Translate

domingo, 29 de abril de 2012

Abril com águas mil

Estamos em fins de Abril e sabemos que o Inverno foi seco e que em Abril "são águas mil", mas já anda aborrecida, depremida, agoniada, chega de dias cinzentos, parece que assim não vamos sair desta depressão em que nos colocámos, sei que todos temos culpa, porque somos todos coniventes com  o des -Governo que temos tido. Parece que somos tão estúpidos, todos, que escolhemos para nos representar quem é um tudo nada ignorante, é Zé espertinho, sabe aldrabar melhor que nós, e de predicados bons, parece que não têm, depois é o que se vê, se o Governo é assim , quando começam a escolher os seus representantes, é uma carambola de idiotas e incompetentes, não é de estranhar. Mas isso é importante? É assim um bocadito, porque se estivermos a trabalhar com um bom gestor, o trabalho rende o dobro com metade do esforço e ainda fica tempo para nós, neste caso, como temos maus gestores, o trabalho é muito e os resultados são uma doença, contagiosa, incapacitante, têm que ser arrancados a ferros. Fico muito preocupada quando vejo o nível de vida a descer drásticamente para a maioria das pessoas, para as que não conheço e ainda mais, para as que conheço: perdem o trabalho, abandonam-se à sua sorte, passam dias em casa de roupão, implicam uns com os outros, agridem-se com um mau ambiente familiar, vegetam, não fazem práticamente nada para sair dessa crise, esperam. Enquanto isso têm que ir desligando os meos, os carros, as vidas? Não sei como se pode ajudar, não sei o que se pode fazer, mas esta talvez seja uma oportunidade que vamos perder? Havia de se organizar um grupo de ajuda para estas vidas que teimam em não acreditar, que teimam em ficar paradas, que nem sequer percebem que precisam de ajuda? Sinto-me assim como o tempo, cinzenta, tenho tanta vontade de fazer, de viver, de cuidar, mas só falo, falo, escrevo, escrevo e não concretizo nada. O canil que todas as vilas precisam? Não sei como hei-de fazer. O apoio à vitíma? Não sei como hei-de fazer. O grupo de ajuda à vitima da recessão? Não sei por onde começar. O lar para pessoas inadaptadas, novos, velhos ou assim assim? Não sei com hei-de fazer.
Costumo dizer aos meus doentes, uma coisa de cada vez e começamos pela mais urgente, e fico logo toda embrulhada, são todas tão urgentes que fico-me pela escrita, com as ideias na cabeça e o coração cheio de preocupação, mas ninguém sobrevive com esta ajuda. Partir para a acção, começando por desenhá-la e torná-la possível primeiro no papel e depois no directo, sei que deverá ser assim, vamos a ver se consigo delinear o que é mais importante: os animais ou as pessoas? Os animais têm muitos sítios com hipótese de ajudar, mas se calhar não estão bem divulgados, não está bem divulgado o canil camarário e quais as leis porque se rege. Então talvez avaliar o canil camarário e verificar se está a cumprir, mas isso vai ajudar quem? Os animais que vão sendo abandonados, que vão sendo maltratados, que vão aparecendo mortos na estrada, todos os dias? Eu nem sou veterinária, nem sei como mexer-me nesse meio.
Amanhã será que vou estar melhor, ou a loucura vai continuar?

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Exaustão

Que graça que eu acho ao meu PQ a explicar que a sua filha "anda de bébé" mas diz com uma ternura que fico toda babada, é um ternurento.
O dia de trabalho foi grande, desde as 9h da manhã até às 8h da noite, sem grandes precalços, mas sempre a atender, falei com mais de 40 pessoas, fiz muitas consultas, resolvi alguns casos, mas agora sinto-me cansada, exausta mas tranquila. E é assim todos os dias, falo, falo, e para mim tenho pouco tempo. Terei que reorganizar-me preciso de mais tranquilidade para a minha cabeça; e às vezes gostava de mudar de trabalho, assim por poucas semanas, não, dias, poucos dias, e podia ser embaixador, ou antes embaixatriz, num país distante, assim daqueles pouco conhecidos; podia ser pior, e sonhar não faz mal. O tempo não tem ajudado nada, está frio, chove e o céu está cheia de nuvens, de tal maneira que o Vicente teve que voltar a usar a sua capinha de Inverno, de manhã não queria levantar-se, tremia todo, assim que vestiu a capinha ficou do melhor.
Estou oca, não me apetece fazer nada, pensar em nada, ver nada, só vegetar, amanhã o dia vai ser ainda mais longo, vou de manhã e só regresso sábado por volta das 10h da manhã, mas ainda bem que estou bem que posso trabalhar e que tenho um trabalho que adoro, por isso agora vou FAZER NADA.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Preparação

Não gosto de pegar em temas atrasados, mas o cão abandonado ainda não me abandonou o espirito, no entanto já não ronda a nossa casa. Não foi abandonado pelos meus anteriores vizinhos ciganos, que já abalarm há dias, mas por um "senhor" que esteve a dra-lhe comida ali ao pé das ervas, no descampado que está aqui ao pé da nossa casa e depois foi na direcção do Lidle e o enxutou para ele não o seguir, esta situação foi observada pela minha vizinha loira, já velhota, por isso lhe desculpo o silêncio, senão ela devia ter chamado o homem, não o "Senhor", à atenção. Esta história contou-me a minha Zulmira, sempre atenta ao que se passa na minha ausência e tenho-me esquecido de lhe perguntar se sabe mais alguma coisa. Tenho tido muitos vizinhos ciganos, percebo que são mais humanos e cuidadosos que os outros, os da nossa raça, sinto vergonha, se pudesse ir à televisão ter o meu momento de glória, levava o homem e o cão e ele havia de pedir desculpas de joelhos e ter como função limpar o canil da CM todos os dias e rezar de joelhos diáriamente - um terço. Já ficava mais contente, e parece-me que o cão ficava bem, só não sei ainda se era boa politica dar-lhe o cão de volta, ficava era proibido de ter animais durante muito, muitissimo tempo, até que pedisse de joelhos, boa, excelente ideia. A minha raiva está a desaparecer, mas não me sinto melhor, também aqui em casa não tivemos o melhor dos comportamentos. É muito dificil, se não completamente impossível mudar comportamentos de outras pessoas, quando somos tentados a fazê-lo, devemos parar, podemos escrever palavras como estas, que não têm efeito nenhum sobre a vítima e o mau, mas que servem para nos preparar para o que realmente importa: que sejamos capazes de perceber que somos nós os primeiros a precisar de mudar o nosso comportamento, e vamos logo perceber a grande dificuldade que vamos sentir. Já não haverá próxima vez igual a esta, mas outras situações virão em que vou sentir-me impreparada, só quero ter humildade suficiente para pensar e ponderar, para ser capaz de uma decisão acertiva.
Para além desta situação triste e reprovável, sinto-me muito contente, tenho muita vontade de esperar pelo meu netinho, acho que vai ser rapaz, o meu PQ acha que vai ser rapariga, também é muito bom, mas tenho que esperar até dia 15 de Junho para começar a fazer casacos, botas e toucas, só quando tiver 3 meses na barriga da filha. Parece que só nasce em Dezembro, o nosso Menino Jesus, que Deus nos abençoe e que sejamos dignos de um neto lindo e perfeitinho. Sou muito babosa mas também maricas, medrosa, ansiosa, preguiçosa, egoísta, e concerteza mais defeitos que agora não me vêm à cabeça mas para os quais tenho que estar preparada para ir eliminando, não quero tantos defeitos quando o meu neto chegar, também sou um pouco surda!!! Não vai ser fácil, mas estou tão contente, que nem quero que ninguém veja o sorriso da minha alma, é que também tenho um nesguinho de superstição..

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Orgulho besta

Que dia, e pensar eu que estava tão contente que nem dormi bem, vamos ser avós! A notícia apanhou-me ontem a seguir à sesta, ainda estava meio estremunhada, mas que coisa linda; e pensei que ia ser assim sempre sem me chatear, mas não hoje tive um dia, ou antes, uma manhã e um começo de tarde "levado de 600 bacalhaus"; começou logo com a primeira, não com a 2ª consulta: venho buscar a baixa! Palavras mágicas que tocam cá muito dentro de mim, parece que se acende uma luz vermelha, que toca aquela campainha, fico com a pele toda eriçada: e porque é que está de baixa? Porque me doi o corpo todo e este punho, e não preciso de trabalhar, e ,e, !!! Pior, quanto mais falas mais te afundas!
Não conto mais, só que não levou baixa, mas tratei do resto como é óbvio.
A última consulta: venho só por causa da baixa! Bom, foi doloroso, não consegui manter a minha calma habitual e soltei em mim todo o burnout acumuldo. Como se não bastasse a minha Cilinha também quis acertar comigo palavras amargas que lhe tenho dirigido; na verdade temos as duas andado a picarmo-nos uma à outra, não sei para quê, já tinha comentado com o meu PQ a importância de não alimentar picardias, mas de vez em quando alimento essas conversas com gozação e maldade, crio anticorpos contra mim, assim de propósito, sou tão má como se apenas disse-se mal, por dizer mal, já nao tenho idade nem estatuto para me entregar a essas graçolas; quanto tempo vou ser educada e correcta? Dentro de quanto tempo vou voltar ao mesmo? Precisava de conversar com a minha mãe, ela costumava ter tão bons conselhos, sabia dizer-me que amigas eram para confiar, e sabia também aquelas que se estavam a armar, mas tenho os cpnselhos do meu PQ que também são bons. Eu é que não posso ser tão orgulhosa e má, já em pequena o padre de Cabeção me mandava rezar 4 padre-nossos e 6 avé-marias, para ser perdoada do orgulho. Pensava que estava melhor, mas não; se fosse agora quantos terços levaria como penitência?Vergonha, Maria, devias ter vergonha, quase a seres avó, como vais ser capaz e autêntica para dares conselhos ao teu neto? Espero ser capaz de ir aprendendo em cada dia, espero ser capaz de cada dia me tornar menos orgulhosa, mais tolerante e compreensiva com as faltas dos outros, na verdade estou muito longe da perfeição.
É verdaede o cão não apareceu mais, mas amanhã pergunto à Zulmira, sabe tudo!

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Puns

Assim não dá para fazer grande coisa, durante o dia trabalho, não sei se chove ou se faz sol, quando venho para casa chove, assim não dá! O Inverno foi ameno, a Primavera está a ser um pouco chuvosa de mais, sei que a água faz falta nos campos, nas albufeiras, faz falta em todo o lado, menos no meu quintal. Hoje o cão não apareceu, conversei de manhã com a Zulmira, e ela já tinha dado conta que o cão andava aí, e acha que foram os ciganos que o deixaram, só me faltava mais esta informação, já não chegava a má vizinhança ainda era preciso deixarem para trás um dos seus cães; ao pequeno almoço o meu PQ confirma que o vizinho dos alumínios andava a tentar apanhá-lo, mas até nisso o bicho é esperto, o vizinho dos aluminios não é bom da cabeça, anda a passear com o outro cão dele, cão que acho anda a treinar para caçar, a passeá-lo de trela, só que ele o dono vai de carro com o braço de fora da janela e o pobre bicho a correr ao lado do carro. Se voltar a ver isto faço queixa à GNR, que também não sei se será a essa entidade, faço queixa que maltrata deliberadamente o animal, porque será que este cachorro foge dele e dormiu esta noite na minha sala, junto à lareira, quando tinha sido enxotado? Esta tarde não apareceu, será que já foi apanhado, encarcerado ou muito amado? Amanhã de manhã assim como nem quer a coisa vou perguntar à Zulmira se o viu, se há coisas que quero saber ela está sempre atenta a tudo e a todos.
Não faço nenhuma actividade ao ar livre, se a chuva não pára no meu quintal algo de mau me vai acontecer, chego a casa tão cansada que nem consigo ler o jornal, o correio, ver a TV ou ouvir música, adormeço no sofá com a Carlota enrolda nas minhas pernas, mas até a Carlota tem andado meia tonta e de vez em quando solta um gaz tão mal cheiroso que até arranha na garganta, coisa doida, como agora, estou aqui tão tranquila a escrever e ela a deitar estes cheiros horripilantes. Nós os humanos, temos uma produção diária de cerca de 14 puns, maus cheiros, flatulências, peditos ou bufitas, o que quiserem chamar se forem audíveis ou não, a minha Carlota tem dias em que tem uma produção trágicamente aumentada, trágicamente para mim, porque está sempre enrolada ao meu cólo, se fosse o cachoro que andava ontem aqui eu ia adoecer com a produção do mau cheiro, porque deve ser tudo em proporção, cu pequenino um mau cheirinho, cu grande um mau cheirozão. Não vou contar mais nada porque o meu dia foi para além de trabalhoso, foi desgastante e deixou-me com um nó na garganta, os episódios de loucura humana sucedem-se, não sei se é loucura, se é má sorte, se é ser enteado da vida, uns serão filhos do Universo, outros serão enteados; hoje foi o Ricardo que está no Lar Âncora, tem 12 anos e está a fazer Haldol decanoato de 15 em 15 dias, de modo que tem aquele olhar ausente a fala entramelada, e a baba a correr ao canto da boca, mas mesmo assim ainda tem um sorriso nos beiços! O Ricardo foi abandonado ou retirado à família, nem perguntei hoje, mas ele ainda me contou que o avô morreu dia de Natal, que a avó também morreu com ele, a mãe não dá sinal de vida, não perguntei pelo pai, parece então que está sózinho no mundo, junto com os outros meninos no Lar, para além disso está na consulta de Pedo psiquiatria que o medicou à séria, e por enquanto não posso fazer nada! Isto não é ser enteado? É. Onde está o Rei do Universo para acudir a estaas criaturas, cães, gatos, meninos, todas estas criaturas abandonadas? Há quem aquente? Amanhã vou conseguir ter um dia normal e de certeza que o cachorro já tem dono, um dono normal, que o Ricardo vai estar melhor e que o Universo me vai dar sol no meu quintal.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Gatos e cães

Temos duas gatas, a preta também chamada Safira, mais velha cá em casa e a Sara, também chamada Sarita em momentos ternurentos, depois temos o Vicente e a Carlota, cão e cadela pequenos, sabemos não ter espaço físico e emocional para viver com mais animais de estimação, muito menos quando em cachorros são muito maiores que os nossos queridos; durante o dia fomos visitados por um cachorro que entrou no quintal e que queria também entrar cá em casa, nem o fui mandar embora, porque havia de ser com tanta meiguice que o bicho ia perceber o contrário, de modo que deixei o meu PQ fazer todo o papel de mau, mandou-o embora com umas pedras atiradas e uns paus, não gostei, mas não impedi, nem arranjei solução melhor! Senti que para além de me ter escondido atrás dele, do meu PQ, deixei-o fazer as coisas à maneira dele, sem grande jeito, porque eu na verdade, não ia ser capaz de o mandar embora, e cá em casa não ia ser uma boa ideia; ele lá foi, não sei bem para onde, mas que estava perdido devia estar e que gostaria de ter ficado connosco, gostaria, mas não ia ser fácil, não sei ter cães no quintal, gosto de pegar-lhe ao colo, fazer-lhe festas e dar muitos beijos, às vezes não é fácil porque eles aborrecem-se de tantas mariquices, mas ainda me sinto mal, as coisas não são feitas dessa maneira, à pedrada. Faz-nos falta um canil 24h aberto, em cada cidade, vila, aldeia, lugarejo, de modo a permitir entregar os bichos perdidos, ou os bichos abandonados, ou os que são apedrejados, meu Deus, fomos um bocadinho maus, há muitas maneiras de matar pulgas e assim não é a melhor maneira. Não tenho soluções há medida, soluções com que me sinta confortável, de cada vez que me sinto embaraçada, em que me sinto sem jeito para resolver os problemas que se me colocam, mas à pedrada nunca mais vai ser, não sei ainda como vai ser, que a próxima vez não seja muito perto.
Em cada dia acontecem-nos coisas para as quais não estamos preparados, e tomamos decisões pouco ponderadas que nos fazem pensar como a vida na verdade não está programada e ainda bem, senão não havia espaço para aprendermos, sofrermos, amarmos e sermos amados, e nos sentirmos um nadinha de nada, desajeitados.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Ideias loucas

2ª feira outra vez, sempre igual; grávidas, muitas grávidas, alguns IVG (interrupção voluntária da gravidez) e poucos planeamentos. Esta conversa faz sentido para quem está dentro deste tema, é básico e não é preciso explicar mais, para quem não está, percebe um pouco e o resto "fica para o gato" É esse o problema, a gente escreve textos, notícias para o jornal, dá entrevistas, escreve panfletos, tudo temas que conhecemos mas sem cuidado para sermos entendidos para os outros, a gente para quem se dirige a mensagem. Vou tendo algum cuidado quando escrevo para o jornal, escrever à minha maneira mas de modo a que entendam o que quero dizer, não sei se consigo, mas tento. O nosso dia a dia é tão cheio da mesma conversa que acabamos por acreditar que toda a gente está dentro do tema, mas a maioria não está; algumas notícias produzidas por profissionais da noticía primam por falta de verdade, não sei se essas pessoas não percebem o que perguntam nem o que lhe respondem, mas a maioria das notícias que leio nos jornais sobre CS (Cuidados de Saúde) são deficitárias, mas agora não me apetece escrever sobre esse tema: o jornalismo. Nem sei bem o que me apetece escrever, sinto-me perdida no meio de tanta informação que me povoa a mente, tenho com alguma frequência esta sensação: a cabeça cheia. Hoje a Ana contou-me uma das consultas de Psiquiatria; o doente entrou, o nosso psiquiatra cumprimentou o doente e fez uma pergunta: Então quando é que vai para o Brasil? O doente responde num tom sério e compenetrado: Não sei se vou para o Brasil, se vou para Portugal em Júpiter ou em Marte! A partir daqui ela teve alguma dificuldade em ficar quieta e sossegada, mas a consulta terminou com mais umas gotinhas de Haldol, no espaço da consulta a Ana não se riu e o Bernardo também não, mas depois rimos as duas, ainda que eu não tenha percebido tudo, o que percebi, deu para advinhar o resto: esquizófrenia no estado mais puro.
Se eu pudesse também respondia loucuras, mas havia de ser uma coisa diária, cada pergunta que me fizessem, "cada melro", seria a loucura total, mas sem gotas de Haldol. E hoje ficamos assim com uma necessidade de fazer loucuras mas a comportar-me na perfeição, amanhã logo se vê, espero melhorar esta conversa da treta! Não tenho quem me dê seguimento a esta conversa, as filhas às vezes vão atrás das minhas palermices, a minha mãe conseguia muitas vezes ultrapassar-me e era a risota total, por isso sinto-me um pouco acanhada, não queria ser mal interpretada e levar com gotinhas.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Memórias com tempo

Hoje o dia foi pouco imaginativo, trabalhei de manhã, trabalhei à tarde, vim para casa lanchei a correr, porque queria muito ir ainda um bocadito para o quintal e, se não me despacha-se, vinha a noite e à noite, as plantas precisam de descansar. Agora, antes de jantar não ligamos a televisão, ouvimos música, cds, fica ridiculo escrito assim, mas na verdade ouvimos cds, ontem e hoje foi música brasileira. Ao som da música,baixinho, lemos, falamos, descansamos e eu também saboreio o lume, ainda apetece muito fazer lume e ficar aconchegada a olhar. Tanta coisa que preciso fazer em casa, mas o tempo que me sobra do trabalho é muito curto e, se fosse fazer só o que me apetecia, deitáva-me a descansar, porque adoro preguiçar, mas não pode ser, tenho que inventar qualquer actividade. Senti que nesta Páscoa, fizemos uma boa viagem em família, mas não cumprimos nenhum ritual e eu preciso de rituais. Podíamos combinar para as próximas Páscoas: vamos sempre passar 4 a 5 dias juntos e viajar; podíamos, mas não podemos, porque a crise não nos permite estas ideias tresloucadas, não sabemos como vamos viver no Amanhã, mas podemos definir a Páscoa como um ritual em família, mesmo que seja só juntos em casa, se todos nos sentirmos bem. Os rituais fazem-me falta, a pouco e pouco temos deixado de praticar essas festas, porque agora estou a falar de festas, temos deixado de praticar essas festas em família, e na minha memória era muito agradável quando os praticávamos na casa de meus pais. Na Páscoa obrigatóriamente o meu pai compráva, quando já não tinha na horta, compráva um borrego; a Joana não gostava, a minha mãe tirava um bocadinho especial e dizia-lhe que era "peitinho de galinha" e ela saboreava deliciada. Havia amêndoas, procissão e colchas à janela; havia luminárias à porta, proibição de comer carne antes do Domingo, podíamos comer tudo menos qualquer tipo de carne, às vezes a gente prevaricava, mas às escondidas da minha avó Maria Antónia, quando ela ainda mandáva muito na casa de meus pais, que afinal era a dela. Tudo parece um pouco baralhado, mas hoje estou assim, as memórias estão encadeadas como cerejas, puxo uma e logo chegam dúzias delas, mas persiste a memória do Domingo de Páscoa como a memória predominante, missa de domingo, amêndoas, a benção avô, e o almoço reforçado, sempre com batatas fritas em azeite, com um sabor inconfundível; quando ficámos abastados comprámos um fogão a gaz e as batatas começaram a ser fritas em óleo porque era melhor para a saúde, palermices; e por último, mas não menos importante, os fatos eram os melhores, eu gostava sempre de estrear qualquer coisa nova, mas acho que na Páscoa não tive muitos novos, era mais na altura da Feira de Cabeção em fins de Agosto / Setembro; tive um ano que estriei 3 vestidos novos, fantástico, na Páscoa não me lembro assim de roupa importante; este ano em Barcelona repeti a proeza, também fui muito feliz, por tudo, e por ter 2 vestidinhos novos e uma saia, maravilha. Vamos combinar que na próxima Páscoa vamos cumprir o ritual de estarmos uns dias juntos, sem trabalho, sem tarefas, sem stress, com colchas à janela, borrego, "peitinho de galinha" e luminárias à porta.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Tardes de folga

Estive uns dias de férias com a família, que de 4 passou a 6, foi muito bom, muito calmo, muito tranquilo, num sítio que nos leva a ambicionar sempre, mais e mais conhecimento; não sei explicar porquê, mas em Barcelona a gente sente-se bem, com toda a diversidade de gente, com tanta loucura na rua, quer em termos de penteados, quer em termos de roupa, mas tudo isso nos faz bem à imaginação, parece que potencia a imaginação que já existe em nós, Barcelona não sei se será bom sítio para viver, é concerteza bom sítio para passear. Já fomos várias vezes, eu e o meu PQ, desta vez fomos, primeiro, porque sim e isso é sempre um bom motivo; depois porque o Marco nunca lá tinha estado, e os 5 restantes já tinham ido e tinham adorado, combinação perfeita, os meus aninhos que eu adoro fazer, muitos miminhos e muitos passeios. Não fiquei nada cansada, mas dormi sempre a minha sestinha, se passear o dia inteiro a minha cabeça não aguenta, fico com muita informação e começo a ficar tonta; como o meu PQ também gosta de passear a este ritmo, somos felizes.
Hoje cheguei à realidade, cheguei ao meu trabalho e para além das grávidas em abundância, como é o habitual, pediram-me para avaliar uma jovem de 15 anos que tem tido comportamentos agressivos em casa e na escola, com muito mau rendimento escolar. Fiquei de propósito na minha tarde de folga para conversar com calma com a pequena. Pois bem, e de forma muito abreviada, é uma jovem adolescente que já viveu momentos de grande loucura; é filha de um segundo casamento de sua mãe que neste momento já vai no 3º, fóra os namorados; do 1º casamento, que aconteceu aos 16 anos, teve 3 filhas, a mais velha não é boa da cabeça, e a mais nova saíu agora da prisão, "já está a ver a doutora?!..."
A ver, a bem dizer, eu não estava a ver nada, porque a história ainda agora estava a começar e já me sentia tão longe de Barcelona, Meu Deus, como há tanta miséria humana!
Para não baralhar este início de história, só contar que quer a mãe quer a filha já viveram na rua, em pensões e agora até estão muito bem, este 3º casamento é o mais abastado, com um pescador que ganha bem, e é agora nesta altura tã boa é que esta filha começa a dar problemas, "... ela até é meiga, mas quando se descontrola é agressiva comigo, é má..."
Mas é má como, por palavras, por acções, má como? pergunto eu, perguntinha naif, que a mãe não ligou e a filha confirma com ar muito entendido, "sou agressiva com a minha mãe!"
Esta menina de 15 anos, presenciou cenas de pancada entre a mãe e o pai, o pai alcoólico, que um dia a mãe bateu até à morte.... afinal não estava morto, mas toda a gente pensou que sim, nã, ela não lhe tido dado tanta pancada que o matasse, as pessoas é que gostam de fazer filmes, sabe Estremoz é uma cidade pequena!...
Não vou contar mais, mas com 15 anos, é dose. Combinámos que a Jovem vai voltar para falar comigo daqui a 1 mês, para tentar sarar feridas, tentar.
Como Barcelona fica distante, aqui a realidade é tão cruel que abafa qualquer hipótese de imaginação, a miúda disse à minha colega que a observou antes de mim, de quem ela não gostou nada, que : não esperava nada do futuro! Pudera!
Viver assim não presta, devia haver para todos a possibilidade de visitarem Barcelona.