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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Menos é sempre menos

Quanto menos fazemos, menos desejamos fazer e menos somos capazes de fazer. Passaram 15 dias desde que aqui estive e sinto-me exausta, quase sem ser capaz de carregar nas teclas, um esforço enorme para tirar de dentro de mim as minhas ideias, que eu tenho em profusão, que me enchem a alma, o coração, a cabeça, na verdade o corpo todo, mas perante a folha de papel, faz de conta, parece que já nem sei escrever, foram duas semanas "levadas de seiscentos bacalhaus". Não sei que expressão é esta, mas ouvi-a vezes sem conta na minha casa quando se queria dizer que era uma coisa difícil, quer tivesse acontecido ou houvesse previsão que fosse acontecer. Neste caso tem a ver com o passado, embora o presente não esteja a ser muito brilhante. Passou o stress do exame da minha primeira Interna de MGF (Medicina Geral e Familiar); quando me foi entregue estava no último ano, 3º, tínhamos que preparar o exame do 3º ano e a seguir o exame de saída. O exame de 3º ano, com a elaboração do relatório e com as actividades diárias, foi uma tarefa continuamente e persistentemente exaustiva; fez o exame, passou descansadamente. Preparação para o exame de saída com elaboração do relatório final, mais uma trabalheira e o exame que durou 3 dias, conforme o habitual. Foi como se fosse eu a fazer exame, tive várias dejecções diarreicas, nos locais menos prováveis que me abstenho de enumerar, controlei-me melhor que o costume, não tive necessidade de deixar a minha roupa interior no caixote do lixo, sempre tive a oportunidade de  usar toalhetes húmidas e bem cheirosas, mas fiquei doída, fiquei sim senhor. Depois, como o caminho até ao Centro de Saúde onde se desenrolava a prova era longe e por caminhos desconhecidos, valeu-me conhecer bem as estações de serviço da auto-estrada. O meu carro é que ficou um tudo nada danificado, passei por sítios desconhecidos e longínquos, de modo que toquei perto demais no passeio e arranquei uma pequena peça da frente, não faz muita falta, o carro continua a andar que é uma beleza. 
 Está a acabar o mês de Outubro, e daqui a pouco é Natal. Só que ainda falta passar o próximo exame da minha outra Interna, de modo que vou voltar a entrar na época do stress, das diarreias, das casas de banho desconhecidas e das toalhetes húmidas e bem cheirosas.
Não sei que mais hei-de fazer, o Yoga ajuda a controlar o stress, pratico o mínimo 1 x por semana, e tenho feito massagens auyérdicas, ajuda, mas ainda não chega. É um caminho longo, sei que basta entrar no "espírito da coisa" e vou ser capaz de controlar-me melhor, enquanto isso não acontece vou-me arrastando, amanhã é outro mês e outro dia.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Palavras difíceis

A depressão ou recessão do nosso País está a afectar-me, olho para as minhas moedas, o meu dinheiro, aquele que vejo quando levanto do multibanco, olho-o duma forma diferente, diria até, de uma forma estranha; o dinheiro nunca foi  um fim, foi sempre um meio para poder fazer a minha vida, a nossa vida, agora olho para as moedas e para as poucas notas que a máquina me dá e penso: desta vez ainda sairam, será que um dia destes não vão sair, a máquina vai secar? Como se a máquina fosse a responsável por essa situação, não ter dinheiro, trabalhando todo o santo dia.
Hoje tive uma alteração com a enfermeira x, a senhora queria convencer-me a passar uma baixa, ou uma incapacidade temporária para o trabalho para uma doente, que é a mesmíssima coisa, por ela receber o subsídio de inserção; expliquei-lhe que não passo baixas, faço consultas, achou que eu não tinha percebido o pedido dela e foi buscar-me a legislação que tinha saído em Setembro deste ano, para eu perceber se não passasse a dita cuja, a doente deixava de receber! Dos documentos necessários para receber o tal subsídio a pessoa também precisa da baixa; expliquei-lhe, já um pouco alterada que baixa é um acto médico, que significa ao passa-la, que atesto por minha honra que a pessoa está doente!
Abalou mal encarada do meu gabinete, com uma frase mais ao menos assim: a Doutora é que sabe, não diga que eu não avisei!
Não quis saber de mais nada, trabalho é trabalho conhaque é conhaque!
Não sei o que me quis explicar mais e não conseguiu mas, das duas uma:
Se quem recebe esse tal subsídio tem que estar doente, passarei a baixa a todos os que "realmente" estiverem doentes, como faço com todas as pessoas que me procuram, quer tenham ou não direito ao referido subsídio!
Se quem recebe esse subsídio ganha o mesmo quer trabalhe quer não trabalhe, e a baixa é uma maneira de fugirem ao trabalho comunitário, a resposta é a mesma, passarei a baixa a todos os que "realmente" estiverem doentes, como faço a todos os que me procuram, quer tenham ou não direito ao dito!
Eu expliquei, mas acho que ela não percebeu: baixa, incapacidade temporária para o trabalho ou atestado médico por doença, são os diversos documentos que atestam sob "palavra de honra" que essa pessoa está doente e não pode cumprir com as suas obrigações quaisquer que elas sejam.
Qual terá sido a palavra que ela não percebeu?

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Sonos

Esta noite foi uma cegada. Esta palavra pode até não existir, mas é a única que sinto eficaz para descrever a minha noite passada. O fim de semana foi calmo e tranquilo, não trabalhei, passeei com o meu PQ e foi deliciosamente bom. Quando regressei, estava com saudades da minha casa, dos animais nossos amigos, da minha cama, do meu quarto, da minha casa de banho, do espaço que é meu; só que, quando fui para a cama, percebi que a " minha dor de estimação" tinha voltado, fui apanhada um pouco desprevenida. Assim que me deitei, percebi que a cama acentuava a dor em toda a coluna, até os glúteos ardiam com tanta dor, levei a primeira massagem, adormeci. Passado algum tempo, não consultei nenhum relógio como manda a boa higiene do sono, as dores estavam mais fortes, insuportáveis, levantei-me, tentei descontrair, andar, em cada passo sentia todos os músculos contraídos, como se tivesse meningite, não podia mexer o pescoço, mais uma massagem, enrosquei-me novamente na cama, adormeci. Passou mais um tempo e acordei de novo, dores brutais que me deram náuseas, comecei a sentir uma sialorreia brutal, vomitei não sei bem o quê, durante algum tempo permaneci debruçada sobre a sanita, náuseas e pouco mais.Não chorei! Levantei-me e fui andar mais um bocado, resolvi tentar uma posição do yoga, tentei focar-me no"o sono é bom" e ao tentar a posição de equilíbrio só assente num pé, com os braços elevados, distraí a dor? Fiz também a posição de peixe na água, tentando sempre focar o pensamento o sono é bom; as dores estavam bem marcadas no meu corpo, mas arrisquei e voltei para a cama sem massagem, continuei com o pensamento " o sono é bom" e voltei a dormir. Regressaram mais tarde, as ditas, parece que ainda com mais força, como se as dores tivessem vontade própria, o despertador tocou e saltei da cama aliviada, acabou-se a cama, a noite, o sono, vou tomar banho e partir para o mundo, não quero dormir mais! O banho quente aliviou-me e o dia de trabalho decorreu calmo e tranquilo, com mais uma injecção de um anti-inflamatório e um relaxante muscular. Agora que se está a aproximar a hora da cama, não quero voltar a passar pelo tormento da noite anterior, não quero repetir essa cegada sobejamente conhecida, de modo que vou fazer o meu relaxamento habitual, pedir ao meu PQ que me faça o injectável, não vai ser difícil, se a madrinha me deu injecções em pequena de vitaminas, melhor levo agora, dadas pelo meu engenheiro electrótecnico! A vida não é fácil, mas ninguém está interessado em facilidades, amanhã recomeço as massagens pelo meu instrutor de yoga, hoje devo viver com o que tenho, sem medos e sem dores; ficaria aqui toda a noite a escrever para fugir ao sono, mas fugir não resolve e quem disse que hoje ia voltar a acontecer? A seringa fica pronta! As dores são somatizações de medos, que a minha neta engorde pouco, que o exame da minha interna seja doloroso, medos que nem vou reescrever mais vezes, de tantas vezes já ter escrito, não quero mais medos, e para cada medo vou ter uma massagem, um injectável e beijinhos do meu PQ.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Destinos

Dias, os dias servem para nos ensinar, de manhã, à tarde e à noite, é como o tempo, o sol vem quando é preciso, assim como a chuva e o frio de rachar pedras. Tudo chega sempre a propósito, só ainda não compreendi, se é a essa condição, que vulgarmente chamamos destino; ainda não compreendi se temos o destino traçado na palma da mão, ou se a mão se vai alterando à medida que percorremos o caminho, que fazemos o nosso destino. Sinto muita vez que as coisas me caiem no colo e que devo desembaraçar-me e arrumar os assuntos, mas não chegam em catadupas, chegam faseadas, como se estivessem na calha, estivessem à espera da sua hora. E cada coisa tem a sua hora? Tenho perguntas, tantas perguntas, quando era miúda pensava que quando fosse grande ia saber muito, tanto que até ia saber a melhor forma de acender uma casca para rapidamente acender a lareira! Chamo casca a uma pinha, e quando a pinha não está bem seca leva um bocadito a pegar, a manter-se acesa, e quando tinha a tarefa de acender a lareira, pensei muitas vezes que quando tirasse um curso superior, andasse na faculdade, ia aprender como acender uma casca cientificamente! E não há nada a fazer nem a censurar, os pensamentos que nos chegam são os pensamentos que nos chegam, a maior partes das vezes, pensamentos doidos, tive-os quando era pequena e tenho-os hoje, com 57 anos. Destino? Ainda não sei o que é, se existe, ou se nos dá jeito que só de vez em quando, exista; Livre arbítrio? É a favor ou contra o destino? Também temos muitas vezes alturas, em que nos dá jeito dizer e pensar: agora quem manda sou eu e ponto final, livre arbítrio só nosso e de mais ninguém, os outros todos que vão para as urtigas; perguntas estúpidas? Tenho-as todos os dias, de modo que desisto, pelo menos por hoje, já saí da faculdade há tanto tempo e ainda não aprendi a acender uma casca cientificamente, graças a Deus que sou doida o suficiente para continuar à procura.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Tudo a dobrar

Este Outono mata-me, deprime, assusta. Os dias estão cada vez mais pequenos, as noites aumentaram, mas nem isso me agrada, as noites podem até já estarem grandes mas, eu realmente preciso, é de dias maiores e de noites com o dobro do tempo. Aliás, se possível queria tudo a dobrar, queria os dias e as noites com o dobro do tamanho, queria as visitas das filhas e da neta a dobrarem, queria beijos e abraços de manhã à tarde e à noite, queria o meu ordenado e do meu PQ claramente a duplicar, queria o tempo que tenho para estar com cada doente a dobrar, fico tão triste quando digo: hoje não podemos continuar a nossa conversa, temos que marcar para outro dia; mas acontece-me esta situação frequentemente, simplesmente porque o tempo que disponho para cada doente são de uns reles 15 minutos, em cada hora tenho 4 doentes, em cada manhã tenho 16, em cada tarde tenho mais uns tantos, há dias que são 20 de manhã e 20 à tarde, quando chego a casa tenho a cabeça feita em água. Não valia a pena trabalharmos tão mal, se pensarmos o que acontece aqui ao lado, em Espanha, cada doente só tem 10 minutos para cada consulta, na Dinamarca, na Holanda e na Inglaterra todos os médicos têm 15 minutos para cada doente, estamos todos errados. Como devia ser? Meia -hora e com toda a calma. Em cada dia que passa, mais nos apercebemos que os problemas que os doentes nos trazem são sobretudo psíquicos, com representação física é certo, a necessidade que tenho tantas vezes de deixar o doente falar, perceber-se com a minha ajuda e empatia, compreensão, mas não pode ser ainda, talvez futuramente, no país que eu sonho isso possa vir a acontecer, não paro de sonhar e acreditar que é possível mudar. O mundo só pode ser melhor amanhã, por isso este Outono mata-me, deprime-me, quero o futuro agora.