Translate

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Poeiras

Finalmente chegou o Outono, 6ª feira já vai chover a sério, a chuva faz-me falta. Gosto do calor do Verão, mas esse tempo já passou, agora está na altura dos dias cinzentos, mais frescos, mais pequenos, dias que me convidam a estar em casa, à volta da lareira, faz-me falta o aconchego do lume. O dia hoje não foi muito tranquilo, de manhã tivemos crianças, desde recém nascidos até aos 18 anos, tínhamos 11 marcados e faltaram metade, não compreendo, os pais esquecem-se de levar as crianças à consulta de vigilância? É estranho, não estava habituada a que faltassem tanto, faço sempre marcação a mais, 2, 3 outras vezes 4, para ver 9 crianças numa manhã. Hoje vimos apenas 6, parece que não é importante? É muito importante, se faltam não fazem as vacinas, se não fazem as vacinas aumentam os casos de doenças evitáveis, vão por isso morrer mais crianças! Podemos evitar isso, mas não, resolvem faltar, vai aumentar a mortalidade infantil, baixamos no ranking dos países mais desenvolvidos, é uma carambola de desgraças. Porque será que os pais estão mais desleixados com as suas crianças? A crise económica leva-nos a tomar atitudes abaixo da nossa capacidade normal, há até um estudo que ouvi na telefonia comentado pelo Professor Machado Vaz, em que dizia isso mesmo: as crises económicas levam a uma falta generalizada e a uma depressão emocional que leva a uma diminuição do QI colectivo e todos funcionamos abaixo das nossas capacidades e dos nossos conhecimentos. Sinto isso diáriamente no meu local de trabalho, parece que andamos a vegetar, trabalhamos a pensar na hora de saída, na próxima semana vão todos começar a trabalhar 40 horas semanais, eu sempre trabalhei 42 horas por semana, mas recebo por isso, cada vez menos é certo, mas recebo! Quem vai começar na próxima semana, passa a fazer mais uma hora por dia, sem receberem mais por isso, como é que se sentem? Roubados, claro. O que acham que vão fazer? Trabalhar ainda menos, comentavam hoje isso mesmo, ao almoço! Que atitude é esta? Não questiono os funcionários, não questiono o Governo! Pergunto-me apenas a mim, o que está esta gente a fazer? Uma verdadeira pescada de rabo na boca, trabalho pouco, e quanto mais queres que eu trabalho, menos faço!!!! A solução? Li há pouco tempo Os Maias, mais uma vez, e o que li, parece um pouco igual ao que se passa actualmente, parece que continuamos a ter as mesmas atitudes que se verificava naquela época, governos desgovernados, políticos pouco conscientes do povo que representam, povo que não se reconhecendo no desgoverno, criticam tranquilamente e tentam enganar o próximo da maneira mais expedita, esperto é quem consegue enganar mais.
Hoje o dia não foi grande coisa, sinto-me cinzenta, a necessitar que a chuva venha apaziguar esta poeira, a falta que me faz a minha mãe. Antigamente quando sentia o coração cinzento, pegava no telefone, 26644105, esperava um bocadinho e do outro lado:
-Está?
 -Mãe?
-Filha, então o que é?
-Como é que estás Joaninha, o que estás a fazer?
-Estava a dar volta às rendas começadas, estava a ver umas revistas apetece-me começar..., estava a falar com a Deolinda, estava..
-Não sei, se calhar vamos aí no fim-de-semana!
-Venham, então o que querem para o almoço?
-Não sei, se calhar..
E falávamos de tudo, falávamos de nada, a minha nuvem cinzenta a pouco e pouco ia embora, desligávamos o telefone aos beijinhos e cada uma ia à sua vida, aliviadas, como eu agora também fiquei melhor, com o coração aconchegado, só da lembrança!

domingo, 22 de setembro de 2013

Bailes

A minha neta faz hoje 9 meses, já gatinha, faz algumas gracinhas, ainda não diz nenhuma palavrinha, mas tem uns sonzinhos muito engraçados, ainda que não sejam palavras, representam de certeza pequenas emoções. Pesa mais, pesa muito mais, tanto que às vezes não a seguro e deixo-a bater na cadeira com a cabecita, não fez galo mas quase. Hoje o dia não foi muito calmo, fomos ao funeral a Mora, não é muito agradável ir a funerais, mas é preciso, podia era ter sido pela fresquinha, mas não, fomos até ao cemitério em procissão ao sol escaldante do meio dia, muito devagar, sem sombras, depois foi rápido, abriram a urna, choraram, não ouvi nenhum elogio fúnebre não ouvi nada, e foi o mesmo de sempre, para a terra. Estranhei a mulher ser uma das primeiras a deitar a terra para cima do caixão, assim como se fosse ritual, depois claro, começou a cena do costume, com a pá do coveiro bem mais eficaz, os filhos a não suportarem o momento, doloroso demais. Lembrei-me dos funerais na Índia, perto do Ganjes, que a gente vê na televisão, também há um ritual, mas a família não parece estar perto e em vez de terra é lume, até tudo estar transformado em cinza e ser despejado no rio. E vem-me à memória outras terras com outros usos, na América canta-se, come-se, bebe-se e fala-se do morto, assim como na Europa do norte, e lembro-me da primeira vez em que tivemos um morto na nossa casa, não foi na nossa casa, mas foi a minha avó Galucha que na verdade era minha bisavó. No dia da festa do meu 5º ano resolveu adoecer de manhã, a festa era à noite, pensei que o dia estava a começar mal, mas estava enganada, o meu avô Luís, seu filho, estava eu a tomar o meu banho, veio dizer-me através da porta da casa de banho que:
-Logo à noite vais ao baile, a avó está doente, mas não tem importância, tens que te divertir!
Fiquei sem palavras, tinha 14 anos, tantos sonhos, não era no entanto miúda de bailes, só que aquele baile era diferente e o meu avô tinha entendido isso há muito tempo. A minha avó estava doente, de cama, sem falar, sem conhecer ninguém, sem me ligar nenhuma, bebia uns caldinhos que a minha mãe lhe fazia, e eu queria tanto ir ao baile! E fui. Ela morreu uns 15 dias depois, o médico foi a casa e confirmou que a hora dela tinha chegado, era só preciso esperar e esperámos 15 dias. Esteve sempre na casa dela, nós íamos lá de manhã, à tarde e à noite, dormia sózinha, não tinha ninguém a tomar conta dela durante a noite, na altura eu achei que foi tudo culpa da minha avó Maria Antónia que lhe tinha mandado matar o cão, rafeiro, de pelo preto, curto e duro que começou a urinar sangue, e não houve mais conversa nem tratamento, foi mandado matar, com a benção e a seringa do padrinho Martins, que era veterinário mas pouco; se estava a urinar sangue podia pegar a doença à minha avó Galucha, ela dormia com ele na cama, às escondidas, mas toda a gente desconfiava. A doença dela aconteceu depois do cão ter sido morto. Eu assim que soube fui -lhe oferecer o meu gato, ela não quis, sorriu-me e ficamos a conversar à lareira, como eu gostava e ela também, a seguir ela adoece logo no dia do baile do colégio, graças a Deus que o meu avó era do melhor e deu-me "permissão" para a diversão e foi bom. Foi o meu primeiro contacto com a morte na minha família, nunca mais tive sossego, nem nunca mais somos os mesmos quando nos morrem os avós e os pais, só que eu sou uma sortuda, sinto ainda no ar a "permissão" do meu avô, quero ter sabedoria para a transmitir à minha neta. 

domingo, 15 de setembro de 2013

Sempre em frente

Domingo à noite, jantámos, passeámos os nossos queridos animais e agora aqui estamos; não sei se é o Outono que está a chegar, mas sinto-me a invadir por uma nostalgia, uma necessidade de ver e ou vir outras pessoas, outras vidas, outras montras, outros perfumes, uma necessidade de sair daqui ou se calhar uma necessidade de sair daqui para me sentir feliz, como se a felicidade estivesse ao virar da esquina e não aqui, onde a gente costuma estar. Hoje o dia correu calmo, e lembrei-me que aos Domingos na minha casa às vezes também me sentia assim, a minha mãe tinha um remédio santo, íamos ver revistas e iniciávamos um trabalho novo, uma renda, uma manta, uma colcha, qualquer coisa, ou também podíamos ir dar uma volta a algumas gavetas que já não mexíamos há tempo, qualquer coisa para quebrar a monotonia, mas os Domingos sempre foram depressivos, Domingo mesmo com missa e cachola de molhinho e batata frita, acabava sempre depressivo, e agora ainda é, mesmo com  a volta pela aldeia do Pico, cada sítio com seu percurso depressivo a tentar ser ultrapassado. Tenho tantas saudades de ir a Cabeção e encontrar a minha mãe a abrir a porta da nossa casa, com o sorriso rasgado de felicidade, tenho saudades das filhas pequenas e das sobrinhas, e do meu irmão e da minha avó, do meu avô e da minha bisavó e da ti Marcena e da Senhora Deolinda e do Zé Linor, as minhas saudades não me levam a nada, também tenho saudades da minha neta quando não a vejo todos os fins de semana, se calhar sou feita de saudade. Também não adianta nada esta necessidade de lembrança da vida de outrora, a vida de agora também é boa, também tem encanto e Domingos agradávelmente depressivos. Não vou começar um trabalho manual novo porque já tenho muitos começados e agora ninguém me vai ajudar a terminar, por isso ficamos assim, foi um Domingo bom e amanhã a semana vai começar calma e tranquila, prá frente é que é o caminho.    

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Estou confusa

5ª feira, Setembro, os dias estão a ficar mais pequenos, ainda chego a casa com sol, mas até ele está cada vez mais envergonhado, menos quente, tudo vai-se encaminhando, lentamente para o Outono; para mim podia chegar já, preciso mudar de roupa, deixar estes vestidos de Verão e começar com a roupa da meia estação. O que vestimos tem muita importância no nosso bem estar interior. Por causa do nosso bem estar interior é que venho aqui escrever de vez em quando, alivia-me. O meu trabalho tem corrido calmo, ainda que com muita gente sempre na consulta, sempre casos engraçados, a minha interna diz que quando termina o dia e vai para casa, fica sem forças para mais nada, ora ela tem 30 anos, eu com 57 nem se fala, por isso é que não escrevo mais, porque tenho serões em que fico a vegetar e depois ainda há outra questão, levo o dia a olhar para o ecrã do computador, à noite em casa já não me apetece e gosto mesmo de escrever, assim como agora, depois do jantar, do passeio com os cães, antes de falar ao telefone com as filhas e antes de ir para a cama. O cansaço é esgotante, fico até confusa, não sei para onde levar o meu pensamento, porque eu penso o que quero, às vezes.
Tive uma época em que não conseguia adormecer fácilmente, então quando estava deitada de luz apagada pensava numa casa que vou ter, num monte, que em cada noite tentava imaginar a decoração, era tão real que agora estou acordada e se fosse possível fazia aqui o desenho, mas ainda não sei desenhar com o computador só com o lápis. Então, fazia a decoração da casa de entrada, adormecia invariávelmente sempre aí, nunca passei da casa de entrada! Depois houve outra altura em que pensava nas roupas, de vestir, de casa, na arrumação e o sono vinha ligeiro, nunca vi o vestido até à sua conclusão. A nossa cabeça é uma coisa!!!
Hoje sinto-me baralhada, não é cansada só, é baralhada, o discurso tem alguma dificuldade em sair, apetecia-me falar de tanta coisa diversa que na verdade não falo de nada. As minhas preocupações, ou melhor dizendo, o que me vem ao espírito, são tantas coisas que nem sei, desde a guerra na Síria, aos bombeiros falecidos e aos fogos que ainda vão vir, aos nossos políticos que nos explicam a nossa vidinha triste à maneira do que lhe convém, mais ao que preciso fazer em Cabeção e aqui em casa, tanto que me falta arrumar, mais ao Serviço de Urgência que amanhã vou fazer durante a noite e ao mesmo tempo que me assusta gosto de fazer, as viagens e o terreno que quero comprar, que talvez o melhor mesmo fosse iniciar a minha viagem à volta do mundo com uma mochila apenas. Ok vou dormir.