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domingo, 19 de fevereiro de 2012

Dias ansiosos

Tenho várias ideias para começar a escrever, mas preciso sempre de leitores, acho que não consigo fechar-me na minha concha e só no fim mostrar o que escrevi. Na verdade não sei, ainda não experimentei, pode ser até que sinta nessas folhas um amigo imaginário e me dedique a ele de alma e coração e lhe conte o que me vai na alma, porque a minha escrita é descritiva, para contar histórias, para contar lembranças ou coisas de agora ou até coisas que anseio e sonho. Eu gosto de inventar mas gosto mesmo é de contar histórias, gosto de chegar aqui e fazer o meu download do dia, para ficar mais tranquila. Na verdade não tenho andado nada bem, tenho tido muita ansiedade que não sei bem donde vem, de modo que agora vou parar, a ansiedade vem nas alturas menos próprias, amanhã volto.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Perigosamente fundamentalista

Não sei o que vai acontecer lá mais para o Verão, mas cada dia que passa mais farta estou da troika e dos analistas policticos que invandem a nossa casa, é certo que podíamos fechar a TV, ainda não cheguei a esse ponto.
Estou saturada das notícias, das desgraças diárias que encontro no trabalho e das desgraças diárias que vejo e oiço nas notícias, e como se isso não bastasse vem depois os analíticos cheios de prosápia voltar a interpretar o que está mais que visto: cada um a puxar para seu lado, a corda está tão esticada, admira-me não estar já toda partida. Até me custa estar agora a bater na mesma tecla de tão enjoada que estou, párem com estas notícias, sejam capazes de ver alguma coisa boa e razoável nestes dias, saibam dar um pouco de amor e carinho, porque não precisamos só de pão, mas também. Quando me ponho a pensar no que posso poupar no meu dia a dia, encontro muito onde fazê-lo, e não é por isso que deixo de ser feliz; quando vejo pessoas com dificuldades a comprar coisas que no meu ver não lhe fazem falta, fico triste, canalizar as nossas despesas para o que realmente necessitamos; a nossa vida diária tem que ser um pouco mais que uma vida descartável, tudo se compra a prazo, mas com uma qualidade inferior, à minima avaria, lixo! Podemos e devemos mandar para o lixo tudo o que não precisamos, mas até a ida para o lixo tem uma condição, escolher o caixote apropriado, mas antes de deitar fora, olhar parar e ver: não pode ser reaproveitado? Desde as roupas, ao papel, aos sacos de plástico, a um sem número de artigos, observemos; não precisamos comprar senão o que tivermos no papel das compras que fizemos no descanso do nosso lar. Podemos ser felizes com tão pouco!
Outro dia estava a pensar que há tantas maneiras de matar pulgas: se ganharmos consciência das nossas verdadeiras necessidades, a ida ao supermercado pode ficar reduzida a um mínimo, para não falar a outras lojas, mas podíamos fazer por partes: o poder que o consumidor tem é tão grande que pode ter a força necessária para fechar um Modelo ou uma Portagem, é uma questão de decidirmos não usar, é uma questão de decidir o que nos faz falta.
As pequenas acções são sempre as que têm maior impacto, porque havemos de comprar batatas francesas, ou electrodomésticos alemães? Podemos até tornarmo-nos perigosos, fundamentalistas, mas até dá vontade de sê-lo, não gosto de estar a assistir a esta guerra fria económica-financeira sentada, vou começar por tomar consciencia da proveniência dos produtos que preciso comprar, e vou pôr de parte todos os que não forem Portugueses, vamos ver se passo fome!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Olhar em frente

Hoje o dia foi complicado, quando decidi vir embora parecia que o mundo ia explodir, as coisas não estavam no seu lugar. Cheguei a casa angustiada, preocupada, não vou ser capaz de trabalhar, estou a ficar no meu limite, daqui só para a loucura. O lume, os meus queridos animais, a conversa calma e tranquila com o meu PQ, em que partilhámos as nossas angústias e os nossos medos, esta conversa foi libertadora, agora sinto que sou capaz de me agarrar ao trabalho sem medos, com a cabeça bem mais normal, consigo pensar. Estive a fazer um bocadinho de ponto cruz numa toalha de mesa que devo ter começado a fazer há cerca de 4 ou 5 anos, e ainda falta um bom bocado para terminar. Quando a acabar vou tirar uma fotografia e colocá-la aqui para todos poderem ver como uma toalha que nem é assim muito bonita me faz tão bem, fazer ponto cruz é terapêutico, como também é terapêutico conversar e fazer festas aos meus queridos animais. Estou melhor, sei que não posso levar a vida a pensar e a olhar para o passado, eu também vou ser capaz de ser boa mãe e boa avó, e se Deus quiser também quero ser bisavó, e passear muito com todos eles. Por isso o dia de hoje foi complicado, acho que fui ao fundo, mas com o amor que todos me deram sinto-me capaz, sinto-me outra vez eu, amanhã o dia vai ser bem melhor.
Terapêutico também é este momento em que me sento aqui a escrever, não me importo que seja lida, se servir para que quem me lê também se encontre, também se sinta acompanhado, é duplamente útil, mas escrevo para mim, escrevo para o meu PQ que me lê quando está no seu emprego um bocadito aborrecido, escrevo para amigos, escrevo porque sim, é tão bom poder justificar: porque sim!
É verdade que as saudades que tenho no meu coração pesam muito, mas é verdade que também sonho muito, invento muita actividade, se fosse capaz de pôr em prática tudo o que penso, os dias que tenho não iam dar, por isso estou no meu melhor, em frente, andando!

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Sem livro de instruções

Todos os dias vejo a caixa do correio, sei que a minha Zulmira está atenta e traz - me sempre o correio para dentro, mas pode ser que não tenha visto bem, de modo que, dou uma última olhadela. Vou ao meu mail, vou ao mail do trabalho e por vezes pego no telefone, parece que ainda espero que não seja verdade, porque espero uma carta, um telefonema, uma mensagem de, nem sei bem quem, eu sei quem eu gostava, mas já se torna doentio pensar assim: preciso tanto de falar com a minha mãe, com o meu pai, com os meus avós, e olhando para mim, assim sem ser ao espelho, só posso dizer-me: não estás boa da cabeça, os avós já partiram há muitos anos, o pai partiu a 01.03.2000, quando faço as contas, quer dizer que já foi há cerca de 12 anos, e eu ainda mantenho a casa com tudo o que lhe pertencia, o gel de banho, o champô, tudo, sinto-me a guardiã e na verdade sinto-me à espera! Sei que tenho 55 anos, à beira dos 56, e não tinha ainda metido  na minha cabeça que um dia os meus pais iam partir e eu ia ficar, a guardar os seus bens materiais? Não, mas também, e sei que a sua casa era muito importante para todos nós. A minha mãe partiu há menos tempo, dia 09.08.2011, no dia em que a minha querida sobrinha Rita faz anos, mas na verdade já estava tão doente que sinto que partiu há tanto tempo como o meu pai, e sinto-me assim, muito órfã! Não estava nos meus planos envelhecer sem eles, a vida não está bem estruturada, envelhecer devia ser em conjunto, os pais fazem-nos tanta falta! E cada dia que passa sinto um aperto no meu coração, no meu interior, no meu estomâgo, que se pode dizer me vai magoando cada vez mais, a vida devia ter permitido que continuássemos juntos. Não tenho correio que me satisfaça, não tenho mails suficientes, tomo o meu antidepressivo diário para não me tornar muito agreste para a minha querida família, as filhas, o Marco, o André, o meu PQ. Esta família é agora a minha, como eu gostava de mostrar aos meus pais como a gente está bem, somos felizes, adoro-os e sou adorada, mas sou muito egoísta, queria também ainda ter o colo de minha mãe! Será que vou ser capaz de mostrar às filhas e aos netos que espero ansiosamente, que o meu tempo também é limitado, que um dia também eu vou partir e que eles devem continuar a ser felizes e a não esperar nem cartas, nem mails, nem telefonemas? A vida prega-nos partidas e ninguém nos mostrou o livro de instruções!!!

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Ai quem mi dera

Domingo à noite, não deixa de ser bom, mas ao mesmo tempo, não deixa de ser angustiante, amanhã é um novo dia de trabalho, duma nova semana. A 2ª feira é um dia místico?, não sei se é místico, para mim é um dia diferente. Quando era pequena, e vivia na casa dos meus avós maternos com os meus pais, era o dia em que o meu avô tinha a roupa lavada e o avental azul, muito limpo e muito passado a ferro. Já não me lembro quem lhe lavava a roupa, mas que nas 2ª feiras de Verão e de Inverno ele estava impecávelmente limpo, e muito passado a ferro, estava. Talvez por isso não lhe apetecesse trabalhar, e passava a manhã se o tempo o permitisse a passear na rua, ia da loja para a nossa casa e da nossa casa para a loja; parava na rua a falar com alguém que passava, sentava-se nos degraus da Dona Maria, não me recordo o nome, acho que o apelido era Godinho e ficava ali um bom bocado; dava mais uma volta e quantas vezes dava um grito no cimo da nossa rua: Ai quem mi dera morrer! Ainda me lembro tão bem, da entoação, do jeito dos braços, do olhar azul, da cor da blusa de malha e do avental, do cabelo todo espetado, todo branquinho, desde os 20 anos de idade, história que nunca me contaram! Tanta coisa que gostava de ter aprendido ácerca da família mas só posso confiar nas minhas memórias, já não está cá ninguém capaz de contar. Domingo é por isso um dia cheio; quando estava frio eu e a minha mãe inventávamos trabalho, pensávamos sobretudo em trabalhos manuais, ou fazíamos um doce, um bolo, uma compota, qualquer coisa diferente; não havia televisão, não era possível sair da Vila, não haviam festas, mas havia a missa às 11h da manhã, era uma beleza, vestidinho lavado, passeio até à Igreja e regresso a casa, já a salivar, almoço reforçado por ser Domingo. Os Domingos são sempre mágicos porque têm sempre uma 2ª feira em que podemos expressar a nossa depressão, a nossa tristeza, sei lá o que era, mas tenho muitas saudades; não era para voltar atrás, queria era trazê-los a todos comigo para este presente em que sou tão feliz: Ai quem mi dera voltar a vê-los a todos os que já partiram!