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terça-feira, 21 de outubro de 2014

Sim, não, obrigada

Não sei que dias são estes, pouco tempo me deixam para me encontrar comigo, para contemplar, conforme a Alice me disse para fazer. Antigamente, quando achava que alguma coisa não estava bem, dava a minha opinião até mesmo a quem não ma pedia. Era bem pequena, quando começaram a corrigir-me, foi de tal maneira a correção e os ralhetes que por fim só dizia: Sim madrinha, não madrinha, obrigada madrinha. Vivia à sombra de tudo o que lhe via fazer, dizer, dos comentários que faziam, da forma como se sentavam à mesa e etc. Vivia então dois mundos paralelos, o das madrinhas e o da minha casa com a minha mãe, o meu pai, o meu avô Luís e a minha avó Maria Antónia, mais conhecida por Pató, nome que nunca lhe chamei porque não me dizia nada, Pató não era a minha avó, era a criada da madrinha, uma emoção de amor / ódio? numa criança de 5/6/10 anos? Não sei ainda, mas a minha mãe também nunca lhe chamou Pató, só o meu pai às vezes dizia às escondidas para gozar a situação, coisa que eu também não gostava.
Cresci, fui para o Liceu de Évora, fui para casa da Dona Anica, onde era preciso continuar a ser uma pequena, eu claro, sempre a pequena, bem comportada. E acho que fui, só as minhas gargalhadas eram demasiado altas e à mesa não eram bem vindas. Lá tentei controlar as ditas, e ria às escondidas com quem podia e quando podia.
Cresci, fui para Lisboa, para casa do meu irmão, casado, onde só existíamos os 3, ainda não haviam crianças, também ninguém estava interessado nas minhas opiniões ou no que eu sentia, e lá fui conversando aqui e ali, a pouco e pouco, com este e aquele, que julgava amigo, conhecido, ia expressando a medo as minhas opiniões sobre os mais variados temas. Cada vez mais quando vinha a casa de meus pais, a minha casa, como eu dizia naquela altura, ia conversando cada vez mais com a minha mãe, com o meu pai, já não tinha avô, já não tinha avó, e as madrinhas tinha-as deixado em paz, deixei de frequentar "a casa". Quando dizia em pequena que ia a casa das madrinhas, costumava dizer: vou lá a casa! Mas era uma frase que todos dizíamos, lá a casa, como se essa casa, fosse uma extensão da nossa casa.
A conversa com a minha mãe era deliciosa, falávamos de tudo o que podíamos, repetindo vezes sem conta as mesmas conversas, até ficarmos esclarecidas, por vezes o meu pai entrava na conversa, mas o bom mesmo era a nossa conversa de mulheres.
Durante muito tempo, agora que a minha mãe já partiu não sei bem para onde nem porquê, nunca tínhamos falado desta separação evidente, ainda pego no telefone por volta das 6 das tarde para lhe falar, fico agarrada ao telefone à procura do número na minha memória, memória que me atraiçoa  porque apagou o número de telefone da minha casa.
Então procuro as filhas, falo com a mais nova, falo com a mais velha, espero que a neta fique mais velhinha para falar também com ela, coisas nossas, coisas de mulheres, conselhos de mulheres para mulheres.
As minhas opiniões são ainda muito cautelosas agora, mas passei uma fase em que as expunha aos 4 ventos, a quem passasse, trocei de alguns, aplaudi outros, mostrei-me, sobretudo era uma montra verbal de todas as minhas emoções, paixões e outras coisas que ainda não tinha pensado o suficiente mas defendia como verdade última.
Cresci e agora oiço, quando me pedem opino, mas voltei a treinar: sim, não, obrigada.
A falta que a minha mãe me faz, a falta que a minha mãe me faz, a falta que a minha mãe me faz...

domingo, 12 de outubro de 2014

Mudanças

E chegou, um pouco cedo demais, mas chegou. O Inverno mesmo, nem sequer passou pelo Outono, foi directo, com muita chuva, vento forte, céu completamente tapado de nuvens. Ainda saímos de manhã e um bocadito à tarde, mas estava muito desagradável. Demos uma volta à roupa de Verão, tirámos a que é para dar, guardámos a que já não dá para vestir agora e voltamos a pôr no armário, pronta a usar, a roupa de meia estação e mesmo de Inverno.
Nada que se compare com as arrumações da minha mãe, ou mesmo das madrinhas, das madrinhas ainda era melhor, os armários eram muito altos, ou eu na altura era muito pequena. Os casacos, os vestidos e os sapatos cheiravam todos a naftalina. A mudança começava ainda em pleno Verão, era preciso verificar como estavam, pôr ao ar, arejavam durante dias, vestiam-se para verificar da necessidade de algum pequeno arranjo, ou então eram para dar e aí às vezes calhava-me a mim, porque o que as madrinhas não queriam, normalmente a minha mãe aproveitava. Claro que elas, as madrinhas faziam as devidas recomendações, faziam os novos desenhos que a minha mãe executava com mestria, e surgiam sempre modelos no top da moda, era a rapariga que vestia melhor em Cabeção, o Tonho Afonso costumava dizer que eu era a rapariga com o "rabo mais bonito" e ninguém ficava ofendido, eu simplesmente não ligava, era demasiado velho, gordo e falava demais para o meu gosto, não valia a pena dizer nada, nem os meus pais diziam nada e as madrinhas recomendavam " orelhas moucas" não se dá atenção senão ao que merece a pena e isso é uma conversa sem interesse, e morria assim o assunto do meu rabo.
Acabadas as mudanças dos armários das madrinhas, mudança que demorava bem umas semanas, porque aproveitava-se e começava-se alguma roupa para a próxima estação, às vezes a minha mãe ia ajudar a cozer, a tia Albertina também e assim era muito mais interessante, as conversas não tinham fim, não me lembro se a gente lanchava, mas com certeza que sim, a minha avó não participava da costura mas costumava ir para junto delas conversar, falava-se de tudo e de vez em quando ela fazia-me torradas com toucinho, mas ia comer para a cozinha, nunca se comia ao pé da costura porque podíamos pôr nódoas e isso era o pior que podia acontecer. A madrinha Fernanda sabia cortar e cozer muito bem e também tinha muito gosto na escolha dos modelos, a minha mãe e a tia Albertina costuravam com muita perfeição.
Quando acabava essa azáfama, passávamos para a minha casa, e quando a madrinha Toninha era mais nova também gostava de ir para a minha casa para opinar sobre as roupas, não costurava nem limpava, mas opinava e isso era muito bom. Demorávamos uma tarde, a minha avó também aparecia, mas os homens permaneciam longe, podiam espreitar, pouco mais.
Eu faço as mudanças com o meu PQ, sem ele era uma tarefa hercúlea, as caixas devem ir para o armário nas últimas prateleiras e só ele lá chega e mesmo assim tem que pôr-se em cima duma cadeira alta. A minha roupa não cheira a naftalina e por isso não precisa de apanhar ar, também não sei transformar nada, de modo que a roupa que não serve, vai para dar, arranjo sempre quem eu acho que aproveita. Não sei cozer à máquina, não sei cortar, não tenho muito gosto para escolher os modelos, normalmente vou à loja e tento encontrar um modelo bonito. Olhando para trás a minha mãe e as madrinhas tinham muito gosto e durante toda a minha meninice e juventude andei muito bem vestida, com roupa transformada a maior parte das vezes, noutras alturas as madrinhas compravam em Lisboa os tecidos que a minha mãe e a tia Albertina costuravam em lindos vestidos e não só, tinha também saias e casacos a condizer, com cascóis e cintos, saias calças, calças, vestidos compridos e outros muito curtos, enfim "andava na moda".
Agora também, já não tenho "o rabo mais bonito de Cabeção", mas ainda assim sinto-me muito bem.
A chuva e o vento já chegaram, sei que o sol ainda vai voltar e percebo que dentro de mim o mau tempo passou neste Verão que me ressuscitou, trago no coração as tardes de sol, os dias cheios das brincadeiras da minha neta, os dias cheios de beleza do Bósforo e do amor do meu PQ, estou pronta.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Chama a empregada

A saída do hotel estava marcada para as 5h e 30m da manhã, obrigava a deixar tudo arrumado de véspera e levantar às 4h e 30m, sabemos os dois que necessitamos de uma hora para nos prepararmos para sair sem tomarmos o pequeno almoço. Assim fizemos, despertador do telemóvel ligado, pedido na recepção para nos acordarem à hora prevista, um pãozinho com queijo arranjado ao jantar e toca a dormir. Na verdade deitá-mo-nos à hora habitual, ainda fomos assistir ao espectáculo do hotel que se chamava : o Sultão. Compreendia um corpo de baile engraçado e a história foi contada em Inglês difícil, um Inglês com sotaque Turco, mas deu para perceber que houve uma luta por umas terras, raptaram as raparigas para o harém do Sultão, obviamente escolheu a mais bela, a pobre estava apaixonada por um dos bárbaros que fazia parte dos empregados do Sultão que as raptaram. Se não era assim, foi assim que entendi. Muitas peripécias pelo meio e a moça lá acabou queimada numa enorme fogueira, mais umas danças que faziam lembrar as danças da URSS, portanto não sei a que país agora pertencem e o dançarino que roda e a saia também roda durante uma infinidade de tempo sem cair tontozinho para o lado. Foi bom de ver, gostámos e toca a ir para a cama, porque o tempo ia ser escasso para uma noite reparadora, mas tudo bem, as saudades da neta, das filhas e do genro, mais da casa e dos nossos queridos animais nossos amigos  eram tantas, que não fazia mal nenhum o tempo ser curto.
A manhã chegou logo, por acaso eu acordei na altura em que a recepção telefona, tudo calmo e tranquilo. Efectuado o check out, esperámos tranquilamente no hall exterior do hotel pelo transfere, tudo a horas, chegámos ao aeroporto com tempo mais que suficiente para fazer o chek in, tomar o pequeno almoço, dar uma vista de olhos às lojas e embarcar, sem stress.
Durante o caminho entre o hotel e o aeroporto verifiquei com agrado que a via rápida tinha imensas estações de serviço, abertas, com muitas luzes, o que me descansou não fosse ter um daqueles imprevistos intestinais que obrigassem a uma paragem estratégica. A viagem foi tranquila. Tomámos o pequeno almoço, meia de leite com café turco, pois claro, eu comi o pãozinho com queijo que levava na mala e ainda fui dar umas dentaditas no bolo do meu PQ mas que não me caiu muito e até comi pouco. Na sala de embarque parece que o meu estômago começou a dar um pequeno sinal e resolvi tomar uma água mineral que na verdade ajudou pouco e lá fomos pela manga tranquilamente para o nosso lugar, o número 7, bem à frente graças a Deus e aos Céus. À nossa frente 2 filas de bancos e depois a classe executiva. Calma e tranquilamente, cinto colocado, livro pronto para quando o avião estabilizasse começar a leitura, a viagem até Istambul era cerca de 55 minutos, nada de grave e se há coisas que eu gosto de sentir é o avião a levantar, foi sempre a parte que mais gostei. Parecia-me no entanto que o meu estômago continuava a querer dizer-me que não estava muito bem e puxei do saco do enjoo para estar preparada para a eventualidade nada provável aliás de vomitar, mas uma mulher prevenida vale por duas.
O que se passou a seguir não sei o que foi, mas a sequência foi mais ou menos esta:
A má disposição aumentou à velocidade da luz e acompanhando as náuseas com uma baba já a escorrer para dentro do saco do enjoo o intestino avisou-me que estava prestes a soltar-se, a acompanhar estas sensações comecei a ficar cheia de suores frios e prestes a desmaiar, o avião estava a levantar voo e eu a desmaiar! O meu PQ sem saber o que fazer olhava-me com um ar de aflição e com um pedido mudo, só quem conhece sabe:
Ele - Por favor,aguenta-te...
Eu - Chama a empregada, em estilo de suplica
Ele - Aguenta-te...
Eu - Chama a empregada, quero deitar-me vou cair do banco.
Desabotoei o cinto de segurança, dei de caras com a hospedeira que estava sentada e que com a mão me pede, também ela, whait!!!
Eu - Chama a empregada, chama a empregada...
E continuei a chamar a empregada, mas continuava sentada no banco a escorregar, a sentir-me a babar e o intestino prestes a explodi no banco!!!! Ninguém está a perceber que eu vou fazer tudo neste banco e que isso vai ser um desastre de porcaria e mau cheiro???
Quando achei que o meu mundo ia acabar o comandante diz qualquer coisa pelo altifalante, a hospedeira está à minha beira e eu sussurro suplicando: bathroom please!
Ela pega-me pelas axilas, mais 2 rapazinhos fardados um de cada lado, o meu PQ atrás da hospedeira e todos os olhinhos que havia e não havia no avião, olhando-nos. Graças aos céus que a casa de banho estava ao alcance de duas dúzias de passos, entrei, tive tempo de tirar a cuequita, sentar-me e encostar-me à bacia da casa de banho e nesse momento senti que todos os anjos e arcanjos, Deus e os meus antepassados estiveram comigo neste momento de loucura. A porta ainda aberta da casa de banho e já eu me ia sentindo aliviada... o meu PQ quase se vomitava com o cheiro, mas foi  empurrado pela hospedeira para dentro da casa de banho, que uma alma caridosa fechou, porque o cheiro fétido de alguém que não defecava há meses estava paulatinamente a invadir o corredor da classe executiva e ia caminhando avião fora. Não sei quanto tempo ali estivemos os dois, o meu PQ aguentou estoicamente com um sorriso nos lábios, e de vez em quando uma náusea mais sonora que ainda suspeitei poder tornar-se em vómito, enfim lá estivemos os dois fechados. Passado o mau tempo, saímos com a sensação do dever cumprido, não tínhamos sujado nada, foi um momento limpo.
Ao sentar-me num banco só para mim, a convite da hospedeira percebi que tínhamos iniciado a descida, ó Deus dos Céus porque me abandonais....pouco tempo depois, levanto-me e sussurrando digo no meu melhor Inglês:
Bathroom please.
Resposta pronta do rapazinho que ia sentado junto a ela, a qual já estava trancada porque estavamos em descida, ele com um sorriso amarelo nos lábios, sem mais perguntas: please, come in.
E lá entro novamente para aquele delicioso cubículo até o avião quase chegar à pista, felizmente sem ter feito qualquer porcaria, senti-me feliz, sou uma mocinha muito asseada.
Avião na pista, sacos nas mãos e lá saímos do avião com a benção deles todos que finalmente se viram livres de nós.
A pouco e pouco as forças voltavam e eu cada vez a sentir-me melhor, entrei no aeroporto de Istambul, fizemos tudo o que precisávamos e ao aperceber-me que havia uma pequeno bazar à vista corri para ele e iniciei as penúltimas compras, muito mais bem disposta.
Pareceu-me que de vez em quando, alguém cochichava ao ver-me passar, mas na certa era desconfiança minha, ninguém me ficou a conhecer, ninguém mais se vai lembrar de mim, se Deus quiser.





terça-feira, 19 de agosto de 2014

Que canseira

2º Dia de férias, só por si já é complicado, ter a minha neta comigo e com o meu PQ, só os dois, ainda mais stressante é, mas agora que já está tudo calmo e tranquilo e eu tenho finalmente o meu computador tratado, limpo e desinfectado, parece que o pobre carregava os vírus todos do planeta, é uma fonte de calma e tranquilidade. A minha querida neta faz-me sair da minha zona de conforto e isso é bom e mau, é bom porque me mostra duma forma tranquila que eu ainda sou capaz, por outro lado, ao sair dessa zona, a minha zona de confiança, sinto-me insegura, acanhada, desconfiada de mim, logo fico muito desconfiada com toda a gente que me rodeia. Agora sinto-me a respirar, mas como é apenas o 2º dia ainda não sei que fazer ao tempo, ainda não sei que fazer comigo, na verdade a minha neta não deixa, é bom e mau, com saldo positivo.
2ºDia de férias, de manhã praia, com a minha neta sempre a pé, raramente pede colo, se pudesse ser era eu que lhe pedia: dá colo à avó!
Na praia não é para ler o jornal, nem o livro, nem estar sem fazer nada, é para ir pôr creme na neta e no avô, é para andar à beira mar sempre a andar sem descansar, até chegar a uma altura em que explico: temos que voltar a praia acaba aqui! Porque, senão o caminho era sempre para a frente, e se possível fosse, caminhávamos do Carvalhal até Melides, andando, andando. Vale que ela é pequenina e acha que a avó tem razão, que a praia acaba quando a avó se cansa, nessa altura voltamos para trás. Depois é ficar a brincar um bocadinho à beira mar a fugir das ondas, a correr à frente delas, a molhar os pés, e hoje foi só isso, molhámos muito os pés.
Voltámos para o chapéu, yogurte e banana e brincadeira com a amiguinha, graças a Deus, momento para ler a correr o jornal, folhear o livro, arrumar as toalhas e caminhar para o carro, nunca pediu colo, anda sempre a pé e desembaraçada, faz-me sentir até mal, sinto tanta preguiça e desejo ficar sem fazer nada. Em casa temos a Zulmira que nos prepara tudo o resto, almoçámos e sesta, pensava eu, qual não foi o meu espanto quando acordei da sesta e a minha querida estava a brincar na sala com o avó, a sesta dela tinha sido muito rápida. Lanche, brincar, piscina, banho. Vestimos a rigor e passeio de carro, aí, com o balancear a pequena adormeceu, tomámos o café e a empada na bomba da gasolina do costume, mas junto ao carro de porta aberta a olhar enlevados para o soninho reparador da catraia. Continente, comprar mais umas coisas em falta e a menina arregala os olhos, acorda bem disposta como se tivesse dormido uma grande sesta, e toca a andaricar pelos corredores do supermercado, escolheu uma vela rosa muito cheirosa e casa. Quintal, brincadeira com o avô, andaram a mudar a corda do estendor, jantar. Passeio com os cães, e a moça sempre a correr e a dada altura sorrindo diz: corre avó, corre. E eu corri, o que pude, o avô correu também, e os cães nem se fala, estavam satisfeitos com tanta agitação. Casa, mudar fralda, lavar dentes chupeta e mamão. Finalmente cama.
Estou exausta. Mas que cansaço bom, amanhã há mais.
Que bom já ter outra vez computador, tanta coisa boa, não há coração que aguente!

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Verão com muito sol

Estou melhor. Não sei se é do sol, se do yoga, se do trabalho, mas tenho mais vontade de "fazer". Já olho para a casa e vejo a necessidade de alterar alguns espaços, ou comprar o cortinado para o quarto da filha mais velha, ou mudar uma flor, ontem fomos comprar mais umas flores e terra para ir mudando os vasos. Vou devagarinho, sentir-me viva e gostar de mim, ter vontade de mexer, ter vontade de mudar, ter vontade de estar viva e gostar dos dias e das noites, essa sensação faz toda a diferença. No trabalho, de manhã ainda me custa um bocadito, custa-me a passar a manhã, não tenho paciência para mim quanto mais para os outros, quem mais sofre são as administrativas, algumas que não me conhecem, ficam a olhar-me como se tivesse vindo de outro mundo e aterrado ali, e é verdade, sou extra-terrestre; à tarde a coisa corre melhor, mais tranquila, tipico da depressão, percebo isso, mas ainda tenho alguma dificuldade em controlar-me, e penso no Verão, nas minhas férias grandes, nos dias do tamanho de meses, tinha tempo para tudo e mais um par de botas, não tinhamos televisão, nem playstation, nem tablets, nem telemóveis, nem outros jogos que nem sei o nome, mas que põem as crianças a teclar, teclar, teclar, a engordar, engordar, engordar...
Quando me deparo com esses miúdos, obesos ou a caminhar para a obesidade, fechados em casa o dia todo, e a noite, sem amigos, sem falarem com os pais, andando cada um para seu lado, fico sem paciência, ainda me dá mais vontade de fugir, de deixar tudo, agarrar numa bicicleta e vaguear por aí, apesar de ter consciência que não sei andar de bicicleta, mas tenho essa intenção, de aprender.


Que o sol me acaricie,
dia e noite
me encha a alma de energia

Vou guardar esse bem estar,
vou guardar esse amor 
e
Aprender a soltar-me, a dançar e a rir de mim,
a correr, a saltar e beijar o sol, a terra e o mar
dia e noite
e
deixar a energia vaguear no meu coração
sem pressas, sem medos, dançando,

que o sol me acaricie
e
me encha a alma de energia

dia e noite

porque sei que vou cair
e
precisar do teu abraço, dos teus beijos e sussurros
do teu olhar,
esse olhar, que me acaricia dia e noite
me enche a alma de energia
e
transforma esse bem estar, esse amor
em terna eternidade

Que o sol não me falte









sábado, 5 de julho de 2014

Engano-me e sei

Quando não venho escrever é porque "bati no chão". A escrita é para mim um escape, um momento de bem-estar, uma benção, quando não consigo nem abrir o computador é porque estou depressivamente deprimida. Tenho andado assim e tudo me serve para ficar mais depré: vou às compras e os vestidos não me caiem bem, visto o 44 e não consigo vestir o 42, mas privo-me de comer gelados, comida mais calórica, ando um pouco todos os dias, e faço yoga 2 x semana. Se sei o que preciso fazer? Acho que sei, lido com situações semelhantes todos os dias:
Menopausa, ninho vazio, excesso de peso e hipertensão + intolerância à glicémia, ou mais vulgarmente conhecida, pré-diabetes, com humor lábil, por vezes, poucas, lágrimas, um sorriso.
Diagnóstico - depressão versus bipolaridade lábil, sedentarismo, o resto vem por acrescimo.
Programa a curto prazo - incluir na dieta os vegetais diários em quantidade, retirar as gorduras e o açucar, comer apenas as 3 peças de fruta e beber regularmente os 2 litros de água. Caminhar 1 hora por dia e manter o yoga.
Programa a médio prazo - uma viagem
Programa a longo prazo - deixar de ser doida e cumprir com o programa a curto prazo, preserverança total, escolher roupa boa ou mandar fazer, já não tenho o corpo que tinha mas não sou de "deitar fora" e o 44 não é de todo um número difícil.
Então porque me deixo enredar em mim e deixo-me dia após dia ser invadida por esta tristeza? Que se passa na minha cabeça que comanda todo o meu corpo, até o meu metabolismo?
Escrevo e encontro-me na escrita, uma folha branca de papel é para mim um verdadeiro anti-depressivo, então porque me acanho e me fecho sobre mim que nem um caracol, sem querer ver o sol?
Penso que quando começar a reforma vou fazer tudo o que agora não consigo, porque chego a casa muito cansada! Engano-me e sei! Sei que se me mexer tenho mais capacidade para o trabalho e reduzo o nível de depressão, sei isso tudo, ensino isso diariamente e que faço?
Tudo ao contrário, não fosse o meu PQ e já cá não estava, a depressão mata. Não preciso tomar medicação porque o tratamento está dentro de mim. Andei tanto tempo na Alice, ela achou que eu estava melhor, disse-me que não precisava mais ir ter com ela, e eu disse que sim.
Andei no Dr. Bráulio, eu achei que estava melhor, disse-lhe que não merecia a pena continuar a ir ter com ele, sentia-me melhor, ele sorriu, disse-me que quando precisasse podia sempre voltar, e eu disse que sim.
Mas tenho andado este tempo todo a dizer-me que não.
Que o tempo quente se mantenha, que o sol não me abandone e eu vou ganhar forças para reduzir os meus níveis de depressão, reduzir o meu sedentarismo, dizer-me que sim, gostar de mim.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Repetições


Desde há cerca de 20 anos que escrevo para o nosso jornal aqui da vila, desta vez apeteceu-me transcrever o artigo que escrevi para o mês de Abril de 2014.
 "A Nossa Saúde
Repetir é uma das formas que temos para aprender, fazemos isso em crianças, para aprender as primeiras palavras, fazemos isso para decorarmos matéria para os exames, continuamos a repetir-nos quando temos mais idade, para não esquecermos. Não faz mal repetir, falar e falar sobre o que nos atormenta ou pelo contrário, falarmos das coisas que mais adoramos ou até das que nos metem medo. Comemorar datas, aniversários, épocas festivas religiosas ou pagãs, Natal, Páscoa, equinócios ou carnavais, são importantes para nos libertarem da rotina, para nos fazerem acreditar que há mais vida para além do défice, da corrupção de influências, das burlas económicas / financeiras, dos ajustes orçamentais que acabam sempre na redução de salários, pensões e afins.
Abril é mês de revolução, passados 40 anos, é preciso continuar a repetir e a falar da liberdade, das conquistas, das perdas, dos ganhos, dos sonhos, porque sonhar é preciso.
Em cada dia que passa, sou confrontada cada vez com mais frequência com sonhos perdidos, com vidas destroçadas, com dores e lutos, então preciso agarrar-me a sonhos para poder lidar melhor com a realidade que me entra consultório dentro.
Partilhar faz bem, por isso partilho. Não sei como ajudar a resolver uma das últimas questões que me foi dado tomar conhecimento:
- F.P. homem com 68 anos, com cancro do colon, colostomizado, a viver sozinho, numa habitação que ainda não visitei, mas que sem grande esforço imagino, com uma higiene deficiente, procura-me por dor forte no membro inferior esquerdo. Depois de ter efectuado o exame objectivo, confrontei-me com um emagrecimento marcado, de ter o diagnóstico agravado com uma anemia ferropénica, de ter decidido a terapêutica para a dor que o trouxe à consulta, olhando bem para ele percebi que estava triste demais, por isso ficámos mais um pouco e conversámos sobre a vida, a sua vida, a sua solidão, e sugeri:
- E se fosse passar um tempo com o filho?
-Não, não posso, ele tem uma casa muito pequenina, só tem 2 quartinhos, tenho 2 netas, não pode ser!
- Então e se fosse passar o dia ao Centro de Dia tinha companhia, tratavam-lhe da roupa, da comida, sentia-se talvez melhor senhor F.P.  
- Não senhora Doutora!
Choramingando, continua em surdina:
-O meu filho está desempregado, o dinheiro que tenho da pensão é para ele!
E ficámos em silêncio.
É preciso repetir, tantas vezes quantas as necessárias, para aprendermos, para decorarmos, para não esquecermos."
Cada um de nós tem cerca de 30 histórias para contar ao longo da nossa vida, parece que eu vou arranjado um pouco mais. 
Ultimamente tenho tido dias com muita preguiça, muito cansaço e o sono agarra-me em cada momento em que me sento para descansar. Espero com o chegar do Verão que as coisas melhorem, o tempo quente sempre me fez bem, e as tardes no meu quintal dão anos de vida. Vamos ver! 

domingo, 11 de maio de 2014

Paciência

Estou um bocadito agoniado com a época de caça ao voto que se vai iniciar hoje, cada vez acho que os políticos são mais aldrabões, mas não são só os nossos, os políticos são igualmente aldrabões por esse mundo fóra. Não sei o que é possível fazer para que esta carneirisse deixe de existir, esta possibilidade de votar sempre nos mesmos devia poder ser alterada, mas não sei como, quem quer ser o novo 1º ministro? Faz-me lembrar a história da carochinha, que se pôs à janela: quem quer casar com a carochinha que é bonita e formosinha? Não tenho paciência para esta gente!
 Não vi o festival da canção, vi apenas "aquela figurinha" que ganhou, homem, mais mulher que homem, vestido à mulher com todos os trejeitos de uma menina tonta, com uma barba ridícula, e ainda por cima vindo da Áustria, o que é que se passa? O mundo está a mudar ou está tudo doido?  Não tenho paciência para esta gente!
O professor Marcelo diz que está tudo doido, quando comenta a política nacional, eu digo que está tudo doido, mas o mundo em geral.
Assusta-me a minha querida neta estar a crescer numa doidice destas, o que vale é que ela parece estar a crescer tranquilamente, com os pézinhos bem assentes no chão, esta primavera já aprendeu a gostar de caracóis o que é bom, já faz companhia.
A falta que faz ter companhia, antigamente ficava muito contente quando ia a Cabeção e percebia o contentamento dos meus pais quando a gente chegava, depois quando a família começou a crescer já não sabia se ficavam contentes por mim, ou apenas porque a família era cada vez maior, agora percebo um bocadinho, ficamos contentes com a companhia, ponto. Primeiro ficamos contentes com as filhas, depois ficamos ainda mais contentes porque para além das filhas ainda temos os seus homens e ainda mais contentes ficamos quando começam a  aparecer os netos, no nosso caso, ainda só uma neta. Ficamos contentes sobretudo e acima de tudo que gostam de nós como gostamos deles todos, ficamos contentes que nos beijem como gostamos de beijar, que nos cocem as costas como  gostamos de fazer massagens nas costas, nos pés, em todo o lado, ficamos contentes porque podemos conversar ao vivo, cada vez gostamos mais de conversar ao vivo, sem ser pelo telefone, skype e afins, como gostamos de conversar frente a frente, gostamos também e muito dos silêncios, porque são silêncios tão saborosos, silêncios acompanhados, são do melhor que há. A felicidade que é apenas poder sentir que não estamos sós em casa, a nossa casa fica demasiado grande quando estamos sózinhos.
Afinal não me assustam só os políticos, também me sinto assustada com a solidão. Tenho muita coisa que fazer, mas fico enrolada sobre mim, a pensar, a sentir, a fazer de conta que leio, a sonhar, a não fazer nada, é assim a preguiça ou tão só a possibilidade de descansar?
Baralhada, ainda ando muito baralhada, estou um bocadito farta de mim!   

terça-feira, 22 de abril de 2014

Uma questão de bom senso

A Primavera tarda em chegar e nós cá vamos andando com a nossa depressãozinha. Hoje fui ao cabeleireiro e arranjei os pés e as mãos, pois as 3, eu e as duas pequenas que me prestaram cuidados, as 3 estavámos todas com uma neura difícil de avaliar qual a maior, caso isso fosse possível. Por um lado foi bom perceber que não estou sózinha nesse sentir as emoções, mas por outro, assustou-me: se contabilizassemos as pessoas com falta de vontade para executar a mais pequena tarefa, seria um número impressionante. E se para além dessa contabilidade, ainda fossemos contabilizar a quantidade de pessoas que têm pensamentos auto destrutivos ainda era pior, vale é que o que predomina no fim é o bom senso. Dizia-me a cabeleireira com um olhar de sofrimento:
- Não imagina a quantidade de vezes que passo na ponte 25 de Abril e fecho bem as janelas, acelero o carro, sabe, quanto mais depressa passar, menos probabilidade vou ter de parar e atirar-me lá de cima.
Ollho-a e vejo um sofrimento imenso, uma face triste, com uns olhos que já desistiram, mas uns lábios esborratados de baton vermelho a pedirem: olhem por mim, preciso de colo, e continuou:
- Acho que o meu problema maior são os meus traumas de infância, ainda guardo da minha infância esses problemas, agora com 50 anos de idade parece-me que cada vez estão mais perto de mim.
Não preciso dizer nada, ela vai continuando a desfiar o seu sofrimento, olho-a com compaixão e com vontade de lhe prestar os meus cuidados ali mesmo, mas o barulho do secador com a música de fundo, e a minha audição a 40% não permitiram mais do que um sorriso de compreensão e no fim cedo-lhe o telefone da minha psicóloga, as 2 ficaram de marcar consulta.
Que sofrimento é este que nos faz pensar e dizer coisas que sabemos melhor que ninguém que estão errados? O que precisamos fazer para alcançarmos um pouco mais de felicidade? O que precisamos fazer para sermos capazes de amar, amar perdidamente,... amar mais este aquele o outro e toda a gente... amar, amar e não amar ninguém...Os poetas transformam em arte a sua depressão, os artistas plásticos em belas telas, os músicos em belas sinfonias, nós, os simples, não transformamos nada, apenas nos lamentamos, nos queixamos, sofremos sem qualquer transformação, lambemos, lambemos, lambemos, até ficarmos cansados, com as feridas a sangrar...
Decidi que mesmo que a Primavera este ano não chegue eu vou começar a andar, começo amanhã, por isso hoje comprei todo o equipamento, andar aumenta a dopamina, hormona de felicidade, andar, andar, andar só por andar vai fazer-me bem.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Tristeza

Passou o Natal, o Carnaval, a Páscoa, os meus anos, e o aninho da minha neta, tão pouco tempo que passou e tantas as emoções para guardar no meu coração. Ainda sinto o peso do Inverno no meu corpo, todas as minhas células reclamam pelo sol, mas fico-me pelo desejo, porque sinto um cansaço interior maior que o mundo, não tenho já vontade sequer de refilar contra a troika, os ordenados, os bancos, que nos levam o dinheiro que não pedimos emprestado, mas que temos que pagar no nosso ordenado, e estou a lembrar-me dos casos que caducam e que permitem a fuga aos pagamentos das multas já decretadas, só o nosso ordenado não pode fugir aos acertos. Sinto-me triste pela troika e pelo dinheiro que cada português tem que pagar até ao fim dos nossos dias, as reformas vão baixar até 2060, ora eu em 2060 se calhar já não preciso, se fiz agora 58 anos, não quero saber que idade terei, mas deve ser alguma, agora as minhas queridas filhas nessa altura deviam ter esse direito, mas não vão ter. O Estado Social está paulatinamente a acabar, no entanto não nos deixam ficar com o dinheiro que ainda estamos a descontar para essas reformas que vão deixar de existir, estou baralhada e cansada, se pudesse sentir um nico de força organizava uma revolução. Estou um pouco farta de ouvir os financeiros, economistas e outros aldrabões a falarem sobre a dívida, a vida que não vamos ter, porque para vivermos necessitamos de ter algum dinheiro, algum carinho e muito amor.
A minha vida não está facilitada, nem era susposto, mas também não valia a pena tanta coisa na minha cabeça e no meu coração a baralhar-me completamente. Tirei 4 dias de férias, não foi boa ideia, os dias vão fazer-me ficar ainda mais baralhada, não sei o que hei-de fazer, quando me sentir quase a começar a descansar retomo a actividade, ok depois vejo, agora descanso a cabeça, não luto contra o que me chega ao coração e à mente, aceito, afinal hoje é 2ª feira, dia em que o meu avô de avental lavado, gritava no cimo da nossa rua:
Ai quem mi dera morrer!

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Eleição após eleição

Apetecia-me mostrar a toda a gente as minhas lágrimas, mostrar a toda a gente a dor que tenho guardada no meu coração, mostrar a toda a gente a vontade que tenho em pedir ao Além permissão para mudar de Terra, de País, de vila, apenas a casa, a minha casa e a minha família são para manter, tudo o resto pode ser atirado ao vento.
Estas discussões actuais da dívida, do FMI, do euro, da economia e das finanças, mais o ordenado mínimo fazem-me sentir vergonha. Vergonha de ser, estar, viver em Portugal, na UE no mundo, neste Mundo, por isso preciso tanto sair da Terra e ir viver para outro planeta. Não sou mais capaz de acompanhar as notícias: o ordenado mínimo vai subir 15 euros por mês, mas só para o ano, em Portugal, o país que tem o ordenado mínimo mais pequeno da UE, quem fala desse assunto e parece preocupado, os nossos queridos governantes, não sabem o que é o ordenado mínimo, fazem uma ideia, tão reduzida, do que é sobreviver com essa miséria após um mês de trabalho. Empresa que não pode aumentar 15 euros por mês aos seus trabalhadores não está em boas condições económico-financeiras e já devia ter encerrado.
Estou desiludida com esta gente, exactamente, nós os Portugueses, envergonham-nos diariamente, deixaram de ter brio, orgulho, honestidade, somos um grupo de gente sem carácter, sem princípios. Podem dizer: isso são os nossos governantes! Pois são, mas nós temos toda a culpa que permitimos o seu regresso, eleição após eleição, os melhores de entre nós querem é afastamento da política, querem é distância das vergonhas que se passam nas vendas, nas compras, nas multas que afinal não se pagam porque caducou o processo. Agora até conseguimos vender carruagens para a Venezuela em condições pouco dignas, que ainda está a ser investigado! Afinal? Diariamente os jornais, os telejornais nos mostram e recordam comportamentos vergonhosos, desligo-me da realidade, não sem sentir dentro de mim as lágrimas, não da revolta, mas da vergonha, da tristeza, do orgulho ferido, da inocência roubada. Que dor!

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Intervalos

A minha vida é feita de dias bons, outros assim assim, por vezes, de dias ansiosos, mas sempre com muita actividade, e nesta altura do ano, cada vez mais aprecio um bom silêncio, um bom descanso, um intervalo, tanto que eu preciso de um intervalo. Este fim-de-semana estive com as minhas pequenas, dormi a sesta com a minha neta e senti-me reconfortada, foi um excelente intervalo. Acho que esse facto, o de ter necessidade de fazer intervalos ao longo do dia tem a ver apenas comigo e não com a minha idade, não é por ter feito 58 anos que me sinto mais exausta, sinto-me exausta porque o dia se mantém inalterado, sempre a trabalhar, o fim-de-semana quando chega já vem tarde. Na verdade, a 2ª feira é um dia difícil, a 3ª feira a existir de via ser feriado, o trabalho sabe bem na 4ª e na 5ª feira, depois a 6ª era mais para preparar o fim-de-semana, não é nada disso que acontece. Trabalho de 2ª a 6ª feira sem intervalos. O que me vale é que a Primavera chegou, o calor já se faz sentir e amanhã é 3ª feira e vai estar bom tempo.
Estou tão cansada que até me custa estar a escrever, por isso vou dormir.
Os dias bons sucedem-se, intervalados com dias assim assim.

segunda-feira, 24 de março de 2014

De mansinho

Estou saturada das notícias, estou saturada da televisão, como oiço mal e ainda não comprei o aparelho auditivo salvador, nem música consigo ouvir, de modo que fico aninhada neste canto, a ler, a escrever, a fazer ponto de cruz e a pensar, em ontem, hoje e amanhã. Penso alguma coisa, mas não muito, para pensar é preciso estar muito tranquila, descontraída, sem stress, então os pensamentos vêm de mansinho, acho que foi o que esta tarde me aconteceu, os pensamentos a virem de mansinho.
Hoje é dia 24 de Março, a minha avó Maria Antónia fazia anos, a 17 fazia a Madrinha Toninha e a 19 o meu Pai, que por sinal fazia anos no dia do Pai, economizávamos uma prenda, às vezes, outras vezes arranjávamos uma prenda maior. A minha avó não recebia prendas, acho que também não tinha bolo de aniversário, não era habitual, mas sei que logo de manhã, porque vivíamos todos na mesma casa, a nossa casa, logo de manhã eu dizia:
-Parabéns avó, a sua benção!
-Obrigada, Deus te abençoe filha!
Parece-me agora que esta troca de palavras, que eram sempre acompanhadas de beijos, eram mais fortes do que qualquer bolo, prenda ou outra qualquer actividade similar, era um momento muito íntimo, muito meu e dela, ainda que o meu avô ou a minha mãe assistissem a este desenrolar, era um momento só nosso.
À Madrinha Toninha nunca dei prenda, mas por uma razão diferente, era muito inferior a ela, não tinha como comprar-lhe uma prenda, não tinha dinheiro para isso, e a troca de palavras e de afectos era muito diferente, nada de intimidades, tudo muito cerimonial, como convinha à situação, à minha situação de neta da Pató, a empregada! Realmente, ainda não percebo como a minha mãe foi na conversa de me deixar sentir inferior a esta madrinha, a esta família, a minha mãe tão avançada para a época, não gostava e não era inferior a ninguém.
O tempo passa, mas estas memórias voltam por vezes quando os pensamentos nos chegam de mansinho. As memórias da nossa infância são as que mais perduram e as que voltam vestidas sempre de roupagens diferentes, de sensações e até de cheiros diferentes, parece que as carregamos no presente com vista a aprendermos no futuro. As minhas memórias fazem-me bem na maioria das vezes, outras nem tanto, tenho dias, e hoje se pudesse voltar a vivenciar o passado, teria dito ainda com mais amor:
-Parabéns avó, a sua benção!
- Obrigada, Deus te abençoe filha!  

quarta-feira, 19 de março de 2014

Repetições

Estes dias são bons e assim assim, porque têm um bocadinho de saudade misturada. A saudade é boa, porque as memórias que lhe estão associadas são boas, festas de anos, dia do pai, beijos, abraços, prendas e muita conversa, colo misturado com bolos, divino.
Agora, resta-nos a lembrança e o desejo, e não deixamos calar no nosso coração a saudade, porque faz bem, conforta, faz-nos sentir amados à distância de alguns anos.
O aniversário do meu pai era sempre comemorado com um almoço, raramente era jantar, porque ao almoço podíamos juntar quase todos os que convidámos para se juntarem na nossa festa, para além da família, claro. Algumas semanas antes, eu e a minha mãe decidíamos a ementa, com o meu pai a assistir aos preparativos, não queria que faltasse nada, o que mais desejava era que toda a gente se senti-se muito bem na sua casa, e conseguia-o. Depois, combinávamos também os presentes. Os bolos e os doces eram sempre feitos de véspera e de antevéspera, a refeição própriamente dita era preparada também de véspera, de modo que no dia de anos, quase tudo estava pronto, faltava apenas arranjar a mesa, distribuir flores pela casa e esperar tranquilamente pela chegada da família e dos amigos. Nessa altura gostava tanto que ficassem na nossa casa, nesse dia e se possível ficassem para jantar, dormir, almoçar no dia a seguir e depois podiam ir para sua casa. Agora, nesta casa onde vivo, às vezes a minha disponibilidade é menor, mas percebo-me, falta-me o apoio deles, era como se eu estivesse na retaguarda e eles na linha da frente, agora sentir-me na linha da frente acanha-me um pouco, tira-me à vontade, quero convidar, mas quero que entrem, fiquem um pouco e vão embora, como se temesse a permanência, estranho sentimento este!
Não sei quantas vezes já contei esta história, de cada vez que a conto acho que é de uma forma diferente, acrescentando sempre um pormenor ou outro que acaba por fazer a diferença, por isso não faz mal. Sei também que ao longo da nossa vida não temos mais que trinta histórias diferentes para contar, portanto as repetições são inevitáveis, agradáveis e reconfortantes, não podendo ter o meu pai sempre comigo, tenho a saudade deliciosamente embrulhada em saborosas lembranças. Vou conseguir viver e honrar os meus ancestrais em cada dia, em cada festa recordada e em cada festa vivida. A saudade e a lembrança ajudam o caminho que nos leva ao futuro.

sábado, 15 de março de 2014

Coçar as costas e fazer anos

Está novamente a chegar a altura de fazer anos, de certa maneira, já me aborrece, tenho sempre as mesmas dúvidas, as mesmas incertezas, será que devo ficar sózinha, convidar a família alargada, convidar todos, amigos e conhecidos? A filha mais nova torna esta dúvida existencial ,fácil de resolver: convida quem te apetecer! Bom, neste momento práticamente gostava de tudo e de nada, ou antes, gostava de ficar com todos e com ninguém, nada mais simples! Parece que devia sentir-me mais "normal" à medida que o tempo passa, mas é o contrário, a idade não nos dá tranquilidade, o conhecimento talvez, e ainda não tenho o conhecimento suficiente! Lembro-me da minha mãe olhar para mim, quando queria a minha aprovação, e se o meu olhar correspondesse ao seu desejo ela ia em frente, caso contrário, dava -me algumas ideias, conversas e conversas sem fim, falávamos sobre a questão e íamos construindo de acordo com a sua e a minha vontade, muitas vezes dizia:
- Achas bem?
- Acho, mas então e se convidássemos mais o Zé e a Maria, o pai gosta tanto de conversar com eles...
- Não é muita gente para a nossa casa?
- Acho que não, dá para sentar toda a gente à mesa...blablabla
A conversa continuava no outro dia, e no outro, até que ficasse tudo bem organizado na nossa cabeça e no nosso coração; o meu pai ouvia, de vez em quando dava também uma opinião e cada vez ficava melhor organizado o dia e a festa.
Agora sinto-me sózinha, se falo com o meu PQ diz que é como eu quiser, se falo com a minha filha mais nova, diz-me que é como me sentir mais confortável, que bom! Não é essa ajuda que preciso. O que preciso é falar muita vez do mesmo tema, até que fique interiorizado em todos nós, como vai ser!
Não me percebem. Acho que esse problema, de falta de entendimento é transversal a tudo e a todos. É muito difícil fazer-mo-nos entender, dar a conhecer aquilo que precisamos. Devemos cada vez mais saber expressar a nossa necessidade, a vontade de fazer, o nosso interior, é, mal comparado, como quando pedimos para nos coçarem as costas:
- Mais para cima, não, mais para o lado, mais para baixo, no meio, é no meio...
E lá vamos guiando o nosso benfeitor, a arte de sermos coçados nas costas tem que se lhe diga! Se coçam onde precisamos é o céu, senão é um inferno, doloroso, despropositado.
Cada ano parece ser mais difícil organizar o meu dia de anos, acho que não devemos passar por cima das datas que nos são queridas como se nada fosse, assobiando para o lado, as festas grandes ou pequenas, rejuvenescem-nos, por isso festejemos a vida. Vai haver festa!

domingo, 9 de março de 2014

Novas 2ª feiras

Passou. O fim de semana passou, o dia de amanhã traz outra vez uma 2ª feira, dia terrível. O meu avô acho que detestava as 2ª feiras, nunca percebi bem porquê, mas vestia o avental de lavado, um avental azul forte, da mesma cor dos seus olhos, e andava de lado para lado, às vezes parava no cimo da rua e gritava a plenos pulmões:
-Ai quem mi dera morrer!
E continuava tranquilo, a andar de lado para lado, sem sentar o rabo no banco da loja para reparar o que quer que fosse. Parecia que a 2ª feira era uma condenação a mais uma semana de trabalho, igual a tantas outras. Eu sinto o mesmo? Acho que a emoção poderá ser a mesma, com um novo embrulho. Primeiro porque não conserto sapatos, "conserto pessoas", depois porque acabo por ter uma actividade mais atractiva ao fim de semana, e este que passou, foi uma belezura: passei o domingo com as minhas queridas, boa parte do tempo em Cabeção, e não senti tristeza, pelo contrário, parece que ter a minha neta a passear ao pé do restaurante onde fomos almoçar, deu uma nova esperança à nossa vida futura em Cabeção. É certo que não a levei à nossa casa, nem senti vontade de o fazer, fiquei entusiasmada com a ideia de arranjar a casa e na "nova casa" a minha neta vai adorar passar uns dias, assim como as minhas queridas filhas. Podemos combinar e termos a festa da Páscoa sempre em Cabeção, por exemplo, ou o Natal, qualquer festa de modo a tornar-se um motivo para nos juntarmos, um bom motivo, para nos regenerarmos em cada festa. Acho que preciso de dar mais ênfase aos momentos festivos, e este Carnaval senti essa necessidade e não mudei nada, só trabalhei, não houve festa, não fizemos as filhoses e nem nos mascarámos, fez-me falta. Acho que andar de festa em festa é muito bom e apaziguador de almas, servindo também para melhor viver cada 2ª feira, tratando-as como deve ser, como se da vida inteira se trata-se, quero dizer que cada dia deve ser encarado como a vida, e não devemos andar sempre à procura de melhores dias para o trabalho! Estou baralhada, sinto-me baralhada, mas não me sinto mal com isso, pelo contrário, até me sinto feliz:). Que a 2ª feira venha estou preparada meu avô, e imagino-me no cimo da rua em Cabeção e gritar a plenos pulmões:
-Ai quem mi dera viver!
Para arranjar a nossa casa, para ensinar a minha neta, para poder amar e ser amada, para respirar, escrever, sonhar e preparar a vida, dia a dia.
Estou baralhada mesmo.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Almoços e feiras

Alentejano que se preze gosta de almoçar ao meio-dia, a bem dizer, por volta das 11h 45m já olha para o relógio para ter a certeza que à hora certa estará sentado à mesa; o jantar nem é assim tão importante, nem o lanche ou o pequeno almoço, mas o almoço é, por várias razões, uma das quais é porque se levantou cedo, a outra é porque a hora da sesta é sagrada, logo se o almoço se atrasa, a sesta fica comprometida.
Ontem, fomos à feira do queijo de ovelha em Serpa, o costume, já somos habitués, comprámos uns queijos e uns chouriços, paios, provámos queijos e chouriço e pão, tudo muito bom. A feira mais pequena que nos outros anos, o tempo muito desagradável. Começamos a pensar almoçar por volta das 12h, saímos do recinto da feira e dirigimo-nos para o "Molhó bico" - cheio, sem hipótese de haver vaga, muitas marcações. Fomos ao Alentejano, a mesma situação, ao entrarmos na sala de refeições, mesas bem compostas de comida e de gente: que inveja, cheirava tão bem, percebia-se que estavam a almoçar mesmo bem, com tanta satisfação. Continuámos o nosso périplo, corremos para o outro que conhecíamos, estranhámos, estava quase vazio, ok ficámos, já se estava a fazer tarde e só restava a tasca "lebrinha", ou voltar para a feira e petiscar por lá. Ora o Pedra e Sal, oferecia na lista várias hipóteses alentejanas, escolhemos sopa de cação e uma parte do porco que agora não me lembro nome, grelhada. É melhor nem descrever, a sopa de cação de 0 a 10, sendo 10 excelente, ficávamos no 2, pela tentativa, foi de tal maneira desagradável, que apenas comi uma posta de peixe e umas 2 conchas de caldo, o rapaz que servia à mesa, perguntou e eu respondi-lhe:
-Sabe, pedir sopa de cação é sempre um risco e esta  estava um bocadito mal, talvez porque o  peixe não é de boa qualidade!
Resposta pronta do garçon:
- Temos servido esta sopa a semana toda e ninguém se queixou!
Oh meus Deuses, a sopa já dura há 1 semana? Como é que ainda a servem? Desisti de lhe tentar explicar fosse o que fosse, até porque mais pessoas iguais a nós, escolheram este restaurante como última opção e estava a abarrotar de gente, o jovem corria de lado para lado como uma baratinha tonta, paciência.
As febras ou um nome parecido, estavam quentes, grelhadas, com batata frita, ainda petisquei. Terminámos a refeição com uma pêra bebada muito boa, de 0 a 10, dáva-lhe 8, vinha acompanha por chantilly, desnecessariamente. A mesa com toalha de papel e guardanapos de papel, sofrível, pena, porque têm um espaço que podia ser bem acolhedor.
A conta foi em conta, o rapaz explicou que tinha feito uma atenção por causa da sopa de cação, tinha-nos cobrado apenas metade do preço, tentou ser simpático e foi, mas para ser um bom restaurante ainda tem que trabalhar muito. Por alguma razão os outros estavam cheios e este estava às moscas.
Conclusão, foi uma boa feira do queijo de ovelha, para o ano marcamos o almoço de véspera, Alentejano que se preze deve acautelar estas coisas. 

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Energias

A pouco e pouco o sol vem chegando, ainda que com um bocadito de frio. O sábado foi de trabalho, no domingo de manhã fiz uma massagem, que não me libertou completamente do meu lumbago, acho que por ser domingo, e o domingo não é dia para massagem, quando muito é dia para ir à Missa. Cada dia deve ser dedicada à sua tarefa, só assim está tudo devidamente arrumado, mais um pouco e passo a ser, além de uma pessoa depressiva, também obsessiva, não faz mal, ninguém é perfeito; fui às compras, almoçei, fiz uma sesta, tomámos café a seguir ao passeio dominical à aldeia do pico, regressámos a casa, bordei na toalha que já comecei há cerca de 10 anos, quando comecei foi quando a filha mais velha foi para a faculdade, jantámos, a filha mais nova foi para Lisboa, sentei-me no canto do meu sofá e andei a vaguear na net, acabei por aterrar aqui e descansar a cabeça. Escrever descansa-me a cabeça. Viver na província tem destas coisas, é estar em casa, no trabalho, no trabalho e em casa e depois no trabalho novamente; para vermos lojas, cinemas, teatros ou ballets temos que viajar uma hora até Lisboa. Temos coisas boas e outras assim assim; se vivesse em Lisboa ia adorar passar o fim-de-semana no Alentejo, como estou no Alentejo ainda por cima Alentejo Litoral, com 40km de costa, quero ir passar o fim-de-semana a Lisboa, que podemos fazer? Acho que fazemos a ilha em que vivemos, sempre em cada idade, em cada local, em cada estação do ano, sempre à nossa medida, sempre senti essa ilha, portanto a ilha está dentro de mim. Quando vivia em Cabeção, tinha fins-de-semana também assim, sem grande movimento, especialmente quando a primavera tardava em chegar e tínhamos que ficar em casa, só que tinha uma vantagem, tinha grande poder de invenção, de iniciar tarefas, sobretudo trabalhos manuais, acho que nunca levei tanto tempo com uma toalha, como esta que tenho aqui; não interessa, está quase pronta, quando a terminar vou tirar uma foto e se for capaz, junto-a aqui à minha escrita.
As actividades de trabalhos manuais são também uma boa forma de canalizar energia, deixar fluir a energia. Nunca tinha sentido como agora a importância da energia e o que pode acontecer quando bloqueamos esse fluir, inconscientemente. A mim aconteceu-me estar 15 dias, 15 maravilhosos dias com obstipação, sem qualquer outra queixa! Tomei laxantes, fiz massagem abdominal, bebi muita água, tudo o que me poderia ajudar, claro que na tentativa de resolver o problema, fiz clisteres, micros, não como a minha mãe fazia antigamente: o irrigador com água tépida, um litro, um fio de azeite, ela de pé eu deitada de lado, a pipeta do dito enfiada no meu rabito, e a água a entrar dentro do meu intestino grosso e a borbulhar, não era doloroso, apenas desconfortável. Irrigador vazio, ficava deitada de lado o tempo que aguentasse até que ia libertar-me de todos os excessos que tinha acumulado indevidamente e ficava bastante aliviada. Como não tenho irrigador, nessa altura esse tratamento não me passou pela cabeça, se calhar tinha resultado, os microlax não resolveram coisa nenhuma. Fui então ter com o meu instrutor actual de yoga, nessa altura foi apenas e tão só o meu libertador de energia de uma forma mais completa; alinhou-me os chakras com as massagens, recomendou-me uma misturas de sementes e um produto Indiano à base de não sei bem o quê, que apesar de estar um pouco já fora da data de validade foi uma "santa mezinha". O produto ainda ali o tenho, quando for a uma loja Indiana tenho intenções de comprar para ter sempre em casa, acho que para mim foi tão potente que ainda hoje me sinto bem, apesar de já ter passado mais de uma ano; é certo que entretanto também pratico yoga 1 a 2 x por semana o que me vai alinhando; o meu lumbago, ou mais precisamente, lombalgia com irradiação bilateral aos membros inferiores é que precisa ainda de mais alguma ajuda, acho que a natação também pode dar uma mãozinha.
Não sei, mas as palavras são como as cerejas, uma puxa a outra e não tem mais fim a conversa, da ilha interior passei para o intestino, para a natação, para a energia que necessitamos deixar fluir, estou melhor da cabeça?  
Não estou nos meus dias, precisava de ter mais dias para descansar e deixar fluir, mas esses luxos não são para mim, amanhã é dia de trabalho e ainda bem.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Invernos rigorosos

Afinal continua a chover, está frio e à noite, muitas vezes não podemos sair com os cães, porque a chuva miudinha não o permite. É certo que já há malmequeres nos campos, amarelos e brancos, e o meu PQ já deu conta que as andorinhas estão tranquilamente a chegar, eu ainda não as vi.
Sinto-me ainda um bocadito abalada por este Inverno rigoroso, parece até que não vai acabar nunca, mas vai, " o tempo pode tardar mas não vai faltar" se não é assim a frase, é parecida.
A minha neta cada vez anda melhor, ainda não consegue descer os degraus sem ajuda, mas cada dia percebo que está mais desenrascada. As palavras são também mais variadas, já não diz só "olá" a toda a gente, conhecidos, não conhecidos e outros, agora também diz mamã, papá, batata e acho que mais nada; brinca muito e adora bonecos, na próxima feira de Grândola já lhe vou comprar um Nenuco. A minha filha mais nova, queria sempre o mesmo boneco, em cada feira que íamos, de preferência, com a alcofa igual, tecido, tudo. Estou mais descansada, a minha neta já come melhor, está a engordar e a crescer, dia após dia. Dia após dia eu vou ficando mais velhota, sinto-me assim a ficar mais velhota, às vezes acho que sou como a minha bisavó galucha, velhinha, pequenina, mas sempre pronta para trabalhar, a adorar cães, vivo é noutro tempo, tenho outra formação, posso ter uma velhice talvez mais aceitável. Quando chegar essa altura, aquela em que vou precisar de ser cuidada por terceiros, nós costumamos fazer uma declaração para a Segurança Social: necessita de apoio de 3ª pessoa para as actividades de vida diária. Quer isto dizer, que a pessoa não pode viver sózinha. Quando chegar a essa fase, se tiver essa consciência, vou ser eu a decidir da minha vida, fico tão triste quando vejo as dificuldades porque passa a família a empurrar o velho para um lado, para o outro, a querer a todo o custo livrar-se dessa tarefa, que não vou permitir chegar a esse ponto. Não que tivesse acontecido com a minha bisavó, nós tomámos conta dela, também não durou muito, a seguir a ficar sem o cão, mandado abater pela minha avó Maria Antónia porque tinha hematúria e podia pegar doenças, a minha avó Galucha deve ter tido uma AVC, acho eu agora, ficou acamada, e faleceu quando Deus quis, passados uns 15 dias, nem sequer deu para ficar escariada. Lembro-me de lhe ir levar as refeições e da minha avó passar por lá a ver como ela estava, naquela altura não se levavam as pessoas para os hospitais, o médico ia a casa e decidia o que fazer, muito pouco, a não ser esperar e rezar. Se calhar como rezámos pouco ela morreu depressa. Ainda hoje sinto um nó na garganta quando penso nessa altura, o quarto era pequeno, ela estava deitada, sem luz do dia, o quarto era interior, mal se podia sentar para comer, comia pouco, não falava. Não sei se porque não podia, se porque não queria, hoje parece-me que ela não queria, estava triste demais, mas isso é o que eu sinto agora, e o que eu guardei no meu coração amargurado, não quer dizer que corresponda à verdade. A verdade que hoje eu encontro nos velhos é solidão em todos eles, todos desculpam os filhos que estão longe a fazer a sua vida, não podem e não devem largar os seus empregos, e os velhotes ficam cada vez mais tristes, mais sózinhos, mais sem vontade de comer e de falar. enquanto tem forças vão procurando conversa, na consulta, na sala de espera, nos tratamentos com a enfermeira, na loja da esquina, cada vez mais em vias de extinção, as lojas que dão conversa. Este futuro está um caos, a minha bisavó foi mais feliz, viveu com a infelicidade pouco tempo e Deus quis logo levá-la, não andou a ser empurrada de um lado para o outro, eu vou querer o mesmo, assim o Altíssimo o queira.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Água a mais

Pode chover, o vento pode soprar a 180km hora, as ondas podem passar dos 20 metros de altura, que eu não me importo, aliás eu até gosto, está a saber-me bem este ambiente de água por todos os lados. Os cães praticamente nem tentam sair connosco ao fim do jantar, olham com uma expressão elucidativa: ficamos em casa, não é verdade? Bem lá no fundo, têm sempre uma pontinha de esperança que afinal sempre vamos sair, mas quando tomam consciência que volto para o sofá, também eles procuram o melhor local para usufruir do momento em família. Por isso, pode chover até ao Verão que eu "não estou nem aí". A minha depressão está melhor obrigada, a minha neta está a comer bem, a nadar, a brincar com os amiguinhos na creche e a brincar ao esconde esconde com a mãe e o pai, nós os avós esperamos que venham no fim-de-semana, mesmo que chova, a chuva não nos mete medo, gostamos muito de água. Das notícias diárias também não estamos interessados, os telejornais já não os vemos nem ouvimos, os jornais só compramos o Expresso ao fim-de-semana, ao sábado, e ao domingo o Público, nada mais queremos saber. Quero lá saber se o nosso primeiro ministro tem as chaves nas mãos dos quadros Miró, e os sapatos nos pés, daqueles que exportamos e tão bem fazem à nossa economia, interessa-me apenas ir trabalhar de manhã e poder regressar à tarde, para no recanto do meu lar poder descansar, nada mais me interessa. As eleições? Que venham, pois que cumprirei a minha obrigação, vou votar, em branco ou talvez não, nada mais. Quando chegarem as épocas dos peditórios, vou dar a nota do costume para o IPO e o saco com compras para o  banco alimentar, obrigação cumprida. Posso dormir descansada?
Não preciso pensar nas minhas crianças que nem sequer vão à consulta? Algumas também não vão à escola, para quê a preocupação? Estratégias para melhorar a adesão, ou fidelização como agora se diz, para quê? Só para gastar mais dinheiro ao Serviço Nacional de Saúde, nada de ideias, sossegadinha quanto mais, melhor.
Preocupar-me porque não fazem exercício físico e não tem consultas de nutrição os meus obesos, e tenho tantos! Não merece a pena, os obesos vão a pouco e pouco perdendo peso, como estamos a viver "cada vez mais de acordo com a nossa condição económica" vamos passar a emagrecer paulatinamente, sem esses gastos de gente abastada! É só esperar mais um ano e essa questão passará à história, obesidade, qual obesidade, problemas que não são próprios da "nossa condição, a tal, a económica" pois então!
Preocupar-me porque as famílias que me visitam estão desempregadas? Não é verdade, não estão desempregadas sempre, trabalham uns meses, descansam outros tantos, e assim se vai organizando a estatística, o desemprego continua a baixar; não, claro que não me vou preocupar, é menos um problema real, está de acordo com a nossa "verdadeira condição social, de país pobre, a começar a viver como deve ser".
Será que há reencarnações assim tão rápidas, ainda há bem pouco tempo o Hitler se suicidou, querem ver que já cá está, só que agora na nossa terra, a atazanar a nossa vida?
Afinal ainda não devo estar muito boa da cabeça, a ter estes pensamentos, querem ver que estou com água a mais!  

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Mantém-te em silêncio

O Público de hoje trazia um texto sobre ansiedade que gostei muito. Falar de ansiedade com aquela distância, alguém que diz sofrer desde pequeno de neurose ansiosa, ou todos os outros nomes que lhe foram dando ao longo da vida, agora que já vai para perto dos 40 anos, parece-me bem. Quer dizer que tem feito o seu percurso de entendimento sobre si próprio.O que sinto na minha consulta diária é falta de tempo para fazer psicanálise sem grandes técnicas, até porque não as domino, mas bastava que tivesse um pouco mais de tempo, e podia ir mais ao fundo da questão. Sinto que nem sempre as pessoas que me procuram querem apenas a medicação para alívio rápido, mas também querem. Por outro lado, se estou em dia bom e sou capaz de ter uma escuta activa, certeira, com compaixão, então quase não seria preciso medicação, no entanto, cada vez sinto que é preciso ensinar a saber ter mais paciência e ensinar a escutar-se. A mim assusta-me quando sinto que ando mais ansiosa ou mais depressiva, acho que uma forma rápida de controlar os meus anseios é tomar a medicação que tem também variado ao longa da minha vida. Agora que apenas tenho o yoga, a meditação, a leitura, parece-me que estou a ficar " mais molinha" deixo de querer reagir, ou melhor, já não tenho aquela vontade de ripostar por tudo e nada, parece que deixei a minha querida adrenalina para trás, dou por mim, no entanto a escrever nas reuniões, naquelas em que quero manter-me calada, escrevo no canto da folha de papel que por norma tenho na frente: mantém-te em silêncio! Dar resultado dá, mas sou mais feliz? Ninguém está interessado na minha felicidade, a não ser o meu PQ.
A verdade é que ao ler este artigo, escrito por alguém que não é técnico de saúde me fez muito bem, deu-me um outro olhar sobre esta questão: a doença e o seu entendimento. Os técnicos, os doentes, os técnicos que também são doentes e todos os outros que não são doentes nem técnicos, também opinam, seria muito importante que fossem cada vez mais escutados sobre as suas questões, que por vezes transformamos em doença, por ser mais fácil, mais rápido e menos constrangedor.
Amanhã lá vamos ao funeral da Tia Maria, irmã da minha sogra. Vamos ver alguma família que só vemos nestas alturas, será que são mesmo família, ou porque o dinheiro não abunda não se visitam? O Zé disse há algum tempo que para ter amigos era preciso ter dinheiro, fiquei em choque. Será que para manter a família também é preciso ter dinheiro? Antigamente escrevíamos cartas, agora estamos todos à distância de um click, não é por falta de euros, talvez por falta de paciência, talvez por ansiedade! Na verdade estes encontros quase sempre trazem alguma ansiedade e possibilidade de maledicência?
- Estás na mesma, há quanto tempo não nos víamos!
- Pois é também estás na mesma! É verdade só nestas ocasiões é que nos encontramos, temos que nos encontrar mais vezes!
Mentimos para nos sentirmos bem connosco, o tio não está nada na mesma, está até muito mais velho! E o primo coitado, está um farrapo, nunca foi feliz com aquela mulher, tão poucochinha... e da parte deles o mesmo conversé...
Cada qual mentindo o melhor que sabe, escondendo as suas fraquezas, transformando a sua ansiedade em novo riquismo:
-Fiz e faço e farei, isto aquilo e etc
E falam, falam, eu sorrio, pouco consigo ouvir o que dizem, limito-me a sorrir e a esconder-me atrás dessa boa educação ansiosa - mantém em silêncio!

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Cada dia é cada dia

Dia 8 de Fevereiro de 2014, faleceu a Tia Maria. Já nem têm conto os que já partiram. O meu PQ dizia-me à pouco: estão a ir embora os desta geração, depois será a nossa! Olha que simpático, mas é certo que será assim, foram as minhas bisavós, a Ti Marcena, os avôs, as avós, o pai, a mãe e pelo meio alguns tios e amigos, colegas e conhecidos. Agora já não tenho medo que o telefone toque a horas menos próprias, quando os meus pais estavam vivos tinha sempre esse receio, o medo de passar por esse desgosto. Ainda hoje não fiz o luto, nunca mais somos os mesmos quando passamos para primeiro plano, não por passarmos para primeiro plano, mas porque perdemos o colo bom, dos pais. Quando vou a nossa casa, tenho roupa da minha mãe que ainda mantém o cheiro dela, talvez por isso ainda mantenha a nossa casa exactamente como estava, quando eles estavam vivos. Sempre que abro a nossa porta é como se eles estivessem à nossa espera, lá dentro. Quando mudar a casa vou perder isso tudo? Sei que agora já não tenho nada, senão as minhas lembranças, como eu gostava que a minha neta batesse à nossa porta, da casa dos meus pais, e fosse recebida com a alegria imensa que a minha mãe punha em cada reencontro! Quero muito ser uma boa avó, acho que sou uma boa mãe, um bocadinho egoísta, sempre a querer beijos e abraços e colo das minhas filhas, o mundo está virado do avesso, não fui uma boa aluna de minha mãe e de minha avó.
A minha neta está cada vez mais crescida, hoje almoçamos juntos e foi  muito agradável. Vê-la comer com satisfação é uma benção, até já tem bochechas rosadas!
Os dias passam, o tempo vai paulatinamente andando, o nosso caminho na vida é feito de pequenas grandes coisas, coisas de vida e coisas de fim de vida, é preciso aprender em cada dia a nossa lição de vida.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Dizer mal, ou mesmo bem

Durante algum tempo parece que estou a melhorar, mas afinal é um falso aviso do meu eu interior. Que difícil é viver, olho para o lado para ver quem me acompanha, mas não há ninguém! é como se caminhasse sozinha o tempo todo, não tenho ninguém a quem contar, tranquilamente, a minha vidinha. Não preciso de padre, nem de psiquiatra, nem de psicólogo, nem de ninguém que em troca eu pague honorários, preciso de alguém que vibre com a minha conversa, com o meu sentir, com os meus medos, com a minha vontade de "dizer mal" comentar isto e aquilo e não ter que estar sempre escudada na boa educação e- comme il faut-! Na altura em que frequentava a casa das madrinhas, que a gente costumava dizer: lá em casa, também me sentia assim, não entrava nos comentários, nas conversas, nas falas, enfim, não passava de mero ouvinte, por ser pequena, por ser neta da Pató, por ser quem era, NINGUÉM! Depois, quando me tornei mais crescida e deixei as madrinhas e fui à minha vida, parece que me tornei mais senhora de mim e sempre que estava na minha casa, havia sempre alguns momentos dedicados a dizer mal, raramente bem, da vida de amigos, vizinhos, conhecidos e afins, agora não. Não tenho ninguém suficientemente tranquilo, sem segundas intenções com quem dizer mal, ou bem, deste, daquele, do outro e de toda a gente. Em tempos li um estudo, acho que Inglês, onde se apontava como índice de bem estar, o facto de ter uma actividade social onde a "má língua" fosse um hábito regular. Que pena tenho então, de não estar em Inglaterra, que falta me faz dizer mal, ou mesmo bem.
Levo o dia a trabalhar, quase não tenho tempo para olhar para mim, quanto mais olhar para os outros à minha beira. Da vila onde trabalho, quero fazer o que tenho a fazer e voltar para a vila onde vivo. Chego, fecho-me em casa, às vezes, quando chego mais cedo ainda encontro a minha empregada, mas não lhe dou muita conversa, e rapidamente são horas de ir embora, fico com os meus 4 cães e as duas gatas, nenhum deles ainda consegue falar, mas fazem-me tantas festas que tenho que ralhar. O meu PQ conta-me pequenos incidentes da fábrica, pouco mais temos para comentar, quando tenho yoga como hoje, ainda vejo mais umas quantas pessoas, mas somos todos muito certinhos, fazemos yoga não conversamos. Venho para casa, jantamos e rápidamente são horas de dormir. Falta-me o social? Talvez me falte, mas não gosto muito de ser invadida na minha casa, as minhas vizinhas, a da frente sabe sempre quando chego, quando saio, quando estou mais cansada, quando deixo os cães na rua, enfim às vezes quer conversa mas fala tão baixinho que mal percebo o que diz, e ficamos assim, sem dizer mal e muito menos bem, de ninguém!
Durante o dia sinto que andam atrás de mim, parece que ao virar da esquina vou ter conversa, apenas conversa da treta, mas não, é tudo muito bem comportado, quando me abordam é para pedir mais uma consulta, um papel, uma baixa, não é a mim que procuram, procuram a técnica, e eu preciso de me portar menos bem, de rir dos disparates dos outros, de comentar, de troçar, de gozar, como antigamente, ser bem comportada o dia todo, da semana toda, do mês todo e do ano que não tem fim, não tem graça nenhuma, amanhã começo a portar-me mal.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Questões

Aqui e agora, viver o presente, esta é uma mensagem para podermos sermos mais felizes e mais presentes, com toda a nossa alma, na nossa vida diária. Leio esta frase, aqui e agora, vezes sem conta, parece até que me persegue, escolho um livro, uma revista, um jornal, e num qualquer canto, lá aparece ela, aqui e agora, este é o tema, estar o mais possível aqui e agora. Podia ser uma coincidência, mas não me parece, é perseguição. Não aceitei ainda esse desafio, luto até contra ele, porque preciso tanto do meu passado, da minha infância, da infância das minhas pequeninas, até da minha neta, já nasceu há 13 meses, e gosto tanto de me lembrar do meu primeiro momento com ela, do deslumbramento dessas recordações, quer das boas quer das menos boas, acolho as boas, revisito-as, as outras deixo que venham e que tranquilamente se vão. Claro que o Aqui e Agora faz-me pensar que está certo, mas não o posso viver sem estar ligada no passado, sem trazer as emoções, os cheiros, as cores, as vozes, até os sonhos que sonhávamos. Quando era pequena, antes de entrar na primária, não havia televisão, havia o rádio, mas nem eu nem o meu avô dávamos muito atenção a esse entretenimento, especialmente quando estávamos à noite, à lareira. Houve uma época em que eu e ele sonhámos em ter um negócio, pensámos em patos, ovelhas, coelhos, pensámos em fazermos uma criação com o propósito de ganharmos algum dinheiro, ele andava aborrecido de ser sapateiro, tinha pouco trabalho e ganhava pouco, a minha avó estava em casa dos padrinhos e não tinha "jorna" de modo que eu e ele achámos que era boa ideia iniciar um negócio: patos ou borregos!
Explicámos à família, a ideia não foi bem aceite, arranjavam sempre problemas:
- Quem vai com o gado para o campo?
- Onde fica o gado durante a noite?
-Quem compra a ração para o gado?
-Quem compra o gado para ser engordado e depois vendido?
Tantas perguntas, meu Deus, tentamos arranjar sempre respostas, mas o problema mantinha-se, precisávamos da ajuda dos meus pais para o fundo de maneio inicial e na família não havia. Se a minha avó trouxesse o dinheiro que lhe deviam, para cima de 60 contos, nas contas que o meu avô tinha feito, e eram contas feitas assim pela rama, então já tínhamos, mas a resposta era sempre a mesma:
- Vocês não estão bons da cabeça!
Não compreendia muito bem, a minha avó podia ajudar se quisesse mas, não queria aborrecer os padrinhos; esse dinheiro dava para construir a casa nova que o meu pai queria construir, mas que o pai dele, outro meu avô não lhe quis emprestar, e podia; nós queríamos o nosso negócio, e ninguém nos dava ouvidos, não precisávamos desse dinheiro, seria muito menos, mas ninguém tinha vontade de arriscar.
Parámos os nossos sonhos? Não! Os serões eram tão grandes e o meu avô e eu tínhamos conversa para  a noite toda! Essa conversa ainda hoje faz eco no meu coração, tento aderir ao momento presente, tento saborear cada recordação o melhor que sei e ao mesmo tempo estar Aqui e Agora.
Não sei é se o Aqui e Agora mais não é que uma frase de quem não tem momentos inesquecíveis?!  

domingo, 26 de janeiro de 2014

Doidices

Cada vez estou mais convencida que a palavra só por si é terapêutica. Desde a minha última "crónica" em que mais uma vez falei quase só da minha mãe e da falta que sinto dela, que fiquei mais tranquila, como se ela tivesse ouvido e também ficasse confortada, aliviada, sabedora do meu amor por ela, ficou mais no céu e eu mais na terra, as duas mais em paz. Explicar o que nos vai no coração nem sempre é fácil e de fácil compreensão para os meus leitores, (uma confidência-tenho 7 seguidores e quase 5000 visualizações de toda a parte do mundo), ainda não sei o que isso quer dizer!
O meu PQ, que gosta sempre do que escrevo, não gostou da última conversa que aqui deixei, ficou preocupado comigo, não disse mas pensou: precisa dos cuidados do psiquiatra! E preciso, do psiquiatra, do psicólogo, de me ouvir apenas, e isso posso fazer aqui tranquilamente, no recanto do meu sofá, olhando para a lareira e para os animais nossos amigos, que nesta hora em que escrevo, costumam dormitar por aqui, o que me tranquiliza, e cada vez gosto mais de estar em casa, gosto muito de passear, mas voltar à noite para o meu espaço.
Continuando, a palavra, mesmo que seja só escrita, como costumo fazer, alivia-me, encontra-me, partilho emoções, medos e alegrias, se calhar, os outros que desconheço e que me lêem, também se encontram e ficam mais tranquilos, não sei, e também para o caso não interessa.
Porque será que a palavra tem esse dom? Ainda não li o sermão de Santo António aos peixes, mas acredito que até os peixes gostam de ouvir falar; as palavras exorsizam, aliviam, libertam, quando meditamos e queremos ficar vazios de todas as emoções, de todos os sons, de todas as visões que nos chegam à cabeça, também sabe bem , quando o conseguimos fazer razoavelmente bem e com alguma continuidade; agora escrever, ou conversar com bons ouvintes, é uma terapia poderosa. Assim como é poderosa a palavra que resulta da leitura de livros, quanto mais lermos mais "normais" vamos ficando, porque mais sabedores e a sabedoria tranquiliza. Li uma pequena história de Anatole France, que veio oferecido no jornal diário, divinal, sobre o senhor Putois, deliciosa. Aconselho que quem poder a leia, é sobre um jardineiro que nunca existiu!
Hoje o dia foi muito bom, fomos visitar o Museu Nacional de Arte Antiga, gostei, mas fiquei tão cansada, não levava sapatos adequados, a minha carteira estava demasiado pesada e o casaco muito pesado e quente; apesar de todos estes senãos, gostei. Estamos a cumprir o que decidimos para o ano de 2014, uma visita a um museu, uma ida ao teatro ou ao bailado, e a neta se possível todas as semanas, as filhas ainda gosto de lhe telefonar todos os dias, mas também temos um objectivo para este ano: não telefonar todos os dias e estamos a cumprir assim assim.
Agora está no fim, são horas de ir para a cama, invariávelmente antes das onze, se possível. Serei mesmo doida? Posso ser, mas sinto-me bem.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Egoísmos

Continuo a tentar ser feliz, cada dia parece que vou melhorando, lentamente. Ainda hoje dou por mim a olhar para o lado e a tentar conversar com a minha mãe, contar-lhe coisas, banais, ouvir também coisas, banais, não estava nos meus planos viver sem ela, sei que sou chata por falar tanta vez da minha "Joana" mas a verdade é que todos os dias "vivo com ela". A minha psicóloga, já me explicou centenas de vezes que não devo continuar a manter tão viva esta lembrança, não faço nada para a manter e, na verdade também não faço nada para a mandar embora. Apenas a lembrança dos momentos que vivemos juntas me aparecem em cada virar de esquina, em cada conversa com o meu PQ, com as filhas, será que quando puder conversar com a neta também vou ter essas lembranças? Não sinto ferida, sinto aconchego, não sinto pena, sinto amor, não sinto vazio, sinto o coração cheio, se essas lembranças fazem mal à minha mãe, sou egoísta, fazem-me tão bem a mim. A Eternidade onde ela está não tem fim, será que faz mal trazê-la no meu coração por pequeninos momentos diáriamente? OK já me explicaram que quando precisar posso sempre falar com o meu Anjo da Guarda, calha bem, nem o conheço!! Como é que nos vamos entender? Não temos muito em comum, ele nunca se deu a conhecer, nunca me acariciou a cabeça, nem fez festas nos pés, chamá-lo para quê, deve ter muitas almas para guardar e eu não sou especial para ele, mas fui muito especial para a minha mãe, e ela foi "super especial " para mim, temos, ou por outra, tínhamos um entendimento à distância, sabíamos sempre como estávamos, sem falar, sem sequer nos vermos, bastava uma pequena palavra ao telefone, e entendíamo-nos, por isso ainda agora é muito mais rápida a "conversa" com a minha mãe, muito mais do que com o meu Anjo da Guarda, posso ser egoísta mas por enquanto ainda sinto que assim não está muito errado, ou estará?
Nas religiões que conheço, mal, umas dizem que com a morte do corpo tudo acaba, outras acreditam na reencarnação, outras na vida após a morte do corpo, outras ainda querem conservá-lo para o regresso da alma, no fim dos tempos, bla, bla, bla, bla, não sei nada, não percebo ainda nada, com 57 anos e 156 cm de altura, não sei nada. Sinto-me assim, paulatinamente a melhorar o meu estado anímico, com mais vontade de trabalhar e entender os que me procuram diáriamente na consulta, com mais vontade de participar nas minhas aulas de yoga, sinto até vontade de comprar o aparelho auditivo, que dizem, tanta falta me faz, por isso, acho que estou a conseguir superar-me sem outras ajudas extras. Cada dia é cada dia, e amanhã vai ser um dia também bom, vou tentar dar o meu melhor, tranquilamente.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Desabafos

A minha neta já anda, ainda não vi, mas sou capaz de imaginar e só com isso fico feliz. Lembro-me da minha alegria quando as minhas filhas começaram a andar em casa dos meus pais, a minha mãe tinha muito orgulho quando dizia: as minhas netas começaram todas a andar cá em casa! As minhas filhas e antes delas já as primas, também tinham feito o mesmo. Significava que passavam tempos com os avós, porque era bom, porque eles adoravam e elas, as 4, filhas e sobrinhas também, nós os pais adorávamos igualmente, portanto a visita aos avós era frequente. Havia sempre coisas para estar ocupado, a minha mãe quando não tinha inventava, e havia sempre a horta com os animais nossos amigos, desde as galinhas, aos coelhos, houve alturas em que também haviam borregos e porcos e patos no tanque, enfim, uma verdadeira horta muito povoada, as miúdas adoravam. Depois em casa, a minha mãe fazia leite quente com torradas ao pé do lume o que não se consegue igualar hoje em dia. Nada que elas tinham na casa de Cabeção eu consigo fazer, mas estou a tentar fazer também alguns mimos, próprios desta minha casa, sempre que estou com ela, a minha neta, as minhas filhas e também as minhas sobrinhas, que já têm também as suas crianças. A minha casa é agradável, eu acho que também sou querida, a minha cozinha agrada, o meu colo é grande, mas a minha neta já anda e eu ainda não vi, mas imagino.
Há uma diferença grande, a minha mãe não tinha trabalho fora de casa, eu saio de manhã e chego à tarde, só tenho livre alguns fins de semana e as férias, por isso programo algumas actividades para irmos todos juntos, nos meus anos e nas férias, e somos felizes.
Se sinto a falta da minha mãe, meu Deus como eu sinto? Será que a minha neta sente que eu sinto essa falta, ou para ela eu também sou uma avózinha querida? Só posso ser, com a escola que tive!
Presunção e água benta cada um toma a que quer, dizia a minha avó, e eu quero querer que a maioria das vezes sou querida, quando não sou é porque naturalmente, também temos dias. Parece que os dias da minha depressão estão paulatinamente a passar, só tenho que ficar atenta e quando voltar a nova vaga de tristeza, sei que é por um tempo limitado, porque consigo identificar-me e falar comigo, falar, escrever, pensar, meditar e sem luta, deixar o momento seguir o seu caminho. Cada dia tem o seu encanto, a sua descoberta, preciso apenas de me manter em paz.