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sábado, 22 de junho de 2013

Actividades

Percebi. Não tenho feito nada, para além de trabalhar todos os dias, mesmo aos fins-de-semana; antigamente conseguia fazer  trabalhos manuais à noite, últimamnete tem sido mais difícil, à noite às vezes jogo às cartas no computador, ora está bem de ver que se tivesse a minha mãe ao pé de mim, ela começava a olhar - me de lado e a dizer que " estás a fazer isso, não dá interesse nenhum!", e mesmo que tivesse preguiça lá pegaria nas agulhas, na linha, no papel do desenho, podia continuar um trabalho ou até memo começar outra qualquer tarefa, tudo isso já "teria muito mais interesse". A minha mãe também gostava de trabalhar na lida da casa, o seu trabalho, gostava de conversar, gostava de preguiçar, mas tudo tinha um sentido, uma razão de ser, ora o que tenho feito, ou não feito, últimamnete, não tem razão de ser, não adianto nada, tantos trabalhos que tenho começados, não posso deixar de acabá-los. Outro dia quando fui a Cabeção tive vontade de começar qualquer coisa, ainda ficaram muitas linhas do tempo em que minha mãe e eu decidiamos os trabalhos, tantas toalhas em renda que fizemos, tantas que sonhámos fazer, nesta altura em que que ainda vejo bem, do que é que estou à espera? Olho para a minha sogra, ela que já arrumou as agulhas há algum tempo e penso:
-Enquante estás viva devias ter sempre um trabalho, não percebo porque arrumaste as agulhas!!!
Olho para mim e vejo-me a jogar às cartas, falo pouco, afasto-me até, na maioria das vezes não percebo o que dizem, a não ser que me repitam as palavras bem devagar, posso ser surda, mas vejo perfeitamente com óculos.
Logo, quando chegar a casa, depois de jantar e passear os cães com o meu PQ, vou pegar em qualquer actividade, devo acabar o casaquinho da minha neta, se calhar não posso acabá-lo, porque a medida que comecei há 6 meses atrás já não serve, não importa, desmancho e começo outro trabalho, com mais vontade, na certeza de que farei feliz a minha mãe e contribuo para me tornar também mais feliz, isso é que interessa.

sábado, 15 de junho de 2013

Parar

Detesto quando mexem no formato das folhas, eu sei que este espaço só é meu quando escrevo, mas não havia necessidade de andarem constantemente a mexer no formato das folhas. Este espaço é como se fosse um caderninho onde venho escrever, quando tenho tempo e preciso, como agora.
Fim-de-semana, não sei do que preciso, mas este não tem sido um fim-de-semana tranquilo, preciso da minha neta, das filhas, dos genros, preciso do meu PQ, mas acho que preciso sobretudo de mim. Não tenho tido muita paciência!!!
Não tenho paciência para mim, saltito de actividade em actividade, quero ir para Cabeção, mas chego lá e preciso de regressar; vou a Lisboa a casa das filhas, mas tenho quue regressar, amanhã trabalho, os cães estou sózinhos já há tantas horas, vou arranjando desculpas, parece que procuro qualquer coisa, que me procuro, sem me querer encontrar, sem me querer ouvir.
Do que estou farta, o que procuro?
Comecei a ler um livro, tenho lido, mas ando a ler 2 livros ao mesmo tempo, um livro para quando é dia e outro para a noite!!!! Nunca fiz isso, nem gosto, porque quando começo um livro, costumo começar e ler até à última página, mesmo que deteste!
Então porquê este sentimento de querer ver tudo e todos e não ver nuinguém, quer ler tudo e não ler nada, de querer estar em todo o lado e não querer estar em lado nenhum?
Quando os nossos pais morrem nunca mais somos os mesmos, sinto talvez essa falta de colo, precisava ir a Cabeção, tocar a campainha e ao abrir-se a porta sentir os olhos de alegria da minha mãe, o riso e as palavras, o calor do olhar de meu pai, só por uns instantes!
Não vou chorar, não me vou lamentar, antes pelo contrário, sou uma sortuda, já tive isso tudo, tenho mais é que dar tanto, quanto recebi!
Parar, preciso parar, sentar-me em posição de meditação e não pensar em nada, não sentir nada, não buscar nada, parar para que à minha volta também "páre" esta alucinção de querer tudo e não querer nada.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Queira Deus

Se o Verão não chegar depressa vou descer às profundezas da depressão. Preciso de sol, de manhãs de sol, de tardes de sol, de fins de tarde, bem como de noites de luar, límpidas, cristalinas. Preciso tanto do sol, como de uma refeição gourmet, de uma sesta ou de uma noite de sono repousante. Coisas que verdadeiramente me fazem feliz: ter os pés lavados e com creme quando me deito na minha caminha de lençóis deslumbrantemente lavados; refeição deliciosa com sabores conhecidos numa mesa acutilantemente bem decorada; roupa que me fique bem, de preferência feita à medida, como a minha mãe me fazia, conseguia fazer-me vestidos lindos com desenhos meus, assim assim; faz-me feliz ler um livro, mas um livro que leve tempo a ler, que eu seja obrigada a parar e voltar atrás, que me faça parar um bocado e pensar, de preferência que só perceba ao fim de 2 a 3 leituras; gosto de ir a um espectáculo de ballet, de ópera, mas consigo ser feliz a ouvir música no rádio, gosto mais de ouvir no gira-discos, adoro ouvir a Melanie, a John Baez, e outras mais jovens com música tranquila que agora não me lembro o nome, mas hei-de lembrar! Gosto de ficar à noite em minha casa, sentada como agora, a escrever, com a Carlota, o Fred, o Vicente, a Sarita e a Preta, todos à minha volta, sentindo cada um preocupado em prestar atenção a todos os sons que vêem do exterior. Sinto-me feliz com pequenas coisas, e penso em muitas pequenas coisas quando me falta o sol. Se o Verão não chegar depressa se calhar não vou de férias, para quê se não há sol? Férias precisam de sol, água salgada quente, jantares demorados, conversa, calor, melancia, água fresca e ar condicionado, passeios com sapatos de ténis, conhecer novos sítios e voltar a sítios bem conhecidos.
Como se percebe estou cansada, hoje o dia não foi fácil, fiz muitas consultas, mas fiquei cansada sobretudo com o trabalho que falta fazer para ficar o relatório pronto, não o meu, há muito que esse tempo passou, mas o das minhas internas, e percebi que estão um bocadito atrasadas e a culpa é minha, queira Deus que eu aprenda desta vez!
Quando era pequena, andava talvez na 2ª classe e antes de irmos de férias a professora primária, ainda sei o nome completo dela (IRP) passou-nos trabalhos para casa, uma coisa de loucos, dava para fazer o dia todo das férias grandes todas, resultado: não fiz nada!
Chegou o 1º dia de aulas da 3ª classe, a professora começou a pedir os cadernos com os trabalhos, a maioria não tinha nem metade, mas lá iam escapando às reguadas, quando chegou a minha vez, não fiz mais nada, virei-me para a professora IRP e disse-lhe:
-Professora bata-me que eu não fiz os trabalhos!
-Não fizestes os trabalhos Maria Celestina, então vais apanhar, ai isso vais!!!!
Encolhi-me toda, acho que nunca tinha apanhado, costumava ser a "queridinha" da professora, ela não percebeu, a minha conversa era para lhe chegar ao coração, só consegui chegar ao fígado, estava furiosa.
A medo a Marilena falou:
-O pai dela não a deixou fazer os trabalhos, disse que era um exagero!
-Exagero, o meu Primo António Prates disse isso?
-Disse que eu ouvi!
-Vou falar com ele, hoje ficamos assim, amanhã continuo a ver os outros trabalhos de férias, vamos fazer uma redação....
Livre das réguadas, mas com o coração apertado, ainda sinto hoje esse aperto, quando as férias pespontam no Universo, as lembranças desse Verão regressam sempre. Não me apetece contar o resto, conto noutro dia, o aperto no peito está agora, neste mesminho momento, bem grande, por isso não conto nadinha de nada.
Queira Deus que eu aprenda!

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Mistérios

Ando um bocadito cansada, ir para Lisboa todos os dias cansa, amanhã será o último, desta leva. Fico contente quando faço uma formação e aprendo uma pequena coisa, que vou guardando como relíquia, e basta-me uma pequena coisa em cada formação, desta vez a quantidade da aprendizagem é muito maior, têm sido várias coisas, claro que vou guardar, mas como é que consigo aprender muitas coisas? O tema não é novo, o tema é agradável, tem sido dado de uma maneira leve, o espaço é agradável e eu "estou disponível", esse é o factor estatisticamente forte para este meu sucesso, a estatística pode explicar o que o eu interior sente? O tempo tem-me protegido e ensinado e este é um tempo de aprendizagem abençoado. Há tempos para tudo, quando o nosso tempo interior está de acordo com o tempo exterior ficamos em paz e a energia flui sem stress. Antigamente achava que a paz interior era castradora, a paz interior não me permitia ter uma adrenalina suficientemente forte para me manter alerta, e achava que a aprendizagem era tanto melhor quanto mais stressada, agora sinto o contrário, quanto mais tranquila mais aprendo, não para coleccionar informação, mas para aprender a ser feliz. Esta manhã lembrei-me das 2ª feiras, o meu avô Luís de avental azul, bem engomado, impecavelmente limpo, azul da cor dos olhos dele, no cimo da nossa rua abria os braços como se fosse espreguiçar-se e dizia: Ai quem mi dera morrer! A frase nunca me angustiou, o seu olhar nessas alturas brilhava, a face estava feliz, toda a linguagem corporal contrariava a frase, de fim do mundo dele. Nunca senti tristeza, quando a ouvia ou agora quando a recordo, esta manhã percebi, na verdade ele devia ser muito infeliz, porque o seu semblante o seu corpo ao pedir esse momento ficava calmo e tranquilo, o seu corpo estava de acordo com o seu espírito, em paz para essa passagem, o que é que a morte tinha tão bom que a vida não lhe dava? Morreu num dia de Verão sentado nos degraus da praça, de enfarte, de avc, não sabemos, eu não sei, tinha 17 anos, andava no Serviço Cívico, aguardava a entrada para a Faculdade, e foi uma perda que me causou um grande desgosto, resolvido o desgosto nessa altura. A frase que ainda ecoa no meu coração preparou-me para a sua partida? O meu avô ainda é para mim um mistério, a sua forma de viver, o seu desprendimento das coisas materiais, o seu amor pela minha avó, a sua educação numas mãos ásperas de sapateiro, continua tudo ainda muito embrulhado em muito amor, mas um mistério. Ando um bocadito cansada.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Dúvidas e certezas

Tenho 57 anos e como eu gosto de me sentar para ter uma aula, é certo que também gosto de estar do outro lado, a dar uma aula, adoro esses momentos, para mim, momentos de convívio direccionado, convívio com tema. Quando era pequena a minha avó Maria Antónia achava que eu ficava muito bem em Professora Primária, as madrinhas por outro lado, ao perceberam que não me apetecia, comentaram uma com a outra e eu a ouvir, Professora de Matemática era uma boa profissão; fui andando e no momento da escolha, decidi Medicina e ainda bem. Mas, estar sentada para ir ter uma aula dá-me um gozo muito grande, ainda que o tema desta vez não seja muito entusiasmante, eu gosto: é epidemiologia, e não é a 1ª vez; como não é um tema que eu pratique com frequência, de vez em quando sabe bem voltar a ouvir e de cada vez é como se fosse quase a 1ª vez. A escolha da profissão nunca me assustou, gosto de fazer tantas coisas, mesmo agora que tenho uma profissão sinto-me capaz de ter outras paralelas, não fosse esta tirar-me tanto do meu tempo diário; outra que eu ainda quero ter é ser rural, rural é ter um terreno com galinhas, patos, cães, gatos, burros e burras, couves e alfaces, laranjas e damascos sem esquecer as nêsperas. O meu pai tinha uma horta, com galinhas e coelhos, porcos e borregos, laranjas e um tanque, coisa maravilhosa, eu achava que ia ser assim para sempre, o meu pai e a horta, engano meu, tudo o que tem início tem fim. Na altura das partilhas a horta ficou para a titi, eu acho que ela não gosta da horta tanto quanto eu, mas quem manda é ela, se eu fosse hoje a Cabeção ver a horta, de certeza que está abandonada, se calhar, se eu tivesse ficado com ela também estaria, a distância leva-nos a abandonar. Talvez a solução seja encontrar um terreno que substitua essa lacuna, não tenho ainda o dinheiro necessário para comprar o terreno com uma dimensão que dê para ter uma horta em ponto grande, e me faça ser feliz com a outra profissão paralela, a rural. Depois, tenho mais uma ou duas coisas que gosto muito, diplomata, é outra profissão que gostaria de ter tido, já é tarde, era bom porque viajava, era intelectual e importante, com roupas bonitas, soirés e teatros, operas e chá invariavelmente às 5h, consigo passear às vezes e tenho quase todos os dias o chá às 5, também é bom; ballet, já é um pouco tarde para ser bailarina em pontas, e as pontas são muito importantes, como são importantes as piruetas, o pas-de-deux, e a roupa, linda, posso tentar no yoga ganhar um pouco da graciosidade, e faço sempre que posso 2 a 3 vezes por semana; outra profissão que tenho, ainda que muito paralela é a escrita, só me falta mesmo é a publicação do livro, ainda não decidi bem o tema, sei que vai ser "descritivo, observacional", falta decidir as restantes características e nomeadamente as variáveis, o tempo o dirá. Outra profissão que gosto é dona de casa, mas sempre com a ajuda da Zulmira, ou outra que possa, dona de casa nunca deve andar sózinha, é desgastante e pouco gratificante.
Amanhã vou continuar no meu cursinho, os outros alunos meus companheiros de carteira, são 19, a maioria muito nova, da idade das filhas, sinto-me bem no meio deles porque me sinto igual, isso faz-me feliz.
Podia ainda ser bailarina?