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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Convicções

Para o Ano de 2014
Quero ser mais eu, mais autêntica, errar com mais sabedoria.
Todos os anos gosto de fazer o meu balanço, muito meu, escritos que tenho dispersos por várias agendas, folhas soltas, guardanapos de papel e o que vier à mão no momento da inspiração ou da necessidade absoluta de ver em palavras os meus mais secretos pensamentos.

Para o Ano de2014
Quero ser ainda mais eu, agora que consigo conviver bastante melhor comigo, e isso, devo à minha recente aprendizagem do Yoga:
1-     Vou manter as minhas aulas 2 x semana com o Gil de preferência ou outra qualquer pessoa disponível, não me é agradável mudar.
2-     Vou manter as minhas massagens mensais com o Gil, de preferência, ou outra qualquer pessoa disponível, não me é agradável mudar.
3-     Vou manter a minha ligação esporádica com a Alice e tentar perceber-me melhor, aprender melhor a olhar por mim, eu própria, só com a Alice, aqui também não me é nada agradável mudar.
4-     Vou iniciar 1 x semana a ida à piscina, tenho saudades de nadar, de aperfeiçoar o meu braço esquerdo e sentir-me a deslizar pela água, tranquilamente, calmamente, saudavelmente.

Para o Ano de 2014
Quero ainda ser mais eu, em cada dia, saborear cada dia, não ansiar pelo dia seguinte, viver o mais possível cada dia, nesse momento, cada hora, cada minuto, cada segundo, de preferência com o meu PQ e as minhas meninas, com os seus meninos; nos dias em que precisar e não os tiver por perto, vou rodear-me de outras quaisquer pessoas que estejam disponíveis, mantendo a minha solidão o mais tranquilo possível, rodeada quanto baste, tranquilamente, calmamente, saudavelmente.
1-     A dança continua nas minhas grandes necessidades, ter 1 aula por semana seria muito agradável, mas aqui em Grândola.
2-     A música também seria uma actividade a retomar, 1 x semana, aqui em Grândola.
3-     A pintura, um complemento à altura, 1 x semana.
4-     A escrita não apenas para o Jornal habitual, mas manter o Blog e tentar escrever para outros jornais, crónicas dos meus dias; iniciar a minha história, já escrita por tantos episódios soltos, organizá-la, com fotografias, para a família, apenas.

Para o Ano de 2014
Quero ser ainda mais eu, quero que o tempo se adeqúe aquilo que preciso fazer, não vou deixar o tempo fazer de mim uma escrava, o tempo vai-me ser útil em cada dia, cada hora, cada minuto, cada segundo. No trabalho vou produzir ainda mais, e ser em cada consulta mais completa, mais capaz, mais humilde, por isso vou organizar-me, organizando tudo à minha beira, dando abraços e sorrisos diários, dando porque preciso muito receber, quero receber muitos abraços e beijos, sorrisos e gargalhadas, e vou pensar no que posso fazer por quem está ao meu lado, quem me procura, não devo desiludir nem baixar as expectativas, por isso o tempo vai ser meu, vou ser eu a comandá-lo.

Para o Ano de 2014
Quero ser ainda mais eu, fazer sempre o que acho devo fazer, partilhando mais os meus amores, as minhas amizades, dizendo sempre o que é preciso, mas com mais humildade, com mais amor, procurando a sabedoria da palavra, a cura pela palavra?

Para o Ano de 2014
Quero ser feliz, quero amar e ser amada, quero receber, dar, aprender, vencer, tocar a minha alma, o meu coração, tranquilamente, confortavelmente, saudavelmente contigo.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Coincidências

Hoje a minha neta festejou o seu 1º ano; a minha mãe também nasceu neste dia, há muitos anos atrás, há tantos que já nem sei! Este dia foi sobretudo da bebé, foi como se só ela existisse, a partir de agora só ela conta? Ela traz toda a história desta família e da família do pai, a minha querida neta carrega tantos antepassados, que a protejam, Meu Deus, que a protejam! Hoje estava particularmente bonita, bem disposta, dançou, bateu palmas, fez gracinhas, todos nós que presenciamos a sua alegria ficámos contagiados, uma alegria simples, que não pedia mais nada do que o amor de nós todos, estávamos alegres porque sim e foi bom. Não é preciso nada mais para ser feliz, gostar de estar naquele momento ali, bater palmas e cantar: ....barboleta, voa voa voa barboleta...é uma música de telenovela que nunca vi mas que adoro esta música, porque a minha neta a adora também. Sei que não devo viver a olhar para ela, como não devo viver a olhar para trás, no tempo em que pegava na mão da minha mãe e me sentia segura, sei, mas teimo em fazê-lo. Ainda não aprendi a viver comigo, eu que tenho 57 anos, que adoro o meu PQ, as minhas filhas e os companheiros por elas escolhidos, vivo em função deles, se estão bem, se estão bem dispostos, se precisam de alguma coisa, espero pela noite para telefonar e por entre as palavras perceber se estão felizes. Sou feliz através da sua felicidade? Nada mais idiota. Sei que a minha mãe também precisava de me sentir bem, de saber que o meu irmão estava bem, mas olhava de longe, ia vendo e sentindo sem dizer nada, às vezes, já quando estava mais velhota gostava de falar de tudo, mas no princípio da nossa vida em comum foi muito sábia. Todos os dias me lembro dela, sinto que nunca mais vou ser a mesma desde que ela e o meu pai partiram, fiquei órfã, mas hoje, curiosamente senti-me completa, senti que estar com a minha neta e toda a família mais chegada me fez\sentir outra vez completa, aconchegada, presenciei o início com os olhos ainda toldados pelo passado, mas feliz e confiante, o amor é mágico, vê-se nas estrelas. 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Despida

Sinto-me despida como as árvores, dum dia para o outro ficaram sem folhas. As folhas caídas, amareladas, espalhadas pelo chão, tornam estes últimos dias de Outono, deslumbrantes e assustadores. Cada dia que passa tenho pequenos momentos de tranquilidade, pequenos momentos de felicidade, grandes momentos de angústia, medo, insegurança, tristeza também, descontrole. Se estivesse numa consulta era talvez classificada de bordline, tanto posso ir para um lado, como cair para o outro. E é esta consciência de que não me consigo manter muito equilibrada, que me assusta. Assusta-me quando choro mais, especialmente se também chorar de alegria, assusta-me quando sinto que fico muito cansada, e já não consigo fazer o que fazia dantes, facilmente, assusta-me quando não entendo as filhas e não posso ficar horas sem fim ao telefone, para que o meu coração fique mais tranquilo e em paz. Estou sempre atenta para tentar perceber entre as palavras delas se está tudo bem, se estão felizes, se precisam de alguma coisa, se as tratam bem, se elas tratam bem e são bem educadas, se decidem bem, e continuo a querer interferir nas suas decisões ou indecisões. Claro que vou sendo enxotada, e vão-me dizendo entre palavras: mãe isto não é da tua conta, da tua responsabilidade, sou eu que decido, quero fazer assim, mesmo que a seguir concorde que errei! Sei que esse sair do nosso ninho é assim mesmo, mas fico insegura, fico assustada de não fazer parte da vida delas, de não fazer parte dos seus sonhos, e compreendo e concordo que não devo fazer, ainda bem que não faço. Mas dentro de mim, muito cá dentro gostava de fazer, gostava de estar presente no seu coração diariamente, como diariamente sinto os meus pais dentro de mim, mas também foi assim connosco, durante muitos anos parecia que não tínhamos olhos para mais ninguém que não fosse o nosso ninho e os nossos passarinhos, que eram elas. Cada dia que passa sinto-me mais despida, as folhas estão a cair-me de dia para dia, quero agarrá-las, segurar cada pedacinho, mas não tenho mais como, estou exausta, e ainda que sinta que valeu a pena construir tudo, dar tudo, agora não sei que fazer com todo o amor que tenho para dar. Percebo que devo transformar esse amor, que posso ser útil de variadissimas formas, percebo que posso e devo partir para outros voos, viver outros momentos, mas fico parada no tempo, olhando o meu ninho vazio!  

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Emoções

Será que já não guardo os meus textos, não os conheço, perco o norte à terra? Sei que o artigo era meu, mas onde o guardei? Quando o escrevi? A quem o escrevi?
Neste ano, no jantar do jornal para onde escrevo há cerca de 21 anos, fui surpreendida com um texto que me pedem para ler e quando começo as lágrimas começam em catadupa e não consigo lê-lo, o que se passa? Um texto meu, é sempre escrito com todo o meu ser, quando começo a saborear as palavras entendo-me toda, cheia de recordações dos Natais, e é mais forte que eu! Não consegui.
A mim dizia-me tudo, os outros não sei o que sentiram, para mim foi um momento mágico: foi o reconhecimento público, feito por uma Mulher que muito admiro, com quem me cruzo apenas nestes jantares anuais, de que escrevo coisas que valem a pena. Misturado com a beleza das minhas palavras, embrulhadas numa emoção sem fim, fiquei sem qualquer capacidade de ser ouvida, chorei em público. Depois a minha amiga faz a leitura, e continua a conversa boa, por fim sempre leio um texto que não escrevi mas que levei não se fosse dar o caso de não haver nada, palermice, há sempre qualquer coisa, desta vez um poema muito bonito, e pronto viemos embora. Um jantar de Natal.

O texto começava assim: O Natal chega sempre depressa demais..." onde será que está ? amanhã vou procurá-lo. 

sábado, 30 de novembro de 2013

Conversas em silêncio

Começou a época das festas, este ano tenho festa de ano da neta, Natal e Ano Novo, adoro. Só de pensar já fico cansada, mas feliz. Tenho que esperar, não posso pensar já em tudo, tenho que ir pensando devagarinho, aliás como eu gosto, devagarinho. A primeira festa onde vou é ao jantar de Natal do jornal para onde escrevo mensalmente há mais de 20 anos, Meu Deus! Nesse dia à mesma hora tinha o jantar do Centro de Saúde, não posso estar em dois sítios ao mesmo tempo, terei que estar naquele para que fui convidada primeiro. Depois tenho a festinha do 1º ano da neta, acho que vai ser cá em casa, já pensei na ementa, nas prendinhas, mas não posso pensar muito porque os pais ainda não decidiram bem, por isso aguardo e guardo os pensamentos! A seguir vem o jantar e a noite de Natal, passamos todos juntos, depois o dia de Natal nós ficamos os dois sózinhos, com o Vicente, a Carlota, o Fred, a Sarita e a Preta. A passagem de Ano, ainda que me apetecesse muito sair, podia até só ser um pequeno cruzeiro que passa pela Madeira, ou ir até à Turquia, ou mesmo Londres, qualquer volta para renovar a energia do casal, acho que temos que a renovar aqui em casa, porque trabalho de manhã, e não tenho mais férias para tirar, nem mais dinheiro para gastar. Pode ser bom, sentadinhos no sofá, com os animais nossos amigos!
Hoje fizemos as primeiras compras para a noite de Natal, prendas já muito pensadas, levei bem um mês a fazer a lista, a pensar em cada um, na carta de Natal, no menú, na forma como decorar, um sem fim de actividades, penso tanto que quando vou efectuar tudo o que pensei, quer me parecer que já fiz, mas só o fiz na minha imaginação! Amanhã se for capaz faço a árvore de Natal, depois temos que ir ao musgo para fazer o presépio, enfim uma trabalheira, mas que me dá muito prazer. Na verdade o que precisava era ter esta semana de férias para poder fazer tudo com muita tranquilidade, como não pode ser, tenho que fazer um bocadito mais à pressa.
Quero que a energia se renove, sempre senti isso na minha casa, a minha mãe também pensava nas actividades todas que eram necessárias, quando era altura tornava-se tudo mais fácil. Já a minha avó Maria Antónia fazia o mesmo, para coisas simples, por exemplo:
- Então o que vai ser a comida amanhã Pató (era assim que ela era chamada pelas madrinhas, a minha avó vivia com as Madrinhas, o meu avô vivia com a gente, às vezes dormiam juntos)?

- Minha Madrinha, podia ser o coelho frito, o meu Padrinho gosta tanto e o menino também!
- Sim, para o jantar. Para o almoço até podia ser uma açordinha, não acha?
- Podia, mas talvez o coelho para o almoço, e para o jantar um guizadinho, ou o meu Padrinho vai trazer lampreia?
-Acho que não, se calhar mais perto do Natal! Mas pode ser, e os doces?
blá, blá, blá
Era uma conversa sem fim, sobre a comida, a roupa, o que mudar em casa, ou  a prima Joaquina que não tem aparecido, se calhar temos que ir lá a casa, e eu calada, a ouvir, ouvir, ouvir, tranquilamente, às vezes era uma conversa tão saborosa que até salivava!!!
Agora penso, penso sózinha silenciosamente, ninguém tem paciência para esse tipo de conversé, mas eu tenho e às vezes sinto-me sózinha.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Conversas

- Maria, gosto tanto de ti!
- Cala-te Luís, cala-te... andaste a beber?
E havia sorrisos, dele porque estava desinibido e dizia o que lhe ia na alma, doutra forma não tinha coragem, dela porque gostava de ouvir, sorria, mas ao mesmo tempo tinha vergonha, sorria até com os olhinhos, que eu bem via por detrás dos óculos.
Era assim todos os domingos, o meu avó almoçava, dexia a rua, ia até ao café da rua do ribeiro, ficava por lá um bocadito e a meio da tarde voltava para casa, cara avermelhada, sorriso nos lábios e as palavras sagradas:
-Maria gosto tanto de ti!
Eu ao princípio ficava sem jeito, achava graça, mas pouco, não gostava de vê-lo com um grãozinho na asa, e durante muitos domingos limitava-me a ficar com o meu avô, ao fim da tarde, ao canto do lume, a ouvir na televisão a preto e branco, a conversa do Vitorino Nemésio - Se bem me lembro. Muitas das conversas eu não percebia, gostava da entoação das palavras é certo, era musical essa entoação, com um sotaque açoriano lindo, um rosto de tão feio tornava-se bonito, e poder ficar com o meu avô sossegadinho, ali os dois juntinhos, dáva-me uma certa paz e uma sensação de controle; mais tarde comecei a tomar a iniciativa de ir ter com ele ao café e antes que ele bebesse convidáva-o:
-Avô vamos, está na hora do programa!
-Já?
-Sim, falta pouco, vamos andando.
-Estás a enganar-me para me levares daqui?
-Não, é verdade, já falta pouco para o programa, vamos para casa!
E lá íamos os dois, o meu avô deixava que eu o enganasse,  e eu senti-me feliz por ter impedido mais um sorriso nos lábios e a eterna e deliciosa frase:
-Maria, gosto tanto de ti!
Estes domingos sucederam-se durante anos, acho que foi por isso que um dos meus escritores preferidos sempre foi o Vitorino Nemésio e tenho saudades das conversas dele - Se bem me lembro. Era uma conversa sem fim nem principio, que podia começar numa frase ouvida na rua até à Odisseia de Homero, ou a qualquer outra importante obra de arte literária ou outro qualquer tema, interessante ou não, porque na verdade o que era realmente interessante era a conversa só por conversa.
Talvez seja por isso que eu gosto de conversar só por conversar, sem tema pre definido, ou com tema, conversar faz-me bem à alma, e se a conversa for com as filhas ou o meu PQ, até que a minha neta me dê conversa, eu espero, é muito bom. Quando isso não acontece e enquanto espero pela neta, venho conversar aqui, mesmo que esta conversa seja de mim para mim.
-Maria, gosto tanto de ti!
-Cala-te Luís, cala-te, valha-me Deus, já bebeste?

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Pas de deux

Continuamos a não ter livro de instruções para as nossas actividades de vida diária, o que de certa forma nos causa algum transtorno. Se existissem instruções, nem que fosse para as actividades mais banais, facilitava bastante, e então se fossem instruções para " boa convivência entre pessoas" era oiro sobre azul. Sei que é difícil para muita gente viver em sociedade, mas para mim às vezes torna-se deveras complicado, entusiasmo - me com facilidade, para agravar a situação sou um bocadito surda, de modo que às vezes o entusiasmo não tem nada a ver com a conversa que os restantes elementos do grupo estão a ter, e dou por mim a receber olhares confusos!!! E eu feliz por falar, falar, falar. É uma situação que não parece ser difícil de solucionar, não fora a minha recusa em adquirir um aparelho auditivo. Sinto que quando fizer essa aquisição dei um passo, um passo não, um salto para a minha verdadeira velhice, sei que tenho que fazê-lo, amanhã penso nisso. Como se não bastasse ouvir mal, acho que sou detentora de toda a verdade, de todos os casos interessantes, eu é que sei dizer graçolas, na verdade primeiro estou eu, depois ainda na verdade estou eu, depois um bocadito mais ainda para mim, e então tranquilamente dou a palavra ao meu vizinho. A dificuldade que tenho em alterar este estado de espírito é brutal! Esta tendência comportamental, esta neurose e como não tenho livro de instruções estou a deliniar estratégias diárias consoante a situação em que me encontro; se estou numa reunião cheia de gente, a primeira frase que escrevo na folha que obrigatóriamente tenho à frente é: mantêm-te em silêncio. É de tal maneira a necessiadde de me conter que escrevo repetidamente a frase, como se de apontamentos se tratasse e dou por mim a ter ainda mais dificuldade em tomar atenção ao palestrante, no fim fico contente por ter cumprido o objectivo: mantive-me em silêncio! Mas fico com a mágoa dentro de mim-tanta coisa que me apetecia ter dito e que podia ter dito e afinal mantive-me em silêncio! Sempre ouvi dizer que o silêncio é de oiro, mas é pela palavra que caminhamos, quer queiramos ou não, a sabedoria está em saber fazê-lo. Tanto curso que fiz, tanto que tenho lido, para chegar à conclusão que devo manter-me calada o mais possível, e treino-me para conseguir atingir essse objectivo.
Quando durmo no entanto, se calhar estou mais à vontade, e então um dos últimos sonhos que tive foi delicioso. Fui fazer uma audição para trabalhar como bailarina, ballet clássico, fiz alguns passos, pas de deux, piruetas, elevações, etc.. e fui contratada. Venho para casa e com uma alegria imensa digo ao meu PQ:
-50 anos, 50 kg e aceitaram-me!!!
- E agora?
- Então agora vou 15 dias para Londres para aperfeiçoar pequenas coisas e começo a integrar o ballet da companhia!
Senti, um sorriso imenso na alma, consegui vencer no mundo da dança! Mais um objectivo cumprido, ao menos a dançar mantenho-me de certeza em silêncio, mesmo que seja só em sonhos!

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Dentadas públicas

Estou com uma gripe terrível, continuei no entanto a ir trabalhar, contra todas as recomendações da boa evidência médica; tinha tantas crianças marcadas, não tinha como as atender antes do ano terminar, que resolvi ir, como não há Medicina do Trabalho que vigie esta gente doida como eu, que vai trabalhar doente, atender crianças saudáveis carregada de gripe, fui. Depois, à tarde tinha reunião de orientadores, internos de Medicina Geral e Familiar,  Internos do Ano Comum, Internos de Saúde Pública e respectivos orientadores. Não foi nada bom para a minha Interna que apresentou um trabalho sobre a Obesidade Infantil, em 20 minutos, ela que não é Portuguesa, fez tudo sózinha sem a minha ajuda, sem qualquer erro de ortografia, com uma boa dicção, um bocadito à pressa porque fez 50 slides para 20 minutos. Levou com algumas críticas justas, mas a maioria foram críticas desajustadas ao que ela pretendia mostrar, que era tão só, como melhorar a técnica de explicar aos cuidadores das crianças, pais, pessoal da saúde e professores o que é a obesidade e como devemos falar dela, corajosamente, logo na mulher grávida. Foi um horror, a pequena não aguentou e saíu da sala, chorou, sentiu-se traída, não consegui fazer ouvir a minha voz, até porque a gripe ma roubou.
No final percebi que as críticas que foram dirigidas a ela, tinham como alvo principal, eu, era exactamente eu, porque é assim que eu costumo ser, demasiado exigente com todas as apresentações de toda a gente; no caso dela, não fui mais exigente, primeiro porque não tivemos tempo, depois porque estou de facto doente, depois porque a minha neta ainda não está bem, melhorou um pouco, mas obviamente estou muito preocupada, de modo que não lhe dei a devida atenção, e também achei que para o objectivo que ela tinha traçado, estava muito bom. Eles acharam que não e expressaram-se como se expressa um cão, quando vê um gato desconhecido, à dentada, a rasgar, até ferir profundamente.Devo ter errado muito no passado para ter concentrado tanta raiva contra mim, as pessoas deviam ser mais educativas, não tinham que errar como eu tenho feito. Por mim aprendi, e faço como sempre faço quando levo na cabeça: obrigada, assim aprendo mais depressa, dóie mais, mas ao ficar mais presente a dor na alma, não vou esquecer, na próxima vez que estiver numa reunião desta natureza, vou ter muito cuidado com o que digo, como o digo, e a quem o digo, com que intenção o faço. Os nossos melhores amigos são aqueles que nos mostram caminhos, não são os que nos batem nas costas e estão sempre de acordo com o que faço, queria que ela, a minha interna fosse capaz de aprender com os nossos erros e com os erros nossos reflectidos nos nossos colegas, eles fizeram o que eu tenho feito, eu ensinei-os mal, vou ter que voltar a fazer o trabalho de casa, ensiná-los melhor, ainda que à custa de muito sofrimento. São muito pouco imaginativos para terem as mesmas atitudes que eu tive, eu não sou assim tão importante, para copiarem o meu comportamento. Amanhã será outro dia, queria tirar de cima dela todo o sofrimento que infelizmente lhe causei, involutáriamente.
Aprendi que o amor tudo vence, que se for preciso darei a outra face, preciso é que a minha neta fique boa. A minha gripe até pode continuar, mas a minha neta tem que melhorar; posso não ser a melhor orientadora desta vida, mas em cada dia tento melhorar, porque quero ensinar à minha neta que só o amor é vida.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Detalhes

Estou com uma amigdalite, a minha neta está com intolerância à lactose - talvez - só sexta feira vamos saber, a minha filha está cansada, o Fred melhorou da obstipação depois de ter passado 2 dias internado na veterinária, a Carlota está melhor da sua dermatofitose. Para o ano que está prestes a findar não está mal, só falta mesmo é a minha querida menina, neta amorosa, ficar melhor. Acho que nos preocupamos um pouco mais com os netos do que me lembro das preocupações com as filhas. A minha filha mais velha, mãe da minha neta querida esteve na Estefânia com a titi, ainda com uns 15 dias de vida, porque a sua querida mãe que sou eu, a vestiu muito em pleno Verão, e apesar de lhe oferecer água no biberon a filha não bebia. Fomos para o hospital, passou a noite com um cateter na cabeça para hidratação! Porque é que ela não bebia água pelo biberon? Porque antigamente as tetinas não tinham o buraquinho feito, era preciso ser feito por nós com uma agulha quente, nós não sabíamos. Pois bem, nessa época eu já era médica, só que ninguém me tinha explicado a importância de verificar pequenos detalhes.
Não sei o que aconteceu com a minha querida pimpolha, sei que vai melhorar, sei porque sim e também porque está mais uma vez a titi a supervisionar!
Amanhã espero que a minha pequenina já tenha comido melhor, sei que a minha filha sua mãe está mais atenta do que eu estive, mas não deixo de sentir um apertozinho no meu coração, quero a minha neta a crescer saudável e já! Nestas, como noutras alturas, faço as minhas preces, sinto que sou ouvida; é ser velha ter esta maneira de pensar? Não sei, o meu pai rezava muito e ajudou-nos sempre, não tenho a sua sabedoria, nem a sua fé, mas tento à minha maneira, e isso é já um caminho.
Hoje não dá mais, a minha grande preocupação e toda a minha atenção estão junto da minha neta, e à minha maneira "estou-lhe mandando boa energia" amanhã vai ser outro dia.


sábado, 2 de novembro de 2013

Equívocos

Educar os nossos filhos não acaba nunca, parece que cada dia é preciso reinventar, adequar novas estratégias para os fazer encontrar a "vereda". Chamo vereda ao caminho que todos temos que fazer, diariamente. Só nós podemos fazer o nosso caminho, sempre me senti bem ao lado dos meus pais nesse percurso, mesmo quando já era mãe, nunca me fizeram sentir que me estavam a ensinar, ensinando-me a cada momento. Havia até alturas em que eu me sentia tão importante junto deles, a explicar-lhes coisas, sentidos, palavras carregadas de emoções; havia até alturas em que recebia estes mimos, quer do meu pai quer da minha mãe: é tão bom conversarmos contigo, diziam eles, nunca pensei que chegássemos a ter assim conversas tão boas! Como eu ficava contente com estas doces constatações, pensando que tinha chegado ao coração deles, ao melhor dos conhecimentos, mas na verdade o que tinha acontecido é que eles me proporcionaram esse caminhar nas emoções, foi através dessas conversas que cheguei a mim, eles sempre me ajudaram a melhorar o meu conhecimento, sobretudo sobre mim. Hoje anda numa tarefa semelhante, de ouvir as filhas, mas ainda não tenho a sabedoria de dar a entender que estou a aprender, parece que continuo a ensinar e na verdade já devia estar quase e só a ouvir; vamos ver como vai correr o dia amanhã. A filha vem trazer a cadelinha, não estão a conseguir viver em paz, é muita tarefa para fazer, tomar conta da neta, da casa e agora da cadelinha; fiquei triste mas compreendo e devia ter tido a esperteza de ter avisado que era muita coisa para início de vida, não tive essa esperteza, vou ficar com mais a chica cá em casa; tenho o Vicente, a Carlota, a Sarita e a Preta, amanhã fico também com a Chica, se a lei do número de cães fosse para a frente estava no limite, tenho 4 cães a partir de amanhã, esqueci-me de enumerar o Fred, foi adoptado com 5 anos, porque a dona era já muito velhinha e não podia ficar com ele; agora a dona é muito novinha e também não pode ficar com ela! O Vicente também o trouxe para casa porque a minha mãe não o quis, o meu pai tinha falecido e achei que um cachorro podia ser uma boa companhia, enganei-me!

A nossa caminhada é feita de equívocos, sempre pensei que ao crescer, ia a pouco e pouco vivendo com menos erros, mas não, a vereda da vida é repleta de erros, amanhã temos um novo dia, que seja bom.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Menos é sempre menos

Quanto menos fazemos, menos desejamos fazer e menos somos capazes de fazer. Passaram 15 dias desde que aqui estive e sinto-me exausta, quase sem ser capaz de carregar nas teclas, um esforço enorme para tirar de dentro de mim as minhas ideias, que eu tenho em profusão, que me enchem a alma, o coração, a cabeça, na verdade o corpo todo, mas perante a folha de papel, faz de conta, parece que já nem sei escrever, foram duas semanas "levadas de seiscentos bacalhaus". Não sei que expressão é esta, mas ouvi-a vezes sem conta na minha casa quando se queria dizer que era uma coisa difícil, quer tivesse acontecido ou houvesse previsão que fosse acontecer. Neste caso tem a ver com o passado, embora o presente não esteja a ser muito brilhante. Passou o stress do exame da minha primeira Interna de MGF (Medicina Geral e Familiar); quando me foi entregue estava no último ano, 3º, tínhamos que preparar o exame do 3º ano e a seguir o exame de saída. O exame de 3º ano, com a elaboração do relatório e com as actividades diárias, foi uma tarefa continuamente e persistentemente exaustiva; fez o exame, passou descansadamente. Preparação para o exame de saída com elaboração do relatório final, mais uma trabalheira e o exame que durou 3 dias, conforme o habitual. Foi como se fosse eu a fazer exame, tive várias dejecções diarreicas, nos locais menos prováveis que me abstenho de enumerar, controlei-me melhor que o costume, não tive necessidade de deixar a minha roupa interior no caixote do lixo, sempre tive a oportunidade de  usar toalhetes húmidas e bem cheirosas, mas fiquei doída, fiquei sim senhor. Depois, como o caminho até ao Centro de Saúde onde se desenrolava a prova era longe e por caminhos desconhecidos, valeu-me conhecer bem as estações de serviço da auto-estrada. O meu carro é que ficou um tudo nada danificado, passei por sítios desconhecidos e longínquos, de modo que toquei perto demais no passeio e arranquei uma pequena peça da frente, não faz muita falta, o carro continua a andar que é uma beleza. 
 Está a acabar o mês de Outubro, e daqui a pouco é Natal. Só que ainda falta passar o próximo exame da minha outra Interna, de modo que vou voltar a entrar na época do stress, das diarreias, das casas de banho desconhecidas e das toalhetes húmidas e bem cheirosas.
Não sei que mais hei-de fazer, o Yoga ajuda a controlar o stress, pratico o mínimo 1 x por semana, e tenho feito massagens auyérdicas, ajuda, mas ainda não chega. É um caminho longo, sei que basta entrar no "espírito da coisa" e vou ser capaz de controlar-me melhor, enquanto isso não acontece vou-me arrastando, amanhã é outro mês e outro dia.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Palavras difíceis

A depressão ou recessão do nosso País está a afectar-me, olho para as minhas moedas, o meu dinheiro, aquele que vejo quando levanto do multibanco, olho-o duma forma diferente, diria até, de uma forma estranha; o dinheiro nunca foi  um fim, foi sempre um meio para poder fazer a minha vida, a nossa vida, agora olho para as moedas e para as poucas notas que a máquina me dá e penso: desta vez ainda sairam, será que um dia destes não vão sair, a máquina vai secar? Como se a máquina fosse a responsável por essa situação, não ter dinheiro, trabalhando todo o santo dia.
Hoje tive uma alteração com a enfermeira x, a senhora queria convencer-me a passar uma baixa, ou uma incapacidade temporária para o trabalho para uma doente, que é a mesmíssima coisa, por ela receber o subsídio de inserção; expliquei-lhe que não passo baixas, faço consultas, achou que eu não tinha percebido o pedido dela e foi buscar-me a legislação que tinha saído em Setembro deste ano, para eu perceber se não passasse a dita cuja, a doente deixava de receber! Dos documentos necessários para receber o tal subsídio a pessoa também precisa da baixa; expliquei-lhe, já um pouco alterada que baixa é um acto médico, que significa ao passa-la, que atesto por minha honra que a pessoa está doente!
Abalou mal encarada do meu gabinete, com uma frase mais ao menos assim: a Doutora é que sabe, não diga que eu não avisei!
Não quis saber de mais nada, trabalho é trabalho conhaque é conhaque!
Não sei o que me quis explicar mais e não conseguiu mas, das duas uma:
Se quem recebe esse tal subsídio tem que estar doente, passarei a baixa a todos os que "realmente" estiverem doentes, como faço com todas as pessoas que me procuram, quer tenham ou não direito ao referido subsídio!
Se quem recebe esse subsídio ganha o mesmo quer trabalhe quer não trabalhe, e a baixa é uma maneira de fugirem ao trabalho comunitário, a resposta é a mesma, passarei a baixa a todos os que "realmente" estiverem doentes, como faço a todos os que me procuram, quer tenham ou não direito ao dito!
Eu expliquei, mas acho que ela não percebeu: baixa, incapacidade temporária para o trabalho ou atestado médico por doença, são os diversos documentos que atestam sob "palavra de honra" que essa pessoa está doente e não pode cumprir com as suas obrigações quaisquer que elas sejam.
Qual terá sido a palavra que ela não percebeu?

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Sonos

Esta noite foi uma cegada. Esta palavra pode até não existir, mas é a única que sinto eficaz para descrever a minha noite passada. O fim de semana foi calmo e tranquilo, não trabalhei, passeei com o meu PQ e foi deliciosamente bom. Quando regressei, estava com saudades da minha casa, dos animais nossos amigos, da minha cama, do meu quarto, da minha casa de banho, do espaço que é meu; só que, quando fui para a cama, percebi que a " minha dor de estimação" tinha voltado, fui apanhada um pouco desprevenida. Assim que me deitei, percebi que a cama acentuava a dor em toda a coluna, até os glúteos ardiam com tanta dor, levei a primeira massagem, adormeci. Passado algum tempo, não consultei nenhum relógio como manda a boa higiene do sono, as dores estavam mais fortes, insuportáveis, levantei-me, tentei descontrair, andar, em cada passo sentia todos os músculos contraídos, como se tivesse meningite, não podia mexer o pescoço, mais uma massagem, enrosquei-me novamente na cama, adormeci. Passou mais um tempo e acordei de novo, dores brutais que me deram náuseas, comecei a sentir uma sialorreia brutal, vomitei não sei bem o quê, durante algum tempo permaneci debruçada sobre a sanita, náuseas e pouco mais.Não chorei! Levantei-me e fui andar mais um bocado, resolvi tentar uma posição do yoga, tentei focar-me no"o sono é bom" e ao tentar a posição de equilíbrio só assente num pé, com os braços elevados, distraí a dor? Fiz também a posição de peixe na água, tentando sempre focar o pensamento o sono é bom; as dores estavam bem marcadas no meu corpo, mas arrisquei e voltei para a cama sem massagem, continuei com o pensamento " o sono é bom" e voltei a dormir. Regressaram mais tarde, as ditas, parece que ainda com mais força, como se as dores tivessem vontade própria, o despertador tocou e saltei da cama aliviada, acabou-se a cama, a noite, o sono, vou tomar banho e partir para o mundo, não quero dormir mais! O banho quente aliviou-me e o dia de trabalho decorreu calmo e tranquilo, com mais uma injecção de um anti-inflamatório e um relaxante muscular. Agora que se está a aproximar a hora da cama, não quero voltar a passar pelo tormento da noite anterior, não quero repetir essa cegada sobejamente conhecida, de modo que vou fazer o meu relaxamento habitual, pedir ao meu PQ que me faça o injectável, não vai ser difícil, se a madrinha me deu injecções em pequena de vitaminas, melhor levo agora, dadas pelo meu engenheiro electrótecnico! A vida não é fácil, mas ninguém está interessado em facilidades, amanhã recomeço as massagens pelo meu instrutor de yoga, hoje devo viver com o que tenho, sem medos e sem dores; ficaria aqui toda a noite a escrever para fugir ao sono, mas fugir não resolve e quem disse que hoje ia voltar a acontecer? A seringa fica pronta! As dores são somatizações de medos, que a minha neta engorde pouco, que o exame da minha interna seja doloroso, medos que nem vou reescrever mais vezes, de tantas vezes já ter escrito, não quero mais medos, e para cada medo vou ter uma massagem, um injectável e beijinhos do meu PQ.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Destinos

Dias, os dias servem para nos ensinar, de manhã, à tarde e à noite, é como o tempo, o sol vem quando é preciso, assim como a chuva e o frio de rachar pedras. Tudo chega sempre a propósito, só ainda não compreendi, se é a essa condição, que vulgarmente chamamos destino; ainda não compreendi se temos o destino traçado na palma da mão, ou se a mão se vai alterando à medida que percorremos o caminho, que fazemos o nosso destino. Sinto muita vez que as coisas me caiem no colo e que devo desembaraçar-me e arrumar os assuntos, mas não chegam em catadupas, chegam faseadas, como se estivessem na calha, estivessem à espera da sua hora. E cada coisa tem a sua hora? Tenho perguntas, tantas perguntas, quando era miúda pensava que quando fosse grande ia saber muito, tanto que até ia saber a melhor forma de acender uma casca para rapidamente acender a lareira! Chamo casca a uma pinha, e quando a pinha não está bem seca leva um bocadito a pegar, a manter-se acesa, e quando tinha a tarefa de acender a lareira, pensei muitas vezes que quando tirasse um curso superior, andasse na faculdade, ia aprender como acender uma casca cientificamente! E não há nada a fazer nem a censurar, os pensamentos que nos chegam são os pensamentos que nos chegam, a maior partes das vezes, pensamentos doidos, tive-os quando era pequena e tenho-os hoje, com 57 anos. Destino? Ainda não sei o que é, se existe, ou se nos dá jeito que só de vez em quando, exista; Livre arbítrio? É a favor ou contra o destino? Também temos muitas vezes alturas, em que nos dá jeito dizer e pensar: agora quem manda sou eu e ponto final, livre arbítrio só nosso e de mais ninguém, os outros todos que vão para as urtigas; perguntas estúpidas? Tenho-as todos os dias, de modo que desisto, pelo menos por hoje, já saí da faculdade há tanto tempo e ainda não aprendi a acender uma casca cientificamente, graças a Deus que sou doida o suficiente para continuar à procura.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Tudo a dobrar

Este Outono mata-me, deprime, assusta. Os dias estão cada vez mais pequenos, as noites aumentaram, mas nem isso me agrada, as noites podem até já estarem grandes mas, eu realmente preciso, é de dias maiores e de noites com o dobro do tempo. Aliás, se possível queria tudo a dobrar, queria os dias e as noites com o dobro do tamanho, queria as visitas das filhas e da neta a dobrarem, queria beijos e abraços de manhã à tarde e à noite, queria o meu ordenado e do meu PQ claramente a duplicar, queria o tempo que tenho para estar com cada doente a dobrar, fico tão triste quando digo: hoje não podemos continuar a nossa conversa, temos que marcar para outro dia; mas acontece-me esta situação frequentemente, simplesmente porque o tempo que disponho para cada doente são de uns reles 15 minutos, em cada hora tenho 4 doentes, em cada manhã tenho 16, em cada tarde tenho mais uns tantos, há dias que são 20 de manhã e 20 à tarde, quando chego a casa tenho a cabeça feita em água. Não valia a pena trabalharmos tão mal, se pensarmos o que acontece aqui ao lado, em Espanha, cada doente só tem 10 minutos para cada consulta, na Dinamarca, na Holanda e na Inglaterra todos os médicos têm 15 minutos para cada doente, estamos todos errados. Como devia ser? Meia -hora e com toda a calma. Em cada dia que passa, mais nos apercebemos que os problemas que os doentes nos trazem são sobretudo psíquicos, com representação física é certo, a necessidade que tenho tantas vezes de deixar o doente falar, perceber-se com a minha ajuda e empatia, compreensão, mas não pode ser ainda, talvez futuramente, no país que eu sonho isso possa vir a acontecer, não paro de sonhar e acreditar que é possível mudar. O mundo só pode ser melhor amanhã, por isso este Outono mata-me, deprime-me, quero o futuro agora.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Poeiras

Finalmente chegou o Outono, 6ª feira já vai chover a sério, a chuva faz-me falta. Gosto do calor do Verão, mas esse tempo já passou, agora está na altura dos dias cinzentos, mais frescos, mais pequenos, dias que me convidam a estar em casa, à volta da lareira, faz-me falta o aconchego do lume. O dia hoje não foi muito tranquilo, de manhã tivemos crianças, desde recém nascidos até aos 18 anos, tínhamos 11 marcados e faltaram metade, não compreendo, os pais esquecem-se de levar as crianças à consulta de vigilância? É estranho, não estava habituada a que faltassem tanto, faço sempre marcação a mais, 2, 3 outras vezes 4, para ver 9 crianças numa manhã. Hoje vimos apenas 6, parece que não é importante? É muito importante, se faltam não fazem as vacinas, se não fazem as vacinas aumentam os casos de doenças evitáveis, vão por isso morrer mais crianças! Podemos evitar isso, mas não, resolvem faltar, vai aumentar a mortalidade infantil, baixamos no ranking dos países mais desenvolvidos, é uma carambola de desgraças. Porque será que os pais estão mais desleixados com as suas crianças? A crise económica leva-nos a tomar atitudes abaixo da nossa capacidade normal, há até um estudo que ouvi na telefonia comentado pelo Professor Machado Vaz, em que dizia isso mesmo: as crises económicas levam a uma falta generalizada e a uma depressão emocional que leva a uma diminuição do QI colectivo e todos funcionamos abaixo das nossas capacidades e dos nossos conhecimentos. Sinto isso diáriamente no meu local de trabalho, parece que andamos a vegetar, trabalhamos a pensar na hora de saída, na próxima semana vão todos começar a trabalhar 40 horas semanais, eu sempre trabalhei 42 horas por semana, mas recebo por isso, cada vez menos é certo, mas recebo! Quem vai começar na próxima semana, passa a fazer mais uma hora por dia, sem receberem mais por isso, como é que se sentem? Roubados, claro. O que acham que vão fazer? Trabalhar ainda menos, comentavam hoje isso mesmo, ao almoço! Que atitude é esta? Não questiono os funcionários, não questiono o Governo! Pergunto-me apenas a mim, o que está esta gente a fazer? Uma verdadeira pescada de rabo na boca, trabalho pouco, e quanto mais queres que eu trabalho, menos faço!!!! A solução? Li há pouco tempo Os Maias, mais uma vez, e o que li, parece um pouco igual ao que se passa actualmente, parece que continuamos a ter as mesmas atitudes que se verificava naquela época, governos desgovernados, políticos pouco conscientes do povo que representam, povo que não se reconhecendo no desgoverno, criticam tranquilamente e tentam enganar o próximo da maneira mais expedita, esperto é quem consegue enganar mais.
Hoje o dia não foi grande coisa, sinto-me cinzenta, a necessitar que a chuva venha apaziguar esta poeira, a falta que me faz a minha mãe. Antigamente quando sentia o coração cinzento, pegava no telefone, 26644105, esperava um bocadinho e do outro lado:
-Está?
 -Mãe?
-Filha, então o que é?
-Como é que estás Joaninha, o que estás a fazer?
-Estava a dar volta às rendas começadas, estava a ver umas revistas apetece-me começar..., estava a falar com a Deolinda, estava..
-Não sei, se calhar vamos aí no fim-de-semana!
-Venham, então o que querem para o almoço?
-Não sei, se calhar..
E falávamos de tudo, falávamos de nada, a minha nuvem cinzenta a pouco e pouco ia embora, desligávamos o telefone aos beijinhos e cada uma ia à sua vida, aliviadas, como eu agora também fiquei melhor, com o coração aconchegado, só da lembrança!

domingo, 22 de setembro de 2013

Bailes

A minha neta faz hoje 9 meses, já gatinha, faz algumas gracinhas, ainda não diz nenhuma palavrinha, mas tem uns sonzinhos muito engraçados, ainda que não sejam palavras, representam de certeza pequenas emoções. Pesa mais, pesa muito mais, tanto que às vezes não a seguro e deixo-a bater na cadeira com a cabecita, não fez galo mas quase. Hoje o dia não foi muito calmo, fomos ao funeral a Mora, não é muito agradável ir a funerais, mas é preciso, podia era ter sido pela fresquinha, mas não, fomos até ao cemitério em procissão ao sol escaldante do meio dia, muito devagar, sem sombras, depois foi rápido, abriram a urna, choraram, não ouvi nenhum elogio fúnebre não ouvi nada, e foi o mesmo de sempre, para a terra. Estranhei a mulher ser uma das primeiras a deitar a terra para cima do caixão, assim como se fosse ritual, depois claro, começou a cena do costume, com a pá do coveiro bem mais eficaz, os filhos a não suportarem o momento, doloroso demais. Lembrei-me dos funerais na Índia, perto do Ganjes, que a gente vê na televisão, também há um ritual, mas a família não parece estar perto e em vez de terra é lume, até tudo estar transformado em cinza e ser despejado no rio. E vem-me à memória outras terras com outros usos, na América canta-se, come-se, bebe-se e fala-se do morto, assim como na Europa do norte, e lembro-me da primeira vez em que tivemos um morto na nossa casa, não foi na nossa casa, mas foi a minha avó Galucha que na verdade era minha bisavó. No dia da festa do meu 5º ano resolveu adoecer de manhã, a festa era à noite, pensei que o dia estava a começar mal, mas estava enganada, o meu avô Luís, seu filho, estava eu a tomar o meu banho, veio dizer-me através da porta da casa de banho que:
-Logo à noite vais ao baile, a avó está doente, mas não tem importância, tens que te divertir!
Fiquei sem palavras, tinha 14 anos, tantos sonhos, não era no entanto miúda de bailes, só que aquele baile era diferente e o meu avô tinha entendido isso há muito tempo. A minha avó estava doente, de cama, sem falar, sem conhecer ninguém, sem me ligar nenhuma, bebia uns caldinhos que a minha mãe lhe fazia, e eu queria tanto ir ao baile! E fui. Ela morreu uns 15 dias depois, o médico foi a casa e confirmou que a hora dela tinha chegado, era só preciso esperar e esperámos 15 dias. Esteve sempre na casa dela, nós íamos lá de manhã, à tarde e à noite, dormia sózinha, não tinha ninguém a tomar conta dela durante a noite, na altura eu achei que foi tudo culpa da minha avó Maria Antónia que lhe tinha mandado matar o cão, rafeiro, de pelo preto, curto e duro que começou a urinar sangue, e não houve mais conversa nem tratamento, foi mandado matar, com a benção e a seringa do padrinho Martins, que era veterinário mas pouco; se estava a urinar sangue podia pegar a doença à minha avó Galucha, ela dormia com ele na cama, às escondidas, mas toda a gente desconfiava. A doença dela aconteceu depois do cão ter sido morto. Eu assim que soube fui -lhe oferecer o meu gato, ela não quis, sorriu-me e ficamos a conversar à lareira, como eu gostava e ela também, a seguir ela adoece logo no dia do baile do colégio, graças a Deus que o meu avó era do melhor e deu-me "permissão" para a diversão e foi bom. Foi o meu primeiro contacto com a morte na minha família, nunca mais tive sossego, nem nunca mais somos os mesmos quando nos morrem os avós e os pais, só que eu sou uma sortuda, sinto ainda no ar a "permissão" do meu avô, quero ter sabedoria para a transmitir à minha neta. 

domingo, 15 de setembro de 2013

Sempre em frente

Domingo à noite, jantámos, passeámos os nossos queridos animais e agora aqui estamos; não sei se é o Outono que está a chegar, mas sinto-me a invadir por uma nostalgia, uma necessidade de ver e ou vir outras pessoas, outras vidas, outras montras, outros perfumes, uma necessidade de sair daqui ou se calhar uma necessidade de sair daqui para me sentir feliz, como se a felicidade estivesse ao virar da esquina e não aqui, onde a gente costuma estar. Hoje o dia correu calmo, e lembrei-me que aos Domingos na minha casa às vezes também me sentia assim, a minha mãe tinha um remédio santo, íamos ver revistas e iniciávamos um trabalho novo, uma renda, uma manta, uma colcha, qualquer coisa, ou também podíamos ir dar uma volta a algumas gavetas que já não mexíamos há tempo, qualquer coisa para quebrar a monotonia, mas os Domingos sempre foram depressivos, Domingo mesmo com missa e cachola de molhinho e batata frita, acabava sempre depressivo, e agora ainda é, mesmo com  a volta pela aldeia do Pico, cada sítio com seu percurso depressivo a tentar ser ultrapassado. Tenho tantas saudades de ir a Cabeção e encontrar a minha mãe a abrir a porta da nossa casa, com o sorriso rasgado de felicidade, tenho saudades das filhas pequenas e das sobrinhas, e do meu irmão e da minha avó, do meu avô e da minha bisavó e da ti Marcena e da Senhora Deolinda e do Zé Linor, as minhas saudades não me levam a nada, também tenho saudades da minha neta quando não a vejo todos os fins de semana, se calhar sou feita de saudade. Também não adianta nada esta necessidade de lembrança da vida de outrora, a vida de agora também é boa, também tem encanto e Domingos agradávelmente depressivos. Não vou começar um trabalho manual novo porque já tenho muitos começados e agora ninguém me vai ajudar a terminar, por isso ficamos assim, foi um Domingo bom e amanhã a semana vai começar calma e tranquila, prá frente é que é o caminho.    

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Estou confusa

5ª feira, Setembro, os dias estão a ficar mais pequenos, ainda chego a casa com sol, mas até ele está cada vez mais envergonhado, menos quente, tudo vai-se encaminhando, lentamente para o Outono; para mim podia chegar já, preciso mudar de roupa, deixar estes vestidos de Verão e começar com a roupa da meia estação. O que vestimos tem muita importância no nosso bem estar interior. Por causa do nosso bem estar interior é que venho aqui escrever de vez em quando, alivia-me. O meu trabalho tem corrido calmo, ainda que com muita gente sempre na consulta, sempre casos engraçados, a minha interna diz que quando termina o dia e vai para casa, fica sem forças para mais nada, ora ela tem 30 anos, eu com 57 nem se fala, por isso é que não escrevo mais, porque tenho serões em que fico a vegetar e depois ainda há outra questão, levo o dia a olhar para o ecrã do computador, à noite em casa já não me apetece e gosto mesmo de escrever, assim como agora, depois do jantar, do passeio com os cães, antes de falar ao telefone com as filhas e antes de ir para a cama. O cansaço é esgotante, fico até confusa, não sei para onde levar o meu pensamento, porque eu penso o que quero, às vezes.
Tive uma época em que não conseguia adormecer fácilmente, então quando estava deitada de luz apagada pensava numa casa que vou ter, num monte, que em cada noite tentava imaginar a decoração, era tão real que agora estou acordada e se fosse possível fazia aqui o desenho, mas ainda não sei desenhar com o computador só com o lápis. Então, fazia a decoração da casa de entrada, adormecia invariávelmente sempre aí, nunca passei da casa de entrada! Depois houve outra altura em que pensava nas roupas, de vestir, de casa, na arrumação e o sono vinha ligeiro, nunca vi o vestido até à sua conclusão. A nossa cabeça é uma coisa!!!
Hoje sinto-me baralhada, não é cansada só, é baralhada, o discurso tem alguma dificuldade em sair, apetecia-me falar de tanta coisa diversa que na verdade não falo de nada. As minhas preocupações, ou melhor dizendo, o que me vem ao espírito, são tantas coisas que nem sei, desde a guerra na Síria, aos bombeiros falecidos e aos fogos que ainda vão vir, aos nossos políticos que nos explicam a nossa vidinha triste à maneira do que lhe convém, mais ao que preciso fazer em Cabeção e aqui em casa, tanto que me falta arrumar, mais ao Serviço de Urgência que amanhã vou fazer durante a noite e ao mesmo tempo que me assusta gosto de fazer, as viagens e o terreno que quero comprar, que talvez o melhor mesmo fosse iniciar a minha viagem à volta do mundo com uma mochila apenas. Ok vou dormir. 

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Devagarinho

As férias terminaram, iniciei o trabalho, e percebo que estaria a viver no CÉU, se tivesse mais tempo para mim, se pudesse trabalhar dia sim dia não, por exemplo, trabalhava à 2ª, 4ª e 6ª feira; na 3ª e na 5ª feira aproveitava para estudar, coser, bordar, pintar, reaprender música, arrumar os meus papéis. Como não pode ser assim, não sou completamente feliz e é pena. Então tenho que ir fazendo, que é uma coisa que também me dá prazer, mas não tanto. Estas férias foram indescritíveis, também me faltou apenas uma saída para fora do País, parece que se no Verão der um passeio, nem que seja ali a Badajoz, respiro melhor!
Na verdade estas foram umas férias irrepetíveis, nunca mais vou ter a minha neta ao meu colo  com tive este Verão, porque ela vai crescer e cresce tão depressa, por isso são férias que tenho já guardadas no meu coração para o futuro, assim como quem põe dinheiro no banco para a velhice, eu guardo no meu coração para a minha velhice estes dias, já estão a capitalizar. As sestas com a minha pequenina eram tão boas que quase nem dormi só a olhar para ela e para o meu PQ, dormíamos os 3, ela no meio da gente os dois, na verdade ela dormia e nós olhávamos o que me encheu de alegria; depois íamos para a praia e o avô que ainda há 1 ano atrás não achava grande prazer no nosso mar, sentava-se à beira da água, com a bebé entre as pernas a brincar, delicioso. Como se isso não bastasse também as filhas passaram muitos dias connosco como já não acontecia há muito tempo, conclusão, férias divinais, o Céu na terra, com o mar por perto. Agora o regresso ao trabalho podia continuar esta vivência, mas não, temos que ir todos os dias, mas todos os dias mesmo, sempre à mesma hora e voltamos também sempre à mesma hora. Felizmente que gosto da minha actividade e nem dou conta que o tempo está a passar, dou conta, passa depressa demais, isso aflige-me. Ainda agora acabou a Feira de Agosto e se não tiver cuidado amanhã é o Natal, porque os dias já não têm o tempo que tinham nas férias, até o tempo anda a correr e não precisava!!
Nesta altura do ano faço uma lista das coisas que preciso fazer, assim como quando iniciava a escola, este ano estivemos com pinturas na nossa casa, ainda não acabaram, de modo que vamos arrumar todos os cantinhos, todas as gavetas, estantes e armários, tem que ser é devagar, ao fim da tarde, vamos deitando no lixo o que já não está capaz, ou dando a quem quer aceitar, gostava de poder guardar mais as coisas que vão passando de moda, mas não tenho como. A minha mãe tinha a casa da minha bisavó onde ela guardava tudo o que ela não queria e também o que nós já não queríamos, mas agora que essa casa ficou para o meu irmão, acabou-se e também não tem graça arranjar um sítio novo para coisas velhas, mas que gostava lá isso gostava, assim vou dando e fazendo feliz meia dúzia de pessoas. Realmente os tempos são mesmo outros, a limpeza do Verão acontece de 10 em 10 anos, o que não queremos não transformamos nem guardamos, mandamos embora, as lembranças que essas coisas guardam, desaparecem e a memória não é de ferro sem essas ajudas, depois quando formos velhinhos não temos tantas histórias como tinha a minha mãe ou a minha avó ou mesmo a minha madrinha, os tempos são outros, não vivemos no CÉU mas estamos lá perto. Amanhã é outro dia, tenho que prestar bem atenção para não passar depressa demais.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Caiados de Verão

Nunca desistir é um bom lema, nunca desistir. Tem sido difícil, mas agora que me sinto bem melhor, com muito mais energia, sabe-me bem ter tentado todos os dias e ter consciência do processo porque passei, comigo mesma, não falando a não ser com o meu PQ, que tem uma paciência de santo. Saber que posso preguiçar nas próximas 4 semanas, na companhia dos meus queridos todos, alegra-me a alma e dá-me ainda mais alento, mas não é só isso embora seja também isso; perceber que posso descansar, ler um livro do princípio ao fim, uma revista, um jornal, apanhar sol, arrumar uma gaveta, pequenos prazeres que são para mim suficientes para recuperar ainda mais energia. Depois, como vou arrumar a casa, vai ser toda pintada e por isso a seguir será preciso arrumar, dá-me vontade de mudar alguma coisa, um cortinado, um edredon, pouco mais posso mudar, não tenho móveis que se possam mudar, mas terei um maneira nova de arrumar os livros, as fotografias e posso sempre arranjar mais fotografias. Antigamente, era nesta altura que a minha mãe fazia os caiados, era uma agitação lá em casa, de manhã vinham as mulheres, 2 ou 3 conforma a minha mãe achava importante, porque a mulher é que organizava os caiados, caiados porque as paredes eram caiadas com cal. A preparação dos caiados começava muitas semanas antes, íamos a casa da Branca conversar, era uma tarde inteira, combinava-se o que iam fazer, combinava-se quem seria preciso contratar, a quantidade de cal que a minha mãe havia de comprar, a altura em que podiam começar, se iam almoçar lá em casa, combinava-se tudo, tudinho ao pormenor, e eu ali ao lado a ouvir com toda a atenção, a guardar no coração as palavras:
-Joana, então as paredes queres caiadas até ao tecto?
-Branca o que é que achas, parece-me que este ano tem que ser, o ano passado fizemos só um baixinho, este ano acho que precisa tudo, as paredes são velhas e eu durante o ano não caiei nada!
- E já tens mais alguém apalavrado?
- Já falei com a Deolinda, as duas se calhar chega, aí umas 2 a 3 semanas, prefiro ter menos pessoas lá em casa, do que muitas, depois só atrapalha, o que é que achas?   
- Eu também gosto assim, mas como são as paredes até lá acima, se a Emília estivesse livre, fazíamos mais depressa e era também bom!
- És capaz de ter razão, não me tinha lembrado dela, também gosto do trabalho dela...
E a conversa dali partia para todo o lado, as filhas, a feira, o marido da Emília, o filha da Deolinda, os filhos da Branca uma conversa sem fim, até que:
-Bom então estamos combinadas, começamos daqui a 2 semanas, o preço é o costume?
-Por mim é, e cada um almoça na sua casa, para não teres mais trabalho!
-Está bem, adeus Branca.
-Adeus Joana.
E lá vínhamos nós, de mão dada, contar ao meu pai que adorava a época das limpezas; a minha avó que era na verdade a dona da casa, também queria dar ordens mas quem mandava mesmo era a mãe, depois o meu avô opinava por trás, ou não merece a pena, ou agora fizeram finalmente o que era preciso, caiaram a chaminé, era um sem fim de conversas, até a Tia Marcena entrava no conversé à noite à porta, que o calor apertava e não havia ar condicionado nem televisão, as histórias continuavam até noite dentro a afastar os mosquitos.
Faziam-se os caiados, limpavam-se todas as gavetas, lavava-se toda a roupa, copos, tudo era lavado, móveis tirados do sítio, tudo era lavado, era como uma lavagem enorme que chegava ao fundo  de cada um, havia uma limpeza e mudança de cadeiras que renovava a nossa alma.
Não vou conseguir mudar os móveis mas vou tirar tudo das gavetas e volto a colocar, tiro o pó, já é bom, para quem já não tem a Branca, a Deolinda e a Emília é o melhor que se pode fazer, vou conseguir lavar até à alma, renovando toda a nossa energia, tentar vou tentar.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Subidas

Semanas difíceis estas, antes das férias! Faltam-me 9 dias úteis de trabalho, e só depois vou poder descansar 4 semanas. Sinto-me como se estivesse a subir uma montanha sem levar o equipamento necessário, estou a sentir quão difícil é, mas também sei que me vou sentir muito recompensada quando terminar esta subida, sei que vou poder olhar ao redor e ver tudo com mais clareza, só que agora só me apetece parar, dói-me tudo, as dores são tão intensas que acordo durante a noite, a dor percorre toda a minha coluna, é uma dor parecida com a dor meníngea, embora eu só a possa imaginar, nunca sofri uma meningite. A dor é tão dolorosa que no meu interior passam ideias ainda mais tristes, tenho até vergonha de as escrever!!! Podia acabar com este sofrimento? Podia, por exemplo, e um exemplo bem simples, sei que se reinicia-se um antidepressivo, era milagre. Sei no entanto que esta dor, pode também ser encarada como salvadora, porque subir a montanha sem qualquer ajuda, torna não só a subida mais emocionante como mais gratificante no fim, conseguir dizer de mim para mim: conseguiste!
E assim vou andando de dia para dia, ficando feliz com pequenas conquistas, com pequenos feitos; estive para não ir à aula de Yoga, mas fui; na aula, estive para desistir, de cada vez que começávamos um novo exercício tinha vontade de me atirar ao chão, mas não me atirei; a aula não tinha mais fim, fiz todos os exercícios até ao meu limite, suei e tudo; no fim, fizemos um exercício novo, rebolámos por cima uns dos outros, foi como se tivesse chegado a uma parte da montanha e pudesse parar para as vistas, foi bom, ainda que pudesse ser melhor, foi libertador!
Em casa, antes de jantar, achei que nem ia poder comer, as dores mantinham-se, jantei, tomei um brufen 400mg, portanto "um pequeno brufen" e só agora que estou a escrever me sinto mais inteira, sei que não vou desistir, não posso desistir, chegar ao cimo da montanha vai compensar tudo!

sábado, 6 de julho de 2013

Exaustão

Apalermada é mais correcto, o calor é tanto que nem consigo estar sentada, não consigo racícíonar, pensar, sentir, ouvir, até para ver tenho dificuldade, as pestanas estão tão pesadas que é difícil mantê-las abertas, mas tento, tento sim senhor.
Hoje fui fazer mais uma massagem, estou melhor da coluna e da minha distonia, mas quero sempre entender, quero sempre ficar muito bem, parece que não é possível. Leva tempo, tenho que ter calma, voltar ao estado anterior em que me sentia ZEN tão bem, com  um grande desapego ao que me parecia não ser importante. Foi de tal maneira que achei que podia ir trabalhando sem quase descansar, e assim fui andando até ao cansaço final. Sinto-me tão cansada, esgotada que nem consigo escrever mais, amanhã regresso!

sábado, 22 de junho de 2013

Actividades

Percebi. Não tenho feito nada, para além de trabalhar todos os dias, mesmo aos fins-de-semana; antigamente conseguia fazer  trabalhos manuais à noite, últimamnete tem sido mais difícil, à noite às vezes jogo às cartas no computador, ora está bem de ver que se tivesse a minha mãe ao pé de mim, ela começava a olhar - me de lado e a dizer que " estás a fazer isso, não dá interesse nenhum!", e mesmo que tivesse preguiça lá pegaria nas agulhas, na linha, no papel do desenho, podia continuar um trabalho ou até memo começar outra qualquer tarefa, tudo isso já "teria muito mais interesse". A minha mãe também gostava de trabalhar na lida da casa, o seu trabalho, gostava de conversar, gostava de preguiçar, mas tudo tinha um sentido, uma razão de ser, ora o que tenho feito, ou não feito, últimamnete, não tem razão de ser, não adianto nada, tantos trabalhos que tenho começados, não posso deixar de acabá-los. Outro dia quando fui a Cabeção tive vontade de começar qualquer coisa, ainda ficaram muitas linhas do tempo em que minha mãe e eu decidiamos os trabalhos, tantas toalhas em renda que fizemos, tantas que sonhámos fazer, nesta altura em que que ainda vejo bem, do que é que estou à espera? Olho para a minha sogra, ela que já arrumou as agulhas há algum tempo e penso:
-Enquante estás viva devias ter sempre um trabalho, não percebo porque arrumaste as agulhas!!!
Olho para mim e vejo-me a jogar às cartas, falo pouco, afasto-me até, na maioria das vezes não percebo o que dizem, a não ser que me repitam as palavras bem devagar, posso ser surda, mas vejo perfeitamente com óculos.
Logo, quando chegar a casa, depois de jantar e passear os cães com o meu PQ, vou pegar em qualquer actividade, devo acabar o casaquinho da minha neta, se calhar não posso acabá-lo, porque a medida que comecei há 6 meses atrás já não serve, não importa, desmancho e começo outro trabalho, com mais vontade, na certeza de que farei feliz a minha mãe e contribuo para me tornar também mais feliz, isso é que interessa.

sábado, 15 de junho de 2013

Parar

Detesto quando mexem no formato das folhas, eu sei que este espaço só é meu quando escrevo, mas não havia necessidade de andarem constantemente a mexer no formato das folhas. Este espaço é como se fosse um caderninho onde venho escrever, quando tenho tempo e preciso, como agora.
Fim-de-semana, não sei do que preciso, mas este não tem sido um fim-de-semana tranquilo, preciso da minha neta, das filhas, dos genros, preciso do meu PQ, mas acho que preciso sobretudo de mim. Não tenho tido muita paciência!!!
Não tenho paciência para mim, saltito de actividade em actividade, quero ir para Cabeção, mas chego lá e preciso de regressar; vou a Lisboa a casa das filhas, mas tenho quue regressar, amanhã trabalho, os cães estou sózinhos já há tantas horas, vou arranjando desculpas, parece que procuro qualquer coisa, que me procuro, sem me querer encontrar, sem me querer ouvir.
Do que estou farta, o que procuro?
Comecei a ler um livro, tenho lido, mas ando a ler 2 livros ao mesmo tempo, um livro para quando é dia e outro para a noite!!!! Nunca fiz isso, nem gosto, porque quando começo um livro, costumo começar e ler até à última página, mesmo que deteste!
Então porquê este sentimento de querer ver tudo e todos e não ver nuinguém, quer ler tudo e não ler nada, de querer estar em todo o lado e não querer estar em lado nenhum?
Quando os nossos pais morrem nunca mais somos os mesmos, sinto talvez essa falta de colo, precisava ir a Cabeção, tocar a campainha e ao abrir-se a porta sentir os olhos de alegria da minha mãe, o riso e as palavras, o calor do olhar de meu pai, só por uns instantes!
Não vou chorar, não me vou lamentar, antes pelo contrário, sou uma sortuda, já tive isso tudo, tenho mais é que dar tanto, quanto recebi!
Parar, preciso parar, sentar-me em posição de meditação e não pensar em nada, não sentir nada, não buscar nada, parar para que à minha volta também "páre" esta alucinção de querer tudo e não querer nada.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Queira Deus

Se o Verão não chegar depressa vou descer às profundezas da depressão. Preciso de sol, de manhãs de sol, de tardes de sol, de fins de tarde, bem como de noites de luar, límpidas, cristalinas. Preciso tanto do sol, como de uma refeição gourmet, de uma sesta ou de uma noite de sono repousante. Coisas que verdadeiramente me fazem feliz: ter os pés lavados e com creme quando me deito na minha caminha de lençóis deslumbrantemente lavados; refeição deliciosa com sabores conhecidos numa mesa acutilantemente bem decorada; roupa que me fique bem, de preferência feita à medida, como a minha mãe me fazia, conseguia fazer-me vestidos lindos com desenhos meus, assim assim; faz-me feliz ler um livro, mas um livro que leve tempo a ler, que eu seja obrigada a parar e voltar atrás, que me faça parar um bocado e pensar, de preferência que só perceba ao fim de 2 a 3 leituras; gosto de ir a um espectáculo de ballet, de ópera, mas consigo ser feliz a ouvir música no rádio, gosto mais de ouvir no gira-discos, adoro ouvir a Melanie, a John Baez, e outras mais jovens com música tranquila que agora não me lembro o nome, mas hei-de lembrar! Gosto de ficar à noite em minha casa, sentada como agora, a escrever, com a Carlota, o Fred, o Vicente, a Sarita e a Preta, todos à minha volta, sentindo cada um preocupado em prestar atenção a todos os sons que vêem do exterior. Sinto-me feliz com pequenas coisas, e penso em muitas pequenas coisas quando me falta o sol. Se o Verão não chegar depressa se calhar não vou de férias, para quê se não há sol? Férias precisam de sol, água salgada quente, jantares demorados, conversa, calor, melancia, água fresca e ar condicionado, passeios com sapatos de ténis, conhecer novos sítios e voltar a sítios bem conhecidos.
Como se percebe estou cansada, hoje o dia não foi fácil, fiz muitas consultas, mas fiquei cansada sobretudo com o trabalho que falta fazer para ficar o relatório pronto, não o meu, há muito que esse tempo passou, mas o das minhas internas, e percebi que estão um bocadito atrasadas e a culpa é minha, queira Deus que eu aprenda desta vez!
Quando era pequena, andava talvez na 2ª classe e antes de irmos de férias a professora primária, ainda sei o nome completo dela (IRP) passou-nos trabalhos para casa, uma coisa de loucos, dava para fazer o dia todo das férias grandes todas, resultado: não fiz nada!
Chegou o 1º dia de aulas da 3ª classe, a professora começou a pedir os cadernos com os trabalhos, a maioria não tinha nem metade, mas lá iam escapando às reguadas, quando chegou a minha vez, não fiz mais nada, virei-me para a professora IRP e disse-lhe:
-Professora bata-me que eu não fiz os trabalhos!
-Não fizestes os trabalhos Maria Celestina, então vais apanhar, ai isso vais!!!!
Encolhi-me toda, acho que nunca tinha apanhado, costumava ser a "queridinha" da professora, ela não percebeu, a minha conversa era para lhe chegar ao coração, só consegui chegar ao fígado, estava furiosa.
A medo a Marilena falou:
-O pai dela não a deixou fazer os trabalhos, disse que era um exagero!
-Exagero, o meu Primo António Prates disse isso?
-Disse que eu ouvi!
-Vou falar com ele, hoje ficamos assim, amanhã continuo a ver os outros trabalhos de férias, vamos fazer uma redação....
Livre das réguadas, mas com o coração apertado, ainda sinto hoje esse aperto, quando as férias pespontam no Universo, as lembranças desse Verão regressam sempre. Não me apetece contar o resto, conto noutro dia, o aperto no peito está agora, neste mesminho momento, bem grande, por isso não conto nadinha de nada.
Queira Deus que eu aprenda!

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Mistérios

Ando um bocadito cansada, ir para Lisboa todos os dias cansa, amanhã será o último, desta leva. Fico contente quando faço uma formação e aprendo uma pequena coisa, que vou guardando como relíquia, e basta-me uma pequena coisa em cada formação, desta vez a quantidade da aprendizagem é muito maior, têm sido várias coisas, claro que vou guardar, mas como é que consigo aprender muitas coisas? O tema não é novo, o tema é agradável, tem sido dado de uma maneira leve, o espaço é agradável e eu "estou disponível", esse é o factor estatisticamente forte para este meu sucesso, a estatística pode explicar o que o eu interior sente? O tempo tem-me protegido e ensinado e este é um tempo de aprendizagem abençoado. Há tempos para tudo, quando o nosso tempo interior está de acordo com o tempo exterior ficamos em paz e a energia flui sem stress. Antigamente achava que a paz interior era castradora, a paz interior não me permitia ter uma adrenalina suficientemente forte para me manter alerta, e achava que a aprendizagem era tanto melhor quanto mais stressada, agora sinto o contrário, quanto mais tranquila mais aprendo, não para coleccionar informação, mas para aprender a ser feliz. Esta manhã lembrei-me das 2ª feiras, o meu avô Luís de avental azul, bem engomado, impecavelmente limpo, azul da cor dos olhos dele, no cimo da nossa rua abria os braços como se fosse espreguiçar-se e dizia: Ai quem mi dera morrer! A frase nunca me angustiou, o seu olhar nessas alturas brilhava, a face estava feliz, toda a linguagem corporal contrariava a frase, de fim do mundo dele. Nunca senti tristeza, quando a ouvia ou agora quando a recordo, esta manhã percebi, na verdade ele devia ser muito infeliz, porque o seu semblante o seu corpo ao pedir esse momento ficava calmo e tranquilo, o seu corpo estava de acordo com o seu espírito, em paz para essa passagem, o que é que a morte tinha tão bom que a vida não lhe dava? Morreu num dia de Verão sentado nos degraus da praça, de enfarte, de avc, não sabemos, eu não sei, tinha 17 anos, andava no Serviço Cívico, aguardava a entrada para a Faculdade, e foi uma perda que me causou um grande desgosto, resolvido o desgosto nessa altura. A frase que ainda ecoa no meu coração preparou-me para a sua partida? O meu avô ainda é para mim um mistério, a sua forma de viver, o seu desprendimento das coisas materiais, o seu amor pela minha avó, a sua educação numas mãos ásperas de sapateiro, continua tudo ainda muito embrulhado em muito amor, mas um mistério. Ando um bocadito cansada.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Dúvidas e certezas

Tenho 57 anos e como eu gosto de me sentar para ter uma aula, é certo que também gosto de estar do outro lado, a dar uma aula, adoro esses momentos, para mim, momentos de convívio direccionado, convívio com tema. Quando era pequena a minha avó Maria Antónia achava que eu ficava muito bem em Professora Primária, as madrinhas por outro lado, ao perceberam que não me apetecia, comentaram uma com a outra e eu a ouvir, Professora de Matemática era uma boa profissão; fui andando e no momento da escolha, decidi Medicina e ainda bem. Mas, estar sentada para ir ter uma aula dá-me um gozo muito grande, ainda que o tema desta vez não seja muito entusiasmante, eu gosto: é epidemiologia, e não é a 1ª vez; como não é um tema que eu pratique com frequência, de vez em quando sabe bem voltar a ouvir e de cada vez é como se fosse quase a 1ª vez. A escolha da profissão nunca me assustou, gosto de fazer tantas coisas, mesmo agora que tenho uma profissão sinto-me capaz de ter outras paralelas, não fosse esta tirar-me tanto do meu tempo diário; outra que eu ainda quero ter é ser rural, rural é ter um terreno com galinhas, patos, cães, gatos, burros e burras, couves e alfaces, laranjas e damascos sem esquecer as nêsperas. O meu pai tinha uma horta, com galinhas e coelhos, porcos e borregos, laranjas e um tanque, coisa maravilhosa, eu achava que ia ser assim para sempre, o meu pai e a horta, engano meu, tudo o que tem início tem fim. Na altura das partilhas a horta ficou para a titi, eu acho que ela não gosta da horta tanto quanto eu, mas quem manda é ela, se eu fosse hoje a Cabeção ver a horta, de certeza que está abandonada, se calhar, se eu tivesse ficado com ela também estaria, a distância leva-nos a abandonar. Talvez a solução seja encontrar um terreno que substitua essa lacuna, não tenho ainda o dinheiro necessário para comprar o terreno com uma dimensão que dê para ter uma horta em ponto grande, e me faça ser feliz com a outra profissão paralela, a rural. Depois, tenho mais uma ou duas coisas que gosto muito, diplomata, é outra profissão que gostaria de ter tido, já é tarde, era bom porque viajava, era intelectual e importante, com roupas bonitas, soirés e teatros, operas e chá invariavelmente às 5h, consigo passear às vezes e tenho quase todos os dias o chá às 5, também é bom; ballet, já é um pouco tarde para ser bailarina em pontas, e as pontas são muito importantes, como são importantes as piruetas, o pas-de-deux, e a roupa, linda, posso tentar no yoga ganhar um pouco da graciosidade, e faço sempre que posso 2 a 3 vezes por semana; outra profissão que tenho, ainda que muito paralela é a escrita, só me falta mesmo é a publicação do livro, ainda não decidi bem o tema, sei que vai ser "descritivo, observacional", falta decidir as restantes características e nomeadamente as variáveis, o tempo o dirá. Outra profissão que gosto é dona de casa, mas sempre com a ajuda da Zulmira, ou outra que possa, dona de casa nunca deve andar sózinha, é desgastante e pouco gratificante.
Amanhã vou continuar no meu cursinho, os outros alunos meus companheiros de carteira, são 19, a maioria muito nova, da idade das filhas, sinto-me bem no meio deles porque me sinto igual, isso faz-me feliz.
Podia ainda ser bailarina?







domingo, 19 de maio de 2013

Domingos

Preguiçar é uma coisa boa, mas não me sinto à vontade, sinto-me um pouco perdida; ao mesmo tempo, quando faço urgência ao fim-de-semana, sinto-me cansada demais, exausta, então? Eu sei que posso fazer mil e uma coisa sem ser trabalhar no meu "ofício" mas, parece-me idiota, se trabalhar ganho um pouco mais... e sinto-me útil! O meu pensamento e a minha lucidez deixam  um pouco a desejar, ninguém anda atrás de mim a ver o que ando a fazer, trabalho toda a semana, bem mais que 8 horas dia, seria razoável aceitar o descanso semanal como uma coisa boa, uma coisa a que tenho direito, mas não é bem assim, a preguiça não é  o mesmo que o descanso, a preguiça também é boa, mas só preguiça quem já descansou, caso contrário não o será. Outro dia ao jantar, dei comigo a ser avaliada pelas minhas filhas, com uma recomendação para não deixar as consultas da Alice, psicóloga que me atura há anos, e porquê? Porque na nossa conversa, tínhamos voltado ao momento do nascimento da minha neta, dia de anos de minha mãe; comentei que meu irmão tinha falado sobre esse momento e que tinha comentado que a mãe tinha morrido no dia de anos da filha dele, eu olhei para as filhas e desabafei: que culpa tenho eu? As filhas em uníssono, ralharam-me, quase me gritaram que ninguém estava a culpar-me de nada!!! Quantas e quantas vezes o meu raciocínio é assim maldouzo? (Esta palavra não existe?) Quantas e quantas vezes falamos de coração, sem cabeça? Quantas vezes mandamos a nossa inteligência emocional  para as urtigas? Este Domingo não foi fácil, teve muita preguiça. Andámos no quintal, podei e mudei plantas, escrevi sobre o projecto da nossa próxima viagem, à volta do mundo, mas não gostei, precisava de mais companhia, eu adoro estar com o meu PQ, mas não posso sentir que estou a preguiçar, e ao mesmo tempo sentir que não tenho direito. Amanhã vai começar nova semana, sinto-me feliz por poder ir trabalhar, sei que a meio, lá para 4ª ou 5ª feira, já vou andar cansada, não faz mal, preciso ainda muito de trabalhar. As filhas há muito que têm a sua casa, vivemos os dois nesta casa que eu adoro, com as gatas e os cães, não tenho que me queixar, tenho que pôr a minha inteligência emocional ao meu serviço.
Vou copiar para aqui a 1ª folha do projecto 2013, será que vou ser capaz um dia de o concretizar? 

Projecto 2013
A estrada faz-se caminhando. Nestes dias sem sol, fica mais difícil caminhar. Não sei como é que se faz, quando não se tem uma casa em permanência e por isso me fascínia imaginar a minha próxima viagem, a viagem à volta do mundo. Leio muitas vezes, em directo, as histórias dos que estão a braços com essa experiência, desde o papakilómetros até quem leve um veleiro, ou uma simples bicicleta, também já li viagens mais curtas, de burro. Muitas parecem ser as opções, a mim talvez me dê jeito levar casa, como não pode ser uma casa mesmo, 3 assoalhadas, cozinha, casa de banho, despensa, sala, quintal, talvez uma auto-caravanasa, como não pode ser uma casa, grandinha, seja então suficiente. Não vou precisar de muita roupa, utensílios de cozinha, ou livros, uma mão cheia de cremes, sim, fazem-me muita falta, para a cara, corpo, pés e mãos, calções e calças, vestidos, nada que precise ser passado a ferro; agora roupa de cama, confortável, toalhas turcas e tolhas de mesa não vou poder esquecer. Os meus cães pois, terão que ir comigo; as gatas, não sei que faça, a minha Sarita se fica tanto tempo sem me ver, não aguenta, gosta de festas de manhã, gosta de festas quando come, gosta de ficar atrás do televisor, nesta altura em que ainda faz frio, as gatas vou ter que pensar melhor. O tempo de viagem, o caminho para a viagem, o dinheiro, ainda não pensei; vou fazer o projecto igual à nossa casa, digo tudo o que gostaria de ter, e vai ser pouco, nunca imagino muita grandiosidade, depois se tivermos que cortar é na realidade, nunca no sonho. Quero começar a viagem logo que possa, quero viajar sem rumo nem destino, apenas os meridianos me interessam, cada um por sua vez, devagar, sem pressas. Ainda hoje dei por nós a jantar num ápice, fazemos as refeições tão depressa, não gosto muito de estar horas esquecidas à mesa, mas tão depressa também não é bom, por isso com a viagem é o mesmo, muito tempo não, o suficiente, sem ser à pressa. Quero sair de manhã, depois de tomar o pequeno-almoço, não vou arrumar a loiça, fica para a Zulmira, porque na minha ausência a Zulmira vai ter que vir dar de comer aos bichos, não posso levá-los, especialmente as gatas, não iam sentir-se bem, iam assustar-se, podiam até fugir e depois, como é que eu ia aguentar perdê-las? Não, as gatas definitivamente não podem ir. Acabado o pequeno-almoço, começa a viagem, tudo preparado, destino desconhecido; comida no frigorífico, despensa repleta, caravana aconchegada, lá vamos nós, meridianos que nos aguardem. Amanhã continuo, a estrada faz-se caminhando, imaginando, sonhando.

Estes dias de preguiça dão cabo de mim!!!!