bem, estava era adormecido em mim, foi um voltar a casa, embora a casa delas não fosse essa casa por onde eu já tinha vivido, mas adiante. A minha estrada foi construída com muitas balizas: não vás, não faças, não te rias às gargalhadas, não limpes a boca com as mãos tens o guardanapo, a escolha da roupa, a forma como andas, a forma como atendes o telefone, comporta-te e fica calada, e um não mais acabar de regras e etiquetas que durante muito tempo e ainda agora me seduzem e me prendem e com as quais meço os outros, às vezes um desespero, outras vezes um motivo idiota para rir. Lembro-me da roupa e muitas vezes sonho com armários cheios de vestidos com rendas e folhos, muito femininos, compridos, e toda a panóplia de adereços que precisaria, quando o que hoje mais me agrada é andar descalça no quintal a tratar das flores e a regar, a brincar com as gatas e os cães. Voltando às minhas recordações de adolescência, eu vestia-me muito à moda e era motivo de inveja da parte dos meus amigos da escola, melhor dizendo, motivo de olhares diferentes por parte dos amigos e um pouco de inveja por parte das amigas, a roupa era sempre escolhida pela madrinha, a mãe e a filha, na verdade davam as duas a sentença e eu e a minha mãe obedecíamos contentes as duas. Certa vez, no Outono resolvemos mandar fazer um casaco cor de laranja, de malha, cor que eu achei linda e que a minha mãe concordou. Fizemos a compra, mandámos fazer à máquina e no dia em que o estriei fui às madrinhas; não correu bem, porque a cor não ficava bem na minha cor de pele, porque o feito era muito tradicional, enfim dinheiro mal gasto!!!! A tristeza que eu senti nesse momento não tem explicação, senti-me estúpida, achei que a minha mãe não sabia nada de roupa, não tinha o gosto igual ao que me habituou quando eu era pequenina, que eu ia ser sempre uma miúda necessitada de ajuda, e que na verdade o casaco não era tão bonito como eu o tinha achado, na verdade era até bastante feio, conclusão, só fiquei tranquila quando a minha mãe me deixou dá-lo,mas nessa altura também percebi que as madrinhas é que para além de terem muito gosto, não estavam dispostas a achar bonito nada que não partisse delas a ideia, a escolha e o feitio, e senti-me presa desse momento, senti tristeza, mas também um mal estar que não consegui entender, como se me estivessem a pôr um pano na cabeça e a permitir a minha respiração para um lado, nada mais me era permitido; ainda hoje com 55 anos, 2 filhas lindas um genro amoroso e um pretendente a genro que se esforça, 2 gatas e 2 cães, e o meu PQ, ainda hoje, preciso da aprovação do marido, pelo menos. É certo que tenho dias em que saio de casa de manhã, sózinha, vou a uma loja e calmamente compro uma roupinha que depois tem a aprovação de toda a gente, e mais importante ainda, tem a minha aprovação interior, sinto-me mesmo bem, mas só nalguns dias, como me conheço cada vez melhor só compro roupa nesses dias. E pensar que durante muito tempo sofri com essa dificuldade, a falta de gosto para encontrar roupa que desse bem com a cor da minha pele e que sobretudo me favorece-se e por último e não menos importante, estar sempre à frente na moda, é por isso que gosto de comprar as revistas que via em casa das madrinhas, não lhe fico atrás, também conheço a moda e cada vez me conheço melhor, e trato a moda por tu, e em cada dia que passa a moda sou eu que a faço, misturando cores e feitios como me agrada, sou eu que cada vez mais defino melhor a minha estradinha, mas nunca a perco, preciso cada vez mais dela, será que levo toda a família para a minha estrada, ou respeito-os e deixo que cada um escolha a sua? Que confusão.

sábado, 12 de novembro de 2011

Palavras mágicas

Não sei o que me vai na alma, quando páro o trabalho, é como se dentro de mim tudo passasse a uma velocidade que nem dá para parar e observar o que estou a pensar. Gosto de estar em casa, sossegada para poder limpar a cabeça, mas esta noite a Carlota não pára de ladrar, tudo o que se mexe lá fóra, mesmo que seja apenas o vento a agitar é potencialmente perigoso, e ladra. Trabalhei a noite passada e, apesar de ter observado algumas pessoas, fiquei na minha cabeça com a história de um jovem rapaz de 9 anos, que foi trazido pela mãe que fez questão de dizer alto e bom som, na sala de espera: o meu filho está muito mal, está a ver pessoas a dobrar, ou está a ver gente que mais ninguém vê, está com visões!!!
Logo aqui senti-me um pouco acanhada, achei que se era verdade que a criança estava com capacidades sobrenaturais, devia estar muito confuso e assustado, mas que podia eu fazer? E claro, veio-me à memória a minha infância, onde também se falava em almas do outro mundo, em sons estranhos em casa, em pessoas com cacapacidades, mas tudo muito em segredo, as crianças eram sempre excluídas dessas conversas, e quando lhe era permitido ficar, pois claro que ficavam em silêncio, quase que era proibido respirar, primeiro porque estavamos assustados e depois porque não queríamos perder pitada, ir ao médico, só de loucos, quando muito, ía-se à igreja aconselhar com o Sr.º Prior, que no fim mandava rezar Pais Nossos e Avés Maris que era uma fartura, enfim, não era uma situação para brincadeiras.
Mandei entrar a criança e a mãe; a criança sentou-se na cadeira à minha frente e a mãe de pé não sei bem com que intenção; como me cheirou muito a álcool, com muita tranquilidade mandei-a aguardar na sala de espera, de modo a que pudessemos nós os dois conversar um bocadinho, e assim, a mãe lá foi com muito pouca vontade, porque queria assistir ao tratamento das visões?!
Não devo nem posso contar toda a conversa, mas a criança de 9 anos, estava convencida que estava a ver uma mulher ao meu lado, quase igual a mim, até tinha uma bata e tudo, e parecia simpática; falámos da infância dele e percebi que os pais se tinham separado quando tinha 4 anos, mas ele via todos os dias o pai, de quem gostava muito, tinha muita tristeza por estarem separados e às vezes apetecia-lhe fazer mal, sobretudo à irmã de 11 anos, e quando se sentia pior fazia mal a ele, e quando me contou isso olhou-me bem nos olhos para ver o impacto provocado; nem sim nem sopas, aceitei toda a conversa sem fazer qualquer juízo de valor, só disse que percebia que ele sofria muito, mas que não podia esquecer-se que tinha o pai, a casa do pai, a mãe e casa da mãe, afinal tinha tudo a dobrar, não era assim tão pobre e infeliz, tinha tudo, a dobrar! Parece que lhe sorriram os olhos, a face manteve um semblante triste; lá o ensinei a mandar embora a figura parecida comigo e que não iria ser mais incomodado, porque estava protegido pelo cão (que ele tinha escolhido como protector), o cão grande, poderoso e sábio, que quando ele estivesse mais doente lhe ia sempre lamber todas as feridas do corpo e da cabeça, e com essa magia, todas as suas dores desapareciam, mas que era um segredo só dele.Os olhos sorriram uma vez mais, e ali naquele momento foi do que fui capaz, podia continuar a conversar mais, mas senti um zum-zum lá fóra, pareceu-me que o álcool da mãe estava a quebrar silêncios, e resolvi chamá-la, parece que estava pronta fazer queixa de mim, porque a tinha mandado embora e ficado sózinha com o filho, enfim, não reagi, não me senti incomodada, ela não recebeu nenhuma emoção da minha parte e acalmou, agradeceu-me e disse-me que já sabia muita psicologia, desde que estava a ser acompanhada na Protecção de menores, estava rodeada por muitos sociólogos e gente dessa e, ela estava a aprender muito, Deus abençoe tamanha aprendizagem, Deus proteja aquela criança; foi embora mais tranquilo, porque o medo dele era também ficar no hospital doente? Que fazemos nestes momentos? Respiramos fundo e que o Universo seja Pai, que esta criança aprenda a encontrar o seu local de conforto e o seu caminho, mas fiquei com um nózito na garganta, não tinha nenhuma receita para lhe dar, apenas palavras mágicas, será que fizeram efeito prolongado e transformaram?

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

os filmes e as falas

Começa por ser bom, depois passa a ser uma necessidade e depois passa a ser habitual, parece que falo de amor, mas estava apenas a falar de vir aqui escrever, depois de jantar e do passeio a pé. Sento-me no sofá rodeada do Vicente e da Carlota, os meus cães, da Sarita e da Safira, mais conhecida por preta, as minhas gatas, e do meu PQ. A televisão interessa-me cada vez menos, gosto de ver os noticiários mas assim de 2 em 2 dias, porque se for diariamente não merece a pena, repetem-se tanto que a gente acaba por saber "as falas", parece assim como os filmes que já vimos vezes sem conta, sabemos de cor as cenas todas. Hoje tive um doente que me fez lembrar a minha adolescência; e não me contive e dei-lhe conselhos, passados estes anos todos ainda caio na asneira em dar conselhos, não é isso que ele precisa, vamos a ver se o ajudo, mesmo errando. Assim em traços largos, é um homem que se fez à vida com 17 anos de idade, e que aos 40 anos, tinha uma família normal, com um enteado e 2 filhas gémeas lindas, a mulher ainda não percebi bem o que significa para ele; para além da família construiu um pequeno império com 80 empregados e alguns sócios; havia dinheiro, casas, carros, até parecia que nada ia voltar atrás, aos tempos da miséria, e não foi fazendo contas aos gastos, descuidou-se do império? Não percebi! Só sei o que ele sentiu vontade de contar. Há cerca de 4 anos que os negócios começaram a ser mais lentos e com menos lucros, a sogra morreu, o enteado morreu, as filhas não lhe falam, ele tem os nervos virados do avesso, começou a beber, e se não bastasse tem problemas em tribunal porque era fiador dos negócios do enteado que não deixou nada escrito e estava divorciado, maior enleio não deve haver. Eu entro porque uma das gémeas está a passar-se e o pai também, cada um para seu lado, e eu que posso fazer, como posso ajudar? Expliquei a este homem que a vida é uma roda, umas vezes estamos em cima outras vezes estamos em baixo, que a vida é assim, que o tempo pode tardar, mas não falha. Ele acha que este momento negro da sua vida tem a ver com alguma coisa sobrenatural, que ele até nem acreditava, mas que acha que deve haver. Tanto pior para mim, eu que em princípio sou apenas uma mulher da ciência e para a ciência, como dou a volta? Tentei que ele entendesse que tem a seu favor, as 2 coisas mais importantes para o fazer sair deste momento: o saber feito de muitos anos de trabalho, que esse saber é só dele, e tal como no passado foi capaz de dar a volta à vida, agora com mais idade e com mais experiencia, ia ser capaz de fazê-lo novamente, a sabedoria nunca se perde, mesmo que ele se sinta perdido, é preciso parar e tentar ver onde mais ninguém vê! Depois deve sentir confiança, porque a inveja que sentia por parte das pessoas com quem se cruzava, só existe porque ele tem "poder e beleza", só se inveja quem é mais que nós, ninguém inveja o feio e o indigente, mais um ponto a seu favor. E por fim, mas mais importante que tudo, a família, tem uma família onde pode e deve apoiar-se, e por isso não precisa carregar nas costas com todas as responsabilidades, pode e deve falar do que o preocupa, para de certo modo ensinar as filhas a serem alguém, a saberem também elas que podem ajudar a encontrar uma solução e que não serão mais um problema, e doloroso como está a ser. E o homem diz-me que isso é muito difícil, as filhas, sobretudo a que conheço fecha-se muito, não gosta de falar. E tentei explicar-lhe que estava a enterrar a cabeça na areia, porque não tinha sido capaz de acompanhar o crescimento das miúdas e agora que estavam maiozinhas achava que elas não se interessavam por ele. Falei, quando devia ouvi-lo, falei e arranjei-lhe hipóteses de soluções quando devia apenas ouvi-lo, e acabei por confessar-lhe que não sabia como poderia e devia ajudá-lo mas que ia falar com o meu colega da psiquiatria e depois conversaríamos; bonito serviço, mandei-o embora com um antidepressivo e um indutor do sono; bonito serviço; mas fiquei desorientada com tanta coisa a correr mal para um homem só, e já tinha conversado 2 x com a filha e percebi a raiva que ela tem contra ele e ao mesmo tempo a necessidade que ela tem de colo e ele a necessidade que tem dela, a miúda tem 13 anos, tudo muito dificil, e eu com 15 minutos para cada consulta; no fundo no fundo, acho que não me portei muito mal, vamos a ver o que diz o Bernardo; o tempo tarda mas não falta? E desta vez eu não conhecia as falas, apesar de já ter viso este filme.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Cansaço

Nada melhor que chegar a casa depois de um dia de trabalho e descansar a cabeça no sofá com a Carlota aos meus pés a aquecer-me, e ficar assim sem fazer nada. Às vezes vem-me à memória pequenos exertos de poemas, e tenho um que ocorre frequentemente: .. passarem sobre mim e nada me doer, ..., bom na verdade não me lembro de quase nada é mais a ladaínha, e hoje acho que a minha cabeça está exausta. Será que as pessoas que trabalham o dia todo ficam como eu fico, exaustas e sem conseguirem fazer nada de nada? Sabe-me bem ficar assim quieta e sossegada a olhar para o lume e a relembrar o lume em Cabeção, e sinto-me bem a recordar, e é bom, mas ao mesmo tempo passa-me pelo coração outra emoção, porque vou para o passado quando o presente é tão bom, tão emocionalmente tranquilo, tomar consciencia deste momento e gostar dele e saboreá-lo é tão bom ou até melhor do que viver com o passado na alma. Vou ficar por aqui, o cansaço é mais forte.

sábado, 5 de novembro de 2011

O Sonho

Lidamos tão bem com as coisas boas que nos acontecem, e temos tanta dificuldade em lidar com as menos boas, porque será? Será que somos todos assim ou tem a ver com a educação que tivemos? Lembro-me de pensar, e já penso há tanto tempo: só quero a felicidade, tudo o que não me agrada mando embora, nem sequer varro para debaixo do tapete, afasto para bem longe. Não sei como tenho conseguido levar à letra esta atitude, mas o que me acontece quando as coisas menos boas me acontecem, e claro que acontecem, o que faço é resolver logo o mais depressa possível a situação, quando não o consigo falo com a Alice, e a pouco e pouco vou aprendendo também a lidar com esses acontecimentos menos bons do meu dia a dia e da minha noite a noite, porque durante a noite também sou apoquentada. Os sonhos e os pesadelos são tão importantes para o nosso bem estar que não estou a pô-los em questão, o meu problema é que esses sonhos são tão reais que me perturbam durante muito tempo. Foi o que me aconteceu aqui já há uns tempos; depois de muitas noites mal dormidas, porque povoadas de grandes trabalhos, eu fiz uma coisa que talvez!!!! não passe pela cabeça de ninguém: falei com os meus companheiros desses sonhos e muito claramente, do fundo do meu coração, mas com muita determinação, avisei-os: esta noite preciso mesmo de dormir, eu preciso de trabalhar todos os dias e se esta noite não me deixarem descansar fico doida, também não vou conseguir ouvi-los e ajudá-los, por isso façam-me o favor de ficar quietos e tranquilos!!! Deitei a cabeça na almofada, aninhei-me junto ao meu PQ e como habitualmente adormeci. Que noite linda, foi como se tivesse sido recebida colo da minha mãe, como se fosse um momento de amor, de paz e tranquilidade nunca antes experimentada, nessa noite nada me aconteceu, quando acordei senti-me muito amada e a única lembrança que tinha era o calor da cor branca, nada mais, uma sensação de leveza e amor que me transcendia, como se saísse de mim um bem estar que nunca senti acordada e sei que tenho sido muito amada, mas comparada com esta sensação não consigo arranjar palavras, de cada vez que trago esses momentos ao meu coração sinto-me tão abençoada e agradecida, falar alto e bom som, faz sempre bem, porque a razão está do nosso lado. Diariamente tenho muita vontade de trabalhar, fazer coisas novas, ou fazer coisas sempre da mesma maneira, gosto muito da minha rotina, diáriamente tenho casos novos, caras novas, emoções novas com que tenho que lidar, apenas tenho uma pequenina condição, uma sestinha a seguir ao almoço, preciso tanto como do almoço, às vezes até mais, dou por mim a almoçar em 10 minutos para poder descansar 45 minutos, também nesse momento de descanso estou trabalhando, os sonhos voltam, são sempre muitos, variados e muitas vezes engraçados, mas não faz mal, porque quando me levanto para regressar ao trabalho sinto-me fresca e capaz de trabalhar as horas que forem necessárias, até os doentes já sabem esse meu segredo e esperam religiosamente pelas 14h porque sabem que estou pronta. Isto também é felicidade, acho que podemos cultivá-la, sempre e se necessário arranjamos ajuda, noutra altura explico como sou ajudada, agora vão sendo horas de me aninhar nos lençolinhos e sonhar o que for preciso, porque o sonho realmente comanda a nossa vida, acordada e a dormir.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O tempo

Não sei que sinto hoje, o dia de trabalho já terminou mas tenho tanta coisa na minha cabeça, como se pudesse transformar pequenas coisas, em situações quase resolvidas. Neste fim-de-semana, consegui dar um rumo a um doente, porque em casa escrevi uma carta a um colega meu e com as minhas dúvidas que passaram a ser também as dele, consegui que o pobrezito ficasse internado para ser melhor estudado; fiquei contente, mas é um misto bom com uma certa tristeza, eu sei que quem tem informação tem poder, mas e os doentes que não tem cartas a partilhar informação, como ficam? Quanto tempo vamos esperar que os programas dos Centros de Saúde sejam partilhados pelos Hospitais da zona, e o contrário também é importante? Tanta auto estrada feita nestes tempos em que ficámos mais pobres e não se investiu nas auto - estradas da net? Dá menos votos a quando das eleições? Nesta altura em que pensava não ia estar preocupada com o meu futuro económico - financeiro, tenho que trabalhar ainda mais e ser mais cuidadosa com o que ponho de lado. Por causa desta conversa, quando ainda era bem pequena na minha vila de Cabeção, tinha os meus 7/8 anos de idade, durante o Verão, nas férias grandes, e que grandes e saborosas eram as férias, as meninas tinham ocupação de tempos livres, as meninas e as mães, em salas diferentes, mas acabávamos todas a aprender o mesmo, com formas de abordagem diferentes, com um propósito único: sermos boas donas de casa. Se olhar agora para esse tempo, recordo-o com muito carinho, aprendi imenso, o meu PQ diz que era essa a função do antigo regime, tudo bem, mas nós somos Árabes? Quando os Árabes conquistavam uma terra destruíam tudo o que os anteriores donos tenham feito, nada ficava, todos os monumentos eram destruidos, a cultura era mais dificil, mas também tentavam. O Antigo Regime tinha quase tudo mau, mesmos essa história de sermos boas donas de casa, o que é facto é que as meninas de agora nem uma sopa sabem fazer, e isso ajuda-nos em alguma coisa? Quando digo as meninas, quer também englobar os meninos, porque os dois fazemos muito falta no trabalho e muita falta em casa, os deveres e os direitos são repartidos tranquilamente e saudávelmente por ambos, agora não somos ricos, e sopa faz falta a todos diariamente, qual é o mal de voltarmos a ensinar nas férias grandes ou nos dias de aulas os segredos de um bom dono de casa? Ficávamos todos a ganhar, e no poupar é que está o ganho, soluções simples para questões simples, não compliquemos, um dia destes vou contar a minha versão sobre a crise, mas hoje já estou cansada, o dia foi longo e com muita chuva, vento ee trovoada, nem demos a nossa volta a pé no quarteirão,o tempo pode tardar mas não falha.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Levar flores

Andar pela net é como começar a andar, de vez em quando a gente caí e depois até tem medo de erguer-se. Regressámos de umas mini-férias, andámos por Marvão, Castelo de Vide, e pouco mais, apenas uma breve passagem por Évora. Muito agradável. Durante o passeio escrevi no meu Blog e o resultado? Não sei o que aconteceu à minha escrita, e que pena, hoje já não vou voltar atrás nos meus pensamentos, agora é "sempre en frent" como tentatava dizer a um turista Inglesa a minha filha mais nova, ela que lê artigos em Inglês, quando tenta falar, pensa, felizmente não disse nada, mas esta frase ficou guardada por todos nós e de vez em quando volta à baila e todos nos rimos.Regressámos hoje e passámos por Cabeção e Móra, levámos umas flores aos cemitérios. Parece estranho mas eu ainda mantenho o mesmo hábito das madrinhas e da minha avó Maria Antónia de ir ao cemitério no dia 1 de Novembro, no dia de Todos os Santos, não acho piada nenhuma ao dia 31 de Outubro importado da América, e ainda não fui procurar se o dia de ir ao cemitério é o dia 1 ou o dia 2, nós íamos dia 1, a minha mãe ia mas resmungava, dizia sempre que não gostava nada de andar de preto, não gostava do luto, e ainda menos dessa palermice de ir ao cemitério pôr flores, mas ia, ficáva mal não ir. Eu não tenho ninguém a obrigar-me, parece que me sinto bem em ir, parece que ir ao sítio em que o seu corpo repousa e dizer-lhes que os amo e que tenho muitas saudades, deles todos, é confortante para a minha alma; levo só 2 potes de flores, o meu pai ficou numa campa sózinho, a minha mãe ficou numa campa com o meu avô Luís e a minha avó Maria Antónia, que são os seus pais, parece estranho? Estranho eu ter necessidade de falar desta circunstância do repouso deles, da necessidade de dizer que estão separados, da necessidade de visitá-los? Não sei bem, cada dia faz-se em mim uma luz nova sobre alguns temas, alguns acontecimentos, ainda não se fez luz nenhuma ácerca da saudade que tenho deles, ainda não se fez luz nenhuma ácerca da morte e o porquê de ainda não dispormos de conhecimentos suficientes para a entender, a morte claro. Também acho que muitos de nós nem queremos ouvir falar dela, mas desde miúda convivi com a morte e com o nascimento, era uma coisa natural que acontecia na vila onde nasci, e tanto íamos visitar quem nascia e levávamos flores, como íamos vistar quem morria, e levávamos flores. Percebi a morte da minha avó Galucha, da Ti Marcena, do meu vizinho da frente que o meu avó Luís dizia alto e bom som, que ela se tinha enganado, a morte claro, porque quem era para partir era ele. Se na altura achava estranho? Não, estas conversas eram tema das conversas que eu ouvia os meus pais, os meus avós e mesmo os meus bisavós e era normal.Tudo muito devagar, com tempo para falar e sentir tranquilamente todas as emoções que nos assaltavam nesses momentos, a noção do dever que era preciso cumprir e da ajuda que era preciso dar, mas falávamos muito, até já não precisarmos de falar mais, todos. Agora as pessoas, falam das emoções, do que as preocupa rápidamente, ao de leve, de preferência sem quase pensar, a fugir não se vá dar o caso de não conseguirem aguentar? Vou continuar a fazer tudo como me sinto melhor e o dia 1 de Novembro é importante para mim para levar flores a quem já partiu, e pensar devagarinho na falta que todos me fazem e como foi bom ter sido amada por todos eles.