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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Dores de cabeça

A minha avó Maria Antónia gostava muito de comer pão com queijo e uma chávena de café, bebia qualquer café, mas acho que gostava do café acabado de moer. Quando estou com dor de cabeça, bebo uma café, como pão com queijo e penso, devagarinho, assim muito devagarinho, se possível saio de casa, ando um bocado e fico boa.Se pudesse dar esta receita aos meus doentes era bem mais simples e não haveriam contra-indicações, mas a receita continua na família, não me atrevo a divulgá-la.Tem graça, não me lembro da minha mãe ter dores de cabeça, andava sempre bem disposta, jangava-se claro, mas não ia dormir nunca, mas nunca mesmo, se estivesse aborrecida, esta receita também fica na família e tento passá-la a todos, mesmo aos novos membros, com algum êxito? O tempo o dirá, e o tempo nunca falha. Tenho tantas saudades da minha mãe e da minha avó, não comento, esta saudade fica só dentro do meu coração, não posso andar sempre a falar delas, mas na verdade em cada momento dos meus dias, esta saudade vem-me ao coração e traz-me tantas recordações, tantas lembranças, os rostos delas em vários momentos da nossa vida, e as lágrimas enchem-me a alma, mas de saudade, uma saudade misturada de alegria. Saudade com muito amor, como seria tão bom poder falar-lhe, contar-lhe o que faço, com quem estou, como estou, o que tenho aprendido, os meus desgostos e desilusões, o que tenho visto e viajado, mostrar-lhe as filhas e como elas estão lindas, tantas coisas que precisava contar-lhe, e como havíamos de rir e brincar, até o dia e a noite haviam de parar, para termos mais tempo. E mostrava-lhe o meu jardim, e a minha mãe ia ficar contente de ver que ainda tenho uma "pedista", não sei que outro nome pode esta flor ter, para ela era pedista, e para mim também, as folhas eram limpas com um pano húmido e parece que o brilho delas, as folhas, era um brilho diferente, luminoso, agora eu lavo-as com a mangueira, acho que gostam, mas as folhas estão esverdeadas amareladas, sem esse brilho, não tenho os cuidados e a sabedoria que ela tinha para tratar das flores, e também fazia torradas tão boas na lareira, logo de manhã, com uma caneca de leite quente, tratava-me sempre como se fosse uma filha pequena mesmo quando já era grande, tinha o meu (PQ) e as filhas, acho que para ela éramos todas filhas, eram momentos tão saborosos. Fico com essas imagens, com essa saudade e a benção de ter sido tão amada, queria dar colo, amar, estar presente como elas o têm feito até agora. Como é eficaz para as minhas dores de cabeça o café e o pão com queijo.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Se não houvesse crise

A crise económica e financeira que nos bateu à porta anda na nossa cabeça e preocupa toda a gente, apesar de cada um a ver à sua maneira. Fiquei admirada com a observação feita pelo antigo ministro dos Negócios Estrangeiros no tempo do Engº Sócartes, de cabelo branco, já com uma certa idade, como eu me revi em cada palavra, mas é a 1ª vez que o vejo, ou antes, o oiço, ouvi-o na Antena 1, que me revi em cada pensamento em cada racíocinio, como nunca o tinha ouvido antes, será da idade? Eu acho e sinto mesmo em mim que o facto de se ter alguma idade podemos expressar as nossas opiniões duma forma mais natural, menos constrangida e até digamos mais honesta. Quando era muito crinaça dizia o que me vinha à cabeça, inocência total, depois fui crescendo e fui sendo censurada pelo olhar da mãe, da avó Maria Antónia, e com 9 / 10 anos pelo olhar fulminante das madrinhas, de tal modo que interiorizei que o mais que podia fazer era sorrir, naquele sorriso idiota que tanto dava para sim concerteza concordo, ou não sei bem, ou ainda não devo dizer nada, não me diz respeito,e tantos outros sorrisos idiotas e despropositados que fui arranjando ao longo do meu crescimento. Agora, mantenho o sorriso mas tenho opinião e expresso-a com mais ou menos paixão, porque paixão e emoção nunca ma tiraram, apenas a congelei e trasformei. Agora sinto-me bem quando digo o que penso com conta peso e medida, e por vezes com orgulho?! acrescento que a minha idade já não me permite ficar com palavras por dizer; o silêncio será de prata ou de ouro?!
Bom, isto tudo para dizer que se calhar não valia a pena levar tantos anos até que tivessemos a ousadia de dizer o que se pensa, sobretudo numa altura de crise monetária como esta que nos está a tirar do sério, e digo de mim para mim: indignate, barafusta, faz qualquer coisa mulher! Mas penso dentro de mim estas coisas e fico quieta no meu canto, sinto-me cansada, extenuada, até desiudida para me gastar em mais guerras, eu sei que não precisa ser uma guerra, mas se é para me indignar tenho que fazê-lo com o coração e não me sinto nem com forças nem motivada. Se me perguntasse o que valia a pena fazer, por este País, agora? Bom, trabalho todos os dias ainda que precisasse descansar mais, faço o meu trabalho com amor e no tempo que for preciso, sempre com atenção às necessidades do doente, dos parceiros de trabalho, posso ainda melhorar o meu desempenho profissional eliminado desperdícios, apenas falo nos meus desperdícios, escrevo para o jornal Ecos de Grândola, graciosamente, que posso fazer mais?
Entrar para um grupo de pessoas que façam voluntariado? Para grupo de solidariedade? Mas sinto-me a dar de mim tanto todos os dias, que me cansa só de pensar que ainda devo ir trabalhar um pouco mais, numa outra actividade! Se não houvesse crise? Bom, se não houvesse crise, arranjava uma quinta com galinhas, patos, coelhos, porcos, borregos e burros e couves, fruta e um canto com flores e mesa e cadeiras para ler e tomar chá.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Reformas

Tenho assistido à reforma de colegas meus, no tempo de reforma normal, antes do tempo normal, e quase nenhuns para além do tempo habitual, e o que constacto é que vão embora como chegaram, de mãos a abanar, vazios, ninguém os surpreende com um "muito obrigado", ou "que pena ires embora, ainda tinhas tanto para dar ao mundo, ou que falta me vais fazer, como eu gostava da tua companhia", nada, nada mesmo, como se fosse normal a reforma antecepida, ou a tempo e horas ou depois do tempo. A reforma é normal para quem sonha com ela e assutadora para quem a encara de frente. Lembro-me quando chegou a altura do meu pai passar à reforma, foi convidado a trabalhar mais uns anos, até passar o trabalho com calma e tranquilidade ao seu sucessor. O trabalho era importante? E não são todos os trabalhos importantes? Pois bem, o meu pai era fiscal de rega na Associação de Regantes e Beneficiários do Vale do Sorraia, e só de escrever este nome, eu, apenas filha do trabalhador sinto-me em casa, sempre senti que aquele trabalho do meu pai era mais que trabalho, mais que obrigação, era uma honra trabalhar naquela Associação, com aquelas pessoas que eu considerava e eram todos amigos do meu pai. Foram muito importantes quando eu e o meu irmão estávamos os dois a estudar, ajudaram com dinheiro que o meu pai pagava como podia, de acordo com o que tinham acordado, nós tirámos ambos o curso superior, o que para além de ser um orgulho para a família também o foi para aquela Associação; quando finalmente o meu pai se reformou, aos 70 anos de idade, houve um almoço lá em casa, com prendas e discurso e sobretudo muita amizada, como se o ciclo tivesse sido fechado, como devia, tudo o que devia ser feito foi feito. O que vejo agora à minha volta não tem nada a ver, acho que no nosso país não faltam bons trabalhadores, faltam é bons gestores e bons lideres, gestor qualquer um pode ser, agora lider só é quem pode, não é quem quer. A vida vai-nos mostrando paulatinamente as sequências, como são diferentes na sua igualdade, assusta!

domingo, 16 de outubro de 2011

Obrigações

Gosto de escrever ao correr da pena, gosto até de ecrever com lápis ou caneta, gosto mesmo de escrever de qualquer maneira, menos por obrigação. A obrigação tira-nos a vontade? Somos mais livres se não tivermos obrigações? Não sei com é, não gosto de me sentir obrigada, mas gosto de escrever. Os dias passam e as coisas vão acontecendo tão rápidamente que tudo o que me vai acontecendo vai ficando só dentro de mim sem ter vagar para contá-las. No início da época, que para mim o Setembro é sempre o início de mais um ano, como quando andáva na escola, disse-me a mim própria que iria começar neste ano a aprender a dançar ou a praticar outra qualquer actividade diferente daquelas que costumo ter, porque para além do trabalho, trabalho. Pois é, vamos no dia de 16 de Outubro e o que faço para além do trabalho não é mais do que andar no jardim a cirandar, passear com o meu pequeno querido (pq) e pouco mais; ao fim-de-semana leio o jornal e dou uma volta nos papéis que fui acumulando durante a semana, e mais não consigo fazer porque me sinto muito cansada, sinto-me cansada quando chego a casa após o dia de trabalho e sinto-me cansada ao fim-de-semana, eu que gosto tanto de conversar até me sinto cansada e fico calada. O meu dia a dia é atender pessoas desde que nascem até que partem para o além, é um dia atrás do outro que eu adoro mas que me cansa, extenua e não me deixa tempo para mais nada. Pensei em reformar-me mas vou ter que desistir, porque parar de trabalhar agora, não seria boa ideia com esta crise, ficava com pouco dinheiro para o nosso sustento diário, e se ficasse em casa sem obrigações, também me aborrecia, tenho obrigações desde que fui para a escola com 6 anos de idade, agora com 55 é que ia ficar assim, livre, com todo o tempo do mundo só para mim!
Isso agora também já não me interessa, acho que vou continuar a trabalhar até que "a voz me doa", e a propósito de trabalhar:
- Faz favor o que precisa hoje?
- Venho pedir-lhe um atestado!
- Há então sempre se decidiu vai praticar que desporto, natação? Hidroginástica?
- Mas eu já lhe tinha dito no corredor, é para o Tribunal!
- Mas então não vai mesmo fazer nenhum desporto? Tribunal? Não percebo?
- Eu sinto-me muito cansado, hoje tinha que ir a Tribunal, como estou cansado não posso ir, por isso é que estou aqui, por causa do atestado!
- Pede-me consulta de urgência, porque se sente cansado para ir a Tribunal, sem sequer estar verdadeiramente doente?
- Mas a verdade é que estou cansado, nã me sinto com coragem de ir até Lisboa!
- Pois é, eu às vezes também me sinto cansada e sem coragem de muita coisa, mas atestado com o meu nome para não ir a Tribunal é que não vai ter, lamento, as nossas obrigações valem muito mais que um cansaço, nem que estivesse internado, quanto mais cansado!!! Faça favor de ir a Tribunal.
- Mas então não me passa o atestado?
- Não.
- E quem me devolve o dinheiro da consulta?
- Desculpe?
- É que não levo o atestado!
- Sim, mas para saber isso foi consultado, faça favor de sair que ainda vai a tempo de cumprir com a sua obrigação.
- Mas?!
- Passe bem.

Isto passou-se comigo na última semana, depois de ter atendido tanta gente que precisava, tive esta consulta com este "maduro", a gente tem com cada história para contar aos netos. Li outro dia que cada pessoa tem em média, cerca de 30 histórias para contar ao longo da vida, eu tenho cerca de 30 histórias para contar ao longo do mês, e, quando acabo uma apetece-me logo pegar noutra, mas fica por aqui, ainda tenho muitos papéis para arrumar e já são 11h, eu que gosto de me deitar às 10, amanhã vai ser difícil sair da cama, mas saio!!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Emocionalmente bem

Ser feliz com menos dinheiro? Parece que temos o País à beira da ruína, e temos que colaborar para poupar, reduzir despesa, viver com menos do que até aqui e trabalhar um pouco mais; trabalhar nunca me assustou, viver com menos também, sou capaz de poupar muito, não gostaria era que essa poupança não se alargasse a todos os homens de boa vontade, não gostaria de observar os mesmos exemplos de fuga aos impostos, à cadeia, ao cumprimento das obrigações profissionais, sociais e familiares; ora isto que eu estou aqui a enumerar parece-me uma utopia para nós, povo latino, quente, com emoções à flor da pele. Vou pegar na minha lista das depesas e verificar onde posso cortar um pouco mais, desde o papel higiénico até a comida wiskas das minhas gatas, a partir de hoje até fim do mês faço a lista das reduções, por quanto tempo?
A minha felicidade não depende do que gasto, nem do que tenho mas do que sinto, e sinto-me bem, quero é ter a família à minha volta e tudo calmo e tranquilo, saudável nesta recessão financeira e económica, mas não emocional, sentir a felicidade por ter muito amor à minha volta, o tempo o
dirá se vamos conseguir!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Trabalho

Quando chego a casa já estou tão cansada que nem me apetece fazer mais nada, mas faço. Vou para o jardim e vou arrancar as ervas ou a relva que está a mais, dou uma regadela, de pés descalços e horas de jantar. Jantar, sair para o passeio nocturno com o Vicente, nós, a Carlota só quando está de bom humor, voltamos, olhamos para a televisão, uma vista de olhos pelas notícias e cama. Leitura? bordados? casaquinho de malha para o Inverno, não consigo, amanhã vou novamente sair para o Centro por voltas das 8h e 45m, dia após dia, semana após semana, mês e mês seguidos, há 30 anos que é assim, estou farta? O problema é que gosto, gosto da viagem matinal de meia-hora até Sines, gosto do inexperado do dia, gosto da hora do café, gosto de dar uma gargalhada, gosto de voltar a casa e saber que vocês estão cá todos, os gatos, os cães, tu, as filhas, cada uma no seu sítio, mas perto do meu coração. Falta-me tempo, o tempo que outro dia me explicaram que na verdade "o tempo nunca falha", qualquer então vou ter tempo para ler, escrever, aprender música, fazer trabalho solidário, voltar à escola mas agora para começar um curso de História e Religião, sonhar faz mal?
Hoje não tive histórias, vi 15 crianças durante o período da manhã,todas tão diferentes e tão iguais, apetece-me cada vez mais ser avó. Durante o período da tarde, vi cerca de 20 mulheres para despiste do cancro do colo do útero, e não houve muito tempo para conversa, cada uma com a sua história, com as suas dúvidas e ansiedades, mas não me ficaram na cabeça, porque já estava a ficar tão cansada, mas feliz, na verdade cada dia gosto mais de trabalhar, doida?!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Aniversários

Os dias nem precisam ser de aniversário para serem especiais, mas hoje, foram as duas coisas, dia super bom e também de aniversário, e como eu gosto fazer anos meu Deus, não interessa do quê, também interessa claro, mas o melhor de tudo mesmo é fazer anos, e logo a seguir é que niguém especial se esqueça de dizer: parabéns! O pai desde ontem que se lembra, a filha que está tão longe mandou um sms, a filha que está perto quase se esquecia mas lembrei-a a tempo, claro, com faço sempre. Houve prendas, beijos e bolos, as bebidas só para Dezembro. Vale a pena escrever isto? Vale, primeiro porque é isso que me apetece, depois porque ao escrevê-lo vai ficar ainda mais gravado no meu coração estes 31 anos, podia colocar aqui fotografias, mas não fica bem, este espaço não é um diário ?, é um reflexatório? Não existe a palavra? Temos pena, para mim existe e é minha, amanhã logo se vê, se continuo aqui ou passo só para o diário, eu gosto de escrever ao correr da pena e se tenho que resguardar-me acabo já com o blog e escrevo no silêncio do meu espaço, só para mim; mas hoje, não quero decidir nada, hoje é só para ser feliz e saborear os momentos bons, ao correr do tempo, amanhã é outro dia e logo se vê, o tempo traz tempo, tempo para decidir o que fazer das palavras.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Dúvidas

As minhas dúvidas em vez de começarem a diminuir com a idade, o passar do tempo, com  a aprendizagem diária, com os erros que tenho cometido, e que têm sido tantos, com o que me vai acontecendo e que vou vendo acontecer aos outros, em vez de diminuirem, não!!! vão aumentando, e aquelas que se prendem com o relacionamento entre as pessoas, são as que me causam maiores dúvidas de entre elas, e mais angústia, e não ter um grupo onde possa falar destas dúvidas, leva-me a escrevê-las para mais que não seja, exorcizá-las. Esta história hoje, não é muito fácil de contar, parece um novelo a que fui dando corda e que, para não me angustiar mais, parti na altura mais oportuna, quando achei que não havia mais corda a dar.
Com alguma frequência há palavras mal ditas que levam a emoções descontroladas. As minhas filhas, queridas filhas, de 25 e 27 anos, são meigas, educadas, preocupadas, capazes de actos altruístas, por vezes ciumentas uma com a outra, ainda que eu só dê por isso muito raramente. Neste momento a mais velha está a trabalhar na Austrália com o marido, e falamos sempre que possível pelo spyke, ou skype, é assim um destes meios de comunicação moderno, Deus o abençoe, que coisa mais funcional não encontrei ainda. Só que temos alturas em que se torna dificil aceder à net, outras alturas em que não funciona o rato que é a pilhas, e parece ter sido o que aconteceu desta vez: o pai queria fazer a ligação, a filha da Austrália estava a chamar e o rato não dava nada, porque a filha mais nova tinha estado ao computado e tinha-se esquecido de o pôr a carga. O pai gritou: Inês nunca tens cuidado com as coisas onde mexes!!! agora não consigo falar com a tua irmã; não sei se foram estas as palavras, também não interessa, o que interessa foi o tom em que foi dito e a emoção que passou nesse grito. O tom foi alto, agressivo, de raiva carregada de culpa, e ela, sentiu que mais uma vez, estava a prejudicar
a irmã, que o pai, mais uma vez lhe estava a fazer sentir isso, claramente!! Lanche com choro, eu a tentar perceber essa dor, que me parecia ser maior do que devia, o pai sem jeito para pedir desculpa, mas fazendo-o desajeitademente o que ainda causou maior desconforto. Não tinha trazido carro, precisava voltar para Lisboa, tinha combinado com o namorado que regressava de comboio, só que eu achei melhor levá-la e convidei o André para irmos jantar todos ao Chinês.
Não foi nada disso, porque ainda aborrecida connosco a Inês pede ao André para a ir levar, ele pelo telefone responde-lhe grosso e curto: tinha outros planos! Ficou ainda mais desajeitada, também não conseguia ser compreendida pelo namorado, e ainda por cima lhe respondia aborrecido, mais choro. Passado uns momentos chega o André todo atarefado, a dizer que nem ela nem a irmã tem nem 5 nem 7 anos, e despacha-te que tenho mais que fazer. Mais uma vez o que magoa não é própriamente a palavra mas a velocidade a que é enviada, carregada de muita raiva e muita culpa: estragaste-me a tarde! Mais choro, só que perante esta última torrente de agressividade curtei o mal pela raiz: vamos sentar para conversar!!! E ficaram todos a olhar para mim. Expliquei que o André para além de estar a ser agressivo e mal criado, não devia falar assim com a Inês, não percebia como ela deixava que isso acontecesse?! Nesse momento a filha diz perante todos nós, que já não é a primeira vez que o André a trata assim E que já ao telefone tinha sido agressivo! Tanto pior, levaram os dois, a Inês porque deixou o André ser incorrecto, o André porque o foi, e como tinha sido eu que tinha iniciado o novelo, a tarde e jantar em Lisboa, o assunto terminava aqui, quem vai a Lisboa sou eu e levo a Inês, vamos jantar ao Chinês, quem quiser vir vem, quem não quiser fica, aguardam por mim enquanto me visto.
ão

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A minha rua

O Dr.º Guedes que morava na minha rua, na casa em frente à minha, costumava dizer: "quanto mais conheço as pessoas mais gosto dos animais", e sempre pensei que esta frase tinha apenas que ver com a cadelinha dele, a pombinha, uma daelinha toda branquinha com o pelo comprido todo penteado muito lavadinha, que não passeava na rua só estava em casa, muito raramente passeava na rua com ele, desconfio que quando entrava na porta do quintal, limpava as patas no tapete, como dono fazia com os sapatos, gastos de tão engraxados. Na altura sempre pensei que era conversa de quem não tinha filhos e não tinha que se preocupar senão com algumas coisas: mudar de carro de 2 em 2 anos, sempre da marca Mercedes, escolher o que lhe apetecia comer, o que lhe apetecia vestir, mas os fatos eram sempre iguais, cinzentos, camisa branca, gravata e chapéu cinzento na cabeça, as perninhas viam-se quando as calças ganhavam ritmo com o andar, eu espreitava por baixo e via as perninhas muito magrinhas e muito branquinhas, olhava com estes olhos bisbilhoteiros e comentava com a minha mãe, o meu avó, a minha avó, mas não me respondiam, não me diziam nada, será que eles também pensavam o mesmo: "quanto mais conheço as pessoas mais gosto dos animais"?
Literalmente e emocionalmente cada dia que passa mais concordo com ele, até gosto de calças cinzentas e blusas brancas, mas os meus dois cães não se assemelham em nada à pombinha.
Diáriamente gosto do meu trabalho, se pudesse dizer, dizia que retiro prazer do que faço, gosto de conversar com os doentes, gosto de os ajudar a encontrar a origem dos seus problemas e a procurar com eles as soluções, mas quantos dias não sou incomodada com as palermices dos ciúmes dos meus colegas porque se calhar não são tão felizes quanto eu, nem conseguem ter um raciocínio tão rápido e tão eficaz, nem conseguem passar receitas tão depressa como eu consigo. Primeiro quando começo a trabalhar não olho a quem o faço, e, mesmo quando me parece que não vou gostar da conversa com este ou aquele doente, é mentira, gosto mesmo e consigo sentir que os doentes tão gostam, e falamos e por vezes rimos e contamos histórias, e é bom. Como gosto do que faço, consigo desenvolver uma grande quantidade de tarefas quase ao mesmo tempo, e para além disso ainda consigo dar trabalho a mais meia dúzia, resumindo, não passo despercebida, ficando com uns que me adoram, e naturalmente outros que me odeiam; com quem me preocupo eu? com os que me odeiam e sinto vontade de ralhar e fazê-los entender que eu sempre tenho a razão toda, claro, só pode mesm,o ser assim, sou uma miúda muito amada e mimada desde pequena, que ainda hoje quer que o mundo gire à sua volta. Não vale a pena não tenho nem idade, 55 anos, nem estatuto, chefe de serviço, para me preocupar com o que pensam de mim, desde que eu consiga pensar bem.
Não sou o Dr.º Guedes, não uso calças nem chapéu cinzentos, os meus cães não se parecem com a pombinha, nem troco de carro de 2 em dois anos, mas fico-lhe grata por me ter despertado para a dificuldade que é lidar com as pessoas, vivendo e aprendendo. Que saudades da minha rua!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Tecnologia e poupança

A tecnologia é uma coisa que nos facilita a vida, mas precisamos ter tanta dependência dela? Agora esta situação da crise e das contas suberanas dos países em defíce, comecei a tentar pensar nas minhas rotinas diárias de modo a que possa reduzir os meus gastos ao mínimo, a comprar quando estritamente necessário fazê-lo, a comprar apenas produtos de origem portuguesa, comprar o mais barato possível com qualidade e aquilo que preciso mesmo, para mim, para a casa, para as filhas, para oferecer, enfim, restringir ao máximo os gastos.
E comecei por pensar no que faço logo que me levanto: higiene fisiológica + higiene corporal, onde restringir? No papel higiénico - decididamente não vou voltar a limpar-me a papel de jornal, podia, temos jornais semanais que ainda compramos, mas se usar papel de jornal, fico um bocadito suja, terei que usar toalhetes húmidas! Mesmo que use papel e arranje aquelas toalhas de turco para me lavar, são um bocadito incómodas para levar para o trabalho, e depois ninguém ia perceber o uso de papel de jornal quando se usa a casa-de-banho.
Só com esta situação da higiene pessoal fiquei bloqueada, não avancei mais, não consegui decidir-me, papel de jornal com toalhas turcas, ou um bom papel higiénico de 2 folhas, macias e com ligeiro perfume, confortávelmente usadas, aumenta-me logo a auto-estima matinal. Posso prescindir? Posso, ainda que também este pensamento me tenha levado para o tempo em que na minha casa, tínhamos uma peça de barro, tipo alguidar, a que se tinha tirado o fundo, encaixada num banco de cimento, e eu como era pequena subia para o banco, e agachava-me para cumprir o meu ritual fisiológico, a limpeza era efectuada com papel já usado que a minha mãe levava para a retrete, nome que se dava a esse lugar degradante onde nos resguardavamos dos olhares alheios, apenas os olhares, porque a porta tinha um fecho fabricado pelo meu avô, que deixava uma fresta por onde entrava o frio e a chuva, e por onde saiam todos os cheiros e os sons, a nossa intimidada desbaratada, sem podermos resgardarmo-nos, humilhante. Durante muito tempo expliquei a toda a gente, pais, irmão, avós, visitas habituais, Ti Marcena, Senhora Deolinda, etc., que não podíamos continuar a ter uma retrete, eu queria, não era bem querer, eu precisava de uma casa de banho, ir estudar para o colégio de Cabeção e não ter uma casa de banho para me arranjar de manhã, como é que podia ser feliz? Ia até interferir no meu estudo, aliás ninguém podia estudar sem uma casa de banho digna, o meu avô compreendeu-me e a casa de banho surgiu em todo o seu explendor, que momentos de felicidade me proporcionou; agora voltar atrás para poupar no papel higiénico? Não, deve haver outra forma e outro bem em que se possa  poupar eficazmente, no papel, definitivamente não. Amanhã continuo a percorrer os meus rituais para iniciar a minha cruzada na poupança, espero ter esperteza e arte para desbloquear preconceitos, papel de jornal e papel higiénico, qual a diferença?

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

ENTRE OS MOMENTOS

Fácil, como foi fácil construir este blog, mas e então regressar cá?!!! Não sei que palavra chave usei que nunca mais consegui voltar.
Os dias têm corrido lentos, hora após hora, dia após dia, com notícias do caos financeiro, da recessão, da dívida nossa e dos outros, na verdade eu ando a pagar dvidas desde que começei a trabalhar e agora ainda me tiram mais 10% do meu ordenado, como se não contribuísse mês a mês para o Estado que somos todos nós. Já não tenho muita paciência para este conversê, muito paleio e obras poucas, o tempo que levam a decidir, até parece que tempo não é dinheiro!!
Nunca percebi muito bem como os economistas fazem as contas, mesmo agora que já passaram tantos anos, tantos cursos, tantos livros e revistas folheadas, ainda agora não é fácil, quando para mim me parece tão fácil, só que as explicações deles não me covencem, deles os economistas.
Porquê falar da crise? Porque na verdade é o pão nosso de cada dia, ninguém fala na crise do amor, não tem expressão económica definida, ninguém fala em cuidados à família, não tem expressão económica, ninguém fala do bem estar interior, do conhecimento da alma, de Deus ou o que quiserem chamar, não tem expressão económica, e financeira não terá?
Eu que lido diariamente com as emoções, as almas e os corpos que as revestem, dou-lhe um valor financeiro e económico enorme, para mim é o que mais conta, porque é isso que conta para a vida diária de cada um de nós. O dinheiro não compra o amor verdaeiro, não compra a calma tranquila sem nada a pesar na consciencia, o dinheiro na verdade não compra o sono, o dinheiro manipula-nos, mas quando ficamos devedores com alguem, não há que dar ais, é pagar e calar, devemos é parar com mais endividamentos, é fácil perceber isso, porquê tanto conversê? Parece que alguém anda a beneficiar muito com esta crise e precisa dela para se manter vivo, e nós precisamos de aumentar a crise?
Reflectir sobre o que podemos e não devemos gastar no nosso dia a dia é um começo, reflectir sobre como podemos produzir mais é mais uma achega, há sempre maneira de amealharmos uns tostões e a pouco e pouco deixarmos de alimentar vícios. Será que estou errada? É uma maneira muito doméstica de ver a situação? Quero acabar com a crise, e quero aprender com ela.

Visitas

Antigamente, visitar os amigos e os familiares doentes era uma coisa banal, porque se fazia com muita frequência, e banal só por isso. A visita cumpria certos rituais, primeiro saber quem precisava de ser visitado, a minha mãe ou mesmo a minha avô sentia e fazia-me sentir da necessidade da visita; depois a escolha do dia mais apropriado e da hora mais conveniente, mandar saber se a visita seria bem recebida, se a pessoa a quem se destinava se sentiria bem com a nossa presença, depois de todos estes Ses, que sabámos rápidamente, não havia telefones com há agora, para já não falar em telemóveis, mas havia sempre gente pronta a fazer "recados". Preparavamo-nos para a visita, com uns bolinhos, ou um cesto de fruta ou mesmo qualquer bordado ou doce caseiro, compota, qualquer mimo, ir sem nada nas mãos era muito feio, era uma falta de respeito. Chegado o dia, e perto da hora, preparavamo-nos com uma roupa mais adequada, própria para a ocasião, nem demasiado simples nem demasiado fina, sapatos limpos, cara lavada e bem penteada, uma pequena carteira de mão com um lenço de assoar bordado algumas moedas e a chave de casa, era a carteira da mãe ou da avó, eu levava a prenda e nada mais, apenas as recomendações especiais: cumprimentar os presentes depois dos crescidos, ficar sentada na cadeira que lhe destinarem, nunca na cama do doente, não mexer as pernas que costumavam ficar penduradas na cadeira e na altura do lanche, havia sempre lanche, saber comportar-se; não falar sem primeiro lhe dirigirem a palavra e saber sobretudo esperar, sem mostrar que está a bisbilhotar tudo e todos, e esta era a parte mais difícil. Conseguia fazer tudo, comportat-me bem, sorrir e ficar quieta nas alturas próprias, agora não vasculhar tudo e todos com os olhos era-me muitíssimo difícil, e disfarçar muito pior, lembro-me de uma frase que me dirigiram em casa da Tita: fecha a porta do quarto que a Maria Celestina bisbilhota tudo, vai contar tudo à mãe dela! Fiquei tão triste, eu sabia que era verdade, mas podiam disfarçar, senti-me exposta, senti-me despida, nunca mais gostei da mãe da Tita, se calhar foi por isso que briguei algumas vezes com a Lurdinhas, sobrinha da Tita, de quem gostava muito, mas que era pouco bisbilhoteira e eu sabia e sentia que era muito. Isto são lembranças, hoje também fui fazer uma visita, mas já sou mãe e fui com o meu marido, a minha filha mais nova e o seu namorado com ela vive durante a semana, não levei mimo nenhum, não mandei recado, nada fiz como aprendi. Fomos todos visitar a Tia Maria que está há 10 meses a viver num lar que ela odeia, com pessoas que ela não conhece, longe da casa e do flho, onde paga 1500 euros por mês que não entende como está a ser pago, porque o filho nem isso lhe explicou, e quando me abraçou, chorando bem e eu também a primeira coisa que me segredou foi: eu quero ir-me embora, não gosto nada de estar aqui!
Não fui preparada para este tipi de visitas, dóie-me a cabeça, o coração, a alma, dóie-me tudo. Sinto que fiz tudo errado, mas está toda a gente a errar como eu?