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domingo, 30 de dezembro de 2012

A holística e eu

Este ano o nosso Natal ainda não teve sino, nem Pai Natal, também não teve presépio, mas nasceu o nosso Menino Jesus, a nossa Mafalda, dia 22.12.2012, coisa linda, nem há palavras. Desde que soube que ia ser avó comecei a preparar-me, os meus conhecidos ainda não passaram por esta fase e, como não tenho a minha mãe por perto, não posso falar com ela, a minha sogra não sabe o que isso é, e não quero ser uma avó como a titi, de modo que fui buscar ajuda a quem achei mais indicado: a Alice, que me foi dando dicas, ao meu colega psiquiatra, velho com 83 anos, mas em quem confio, e agora uma semana antes da bebé nascer, ao meu recente personel trainer em meditação, massagens, chás e afins, resumindo, a minha agenda está tão preenchida que pouco tempo me resta para "o resto", trabalho e etc... Para que no futuro possa contar à minha neta sem grande margem de erro, vou contar agora, apesar de não ter muito tempo para promenores, está na hora quase de ir para a cama, onde tenho também tarefas antes de adormecer.... comecei a auto medicar-me quando um dia a minha filha nos contou que tinha intenção de casar-se na praia; achei a ideia linda, ajudei no que foi preciso, mas comecei com um anti depressivo que já tinha tomado em tempos e que me tinha ajudado muito bem noutras alturas e porquê? Porque não queria chorar no dia do casamento, correu tudo bem, a filha foi a noiva mais linda que já vi até hoje e foi uma festa linda, que ainda hoje recordo com emoção. Depois, foram para a Austrália, ok correu bem, mas foram 6 meses de skipe, sempre sem uma lagriminha à vista. Compra de casa, mais uma ajuda, este ano, depois dos meus anos: "mãe estou grávida"; não podia parar os comprimidos, assim como não podia parar os da hipertensão, diabetes e colesterol, nem quero que ninguém veja tanta droga, mas de manhã, tomo-os à vista de toda a gente, no café. Tudo parecia correr bem até que o meu intestino começou a pregar-me partidas, deixou de funcionar, na verdade só fiquei preocupada quando levei 15 dias sem qualquer dejecção e sem qualquer ameaça, até os ventitos que todos nós deitamos à media de 14 por dia, se tornavam mais escassos. Não tinha dores, não sentia mal estar, apenas um certo enfartamento durante todo o dia, vai daí achei que seria conveniente começar a tomar um laxante, comecei com a dose habitual à noite e nada, mudei para de manhã e nada, dobrei a dose e o intestino não teve outro remédio, cedeu, ele foram gases e fezes, que por ser num dia de semana, entupi a sanita da casa de banho do serviço, tive que chamar para ajudar, as moças da limpeza, claro que apresentei-me como vítima, referi a situação da casa de banho como se outra pessoa lá esyivesse estado antes de mim "vá-se lá saber quem!!!!" tivesse tido esse azar e saído sorrateiramente, o meu problema foi ter de usá-la naquele momento, enfim, coisas que inventamos para desculpar excessos.
Os dias foram passando e com a ajuda do laxante conseguia resolver a situação dia sim dia não, contei esta preocupação à Alice que me explicou que o meu corpo estava a reagir à minha necessidade de controlar tudo e todos, naturalmente que ia ficar mais doente se não conseguisse relaxar; escusado será dizer que não relaxei nada e a solução era aumentar a dose de laxante, com efeitos cada vez mais reduzidos, pensei que seria mais prudente pedir ajuda, fui ao psiquiatra- resultado mais um antidepressivo a juntar, agora este à noite, como sou muito obediente, comecei a tomar. O intestino? Teimoso, nada, cada vez necessitava de mais laxante para evacuar cada vez menos, que saudades do dia da sanita entupida. Que fazer? Massagens havia de ser bom!? Muito bem, marquei para um jovem engenheiro civil que enveredou pela holística e era expert em massagens. Graças a Deus deu resultado, cada vez o meu intestino se tornou mais colaborante até ao ponto em que no dia em que a Mafalda já estava em trabalho de parto, quando fomos todos jantar, na minha 3ª vez que recorria à casa de banho pública, não cheguei a tempo, mas como tinha cuecas, collants e body, tudo se ficou apenas pelas cuecas, de modo que quando a minha neta veio ao mundo a sua querida avó estava feliz, mas sem cuecas; a minha querida neta só pode ser esperta e especial, tem a quem sair, à titi e à sua avó. Mas para ter estes brilhantes e relaxantes resultados tenho sido massajada, tenho tomado de manhã 2 produtos naturais, um chá quente durante o dia e ainda tenho que massajar a barriga com óleo quente. Os resultados estão a aparecer, de tal maneira que quando íamos hoje ver a minha neta, tivemos que fazer uma paragem de emergência, juntinha ao carro aliviei-me e senti-me feliz. Sou feliz, o meu corpo já responde bem sem laxantes, tenho a neta mais linda do mundo, a pouco e pouco queria ver se deixava os comprimidos e só depois com calma os produtos naturais, as massagens posso continuar até me sentir completamente restabelecida. Será que um dia a Mafalda vai acreditar nestas histórias verdadeiras ou vou ter que inventar?

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Medos

Quando o medo é maior que o amor, ficamos toldados e iniciamos loucuras; aprendi com a A., não vou mais dizer o nome das pessoas com quem me cruzo, sou interpretada mal e não quero, não preciso, não é para me indispôr com ninguém que venho aqui escrever, e que bem me sabe. Foi muito bom querer vir aqui ter comigo e depois de várias tentativas perceber que a minha memória é o máximo. Tenho muito medo de vir a ficar como a minha mãe ou como a minha avó ou mesmo bisavó, mas na verdade acho que o "medo me tolda a minha capacidade normal de viver", o medo quando ultrapassa o limiar de confiança é sufocante, tenho pois que controlar esse medo, não vou ficar com alterações de memória, agora tenho coisas bem mais importantes em que pensar, a minha Mafalda está prestes a chegar, já tem 36 semanas, só tenho cabeça, coração e o corpinho todo para pensar nela. Se a minha mãe estivesse aqui comigo dizia: medos, não há cá medos! Eu digo o mesmo, medos não há cá medos, há é um coração cheio de amor.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Sexo ou amor

Fico tão cansada quando mudo um pouco da minha rotina, as filhas estão sempre a chamar-me a atenção que as rotinas sem sofrerem alterações fazem bem, mas pouco, não estimulam as nossas célulazinhas cinzentas, como dizia o Poirot. Mas a verdade é que talvez que as minhas estejam já tão arrumadas que qualquer novidade cansa-as, sei da importância de movimentá-las e por isso vou com grande frequência a cursos de "revisão da matéria" neste caso é sobre feridas, e vão ser 5 dias em Évora, fico até mais cansada ainda é da viagem e da conversa. Não posso ficar calada muito tempo, adoro conversar, contar histórias, rir com as histórias dos outros tudo para mim é de muita importância, e claro que fico cansada, tudo é para ser feito com muita emoção, até às lágrimas, a emoção comanda-me a vida. Ainda agora a filha me disse para quando o meu 1º livro, tenho muita vontade, adora chegar aqui e começar a escrever, mas o que gosto mesmo é de escrever à medida que me vem chegando as palavras, sinto assim um nó, à medida que escrevo o nó vai desenrolando e as palavras vão saindo com conta peso e medida, até sem ter a ver e no entanto fazem todo o sentido. Quando pego na escrita, nunca sei muito bem para que lado estou virada, as palavras saiem primeiro as que precisam sair mais depressa e só depois com toda a calma, as ideias vão ficando mais claras e transparentes, até que sinto que "por hoje já chega", ora o livro que irei escrever não pode ser uma manta de retalhos, apesar dos retalhos serem todos da minha costura, mas não deixa de ser um conjunto de retalhos a dar forma ao livro. A Alice acha que tenho que trabalhar em mim a compaixão, estou a tentar aprender um pouco mais sobre compaixão, mas os temas vão aparecendo há medida das necessidades, o livro será necessidade para o meu Eu o meu orgulho, não para o meu bem estar, para a minha zona de conforto. Acho que só vai sair quando não poder deixar de ser, é preciso que não tenha outro remédio, a escrita é terapeutica, não pode ser para enfeitar, o futuro dirá, sei que a Mafalda vai mexer comigo, talvez escreva uma livro para ela, nada acontece por acaso, é só preciso estar atenta, de qualquer modo podia frequentar um curso de escrita criativa, e se pudesse fazer esse curso aqui em Grândola, seria ouro sobre azul, vou esperar, Grândola é cada vez mais importante para quem quer descansar, então não podia ser um momento para descansar e ao mesmo tempo alguém que nos ensinasse sobre escrita criativa? Boa ideia.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Medo

Amedrontada, baralhada, com medo de acordar, porque não vai ser bom acordar deste pesadelo e perceber que o sonho era bastante mais suave que a realidade. A dívida assusta-nos, temos medo até de pensar se algum dia vamos ficar com a nossa vida mais tranquila, que o nosso futuro já não está ameaçado, porque na verdade não me importo nada de trabalhar até aos 70 anos, se nessa altura for "jubilada" claro, nunca reformada, não me importo nada que seja preciso trabalhar mais horas por semana, preciso URGENTEMENTE perceber o que está a acontecer: estamos a pagar a dívida, mas qual dívida? Se já começamos em 2011, ou foi em 2010? desde essa altura que me descontam 10% mensalmente, do meu ordenado, tiraram metade do subsídio de Natal, e este ano não há subsidios para ninguém, como estamos da dívida? Oiço falar que vamos ter mais uma tranche de 4 mil milhões e qualquer coisa, não percebo, estamos a pagar, ou estamos ainda a ficar a dever mais? Quem permitiu esta má gestão? Ninguém teve culpa, ou ainda é do nosso primeiro Rei, que parece nunca ter pago a dívida à Santa Sé? Se calhar a culpa é da Revolução de Abril, quem tem estado a gastar o dinheiro que é de todos nós? Porque quando entrámos para a CEE e nos pagaram para abater a nossa frota pesqueira, ou tirar as videiras, cortar as oliveiras, plantar girassol para receber subsidio!!!... ou outras artimanhas que tais, ninguém se importou - o dinheiro corria por uma telha, toca a gastar e a pedir ainda mais!!! Então os nossos Governantes tem tido um papel fundamental nesta desonrientação toda, foram atrás do dinheiro fácil, podíamos chamar-lhe «prostitutos» da governação! e chamar à CEE «chulos», isto é o mais leve que consigo falar, porque quero manter-me nesta sonolência amedrontada, não quero acordar porque sinto medo, um medo de perder o juízo, de começar a morder raivosamente,... morder este aquele o outro e toda a gente, a morder morder perdidamente ....e a não morder ninguém...
Sinto a cabeça à roda, com uma vontade de gritar, escrever, cantar, expulsar, arranhar, e escondo a cabeça, escondo o olhar, não são os outros que estão errados, sou eu. Não são os outros que são oportunistas, incompetentes, ladrões, assassínos, bajuladores e outros adjectivos que me escapam, eu é que não percebo nada de economia, de finanças, todos os países estão iguais, todos devem, todos tem que pagar, todos estão à beira da banca - rota... E continuo com a dúvida: quem tem o dinheiro é quem manda, mas quem tem ética e honra não pode pôr ponto final a esta DÍVIDA GLOBAL??? Honra e ética não funcionam, precisamos do quê?
No último feriado do 5 de Outubro, pareceu-me ver os ratos a fugir do navio, onde está o COMANDANTE??

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Palavras

Fico tão cansada quando mudo um pouco da minha rotina, as filhas estão sempre a chamar-me a atenção que as rotinas sem sofrerem alterações fazem bem, mas pouco, não estimulam as nossas célulazinhas cinzentas, como diria o Mr. Poirot. Mas a verdade é que talvez as minhas estejam já tão arrumadas que qualquer novidade as cansa, sei da importância de movimentá-las e por isso vou com grande frequência a cursos de "revisão da matéria" neste caso é sobre feridas, e vão ser 5 dias em Évora, fico até mais cansada ainda é da viagem e da conversa. Não posso ficar calada muito tempo, adoro conversar, contar histórias, rir com as histórias dos outros tudo para mim é de muita importância, e claro que fico cansada, tudo é para ser feito com muita emoção, até às lágrimas, a emoção comanda-me a vida. Ainda agora a filha me disse para quando o meu 1º livro, tenho muita vontade, adoro chegar aqui e começar a escrever, mas o que gosto mesmo é de escrever à medida que me vêm chegando as palavras, sinto assim um nó, à medida que escrevo o nó vai desenrolando e as palavras vão saindo com conta peso e medida, até sem terem a ver e no entanto fazem todo o sentido. Quando pego na escrita, nunca sei muito bem para que lado estou virada, as palavras saiem primeiro as que precisam sair mais depressa e só depois com toda a calma, as ideias vão ficando mais claras e transparentes, até que sinto que "por hoje já chega", ora o livro que irei escrever não pode ser uma manta de retalhos, apesar dos retalhos serem todos da minha costura, mas não deixa de ser um conjunto de retalhos a dar forma ao livro. A Alice acha que tenho que trabalhar em mim a compaixão, estou a tentar aprender um pouco mais sobre compaixão, mas os temas vão aparecendo à medida das necessidades, o livro será necessidade para o meu Eu o meu orgulho, não para o meu bem estar, para a minha zona de conforto. Acho que só vai sair quando não poder deixar de ser, é preciso que não tenha outro remédio, a escrita é terapeutica, não pode ser para enfeitar, o futuro dirá, sei que a Mafalda vai mexer comigo, talvez escreva uma livro para ela, nada acontece por acaso, é só preciso estar atenta, de qualquer modo podia frequentar um curso de escrita criativa, e se pudesse fazer esse curso aqui em Grândola, seria ouro sobre azul, vou esperar, Grândola é cada vez mais importante para quem quer descansar, então não podia ser um momento para descansar e ao mesmo tempo alguém que nos ensinasse sobre escrita criativa? Boa ideia.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Cremes e perfumes

Não está fácil viver neste canto há beira-mar plantado, sentimos que quem nos está a governar, e está a fazê-lo porque nós os elegemos, parecem zumbies, tomam decisões, fazem promessas, voltam atrás, gastam, gastam, gastam e nós os que temos-felizmente- trabalho, pagamos,pagamos,pagamos!!!! O desgoverno do governo não é de agora, mas tem sempre os mesmos responsáveis, PSD/PS/CDS e mais ninguém, também sabemos que o nosso primeiro Rei, D.Afonso Henriques não cumpria com os seus cumpromissos, ficou a dever algum oiro ao Papa da altura, assim como assim, os Papas dessa época não eram para levar muito a sério. Agora, passados tantos anos, quase mil, ainda continuamos a não pagar o que pedimos, é grave, aceitaram empréstimo do dinheiro ao preço da uva-mijona, como se os almoços alguma vez fossem de graça. Sinto-me deprimida, o meu poder de compra diminuiu, mas continuo a poder comprar o meu perfume, ou o meu creme de rosto preferidos, viajar é que este ano ficou pelo Algarve e foi muito bom. Mas sinto-me deprimida na mesma, porque percebo que estou a dar muito valor à perda do meu poder de compra, quando tenho o exemplo da minha sobrinha que vive num recanto do México e é feliz com quase nada. Sou capaz de viver num recanto, desde o Nepal, à Índia ou Perú, mas preciso de vez em quando entrar numa loja de perfumes, cremes e massagens, de vez em quando preciso de dormir num lençol de seda, linho ou algodão muito sedoso, num colchão especial, depois de uma limpeza a sério nos meus queridos pés, sou capaz de não ter nada, só de vez em quando preciso de cheirar bem. Estou numa fase da minha vida deslumbrante, sinto-me no entanto amedrontada: vou ser avó; não sei se sou uma mãe querida, algumas vezes sinto-me desconfortável com as filhas, sobretudo quando a razão está do lado delas, e não tenho mais que concordar; não vou aguentar que a minha Mafalda também me diga: não tens razão avó, estás enganada!!!!??? Desisto, também não preciso sofrer por antecipação, agora é tempo de preparar a minha mala para a altura da maternidade, de ajudar a preparar a mala da filha e da neta. Procurei o que deve constar na mala dos avós para a maternidade, não encontrei!!! Será que não existe lista ou eu não soube procurar? Claro que deve haver, não posso ser a única com essa necessidade!!
Amanhã continuo, cada dia preciso de aprender a desligar-me cada vez mais das coisas materiais, acho que deixo para o fim os perfumes e os cremes, sou feliz mas serei ainda mais quando entender que para continuar a ser feliz não preciso de quase nada, a não ser beijos e abraços.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Cerejas e contratos

Passar de cão único a cão "irmão" de 2 cães e 2 gatos, não é tarefa fácil; os brinquedos, bola, perna de galinha já muito mordida e osso novinho em folha, quando aparecem são motivo quase sempre para arrufo sério, de modo que todos os movimentos são pre-meditados para não serem motivo de discãossões. O futuro só pode ser bom, todos estamos a tentar. É certo que o Vicente ia iniciar fluoxetina em gotas, eu achei que ele andava deprimido e a veterinária concordou; a coisa agora está fora do meu controle, não sei se é depressão, acho que é só ciúme, que a depressão, se existiu, já se foi, em vez das gotas a cura foi o novo companheiro de casa. A Sarita e a Preta, bastante mais espertas andam com pézinhos de lã, entram, saiem, comem, dormem, sempre com um olho no Fred e outro no que lhes interessa, de modo que podemos dizer: vamos indo, um pouco mais ou menos na mesma, frase adorada da minha querida sogra, ou mais própriamente, cá vamos indo com a graça de Deus, mais ao jeito da minha Avó Maria Antónia mais conhecida pela Pató. Não sei quem lhe pôs este diminuitivo, não gosto nem desgosto, para mim nunca foi Pató, mas Vó. A minha Avó era muito meiga, esperta, e um pouco como o Robin Wood, tirava aos ricos para dar aos pobres. Trabalhou em casa dos padrinhos, como um género de "governanta" tomava conta da casa e das empregadas, porque na verdade ela foi lá para casa, acho que com 6 anos de idade, para ir para a escola. Foi à escola, porque sabia ler, mas deve ter ficado pela 2ª ou 3ª classe, não era coisa que gostasse nem os padrinhos forçaram muito, a minha bisavó Cachica mais o meu bisavô Rato, seus pais, viviam no monte e não era possível a Maria, minha avó, ir à escola. Não sei que combinação foi a dos compadres, avô Rato e padrinho Martins velho, mas só ela veio do monte, a tia Albertina veio para aprender a coser, as outras irmãs foram para o Vimieiro e já não me lembro bem do resto da história. A minha avó nunca foi agarrada ao dinheiro nem a quaisquer bens materiais, de modo que quando havia muita comida na casa dos padrinhos ela trazia debaixo do avental miminhos para a gente, potros, peças, queijos, o que ela achava bom; quando os padrinhos deixaram de ter dinheiro e passavam necessidades pedia dinheiro ao meu pai, que necessáriamente eles tinham que pagar, e levava da nossa casa o que achava que eles precisavam, sempre debaixo do avental, caldos knorr, bacalhau, linguiça; foi mantendo essa atitude até ao extremo, e culminou com a entrega das botas caneleiras novas do meu pai, mandadas fazer no Manel Garcia, que tinham custado uma fortuna ao meu pai, 12 contos de réis, e que eram o seu orgulho. Eram ensebadas todos os fins-de-semana por ele com um verdadeiro desvelo e ficavam ao redor do lume para enxugar; quando o meu avô Luis morreu a minha avó deu essas botas novas, em memória dele, como se fossem as botas velhas do meu avô. O Verão passou, quando chegou a altura de usá-las bem podia o meu pai vasculhar a nossa casa, a casa da avó Galucha e arredores, nada das queridas botas novas, até que ele ou a minha mãe se lembraram das dádivas aos pobrezinhos por altura do falecimento do meu avô, ninguém tomou conta e lá foram as ditas; o meu Pai zangou-se? Não senhora, esta era uma história que de vez em quando ele contava com a sua imensa graça, ria-se até mais não poder e todos nós nos riamos, moral da história: não sei, mas sinto-me feliz ao recordar. As palavras são como as cerejas atrás de uma vêm uma dúzia delas, eu agora ficava aqui mais meia dúzia de histórias, a escrever, a escrever, mas o tempo passa rápido e amanhã é outra vez dia de trabalho. Os dias de trabalho são bons, pena é que não consiga fazer mais nada, chego tão cansada a casa: hoje estive com o Pedro, 14 anos, com problemas familiares graves e escolares, antes da escola acabar e das férias, fizemos 2 ou 3 sessões de hipnose, hoje estivemos a conversar, sente-se bem, vai iniciar o 6º ano, precisa de fazê-lo para no próximo ano começar a aprender a ser mecânico; combinámos a estratégia e quando lhe perguntei pelo desporto que ia fazer, abriu muitos os olhos e disse que não podia, a mãe e o padrasto estavam desempregados, não podia gastar dinheiro; quando sugeri que era capaz de resolver essa questão, o futebol saltou para a conversa, resultado: amanhã já vou tratar de resolver essa pequena questão diplomáticamente, vai ter futebol, mas é fundamental cumprir com as suas obrigações, será que vamos conseguir? O sonho comanda a vida, ou será que fiz um contrato: vais para o futebol se mantiveres bom comportamento na escola, estamos correctos? Vou ter que perguntar à Alice. Acho que não era preciso fazer este contrato, porque ele devia estudar porque sim, e devia ter hipotese de jogar futebol porque sim, sem contrapartidas, mas a verdade é que esteve 3 anos no 5 º ano!! A verdade é que não há dinheiro em casa; a verdade é que ele precisa de ter uma coisa boa para poder entusiasmar-se pela vida, pelo dia de amanhã, se calhar não fiz muito mal com este contrato? Depois direi.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Adopções

E súbitamente deixei de ser capaz de aceder a esta folha para escrever, bem que eu tentei, mas os meus conhecimentos informáticos ainda são diminutos, o que me valeu foram os conhecimentos dos meus queridos jovens, resolvem-me qualquer problema desta natureza. Voltei ao trabalho diário, mas parece que as férias foram tão boas, não me sinto exausta, sinto-me bem, e essa sensação aumentou ainda mais quando vinda de férias, percebi que tinha nascido o bebé da grávida que passava fome, o bebé nasceu com baixo peso, mas parece ser perfeitinho e o sorriso no rosto daquela mãe persiste; perguntei-lhe em sussuro se precisava de alguma coisa, e ela em sussuro me respondeu: não, tenho tudo! Mais descansada.
Entretanto aconteceu-me mais um encontro não previsível: o Fred. é um cão com 5 anos, que vivia com uma dona velhota e cega; de cada vez que ia passear à rua com ele, conseguia deixá-lo fugir e agarrar noutro qualquer para trazer para casa, até o cão dos ciganos ela conseguiu trazer, não sei que volta a vida dela deu, o que sei é que o Fred apareceu em fotografia no Centro de Saúde a pedir novo lar, parece que me deu um nó no estomâgo e disse que podiam trazer-mo às 5 da tarde, que ia ser a sua nova dona se ele quisesse claro! Ele viu-me eu vi-o e adóptamo-nos mútuamente; tem uns olhos tão faladores que o meu pequeno querido quando o viu também o adoptou e foi  por ele adoptado e a filha e o marido também, acho que mesmo a pequena Mafalda dentro da barriga de sua mãe também o adoptou e foi adoptada. Acho que ele está bem, mas por vezes parece que há lágrimas a correr nos seus olhinhos e vejo-o a olhar o horizonte com ar altivo e distante, saudades? De certeza, é demasiado esperto para não ter muitas saudades da sua antiga dona, que eu não conheço, mas não me importava de lhe levar esta doçura, será que era correcto? Sei que seria uma visita curta, mas seria gratificante para eles? Não sei, mas vou perguntar à Veterinária. O Fred trouxe tudo, cama, brinquedos, comida variada, desparazitante, o livro da sua antiga Veterinária, só faltou vir agarrada a ela a sua antiga dona! Quando vi as suas coisinhas chorei e o probezinho lambia-me as minhas lágrimas, claro que ainda chorava mais, momentos delicados e deliciosos. A vida com os novos amiguinhos não tem sido fácil, no primeiro dia não consegui evitar umas brigas entre ele e o Vicente, a Carlota e até a Sarita subiu no corpinho do Fred para umas boas arranhadelas, felizmente nada de grave, agora os arrufos são esporádicos e o Fred quer mandar em tudo e todos, vamos ver, o tempo dirá como vão correr estas futuras relações canino-gataria-donos, vai correr tudo bem, e hoje fico por aqui, soube-me regressar, estarei a ficar depente da escrita? Tantas coisas que estou a viver que pareço um pouco como o Fred, nem sei para onde virar-me para dar conta de tanta novidade, a Neta, a casa nova da filha, a Neta, o trabalho, a Neta, a sobrinha e os sobrinhos -netos, a Neta, a minha casa, a minha roupa, os meus papéis, a interna, os novos internos, os livros, a vontade de conhecer e de ser massajada, de ir ao cabeleireiro, de pintar as unhas e de tirar os pêlos, para mim cada coisa destas e fóra aquelas que ainda não enumerei, são todas únicas e efectuadas com horas muito próprias em momentos definidos, sempre muito saboreados, doida varrida, mas por calma e feliz!

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Projectos

Ainda estou de férias mas muito mais descansada, capaz de ler, capaz de andar no quintal a tirar as ervas daninhas e a não ter necessidade de pensar senão nas ervas daninhas. Quando estive no Gerês adorei e vamos voltar lá para passar uma semaninha; em férias no Algarve nem tenho palavras, o 1º fim de semana foi estar connosco a filha mais nova e foi super bom; na semana a seguir foram a filha mais velha o seu bebé ainda na barriga, mas já a dar um arzinho de graça, a gente a sentir que há vida dentro daquela barriga e o seu marido que cada dia que passa, acho que nos vamos conhecendo melhor e gostando mais. Foi calmo, não fizemos muito mais que vegetar, ler, dormir, vegetar, passear, dormir, conversar, vegetar, ida ao ginásio, comer de vez em quando... Nem jogamos às cartas, tínhamos demasiada preguiça, parece que este ano a preguiça teve o dom de nos dar umas férias em beleza, a preguiça foi estimulada, adorada, venerada e isso foi muito bom. Não houve nada mau? Claro que houve, ainda tenho que escrever 2 reclamações, para o primeiro hotel que tínhamos marcado, mas que nem chegámos a ficar bocadinho nenhum, por ser demasiado diferente do que mostrava na Net, o outro por terem acontecido pequenos grandes precalços, que é importante   sublinhar por ser um hotel de 5 estrelas e ter um serviço de refeições parecido a um hotel de 3. No Gerês ficámos num hotel de 3 estrelas mais digno na zona de refeições do que este de 5, claro que no preço nem semelhanças. Como marcámos através da Agência de Viagens, terei que fazer um relatório para a Sónia, e depois ela fará chegar a cada um.
Saldo magnífico, sinto-me capaz de começar a trabalhar, mas vou ser obrigada a trabalhar menos, preciso de continuar com tempo  para mim, para o meu pequeno querido e para tudo e tudo, sem esquecer a "pequena criatura" é assim que a minha filha chama ao nosso neto...
Férias deliciosas, regressada a casa apetece-me mexer nos meus papéis, limpar gavetas, arrumar prateleiras, regar as plantas, começar o livro e o quadro e o casaco e.... tantos projectos, que o meu trabalho não me tire tudo isto, posso trabalhar e continuar a ser eu?

terça-feira, 31 de julho de 2012

Sujeito passivo B: Férias 1, 2012

Sujeito passivo B: Férias 1, 2012: Ainda faço muitas asneiras diáriamente, mas já me sinto melhor. As férias já começaram, estivemos uns dias em Grândola, com os meus queridos...

Férias 1, 2012

Ainda faço muitas asneiras diáriamente, mas já me sinto melhor. As férias já começaram, estivemos uns dias em Grândola, com os meus queridos animais e as minhas plantas do quintal, todos precisam de cuidados. Depois fomos os dois muito calmamente até Guimarães onde ficámos uma noite, agradável. No dia a seguir viajámos para o Gerês, adorei, mas fiquei um tudo nada desiludida, pensava que toda a zona do Gerês era muito arborizada, que mal se via o céu, que ia ter sempre muitos animais selvagens por perto e que era tudo muito rural, quase ter que ordenhar a vaca para beber leite; na verdade não é bem assim, mas tivemos 2 dias de puro descanso, com uma massagem Cupido nas termas que classifico de 5 estrelas: começou com um banho turco que não consegui apreciar bem, estava muita humidade e calor, mas gostei, depois percorri o circiuto todo de duches, maiores mais pequenos e outros assim a assim, frios muitos frios e mornos, havia até um que acabava com um aroma belíssimo. Acabada esta sessão passámos para a piscina dinâmica, uma verdadeira surpresa, jactos , massagem com água que tinha que descobrir por mim e que me divertiu imenso, o meu pequeno querido gostou mas adorou foi o banho turco, até repetiu. Acabou a sessão da piscina e fomos para a zona da massagem, adorámos, foi pena ser só 30 minutos, devia ter sido o dobro e com mais incidência na zona do pescoço e cabeça. Fim da manhã completamente conquistados, decidimos que iríamos fazer massagens todos os meses e termas no próximo ano no minímo 7 dias seguidos. Esta 1ª parte da viagem foi deliciosa. Amanhã vamos a caminho do sul, e vamos ter a visita das meninas, acho que vai ser triplamente bom. Claro que houve neste primeiro período da viagem coisas para contar, mas até para contar me sinto de férias, voltarei e conto com mais pormenor.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Vale a pena chorar

Regressei, agora que estou em véspera de ir de férias, volto um pouco mais desanimada do que é meu costume, porque sinto a cada dia mais peso do trabalho, que eu adoro; e, porque me sinto um pouco exausta, não aguento que me mandem trabalhar mais, quando eu sinto muita dificuldade em manter o que devo fazer no meu dia a dia, quanto mais trabalhar ainda mais horas. Na verdade, não sei porque me sinto triste e porque é que até verti umas lagriminhas, se me sinto muito bem a trabalhar, e se gosto de ir para o Centro de Saúde é porque gosto do contacto diário com as pessoas que me procuram, e se de algum modo eu poder contribuir para lhe melhorar o seu dia a dia, a minha vida diária tem sentido. Trabalho para o doente / utente, não para o meu patrão, pode aproveitar o meu trabalho e brilhar com a estatística que é minha, mais nada. Então nada nem ninguém me pode fazer mal, nada nem ninguém tem poder para me entristecer, nada nem ninguém está acima de mim, porque eu estou ao serviço de quem precise de mim, é para essa certeza que devo orientar-me e não para quem faz do seu dia a dia o entusiasmante trabalho de andar a olhar para o lado, de viés. Quando trabalhamos para um Serviço tão grande como o Estado, não podemos estar à espera que haja alguém que nos dê valor pelo nosso esforço diário, não podemos estar à espera que haja alguém que nos diga" como é bom trabalhar contigo, estou ao teu lado"; aquilo que oiço é: Celestina não podes marcar tantas consultas, as enfermeiras não aguentam, as administrativas não dão a conta; Celestina hoje tens que fazer 14 consultas de Barcu porque o Dr.º Paulo e / ou o colega Mário acham que faz falta! Eu também acho, mas como tenho feito tantas consultas ao longo de todo o ano e como amanhã vou entrar de férias, parecia-me mais normal ter a tarde para poder estar com a Ana e deixar tudo arrumado para ir de férias tranquila; acharam que não, que amanhã numa hora durante a manhã posso arrumar o que me falta ainda fazer; não merecia a pena mais desgaste, chorei e não valia a pena, só valeu porque recebi miminhos da MariLena, enfermeira de mão cheia, que adoro trabalhar com ela e quero acreditar que também ela gosta de trabalhar comigo. Valeu a pena porque tive muito mimo da minha interna Ana e da minha antiga interna Joseiana, que são uns amores, só por isso valeu a pena, e na verdade Deus só dá a carga que se pode aguentar, ou como diz a MariLena, quando se fecha uma porta, há sempre uma janela que se abre ao lado, e a vida ensina-nos a cada momento. Há tanto tempo que não chorava, acho que me desenferrojou a alma; se a minha mãe pudesse aconselhar-me ia dizer: fulana é amiga, a cicrana não presta filha, só quer ser mais importante que tu, o meu pai diria então: dá-lhe passagem!
Tantas outras histórias que entretanto passaram por mim, mas tenho a minha dislexia anterior às férias, logo, logo, vou ficar melhor e calmamente falar sobre o que aprendi neste mês de exaustão, amanhã ainda vou fazer o banco a Odemira, e por volta das 10h e 30 m da manhã de sábado inicio as minhas férias, sem subsídio, mas tão saborosas. Tantas saudades do Verão com os meus pais e os meus avós, será que vou ser boa avó? Se for menina será Mafalda, se for menino será Miguel, por mim acho bem, e o casaquinho creme que comecei tem quase as costas prontas, quero tanto ser uma Avó com letra grande como vi fazer na minha casa. Em Dezembro a nossa família vai aumentar que coisa boa, vou ter que trabalhar mais devagar para quando o meu neto nascer estar capaz de lhe dar muitos beijinhos e muitas festinhas, e claro dar festinhas e beijinhos a todos a quem sempre dei, se possível este ano vou alargar os meus beijos e abraços a todos quanto puder; na minha alma só quero guardar felicidade, amor, bondade e muita compreensão e compaixão, nada mais interessa.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

2ªs feiras que não acabam!

Podíamos falar de tanta coisa, não sei porque falamos de uma e não de outra, quem decide, seremos mesmo nós? Estive mais uma vez com a história do Pedro nas mãos; o Pedro, aquele jovem com 13 anos e uma vida que dava para cima de 30 telenovelas, é por isso que não vejo televisão, só os noticiários, que também são telenovelas. Bom, o Pedro vive com a mãe, que já não o quer, porque tem uma criança de 3 meses, do 3º companheiro oficial e o Pedro só lhe dá trabalho. Voltando atrás na história, a mãe do Pedro quando tinha 2 anos de idade, sofreu muito com a separação dos pais!!! Será que a gente se lembra o que nos aconteceu aos 2 anos? A mãe dela, avó materna do Pedro não é grande coisa, levou a irmã, tia do Pedro, para uma casa de "meninas" para ganhar uns dinheiros!!! A mãe do Pedro, casou a 1ª vez com o pai do Pedro, depois, passado 1 ano ficou grávida, separou-se quando o Pedro tinha 2 anos, ele também sofreu e sofre com a separação, repete-se a história, faz-se o que se viu fazer! Junta-se com outro homem, nasce a filha que já levava na barriga, 1 ano depois nasce outro rapaz, quando a rapariga tem 2 anos, separa-se desse padrasto, e junta-se com o actual companheiro, de quem teve mais um rapaz, com 2 anos de intervalo do último, que não vive com ela, esse ficou com o pai. Confuso? Pois é!!Agora a mãe do Pedro, precisava de ficar sem ele, só está a empatá-la, está a estragar esta união, e ela está tão contente com o filho de 3 meses??? O que vai acontecer quando tiver 2 anos???
Como é que este rapaz ainda funciona, o Pedro? Eu, na pior das hipóteses já tinha fabricado umas quantas bombas, dado uns quantos tiros, ou talvez, caído dentro de um poço, ou à frente de um carro, qualquer mimo. A escola não sabe que fazer, o Pedro tem 13 anos e está no 5º ano, não sabe nada, mas se passasse para o 6º ano?? Eu já acho tudo bom, não sei que fazer, se concordo em que passe de ano, sinto-me conivente com uma palermice, se ele fica no mesmo ano, vai prejudicar as crianças que vão conviver com ele, e não há nenhum ganho, só perdas. Se fica na mãe, vai sentir-se ainda e em cada dia que passe, a mais, um empecilho; se não fica com a mãe, ninguém na família o quer, ir para uma Instituição? Essa é a vontade da mãe, que aconselho eu? O Pedro é uma "bicho" com as hormonas a despontar e sem qualquer regra, qualquer amor, quem lhe queira bem, quem lhe dê colo, está à deriva, que caminho lhe sugerir? Todos parecem maus, será que este miúdo tem anjo da guarda?
O meu PQ diz que tenho que aliviar a minha escrita, ultimamente tenho andado muito deprimida, mas em cada dia, sinto que sou confrontada com questões para as quais não tenho respostas, nem sei como "tocar" o problema para passar a ser solução. Confortam-me pequenas palavras, a mãe do Pedro encontrou-me no corredor e com um sorriso nos lábios, disse-me: o meu Pedro ficou muito contente de falar consigo, diz que ficou muito aliviado! Óptimo, disse eu, que bom; não sabem eles o peso que estou a carregar. Quando perguntei ao Pedro o que é que ele mais desejava, ele chorou e disse: viver com o meu pai e a minha mãe. Vou ter que lhe explicar que pode viver com o pai e com a mãe, cada um na sua casa, e começar a ser feliz, posso começar por aí, pode fazer toda a diferença, toda a diferença, não perder a esperança no Homem, mostrar o mundo por outro prisma, aprender a ver doutro ângulo, com outras cores, dar-lhe a "cana para pescar"! Quero ser capaz de fazê-lo, acho que tenho engenho e arte, não vou desistir dele.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Talvez na mesma

Quando acabo o dia fico assim assim, um pouco mais ou menos na mesma, como diz a minha querida sogra quando lhe perguntamos: então como é que está? - Estou pouco mais ou menos na mesma!
Ficamos esclarecidos, para não complicar, na mesma; e é assim que eu hoje me sinto, na mesma, tive um dia de trabalho recheado de coisas boas, menos boas e até um pouco mais desagradáveis, mas tive mais um caso complicado de diagnóstico, 2ª feira vou ter que perguntar ao Bernardo, o meu colega psiquiatra, não devia dizer nomes, mas assim não me engano, e tenho medo de me esquecer, a minha mãe faleceu com uma demência grave, a minha avá Maria Antónia também, assim como a minha bisavó Cachica, de modo que se a Alice estiver correcta eu já não vou ter o mesmo fim, mas tenho um medo brutal, por volta dos meus 72 anos posso ficar doente, quero deixar as minhas escritas o mais certo que eu conseguir, sabendo que quando a gente conta a história do dia contamos sempre do nosso ponto de vista. Bom, mas estava a tentar contar o problema do rapaz de 13 anos, com insucesso escolar, está no 5º ano e os coleguinhas chamam-lhe tarado sexual, porque em qualquer situação que lhe desperte a libido ele não se controla, fica com erecção e masturba-se em qualquer sítio; para abreviar a história de vida, tão curta, mas tão complicada, o jovem sofreu a separação dos pais quando tinha 2 anos de idade, a mãe já teve mais 2 filhos e o pai já teve mais dois filhos, o filho mais velho deste pai, o rapaz foi abusado sexualmente pelo irmão, o jovem que me calhou em sorte observar, o Pedro. E agora? Estive a falar hoje com ele e com a mãe, não fosse a história que contaram, pareciam uma família normal, mas não são, têm um passado de separações, de mães que maltrataram os filhos, de filhos que maltrataram irmãos, é tão cruel que fico boquiaberta como é possível viver, continuar a viver? Que passado tem esta criança que sofre horrores, que tem pânico em adormecer porque os sonhos o amedrontam tanto, sonhos que ele conhece e sabe que está a sonhar e só quando morre no sonho é que consegue pará-lo, porque finalmente acorda, acorda a chorar ainda com lágrimas nos olhos!! Quem é que pede para morrer no sonho, porque não aguenta tanta perseguição, tanto medo? Como vou poder ajudar esta criança, que a mãe tirou da Pedo-psiquiatra porque a professora o achava muito parado com a medicação? Então porque é que a professora pede para ser observado por mim?
Na próxima semana vou desenlear uma pequena ponta deste emaranhado, sinto é que, TALVEZ, não valesse a pena este Pedro sofrer e fazer sofrer tanto, as coisas não acontecem por acaso? Tudo tem uma razão?
Mudemos rápidamente de assunto, a filha fez uma ecografia e o bébé não deixou ver o sexo, a colega acha que deve ser uma rapariga, eu continuo a achar que vai ser um rapaz e o meu PQ continua a achar que vai ser uma menina, que felicidade poder ser avó.

domingo, 3 de junho de 2012

Bolo de maçã

Há 1 semana que não me apetece vir até aqui, desabafar um bocadito; tanto que tenho para contar e fico assim sem jeito, sem vontade, com uma preguiça imensa a invadir-me o corpo e a bajular-me o cérebro para ficar em paragem, cérebro em paragem, cérebro em férias, cérebro oco, vazio, em limpeza, toda a tralha para fora, limpeza geral, paragem total! E antes de vir até aqui fui ao meu mail, nada de importante, tentei ir ao mail do Serviço, não consegui abrir, amanhã logo vejo se a Ana não se esqueceu de me enviar o trabalho, tenho 1 mês para terminar de rever e acrescentar o que fizer falta, mas falta já estou hoje a sentir dela, vai ficar um mês internada para recuperar mais a força, melhorar mais a capacidade para se aguentar dia a dia; não sei porquê, força ela tem e muita, trabalha todos os dias, não se queixa, tem sempre um sorriso nos olhos mesmo que a gente perceba que está a ficar cansada. Os doentes que a vão conhecendo vão gostando dela, as administrativas também, até nos faz esquecer a sua deficiencia física, porque ela não liga a isso, e quando precisa pede ajuda, e ninguém repara na cadeira de rodas, ajuda e pronto, todos a estimam, uma luz dentro dos nossos corações, e pensar que senti um pouco de medo ao princípio quando me deram a escolher ficar com ela ou ficar com ela!!! 3º ano de Medicina Geral e Familiar, esclerose em placas e uma cadeira de rodas, como gerir esta situação, ajudá-la a terminar a especialidade e tudo e tudo. Na verdade ela é que nos ensina todos os dias, e quando vou ao facebook e leio o que o David diz: bolo de maçã acabadinho de fazer, tão prendado e ninguém o quer; acho que a vida ainda tem muito a ensinar a todos nós, sei que temos dias em que andamos à deriva, mas vamos sempre conseguindo sobreviver, somos amados, somos até brilhantes e ficamos presos da primeira dificuldade. David experimenta sentar numa cadeira de rodas, tenta escrever e fazer tudo só com a mão direita, sabendo que não és capaz de andar e que o braço esquerdo e a mão esquerda estão cada vez com menos força, que precisas de ajuda cada vez que vais à casa de banho, experimenta sei lá...Experimenta ser feliz apenas com o que te tens, um corpo lindo, uns olhos brilhantes, sorriso pronto, a mente limpa e brincalhona, podes tratar das flores, comer sem ajuda, nadar, andar a cavalo, abraçar um amigo, ir para a cama pelos teus próprios meios, ir sózinho ao cinema, passear na praia ao fim-do-dia, consegues ser feliz com tão pouco?
Dá Deus nozes a quem não tem dentes, sei que é muito dificil darmos graças por tudo o que temos, temos até dias em que nos apetece dar cabo da nossa vida, talvez por não suportarmos tanta felicidade?
Não sei, também eu tenho dias em que me apetece dizer: faço bolo de maçã e ninguém me quer; mas na verdade é mentira, somos afortunados, temos mais é que ser agradecidos, e ajudar o mais possível todos à nossa volta, o Universo não nos esquece, e na próxima curva vais encontrar quem te ame e eu vou ser avó.

domingo, 20 de maio de 2012

2ª feiras

Nunca, ou raramente, volto atrás para me lembrar o que já escrevi, faço sempre da escrita um momento de desabafo, de descontração, de amor ou de raiva, tem apenas a ver com este momento, este agora, não volto atrás para não me influenciar na minha análise emocional. Trabalhei a noite passada, não foi fácil nem foi difícil, mas gostaria de ter o dia de amanhã para mim, não tenho porque amanhã é 2ª feira. Nos meus tempos de escola, o Domingo à noite era bom, costumava jantar cozido, às vezes havia doce e se tivesse sido ajuizada, tinha as coisas da escola todas feitas e dormia descansada. Do tempo da escola o meu irmão não está na minha lembrança, a minha memória não me trás um convívio frequente com ele, lembro-me mais do meu avô Luís a jantar com a gente lá em casa do que do meu irmão, talvez por isso a raiva que ele ainda tem de mim, mas não fui eu que o imporrei para a casa dos padrinhos, a minha avó Maria Antónia estava lá a viver, havia dias que até lá dormia e, o meu irmão sempre andou atrás das saias dela. Eu ficava com os meus pais e o meu avô, o Domingo por vezes era crítico, quando o tinha que ir buscar ao café, já tinha bebido demais, mas assim que me via chegar levantava-se rápido e íamos os dois para casa, sempre Domingo à tarde. De casaco, roupa lavada, chapéu na cabeça, não jantava, o estomâgo não tolerava a bebida e a 2ª feira era madrasta, vestia a sua camisola azul forte, um pouco claro, da cor dos olhos dele, um avental azul mais escuro, cabelo branco rente, mãos gordas e ásperas, no cimo da rua e gritava bem alto:"Ai quem mi dera morrer".Era um grito do fundo da alma, como se fossem dois, ele e o seu grito, tão perto e tão distantes, um grito que ainda oiço de cada vez que trago à minha memória essa época. Volto atrás nas memórias, vezes sem conta, não volto atrás nos meus escritos, um dia destes faço aqui uma limpeza, ou então gravo-os no éter, ainda não percebi como é que isso se faz, mas vou aprender.
Tenho tido uma certa angústia para vir aqui escrever, só sou capaz de desabafar quando estou mais ou menos bem, quando estou mesmo em baixo, fecho-me, encaraco-lo-me , enrosco-me e não deixo sair nada até que me entenda. Agora estou um pouco melhor, mas a angústia ainda não me deixou, amanhã tenho de novo conversa com a Alice, aprendo sempre com ela, até quando sentirei necessidade de ir conversar, pagando é claro, mas um preço irrisório comparado com o que aprendo. Será que necessito desta aprendizagem até ser muito velha? Será que vou falar com a Alice porque não bebo Domingo à tarde e não grito no cimo da rua, às 2ª feiras?
Quando um dia os meus netos escreverem as suas angústias, farei parte das suas memórias? A vida continua a ser um mistério que se repete em cada dia que vivo.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Mazuras

2ª Feira a chover, mas a partir de 10 a 13 de Maio vamos ter tanto calor que já recebi hoje no meu mail um alerta da DGS, estamos numa de extremos, ou temos chuva, tipo cacimba ou calor, e é a isto que chamos um clima temperado? Boa, que temperança.
Amanhã vou trabalhar tal e qual como hoje, não foi um dia mau, só trabalhei de manhã, passei a tarde em casa com o meu PQ e a sua querida mãe, minha sogra. Não gosto dela, ou por outra, gosto, mas lembro-me a forma como ela me tratou ao longo da nossa vida, como tratou este filho, como tratou as minhas filhas, os meus pais, etc. e ainda sinto um pouco de raiva, mas não devo sentir porque tenho um entendimento e conhecimento que me proibe de ser má!!! Mas como não sou perfeita, até ontem ainda estava a ser um bocadito, hoje já não, tenho umas filhas amorosas que ralharam comigo na devida altura e com o devido tom e emoção e fiquei grata, sou uma mãe abençoada pelas filhas que tenho, pelos meus amores. Reconsiderei, percebo que estava a exgerar, reconheci-me nos meus piores momentos e agora estou uma belezura, Deus me abençoe, é como eu costumo dizer, se fizermos uma asneira não tem grande mal, agora fazer essa asneira repetidamente, e pior que isso ter consciencia plena do que se está a fazer é que não nos ajuda nada. Porque se a rica sogra se portou mal no passado, só a ela diz respeito, ela é que tem que carregar esse fardo, não somos nós, e eu muito menos, as mázuras ficam para quem as pratica, ora bem, a manter aquela situação de mazura para ela, eu, estava a portar-me igual a ela e a transferir para mim o fardo que só a ela diz respeito, a mazura dela para mim, não obrigado, não vou  permitir. A técnica é sempre a mesma, perceber o que está errado dentro de nós, olhar bem para esse erro e avaliar se esse erro é só da nossa parte ou se é reactivo: neste caso é mais do que reactivo, e por isso, sendo um erro reactivo, termina-se logo com ele. O erro primário, o erro primeiro pertence a quem o iniciou, podemos reagir, mas logo que damos conta arrepiamos caminho, fazemos o que nos vai na alma, e não o que a nossa cabeça manda, e a minha alma não tem maldade, por isso a cabeça que páre. Não deve ser bem assim, a cabeça pensa, raciocina, percebe, mas não consegue modificar o comportamento, esse só é modificado dentro de nós, mas conscientemente, e ficamos em tranquilidade, não lutamos contra nada nem ninguém, deixamos apenas fluir a nossa boa vontade, a nossa força positiva e podemos encontrar rápidamente a paz. 
Parece uma coisa complicada mas não é, é como tudo na vida, treina-se, quando está mais dificil faz-se umas respirações prolongadas, escreve-se, passeia-se, vai-se a um museu (isto é para os mais finos) ou vai-se para o jardim cortar os arbustos, levamos todo o nosso eu interior a olhar para o problema com outros olhos e a ver tudo doutro ângulo, tornando o que era grande, em perfeitamente insignificante, até com outros contornos, sem stress. Será que a minha sobrinha Joana já chegou?

sábado, 5 de maio de 2012

Beijos e abraços

Quando abro este espaço nunca sei o que vai acontecer; fico às vezes, até com vontade de chegar mais cedo, para saborear este momento, é como se começasse aqui a minha descompressão diária. Hoje é sábado, sabe bem ficar em casa, mas durante a manhã estive num curso sobre sono, aprendi e descobri:) (também sei fazer caras risonhas como a malta nova, ah pois é!) que sou mesmo surda e que já há alguns anos que ando a perder muito do que se diz à minha beira. Acho que entendo a fúria das filhas quando fartas de repetir a mesma conversa, me afirmam: agora ficas sem perceber que não te digo mais nada! Percebi sim senhora, não oiço nada bem e devo comprar uma aparelho auditivo; vou ter que pedir ajuda especializada, porque há preços desde os 10 euros até aos 3.000 euros; deve haver um meio termo que sirva para o meu dia a dia. Realmente se não ouvirmos bem, não podemos interagir bem, perdemos metade do que se passa à nossa volta, por isso vou começar a tratar do assunto, porque gosto de estar atenta e sobretudo de dar sempre uma opinião abalizada e conhecedora.
Amanhã é dia da mãe, não é que eu ache este dia por ai além importante, achava mais bonito dia 8 de Dezembro, dia de Nossa Senhora, agora o 1º domingo de Maio?!! Enfim, vou aceitar, porque não se recusam beijos e abraços e muito menos prendas, adoro receber e adoro dar, e gosto sobretudo de preparar a festa, poder pensar em cada um e adivinhar a prenda que melhor se adequa para aquele momento que essa pessoa está a passar. Hoje ainda pensei ir comprar umas prendinhas para dar amanhã, mas já vinha tão cansada que vim directa para casa. Gostava de ter a casa cheia de alegria, de conversa, de movimento, mas estavam o meu PQ com a querida mãe a lancharem, por volta das 6 horas da tarde, e foi porque ele mais uma vez lhe falou mais alto, a querida não tem fome e para além disso nada que coma aqui em casa lhe sabe bem, a casa não estava como eu desejava, mas estava como podia ser. Costumo dizer que trato de todos os meus velhos, e que me sinto muito triste por não ter tratado da minha mãe como tratei do meu sogro, e sinto dentro de mim a mágoa por não tê-lo feito e por outro lado sinto recompensada porque o fiz, da mãe e do sogro, claro. Agora não estou com paciência para aturar as birras da sogra que fisicamente não tem nada, mas nasceu triste e quer morrer azeda, e para esse peditório eu não me apetece dar nada. Vamos ver como vai ser o dia de amanhã, bom concerteza, com as filhas e seus companheiros só posso ser muito feliz.
Será que há mais mulheres azedas com filhos deliciosos? Já preveni o meu PQ, não o quero "velho e azedo", a vida é tão boa, tão doce e vamos ser avós, que temos mais é que desfrutar o presente para termos o futuro assegurado.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Fazer de conta

Cá em casa estamos bem graças a Deus, e vocês como estão, a vida tem estado bem? Eram sempre assim que começavam as nossas cartas, para a família, para os amigos, para toda a gente e de toda a gente, na altura em que a vinda do carteiro era tão importante, um acontecimento partilhado por todos os vizinhos e motivo de conversa antes e depois! O coração batia, o contentamento era inexplicável, e o início em que se rasgava o envelope e se começava a saborear cada palavra, cada espaço, cada letra bem desenhada, cada emoção trazida, o coração ficava confortado, era um momento de extase; não sei se já poderam saborear momentos destes, mas a quem me tem lido, até hoje 2188 pessoas, claro que se repetem por 10 países, desde a América até à Rússia, pergunto-me: porquê, porque vagueamos ao sabor das conversas, das escritas, de blogues, de facebooks, twiters e outros que desconheço? Sei que precisamos de conversar, de sentir amor no coração, colo, que nos cuidem, e assim fazemos de conta que nos escrevem? Que as conversas são para nós? Entretemo-nos com estas palavras como antigamente nos entretinhamos a ler e reler os mesmos livros, as mesmas cartas, a ouvir e a contar as mesmas histórias, vezes sem conta? Não sei do que vocês precisam, eu gostava de ter cartas em papel, de precisar esperar pelo carteiro, gostava que o tempo voltasse atrás mas neste tempo, em que tenho 56 anos, tenho um PQ adorável, 2 filhas lindas e adoráveis, mas têm dias,  2 genros insubstituíveis e também adoráveis, 2 sobrinhas e 2 sobrinhos netos que eu gostava que vivessemos todos numa grande casa, para podermos jantar todos os dias juntos, isso é que valia a pena, como não pode ser, escrevo blogues, porque já ninguém lê cartas e os carteiros estão em vias de extinção, e sabe bem, sentar no sofá com a Carlota entre as pernas a aquecer-me, o computador no colo e eu a escrever "cartas de fingir". Nunca pensei que nesta idade ia continuar a fazer de conta e sabe tão bem.
Espero notícias na volta do correio, e talvez a gente se encontre nas férias do Verão ou lá para o Natal, quem sabe, a tua filha, mãe, sobrinha, tia, avó, que te adora

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Cada qual com seus pés

A idade não perdoa, mas a verdade é que são escolhidos para partirem para a última viagem, os melhores; os velhacos ficam sempre, partem sempre primeiro os melhores. Os meus Pais partiram, o meu Sogro já partiu, ficou a minha querida Sogra. Tenho pena dela, não come, não saie, não fala com ninguém, está deprimida. Foi medicada pelo seu médico de família que não tem perdido muito tempo com ela a entendê-la e, tem sido mais fácil medicá-la, cada vez mais e melhor. Agora estamos a desmamar a medicação, mas hoje é o 1º dia, amanhã já vai ser melhor, senão o meu PQ cada vez fica mais nervoso, incontrolável. Quer por força ser considerada doente, e é, da cabeça. Tem os valores analíticos normais para a idade, está sequinha que nem um carapau, mas tem uma ruindade dentro dela, que não consegue ver mais além. De tal modo que até me tolda a capacidade de escrever. Vamos sempre andando, hoje estava agoniada, ficou assim depois de comer o ensopado que a Zulmira fez, estava salgado!! A minha Zulmira que cozinha práticamente sem sal, o meu PQ comeu ao jantar e estava como é o costume, muito bom. Disse-lhe: tinha comida feita não tinha? Agradeça e aproveite.
Porque será que à medida que vamos ficando mais velhas vamos refinando o que temos de pior, exigimos que os outros nos dêm tudo e não nos sentimos em falta, por só exigirmos!?
A minha avó Maria Antónia era muito esperta, mesmo bem pequena quando ainda vivia no monte com os pais e as irmãs, sempre conseguiu enganar todos. Pela manhã ficava presa na arca, aquelas arcas grandes onde se guardava tudo, umas arcas eram para a roupa, outras eram para o o pão, outras para os cereais, enfim, não sei que arca era, mas ficava com os pés presos, a irmã Albertina ficava aflita e dizia-lhe: Maria, ficaste presa outra vez, e agora a mãe chega e não temos a casa arrumada? A minha avó devia fazer uma carinha, penso eu, consigo até imaginar, e a Albertina continuava: Ai Maria que pouca sorte a nossa, tenta sair daí que eu vou arrumando a casa, doiem-te os pés?
A minha tia Albertina acabava de arrumar a casa e práticamente ao mesmo tempo a minha avó Maria Antónia, milagre, ficava com os pés libertos. A minha avó faleceu com uma demência grave, relativamente nova, muito amada pelo seu Luís e por todos nós, especialmente o meu irmão que a considerava mãe, e a minha tia morreu já mais velha, boa da cabeça, praticamente sózinha, o filho António Pereira morreu antes dela, e a Celeste a filha mais nova, está no Lar, sempre foi um bocado atrasada, nunca foi capaz de casar, o que para essa altura era uma tragédia, mas a minha tia Albertina faleceu quase sózinha, arrastando os pés, recordo-me dela sempre a arrastar os pés. Porque será que me lembrei desta história e em que é que isto tem a ver com a situação de depressão da minha Sogra? Devo estar então muito cansada. Amanhã conto mais histórias.

domingo, 29 de abril de 2012

Abril com águas mil

Estamos em fins de Abril e sabemos que o Inverno foi seco e que em Abril "são águas mil", mas já anda aborrecida, depremida, agoniada, chega de dias cinzentos, parece que assim não vamos sair desta depressão em que nos colocámos, sei que todos temos culpa, porque somos todos coniventes com  o des -Governo que temos tido. Parece que somos tão estúpidos, todos, que escolhemos para nos representar quem é um tudo nada ignorante, é Zé espertinho, sabe aldrabar melhor que nós, e de predicados bons, parece que não têm, depois é o que se vê, se o Governo é assim , quando começam a escolher os seus representantes, é uma carambola de idiotas e incompetentes, não é de estranhar. Mas isso é importante? É assim um bocadito, porque se estivermos a trabalhar com um bom gestor, o trabalho rende o dobro com metade do esforço e ainda fica tempo para nós, neste caso, como temos maus gestores, o trabalho é muito e os resultados são uma doença, contagiosa, incapacitante, têm que ser arrancados a ferros. Fico muito preocupada quando vejo o nível de vida a descer drásticamente para a maioria das pessoas, para as que não conheço e ainda mais, para as que conheço: perdem o trabalho, abandonam-se à sua sorte, passam dias em casa de roupão, implicam uns com os outros, agridem-se com um mau ambiente familiar, vegetam, não fazem práticamente nada para sair dessa crise, esperam. Enquanto isso têm que ir desligando os meos, os carros, as vidas? Não sei como se pode ajudar, não sei o que se pode fazer, mas esta talvez seja uma oportunidade que vamos perder? Havia de se organizar um grupo de ajuda para estas vidas que teimam em não acreditar, que teimam em ficar paradas, que nem sequer percebem que precisam de ajuda? Sinto-me assim como o tempo, cinzenta, tenho tanta vontade de fazer, de viver, de cuidar, mas só falo, falo, escrevo, escrevo e não concretizo nada. O canil que todas as vilas precisam? Não sei como hei-de fazer. O apoio à vitíma? Não sei como hei-de fazer. O grupo de ajuda à vitima da recessão? Não sei por onde começar. O lar para pessoas inadaptadas, novos, velhos ou assim assim? Não sei com hei-de fazer.
Costumo dizer aos meus doentes, uma coisa de cada vez e começamos pela mais urgente, e fico logo toda embrulhada, são todas tão urgentes que fico-me pela escrita, com as ideias na cabeça e o coração cheio de preocupação, mas ninguém sobrevive com esta ajuda. Partir para a acção, começando por desenhá-la e torná-la possível primeiro no papel e depois no directo, sei que deverá ser assim, vamos a ver se consigo delinear o que é mais importante: os animais ou as pessoas? Os animais têm muitos sítios com hipótese de ajudar, mas se calhar não estão bem divulgados, não está bem divulgado o canil camarário e quais as leis porque se rege. Então talvez avaliar o canil camarário e verificar se está a cumprir, mas isso vai ajudar quem? Os animais que vão sendo abandonados, que vão sendo maltratados, que vão aparecendo mortos na estrada, todos os dias? Eu nem sou veterinária, nem sei como mexer-me nesse meio.
Amanhã será que vou estar melhor, ou a loucura vai continuar?

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Exaustão

Que graça que eu acho ao meu PQ a explicar que a sua filha "anda de bébé" mas diz com uma ternura que fico toda babada, é um ternurento.
O dia de trabalho foi grande, desde as 9h da manhã até às 8h da noite, sem grandes precalços, mas sempre a atender, falei com mais de 40 pessoas, fiz muitas consultas, resolvi alguns casos, mas agora sinto-me cansada, exausta mas tranquila. E é assim todos os dias, falo, falo, e para mim tenho pouco tempo. Terei que reorganizar-me preciso de mais tranquilidade para a minha cabeça; e às vezes gostava de mudar de trabalho, assim por poucas semanas, não, dias, poucos dias, e podia ser embaixador, ou antes embaixatriz, num país distante, assim daqueles pouco conhecidos; podia ser pior, e sonhar não faz mal. O tempo não tem ajudado nada, está frio, chove e o céu está cheia de nuvens, de tal maneira que o Vicente teve que voltar a usar a sua capinha de Inverno, de manhã não queria levantar-se, tremia todo, assim que vestiu a capinha ficou do melhor.
Estou oca, não me apetece fazer nada, pensar em nada, ver nada, só vegetar, amanhã o dia vai ser ainda mais longo, vou de manhã e só regresso sábado por volta das 10h da manhã, mas ainda bem que estou bem que posso trabalhar e que tenho um trabalho que adoro, por isso agora vou FAZER NADA.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Preparação

Não gosto de pegar em temas atrasados, mas o cão abandonado ainda não me abandonou o espirito, no entanto já não ronda a nossa casa. Não foi abandonado pelos meus anteriores vizinhos ciganos, que já abalarm há dias, mas por um "senhor" que esteve a dra-lhe comida ali ao pé das ervas, no descampado que está aqui ao pé da nossa casa e depois foi na direcção do Lidle e o enxutou para ele não o seguir, esta situação foi observada pela minha vizinha loira, já velhota, por isso lhe desculpo o silêncio, senão ela devia ter chamado o homem, não o "Senhor", à atenção. Esta história contou-me a minha Zulmira, sempre atenta ao que se passa na minha ausência e tenho-me esquecido de lhe perguntar se sabe mais alguma coisa. Tenho tido muitos vizinhos ciganos, percebo que são mais humanos e cuidadosos que os outros, os da nossa raça, sinto vergonha, se pudesse ir à televisão ter o meu momento de glória, levava o homem e o cão e ele havia de pedir desculpas de joelhos e ter como função limpar o canil da CM todos os dias e rezar de joelhos diáriamente - um terço. Já ficava mais contente, e parece-me que o cão ficava bem, só não sei ainda se era boa politica dar-lhe o cão de volta, ficava era proibido de ter animais durante muito, muitissimo tempo, até que pedisse de joelhos, boa, excelente ideia. A minha raiva está a desaparecer, mas não me sinto melhor, também aqui em casa não tivemos o melhor dos comportamentos. É muito dificil, se não completamente impossível mudar comportamentos de outras pessoas, quando somos tentados a fazê-lo, devemos parar, podemos escrever palavras como estas, que não têm efeito nenhum sobre a vítima e o mau, mas que servem para nos preparar para o que realmente importa: que sejamos capazes de perceber que somos nós os primeiros a precisar de mudar o nosso comportamento, e vamos logo perceber a grande dificuldade que vamos sentir. Já não haverá próxima vez igual a esta, mas outras situações virão em que vou sentir-me impreparada, só quero ter humildade suficiente para pensar e ponderar, para ser capaz de uma decisão acertiva.
Para além desta situação triste e reprovável, sinto-me muito contente, tenho muita vontade de esperar pelo meu netinho, acho que vai ser rapaz, o meu PQ acha que vai ser rapariga, também é muito bom, mas tenho que esperar até dia 15 de Junho para começar a fazer casacos, botas e toucas, só quando tiver 3 meses na barriga da filha. Parece que só nasce em Dezembro, o nosso Menino Jesus, que Deus nos abençoe e que sejamos dignos de um neto lindo e perfeitinho. Sou muito babosa mas também maricas, medrosa, ansiosa, preguiçosa, egoísta, e concerteza mais defeitos que agora não me vêm à cabeça mas para os quais tenho que estar preparada para ir eliminando, não quero tantos defeitos quando o meu neto chegar, também sou um pouco surda!!! Não vai ser fácil, mas estou tão contente, que nem quero que ninguém veja o sorriso da minha alma, é que também tenho um nesguinho de superstição..

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Orgulho besta

Que dia, e pensar eu que estava tão contente que nem dormi bem, vamos ser avós! A notícia apanhou-me ontem a seguir à sesta, ainda estava meio estremunhada, mas que coisa linda; e pensei que ia ser assim sempre sem me chatear, mas não hoje tive um dia, ou antes, uma manhã e um começo de tarde "levado de 600 bacalhaus"; começou logo com a primeira, não com a 2ª consulta: venho buscar a baixa! Palavras mágicas que tocam cá muito dentro de mim, parece que se acende uma luz vermelha, que toca aquela campainha, fico com a pele toda eriçada: e porque é que está de baixa? Porque me doi o corpo todo e este punho, e não preciso de trabalhar, e ,e, !!! Pior, quanto mais falas mais te afundas!
Não conto mais, só que não levou baixa, mas tratei do resto como é óbvio.
A última consulta: venho só por causa da baixa! Bom, foi doloroso, não consegui manter a minha calma habitual e soltei em mim todo o burnout acumuldo. Como se não bastasse a minha Cilinha também quis acertar comigo palavras amargas que lhe tenho dirigido; na verdade temos as duas andado a picarmo-nos uma à outra, não sei para quê, já tinha comentado com o meu PQ a importância de não alimentar picardias, mas de vez em quando alimento essas conversas com gozação e maldade, crio anticorpos contra mim, assim de propósito, sou tão má como se apenas disse-se mal, por dizer mal, já nao tenho idade nem estatuto para me entregar a essas graçolas; quanto tempo vou ser educada e correcta? Dentro de quanto tempo vou voltar ao mesmo? Precisava de conversar com a minha mãe, ela costumava ter tão bons conselhos, sabia dizer-me que amigas eram para confiar, e sabia também aquelas que se estavam a armar, mas tenho os cpnselhos do meu PQ que também são bons. Eu é que não posso ser tão orgulhosa e má, já em pequena o padre de Cabeção me mandava rezar 4 padre-nossos e 6 avé-marias, para ser perdoada do orgulho. Pensava que estava melhor, mas não; se fosse agora quantos terços levaria como penitência?Vergonha, Maria, devias ter vergonha, quase a seres avó, como vais ser capaz e autêntica para dares conselhos ao teu neto? Espero ser capaz de ir aprendendo em cada dia, espero ser capaz de cada dia me tornar menos orgulhosa, mais tolerante e compreensiva com as faltas dos outros, na verdade estou muito longe da perfeição.
É verdaede o cão não apareceu mais, mas amanhã pergunto à Zulmira, sabe tudo!

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Puns

Assim não dá para fazer grande coisa, durante o dia trabalho, não sei se chove ou se faz sol, quando venho para casa chove, assim não dá! O Inverno foi ameno, a Primavera está a ser um pouco chuvosa de mais, sei que a água faz falta nos campos, nas albufeiras, faz falta em todo o lado, menos no meu quintal. Hoje o cão não apareceu, conversei de manhã com a Zulmira, e ela já tinha dado conta que o cão andava aí, e acha que foram os ciganos que o deixaram, só me faltava mais esta informação, já não chegava a má vizinhança ainda era preciso deixarem para trás um dos seus cães; ao pequeno almoço o meu PQ confirma que o vizinho dos alumínios andava a tentar apanhá-lo, mas até nisso o bicho é esperto, o vizinho dos aluminios não é bom da cabeça, anda a passear com o outro cão dele, cão que acho anda a treinar para caçar, a passeá-lo de trela, só que ele o dono vai de carro com o braço de fora da janela e o pobre bicho a correr ao lado do carro. Se voltar a ver isto faço queixa à GNR, que também não sei se será a essa entidade, faço queixa que maltrata deliberadamente o animal, porque será que este cachorro foge dele e dormiu esta noite na minha sala, junto à lareira, quando tinha sido enxotado? Esta tarde não apareceu, será que já foi apanhado, encarcerado ou muito amado? Amanhã de manhã assim como nem quer a coisa vou perguntar à Zulmira se o viu, se há coisas que quero saber ela está sempre atenta a tudo e a todos.
Não faço nenhuma actividade ao ar livre, se a chuva não pára no meu quintal algo de mau me vai acontecer, chego a casa tão cansada que nem consigo ler o jornal, o correio, ver a TV ou ouvir música, adormeço no sofá com a Carlota enrolda nas minhas pernas, mas até a Carlota tem andado meia tonta e de vez em quando solta um gaz tão mal cheiroso que até arranha na garganta, coisa doida, como agora, estou aqui tão tranquila a escrever e ela a deitar estes cheiros horripilantes. Nós os humanos, temos uma produção diária de cerca de 14 puns, maus cheiros, flatulências, peditos ou bufitas, o que quiserem chamar se forem audíveis ou não, a minha Carlota tem dias em que tem uma produção trágicamente aumentada, trágicamente para mim, porque está sempre enrolada ao meu cólo, se fosse o cachoro que andava ontem aqui eu ia adoecer com a produção do mau cheiro, porque deve ser tudo em proporção, cu pequenino um mau cheirinho, cu grande um mau cheirozão. Não vou contar mais nada porque o meu dia foi para além de trabalhoso, foi desgastante e deixou-me com um nó na garganta, os episódios de loucura humana sucedem-se, não sei se é loucura, se é má sorte, se é ser enteado da vida, uns serão filhos do Universo, outros serão enteados; hoje foi o Ricardo que está no Lar Âncora, tem 12 anos e está a fazer Haldol decanoato de 15 em 15 dias, de modo que tem aquele olhar ausente a fala entramelada, e a baba a correr ao canto da boca, mas mesmo assim ainda tem um sorriso nos beiços! O Ricardo foi abandonado ou retirado à família, nem perguntei hoje, mas ele ainda me contou que o avô morreu dia de Natal, que a avó também morreu com ele, a mãe não dá sinal de vida, não perguntei pelo pai, parece então que está sózinho no mundo, junto com os outros meninos no Lar, para além disso está na consulta de Pedo psiquiatria que o medicou à séria, e por enquanto não posso fazer nada! Isto não é ser enteado? É. Onde está o Rei do Universo para acudir a estaas criaturas, cães, gatos, meninos, todas estas criaturas abandonadas? Há quem aquente? Amanhã vou conseguir ter um dia normal e de certeza que o cachorro já tem dono, um dono normal, que o Ricardo vai estar melhor e que o Universo me vai dar sol no meu quintal.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Gatos e cães

Temos duas gatas, a preta também chamada Safira, mais velha cá em casa e a Sara, também chamada Sarita em momentos ternurentos, depois temos o Vicente e a Carlota, cão e cadela pequenos, sabemos não ter espaço físico e emocional para viver com mais animais de estimação, muito menos quando em cachorros são muito maiores que os nossos queridos; durante o dia fomos visitados por um cachorro que entrou no quintal e que queria também entrar cá em casa, nem o fui mandar embora, porque havia de ser com tanta meiguice que o bicho ia perceber o contrário, de modo que deixei o meu PQ fazer todo o papel de mau, mandou-o embora com umas pedras atiradas e uns paus, não gostei, mas não impedi, nem arranjei solução melhor! Senti que para além de me ter escondido atrás dele, do meu PQ, deixei-o fazer as coisas à maneira dele, sem grande jeito, porque eu na verdade, não ia ser capaz de o mandar embora, e cá em casa não ia ser uma boa ideia; ele lá foi, não sei bem para onde, mas que estava perdido devia estar e que gostaria de ter ficado connosco, gostaria, mas não ia ser fácil, não sei ter cães no quintal, gosto de pegar-lhe ao colo, fazer-lhe festas e dar muitos beijos, às vezes não é fácil porque eles aborrecem-se de tantas mariquices, mas ainda me sinto mal, as coisas não são feitas dessa maneira, à pedrada. Faz-nos falta um canil 24h aberto, em cada cidade, vila, aldeia, lugarejo, de modo a permitir entregar os bichos perdidos, ou os bichos abandonados, ou os que são apedrejados, meu Deus, fomos um bocadinho maus, há muitas maneiras de matar pulgas e assim não é a melhor maneira. Não tenho soluções há medida, soluções com que me sinta confortável, de cada vez que me sinto embaraçada, em que me sinto sem jeito para resolver os problemas que se me colocam, mas à pedrada nunca mais vai ser, não sei ainda como vai ser, que a próxima vez não seja muito perto.
Em cada dia acontecem-nos coisas para as quais não estamos preparados, e tomamos decisões pouco ponderadas que nos fazem pensar como a vida na verdade não está programada e ainda bem, senão não havia espaço para aprendermos, sofrermos, amarmos e sermos amados, e nos sentirmos um nadinha de nada, desajeitados.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Ideias loucas

2ª feira outra vez, sempre igual; grávidas, muitas grávidas, alguns IVG (interrupção voluntária da gravidez) e poucos planeamentos. Esta conversa faz sentido para quem está dentro deste tema, é básico e não é preciso explicar mais, para quem não está, percebe um pouco e o resto "fica para o gato" É esse o problema, a gente escreve textos, notícias para o jornal, dá entrevistas, escreve panfletos, tudo temas que conhecemos mas sem cuidado para sermos entendidos para os outros, a gente para quem se dirige a mensagem. Vou tendo algum cuidado quando escrevo para o jornal, escrever à minha maneira mas de modo a que entendam o que quero dizer, não sei se consigo, mas tento. O nosso dia a dia é tão cheio da mesma conversa que acabamos por acreditar que toda a gente está dentro do tema, mas a maioria não está; algumas notícias produzidas por profissionais da noticía primam por falta de verdade, não sei se essas pessoas não percebem o que perguntam nem o que lhe respondem, mas a maioria das notícias que leio nos jornais sobre CS (Cuidados de Saúde) são deficitárias, mas agora não me apetece escrever sobre esse tema: o jornalismo. Nem sei bem o que me apetece escrever, sinto-me perdida no meio de tanta informação que me povoa a mente, tenho com alguma frequência esta sensação: a cabeça cheia. Hoje a Ana contou-me uma das consultas de Psiquiatria; o doente entrou, o nosso psiquiatra cumprimentou o doente e fez uma pergunta: Então quando é que vai para o Brasil? O doente responde num tom sério e compenetrado: Não sei se vou para o Brasil, se vou para Portugal em Júpiter ou em Marte! A partir daqui ela teve alguma dificuldade em ficar quieta e sossegada, mas a consulta terminou com mais umas gotinhas de Haldol, no espaço da consulta a Ana não se riu e o Bernardo também não, mas depois rimos as duas, ainda que eu não tenha percebido tudo, o que percebi, deu para advinhar o resto: esquizófrenia no estado mais puro.
Se eu pudesse também respondia loucuras, mas havia de ser uma coisa diária, cada pergunta que me fizessem, "cada melro", seria a loucura total, mas sem gotas de Haldol. E hoje ficamos assim com uma necessidade de fazer loucuras mas a comportar-me na perfeição, amanhã logo se vê, espero melhorar esta conversa da treta! Não tenho quem me dê seguimento a esta conversa, as filhas às vezes vão atrás das minhas palermices, a minha mãe conseguia muitas vezes ultrapassar-me e era a risota total, por isso sinto-me um pouco acanhada, não queria ser mal interpretada e levar com gotinhas.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Memórias com tempo

Hoje o dia foi pouco imaginativo, trabalhei de manhã, trabalhei à tarde, vim para casa lanchei a correr, porque queria muito ir ainda um bocadito para o quintal e, se não me despacha-se, vinha a noite e à noite, as plantas precisam de descansar. Agora, antes de jantar não ligamos a televisão, ouvimos música, cds, fica ridiculo escrito assim, mas na verdade ouvimos cds, ontem e hoje foi música brasileira. Ao som da música,baixinho, lemos, falamos, descansamos e eu também saboreio o lume, ainda apetece muito fazer lume e ficar aconchegada a olhar. Tanta coisa que preciso fazer em casa, mas o tempo que me sobra do trabalho é muito curto e, se fosse fazer só o que me apetecia, deitáva-me a descansar, porque adoro preguiçar, mas não pode ser, tenho que inventar qualquer actividade. Senti que nesta Páscoa, fizemos uma boa viagem em família, mas não cumprimos nenhum ritual e eu preciso de rituais. Podíamos combinar para as próximas Páscoas: vamos sempre passar 4 a 5 dias juntos e viajar; podíamos, mas não podemos, porque a crise não nos permite estas ideias tresloucadas, não sabemos como vamos viver no Amanhã, mas podemos definir a Páscoa como um ritual em família, mesmo que seja só juntos em casa, se todos nos sentirmos bem. Os rituais fazem-me falta, a pouco e pouco temos deixado de praticar essas festas, porque agora estou a falar de festas, temos deixado de praticar essas festas em família, e na minha memória era muito agradável quando os praticávamos na casa de meus pais. Na Páscoa obrigatóriamente o meu pai compráva, quando já não tinha na horta, compráva um borrego; a Joana não gostava, a minha mãe tirava um bocadinho especial e dizia-lhe que era "peitinho de galinha" e ela saboreava deliciada. Havia amêndoas, procissão e colchas à janela; havia luminárias à porta, proibição de comer carne antes do Domingo, podíamos comer tudo menos qualquer tipo de carne, às vezes a gente prevaricava, mas às escondidas da minha avó Maria Antónia, quando ela ainda mandáva muito na casa de meus pais, que afinal era a dela. Tudo parece um pouco baralhado, mas hoje estou assim, as memórias estão encadeadas como cerejas, puxo uma e logo chegam dúzias delas, mas persiste a memória do Domingo de Páscoa como a memória predominante, missa de domingo, amêndoas, a benção avô, e o almoço reforçado, sempre com batatas fritas em azeite, com um sabor inconfundível; quando ficámos abastados comprámos um fogão a gaz e as batatas começaram a ser fritas em óleo porque era melhor para a saúde, palermices; e por último, mas não menos importante, os fatos eram os melhores, eu gostava sempre de estrear qualquer coisa nova, mas acho que na Páscoa não tive muitos novos, era mais na altura da Feira de Cabeção em fins de Agosto / Setembro; tive um ano que estriei 3 vestidos novos, fantástico, na Páscoa não me lembro assim de roupa importante; este ano em Barcelona repeti a proeza, também fui muito feliz, por tudo, e por ter 2 vestidinhos novos e uma saia, maravilha. Vamos combinar que na próxima Páscoa vamos cumprir o ritual de estarmos uns dias juntos, sem trabalho, sem tarefas, sem stress, com colchas à janela, borrego, "peitinho de galinha" e luminárias à porta.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Tardes de folga

Estive uns dias de férias com a família, que de 4 passou a 6, foi muito bom, muito calmo, muito tranquilo, num sítio que nos leva a ambicionar sempre, mais e mais conhecimento; não sei explicar porquê, mas em Barcelona a gente sente-se bem, com toda a diversidade de gente, com tanta loucura na rua, quer em termos de penteados, quer em termos de roupa, mas tudo isso nos faz bem à imaginação, parece que potencia a imaginação que já existe em nós, Barcelona não sei se será bom sítio para viver, é concerteza bom sítio para passear. Já fomos várias vezes, eu e o meu PQ, desta vez fomos, primeiro, porque sim e isso é sempre um bom motivo; depois porque o Marco nunca lá tinha estado, e os 5 restantes já tinham ido e tinham adorado, combinação perfeita, os meus aninhos que eu adoro fazer, muitos miminhos e muitos passeios. Não fiquei nada cansada, mas dormi sempre a minha sestinha, se passear o dia inteiro a minha cabeça não aguenta, fico com muita informação e começo a ficar tonta; como o meu PQ também gosta de passear a este ritmo, somos felizes.
Hoje cheguei à realidade, cheguei ao meu trabalho e para além das grávidas em abundância, como é o habitual, pediram-me para avaliar uma jovem de 15 anos que tem tido comportamentos agressivos em casa e na escola, com muito mau rendimento escolar. Fiquei de propósito na minha tarde de folga para conversar com calma com a pequena. Pois bem, e de forma muito abreviada, é uma jovem adolescente que já viveu momentos de grande loucura; é filha de um segundo casamento de sua mãe que neste momento já vai no 3º, fóra os namorados; do 1º casamento, que aconteceu aos 16 anos, teve 3 filhas, a mais velha não é boa da cabeça, e a mais nova saíu agora da prisão, "já está a ver a doutora?!..."
A ver, a bem dizer, eu não estava a ver nada, porque a história ainda agora estava a começar e já me sentia tão longe de Barcelona, Meu Deus, como há tanta miséria humana!
Para não baralhar este início de história, só contar que quer a mãe quer a filha já viveram na rua, em pensões e agora até estão muito bem, este 3º casamento é o mais abastado, com um pescador que ganha bem, e é agora nesta altura tã boa é que esta filha começa a dar problemas, "... ela até é meiga, mas quando se descontrola é agressiva comigo, é má..."
Mas é má como, por palavras, por acções, má como? pergunto eu, perguntinha naif, que a mãe não ligou e a filha confirma com ar muito entendido, "sou agressiva com a minha mãe!"
Esta menina de 15 anos, presenciou cenas de pancada entre a mãe e o pai, o pai alcoólico, que um dia a mãe bateu até à morte.... afinal não estava morto, mas toda a gente pensou que sim, nã, ela não lhe tido dado tanta pancada que o matasse, as pessoas é que gostam de fazer filmes, sabe Estremoz é uma cidade pequena!...
Não vou contar mais, mas com 15 anos, é dose. Combinámos que a Jovem vai voltar para falar comigo daqui a 1 mês, para tentar sarar feridas, tentar.
Como Barcelona fica distante, aqui a realidade é tão cruel que abafa qualquer hipótese de imaginação, a miúda disse à minha colega que a observou antes de mim, de quem ela não gostou nada, que : não esperava nada do futuro! Pudera!
Viver assim não presta, devia haver para todos a possibilidade de visitarem Barcelona.

terça-feira, 27 de março de 2012

A nossa casa

Olho para as minhas mãos e vejo as tuas, quando ando no quintal tenho gestos que são teus, olho-me no espelho e vejo rugas iguais às tuas, a pele tem a mesma suavidade da tua, tudo em mim me lembra o teu corpo, até o teu olhar perspaça no meu, sinto muita falta da tua face na minha quando te dava um beijo, quando me davas um beijo bem repenicado. Sei que são saudades, sei que sou eu que sinto a tua falta, em cada dia que passa, em cada momento que sinto falta de pegar no telefone para ouvir a tua voz e adivinhar se está tudo bem aí em casa. Agora eu sei que a casa está vazia, mas se voltasses ias encontrar tudo na mesma, as gavetas iguais, os móveis iguais, as coisas do pai no sítio do costume, ainda guardo na casa de banho o champôo, as toalhas, tudo, ainda não toquei em nada. No fundo sou eu que preciso de voltar lá a casa e abrir a porta e sentir ainda o vosso cheiro, a vossa presença, não quebrar esse encanto de continuar a ser filha, neta, bisneta, acho que os anos foram passando mas sinto-me ainda tão filha, eu que aguardo a notícia de ser avó, quero muito ser ainda e só filha.Não sei quando vou ter coragem de mexer nas tuas coisas, nas coisas do pai, já pedi a uma Arquitecta que modifique um pouco a casa, mas que a resguarde de grandes alterações, apenas as necessárias e suficientes para ficar mais confortável, apenas. Sei que a semana passada foram os Passos em Cabeção, se ainda estivesses, claro que estaria aí, tenho também saudades dos dias de festa na nossa casa, dou por mim a pensar na nossa casa, quando já as filhas têm a sua casa. Nada nem ninguém me tinha avisado que um dia, a minha vida ia ser sem vocês, nem vocês me avisaram e conversámos sobre tanta coisa, porque nunca falámos dos tempos que aí vinham, os tempos em que naturalmente eu ia ficar sózinha, parece que sinto que fui roubada, alguém permitiu este roubo, ficar sem os meus pais, não tinha pensado que um dia ia acontecer, mas era óbvio; foi por ser óbvio que nunca falámos que um dia esse dia ia chegar? Olho para as minhas mãos e vejo as tuas, minha mãe, mãos que eram iguais às do avô Luís e da avó Maria Antónia, mais bonitas, bem mais bonitas as tuas, as minhas vão ficando um pouco mais gordas e papudas, como as tuas, mas sempre bonitas e com uma pele tão sedosa, mesmo quando mexias na terra como eu faço, nos dias em que chego mais cedo do trabalho. Olho para elas e mando-te beijinhos em segredo, olho para a minha pele e lembro-me da meiguice do teu desabafo: hoje estás tão bonita! ou, hoje estás mesmo feia! e eu ficava igualmente contente com qualquer destas frases, estavam as duas carregadas de amor, como sinto falta do teu amor. Tenho muito amor, das filhas, dos genros, do meu PQ, das sobrinhas, dos amigos e desconhecidos, mas faz-me tanta falta o teu colo, bem me podias ter avisado que um dia íamos ficar separadas, só o tempo pode resolver esse afastamento, o tempo tão diferente, para ti não tem dimensão, para mim corre lento nuns dias, noutros nem dou por ele, mas é o tempo que nos afasta e também vai ser o tempo que nos vai aproximar, o tempo que tu sempre acreditaste que tudo curava, não tinhas razão, mas não faz mal, não chegámos a ter tempo para falar nele, e na verdade o tempo ainda é "se calhar" o mais importante tema dos nossos corações. 

segunda-feira, 26 de março de 2012

Canseiras

2ª feira nunca é fácil, trabalhar no primeiro dia da semana é dose; chegámos os dois tão cansados a casa, como se fosse 6ª feira ou mesmo sábado, depois de uma urgência à noite - exaustos, ou com "mau olhado"? Noutro dia vou explicar o que é um mau olhado, hoje não me apetece, estamos melhor agora, depois do jantar e do nosso passeio a seguir ao jantar, mas sinto um cansaço tão grande, que o esforço de escrever me parece demasiado. Não posso dizer que o dia tenha sido muito intenso, mas o fim-de-semana foi cheio de actividade e sinto que os meus 55 anos me pesam. Tudo começou na 6ª feira, a Mariana, interna do 2º ano terminou o seu mini estágio, mas mesmo assim precisou apresentar um pequeno trabalho que me obrigou a fazer uma pequena revisão, a Ana esteve a re-escrever o relatório de Saúde Infantil, e fui revendo com ela, cada palavra, cada vírgula, cada assunto, no intervalo das consultas, a Joseana chegou à tarde e esteve a ajudar-me nas consultas dos diabéticos que deveriam ter sido 10, mas estavam marcados 14 e não faltou ninguém! Quando eram 19h e 30m agarrei nas minhas coisas, incluindo o farnel e conduzi até Odemira, cheguei a horas de jantar, e começar a trabalhar às 21h, começar? Bom, tudo estava a ir tão certo, tão direitinho, que aconcheguei-me por volta das 24h na esperança de só ser chamada por volta das 4h da manhã, mas não, o rapaz da Segurança foi chamar-me às 3h porque achou que era eu que estava de chamada, acordei estremunhada, não me lembrava onde estava, sentei-me na cama e tráz, a cama de cima bateu-me em cheio, estava deitada na cama de baixo do beliche, pensei que tinha ficado ferida, não, tive sorte. Quando descobrimos que não era eu que devia estar ali, era tarde, não valia a pena ir chamar o meu colega, lá fui atrás do rapaz, mulher de 87 anos em pré-edema, adrenalina em cima; passado um bocado o Segurança lamuriou-me qualquer coisa que não entendi, deixei a doente com o enfermeiro e fui outra vez atrás dele, grávida em fim de tempo, 2ª gravidez, 1º parto rápido, agora com contrações de 2/2 minutos talvez com sorte de 3/3minutos, fiz o toque, parto eminente! Voltei para a jovem de 87 anos, a tensão arterial melhorou, mais uns ajustes de trapeutica, ecg para o CODU, via fax, o directo não estava a funcionar. Outra vez o Segurança a lamuriar qualquer coisa de imperceptível para os meus queridos ouvidos, cada vez mais longe dos sons, voltei a ir atrás dele, mulher de 78 anos que chega cadáver, verfico o óbito. Volto para o pé da parturiente, luvas novas, novo toque a mulher está a parir, fica ou segue? Vou eu mesmo chamar o meu colega, faço-lhe uma festa no braço, ensonado murmura qualquer coisa, digo-lhe: anda comigo, mas primeiro acorda bem, e agora foi a vez de alguém vir atrás de mim. Vou abreviar, a morta foi para a Igreja, pela manhã. A que estava em pré edema foi para o HLA  com a ambulância CIV. O bébé nasceu, perto das 4h, rapaz, com 2 circulares bem apertadas, a mãe estava óptima e o bébé também, foram todos arranjadinhos para Beja. Do resto já não me lembro, por volta das 9h da manhã, chegou nova equipa, peguei outra vez nos meus haveres, conduzi até Grândola e só de pensar nesse dia é natural que ainda me sinta cansada hoje, amanhã conto o resto.

terça-feira, 20 de março de 2012

Pilhas

Hoje o dia não foi fácil, até me dói o rabo de estar sentada, de sentar e levantar, depois vou de carro, 50km para o trabalho e o mesmo na volta. A seguir ao jantar é hábito andar um bocadinho a passear o Vicente e a Carlota, só que hoje está a dar na TV o jogo de futebol Benfica Porto, não é por mim, nem pelos meus queridos cães, mas o meu PQ está deslumbrado, levanta-se, senta-se, vocifera e etc, está em transe, ficámos, outra vez sentados. Como poderia ser o meu emprego do futuro? Ora bem, obrigatório trabalhar de manhã, para quem for cotovia como eu, trabalhar de tarde para quem for mocho; obrigatório ter livre um período; nesse período obrigatório ter uma actividade manual, a tratar da terra, de animais, apanhar o lixo das ruas, não interessa o quê, mas uma actividade importante para a comunidade, mas que ao mesmo tempo nos obrigasse a mexer, a gastar energias; por outro lado, massagens semanais incluídas no seguro de saúde, ou no SNS, as massagens seriam como cada um sentisse que lhe fazia melhor, para mim agora seria umas sessões de shiatsu semanais, mas efectuadas pela Mariana; nesse trabalho remunerado apenas num período de 4h / dia, era também obrigatório ter uma sessão por semana de reunião para prevenir o burnout, para esclarecer dúvidas, para partilhar experiências, porque sim, só porque sim também é justificação. Há quem sonhe em ganhar o euro milhões, eu posso sonhar com um emprego em condições, físicas, e psico sociais; também nesse emprego não ia faltar o material para trabalharmos, como por exemplo as pilhas, o meu aparelho medidor de tensão arterial não funciona porque acabaram as pilhas, já me zanguei, já praguejei, e hoje à noite o meu PQ arranjou-me 4 pilhas para levar amanhã para o trabalho! Quando perguntei porque não me arranjavam as pilhas, a resposta foi-me dada em body - language(?) estará mal escrito?, bom - responderam-me com um encolher de ombros, fiquei esclarecida, não há pilhas, não há medição de tensão, não há medição de tensão, não há palhaço, não há palhaço não há circo, quem percebeu, percebeu, quem não percebeu, percebesse, como dizia a minha mãe. E estou eu para aqui a gastar os meus sonhos de poder trabalhar no "emprego do futuro" quando não somos senão um País de brincar. Saíu-me assim ao correr da pena, País de brincar, mas se se pensar bem, andamos todos a brincar que fazemos tudo o que podemos e não podemos, quando na verdade somos é peritos em fazer tudo aquilo que não precisamos, para no tempo que sobra fazermos o que precisamos, mas sempre à pressa e a resmungar com a sobrecarga! Mas foi assim que começamos, D Afonso Henriques tentou vencer a mãe, tentou e então não é que conseguiu!! E cá estamos nesta altura com  uma crise às costas, então e não é que parece que não está a acontecer nada!!Chega, hoje não merece a pena divagar mais, sonhar mais, chorar mais, o Benfica ganhou e chega, não precisamos de mais nada, chega-nos para sermos felizes.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Memórias de coração

19 de Março, Dia do Pai. Para mim foi sempre dia do Pai, do meu Pai e continua a sê-lo, o meu pai faz anos, antes e com mais precisão, fazia anos no dia 19 de Março, e era muito bom, porque as prendas e o dia de aniversário contava a dobrar, aniversário e dia do Pai. Quando eu andava na primária não havia nada disto, acho que era por sermos um país muito pobre, se até o Natal era pobrezinho, não havia dinheiro para prendas, a não ser no aniversário de cada um; depois passámos a ser um país euro, no inicio, ainda não era euro, pensaram dar o nome ao euro de ecu!!! Mentes brilhantes. Enfim, o dia do meu pai, Março, continuo a sentir que ele está em Paz, e continuo a ter umas saudades que não se conseguem nem definir melhor, nem pôr fim, são umas saudades minhas, que são imensas, e que vou trazer sempre dentro de mim, como se fosse uma dor, como se fosse parte do meu coração e que só eu posso entender, Meu Pai. Hoje falamos do Pai, mas apesar de diferente, é igual para a minha mãe, eu gostava muito do dia da Mãe no dia 8 de Dezembro, agora mudaram, como se essas coisas fossem assim, os iluminados que decidem, agora é no 3º domingo de Maio!!! Doidices, não se mudam dias, como não se podem mudar o dia do nosso aniversário, mudam-se os tempos mudam-se as vontades.... isso é outra conversa, poesia para os meus ouvidos.
Hoje faz anos a Maria José, claro que não vou esquecer-me, e não fiquei triste por ela partilhar este dia com o meu pai, cada um é cada um, os aniversários podem partilhar-se mas não se dão, não se trocam, são sempre nossos e só nossos e só por isso já nos podemos considerar tão ricos. Amanhã já ninguém vai lembrar-se do Dia do Pai, mas eu vou, porque lembro-me todos os dias dos meus pais, do pai e da mãe, da avó e do avô, até da bisavó, como sou rica de ter tanto amor no coração, até me lembro e tenho saudades da Ti Marcena, ou Emeranciana, como ela gostava de dizer. É bom poder guardar no coração tantas memórias, são elas que muitas vezes nos fazem acreditar que fomos o centro do mundo, são elas que nos ensinam a colocar no centro do mundo quem muito amamos.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Cansaço dos dias

Dias, são daqueles dias em que o cansaço suplanta tudo, cansaço físico, emocional, psíquico, e mais que agora nem me lembro. Sei da importância que é tirar uns momentos em cada dia, para ficar só para mim e comigo; mas muitas vezes dou comigo a chegar a casa e a pensar: amanhã de manhã quando chegar ao trabalho vou fazer isto aquilo e aqueloutro, mas faço sempre o mesmo, atender doentes, atender doentes, tomar um café a meio da manhã, e trabalho, trabalho, trabalho. Gostava até que o dia tivesse mais horas de trabalho, para não deixar trabalho atrasado, e depois quando chego a casa estou cansada, nem consigo ler um jornal. Mesmo assim consigo vir aqui desabafar um bocadito, faz-me bem deixar sair as ideias muito bem embrulhadas em palavras.Até quando vou ser capaz de trabalhar neste ritmo? Será que quem está a aprender comigo se sente bem? Na verdade este é daqueles dias em que as dúvidas se amontoam, sem vislumbrar a luz. E tantas são as histórias que talvez se escrever a última me sinta mais liberta: A Raquel é uma menina que ficou grávida aos 15 anos, e teve os seus 1ºs gémeos; nunca precisou de ser chamada para vir à consulta, nem se esqueceu das vacinas dos seus meninos, bem apoiada pela familia do marido e dela, mas essa está mais longe, na Madeira. O ano passado decidiram, ela e o marido, voltar a ter mais bébés, e assim foi, engravidou, seguiu-se uma gravidez calma e tranquila, de gémeos novamente, mas em que há um bébé que não se desenvolve, acaba por morrer, mas o outro cresce com um desenvolvimento bom e sempre dentro dos percentis; esperámos até as 40 semanas, em que foi enviada a 1ª vez para o Hospital para ser observada, estava tudo bem, voltou para casa, voltou passados 3 dias conforme o combinado e voltou de novo para casa, com a indicação se nada acontecesse sábado ia ser induzido o parto. 4ª feira à noite caíu nas escadas e 5ª feira de manhã foi ter comigo para saber o que fazer: o que sentes? A Raquel refere perda de liquido incolor abundante e um pouco de sangue! Então vais já para o Hospital, eu chamo a ambulancia! Não é preciso Doutora, eu chamo o meu marido e ele leva-me! Está bem, que corra tudo bem, depois quando nascer dizes logo. Está bem, adeus, adeus.
Ontem à hora do almoço, a enfermeira comentou que o funeral ia ser à tarde! Funeral? Sim, da bébé da Raquel! Da bébé da Raquel? Sim, só nasceu na 2ª feira por cesariana e morreu de hemorragia? Mas foi dia 1, e só fizeram cesariana a 5? Não sei mais nada, comenta a enfermeira!
A Raquel chegou mais tarde, a sutura da cesariana estava a incomodá-la, abracámo-nos, dissemos as duas palavras, palavras que achámos importantes, ela chorou e eu também, e vamos continuar a olhar para os dias que vão vir. Os meninos parece que estão bem, viram a mana e comentaram que era muito bonita!!!
Dias, são daqueles dias em que me sinto exausta, e não há como ficar melhor.

sábado, 3 de março de 2012

Viver com sonhos

Esta manhã quando ainda estava de urgência vim escrever, mas como acontece sempre que estamos muito cansados, escrevi e ao gravar as palavras ficarm perdidas no éter? Não sei se é assim que se chama, agora tmabém já estou um pouco ensonada, mas fiquei com pena de ter perdido a conversa desta manhã porque contava o meu sonho, sonho que me criou uma certa angústia. A propósito de sonho e de sonhos agora há qualquer coisa sobre os sonhos, que é tão bom ter sonhos que cria uma melhoria na auto estima e aumenta a vontade de viver, percebo, mas logo quando vi a notícia pensei: se forem todos como são os meus, não é sempre assim! Depois percebi que falavam em sonhos, mas daqueles que a gente tem quando estamos acordados e lembro-me que ainda outro dia nos perguntaram no curso de formação de formadores qual era o nosso sonho actual, e eu respondi, aliás com outros de nós também o fizeram, estar com a família e sermos felizes, mas hoje quando vi a notícia descobri que me apetecia acrescentar: uma viagem com o meu PQ a volta do mundo, devagar, durante talvez um ano, mais dia menos mês. Ainda não pensámos bem, mas podia ser com uma carrinha, de modo a levar tenda, possibilidade de fazer alguma comida e pouco mais. Viajar, mas devagar e se possível ver e ouvir os sítios por onde nos apetecesse ficar. Sei que passadas as primeiras duas semanas, ia ficar com umas saudades de casa muito grandes, mas como levava os meus cães estava mais tranquila, o pior seria as minhas gatas, como podia resolver esssa situação? Se calhar também vou começar a preparar essa viagem, antes que os dois fiquemos demasiado velhos, e assim aumenta a nossa auto estima e vontade de viver. Cada dia fico mais embasbacada com os estudos que são apresentados, tudo vale a pena, queremos mesmo é ficar melhor, emocionalmente falando, porque esta depressão na economia parece que está para ficar, e vai abalando qualquer um. Não termos lideres nacionais e europeus à altura dá que pensar. Tenho momentos em que nem quero ouvir mais noticiários, chega de tanta tristeza. Amanhã vamos ao cinema e ver montras?

sexta-feira, 2 de março de 2012

Casacos de malha

É a primeira vez que estou a trabalhar e me lembro de vir aqui escrever um pouco. Estes últimos dias têm sido muito cansativos e com noites mal dormidas, não é que não tenha sono, mas os pesadelos são horríveis, ainda esta noite sonhei mais uma vez que o meu PQ era um doidivanas e que andava com a enfermeira João e que ela contava a toda a gente que tinha sido ele o culpado do marido dela ter uma doença sexualmente transmissível? O marido dela? Porque ela andava com o meu PQ? Mas que parvoíce, fico cansada, mas o sonho era tão real que eu já tinha no meu braço, bem à vista de toda a gente umas pápulas infectadas nos braços com um aspecto asqueroso, fantástico. Como se isso não bastasse não tinha roupa decente para vestir, abri as gavetas todas da cómoda da minha avó e só via roupa foleira, sem gosto nenhum, até o casaco cor de laranja que a madrinha tinha detestado lá estava, e eu, que tinha uma festa e não queria faltar. Não sei como acabou esta história, sei que acordei cansada, que fui trabalhar toda a manhã, toda a tarde e agora aqui estou a trabalhar toda a noite, será que no bocadinho que for descansar consigo arranjar roupa para ir à festa?
Loucuras que têm o seu quê de verdade, ou de medo que seja verdade, ou só de medo, de baixa auto-estima? A Alice diz-me que eu tenho auto estima até de mais, que se não fossem as minhas queridas madrinhas eu ainda hoje pensaria que era o centro do Universo, ou o "Meu ouro" nome que o meu pai me deu durante toda a minha infância, como me sentia bem! Os meus pais foram educando uma menina cheia de amor e mimo, e os meus avós maternos idem aspas aspas, não fora ter encontrado pelo caminho as madrinhas com o seu toque de educação "à tropa ou convento", sei lá, educação à neta da Pató, que ali naquela casa, que não era a minha, eu não era nem o centro do Universo, nem o "Meu ouro", era tão só a neta da Pató, que não era criada nem governanta, era uma intermediária entre os patrões e as criadas, uma intermediária que muitas vezes não recebia nenhum dinheiro ao fim do mês, e que muitas vezes trazia "lá de casa" um queijinho, ou um bocadinho de peça, ou qualquer outro mimo para mim, especialmente para mim; o padrinho tinha alturas do mês em que lhe mandava fazer recados: Vai lá ao teu genro, meu pai, para ele me emprestar 20 ou 30 contos, era o que houvesse, contos porque ainda não havia euros! O dinheiro não era do meu pai, era das rendas do bairro social que pertencia à Misericórdia, e que ia ser depositado no banco em Móra, mas que enquanto era e não era, ele, o padrinho, se governava, para grande aflição do meu pai que não era capaz de dizer que o dinheiro não era dele, e sistemáticamente o emprestava; parece que o padrinhao sempre o trouxe a tempo do meu pai não ter mais dissabores, já bastava quando ele se sentava ao lume a conversar baixinho com a minha mãe, não fosse eu ouvir e sem querer contar a alguém; sussuravam, mas nessa altura eu tinha ouvidos de tísica, ouvia tão bem!
Que saudades tenho desses sussurros à lareira, do cheiro do lume e do colo da minha mãe, tenho saudades dos beijos que a minha mãe me dava, tão barulhentos e às vezes tão frios. Sinto ainda muitas vezes a face dela contra a minha, tão doce e tão fria, tinha uma pele tão boa, de veludo!Agora já não há Pató, nem padrinhos nem madrinhas, nem dinheiro das rendas, nem lume na lareira, eu já não sou neta, nem filha, mas sou mãe e espero vir a ser avó. Bom mesmo, era ser avó e ter avós, ser mãe e ter pais, todos juntos, e também podiam estar os padrinhos e as madrinhas porque agora já não fazia mal, eu sei escolher a minha roupa e se me apetecer mando fazer um casaco de malha cor de laranja só para mim.