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domingo, 26 de janeiro de 2014

Doidices

Cada vez estou mais convencida que a palavra só por si é terapêutica. Desde a minha última "crónica" em que mais uma vez falei quase só da minha mãe e da falta que sinto dela, que fiquei mais tranquila, como se ela tivesse ouvido e também ficasse confortada, aliviada, sabedora do meu amor por ela, ficou mais no céu e eu mais na terra, as duas mais em paz. Explicar o que nos vai no coração nem sempre é fácil e de fácil compreensão para os meus leitores, (uma confidência-tenho 7 seguidores e quase 5000 visualizações de toda a parte do mundo), ainda não sei o que isso quer dizer!
O meu PQ, que gosta sempre do que escrevo, não gostou da última conversa que aqui deixei, ficou preocupado comigo, não disse mas pensou: precisa dos cuidados do psiquiatra! E preciso, do psiquiatra, do psicólogo, de me ouvir apenas, e isso posso fazer aqui tranquilamente, no recanto do meu sofá, olhando para a lareira e para os animais nossos amigos, que nesta hora em que escrevo, costumam dormitar por aqui, o que me tranquiliza, e cada vez gosto mais de estar em casa, gosto muito de passear, mas voltar à noite para o meu espaço.
Continuando, a palavra, mesmo que seja só escrita, como costumo fazer, alivia-me, encontra-me, partilho emoções, medos e alegrias, se calhar, os outros que desconheço e que me lêem, também se encontram e ficam mais tranquilos, não sei, e também para o caso não interessa.
Porque será que a palavra tem esse dom? Ainda não li o sermão de Santo António aos peixes, mas acredito que até os peixes gostam de ouvir falar; as palavras exorsizam, aliviam, libertam, quando meditamos e queremos ficar vazios de todas as emoções, de todos os sons, de todas as visões que nos chegam à cabeça, também sabe bem , quando o conseguimos fazer razoavelmente bem e com alguma continuidade; agora escrever, ou conversar com bons ouvintes, é uma terapia poderosa. Assim como é poderosa a palavra que resulta da leitura de livros, quanto mais lermos mais "normais" vamos ficando, porque mais sabedores e a sabedoria tranquiliza. Li uma pequena história de Anatole France, que veio oferecido no jornal diário, divinal, sobre o senhor Putois, deliciosa. Aconselho que quem poder a leia, é sobre um jardineiro que nunca existiu!
Hoje o dia foi muito bom, fomos visitar o Museu Nacional de Arte Antiga, gostei, mas fiquei tão cansada, não levava sapatos adequados, a minha carteira estava demasiado pesada e o casaco muito pesado e quente; apesar de todos estes senãos, gostei. Estamos a cumprir o que decidimos para o ano de 2014, uma visita a um museu, uma ida ao teatro ou ao bailado, e a neta se possível todas as semanas, as filhas ainda gosto de lhe telefonar todos os dias, mas também temos um objectivo para este ano: não telefonar todos os dias e estamos a cumprir assim assim.
Agora está no fim, são horas de ir para a cama, invariávelmente antes das onze, se possível. Serei mesmo doida? Posso ser, mas sinto-me bem.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Egoísmos

Continuo a tentar ser feliz, cada dia parece que vou melhorando, lentamente. Ainda hoje dou por mim a olhar para o lado e a tentar conversar com a minha mãe, contar-lhe coisas, banais, ouvir também coisas, banais, não estava nos meus planos viver sem ela, sei que sou chata por falar tanta vez da minha "Joana" mas a verdade é que todos os dias "vivo com ela". A minha psicóloga, já me explicou centenas de vezes que não devo continuar a manter tão viva esta lembrança, não faço nada para a manter e, na verdade também não faço nada para a mandar embora. Apenas a lembrança dos momentos que vivemos juntas me aparecem em cada virar de esquina, em cada conversa com o meu PQ, com as filhas, será que quando puder conversar com a neta também vou ter essas lembranças? Não sinto ferida, sinto aconchego, não sinto pena, sinto amor, não sinto vazio, sinto o coração cheio, se essas lembranças fazem mal à minha mãe, sou egoísta, fazem-me tão bem a mim. A Eternidade onde ela está não tem fim, será que faz mal trazê-la no meu coração por pequeninos momentos diáriamente? OK já me explicaram que quando precisar posso sempre falar com o meu Anjo da Guarda, calha bem, nem o conheço!! Como é que nos vamos entender? Não temos muito em comum, ele nunca se deu a conhecer, nunca me acariciou a cabeça, nem fez festas nos pés, chamá-lo para quê, deve ter muitas almas para guardar e eu não sou especial para ele, mas fui muito especial para a minha mãe, e ela foi "super especial " para mim, temos, ou por outra, tínhamos um entendimento à distância, sabíamos sempre como estávamos, sem falar, sem sequer nos vermos, bastava uma pequena palavra ao telefone, e entendíamo-nos, por isso ainda agora é muito mais rápida a "conversa" com a minha mãe, muito mais do que com o meu Anjo da Guarda, posso ser egoísta mas por enquanto ainda sinto que assim não está muito errado, ou estará?
Nas religiões que conheço, mal, umas dizem que com a morte do corpo tudo acaba, outras acreditam na reencarnação, outras na vida após a morte do corpo, outras ainda querem conservá-lo para o regresso da alma, no fim dos tempos, bla, bla, bla, bla, não sei nada, não percebo ainda nada, com 57 anos e 156 cm de altura, não sei nada. Sinto-me assim, paulatinamente a melhorar o meu estado anímico, com mais vontade de trabalhar e entender os que me procuram diáriamente na consulta, com mais vontade de participar nas minhas aulas de yoga, sinto até vontade de comprar o aparelho auditivo, que dizem, tanta falta me faz, por isso, acho que estou a conseguir superar-me sem outras ajudas extras. Cada dia é cada dia, e amanhã vai ser um dia também bom, vou tentar dar o meu melhor, tranquilamente.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Desabafos

A minha neta já anda, ainda não vi, mas sou capaz de imaginar e só com isso fico feliz. Lembro-me da minha alegria quando as minhas filhas começaram a andar em casa dos meus pais, a minha mãe tinha muito orgulho quando dizia: as minhas netas começaram todas a andar cá em casa! As minhas filhas e antes delas já as primas, também tinham feito o mesmo. Significava que passavam tempos com os avós, porque era bom, porque eles adoravam e elas, as 4, filhas e sobrinhas também, nós os pais adorávamos igualmente, portanto a visita aos avós era frequente. Havia sempre coisas para estar ocupado, a minha mãe quando não tinha inventava, e havia sempre a horta com os animais nossos amigos, desde as galinhas, aos coelhos, houve alturas em que também haviam borregos e porcos e patos no tanque, enfim, uma verdadeira horta muito povoada, as miúdas adoravam. Depois em casa, a minha mãe fazia leite quente com torradas ao pé do lume o que não se consegue igualar hoje em dia. Nada que elas tinham na casa de Cabeção eu consigo fazer, mas estou a tentar fazer também alguns mimos, próprios desta minha casa, sempre que estou com ela, a minha neta, as minhas filhas e também as minhas sobrinhas, que já têm também as suas crianças. A minha casa é agradável, eu acho que também sou querida, a minha cozinha agrada, o meu colo é grande, mas a minha neta já anda e eu ainda não vi, mas imagino.
Há uma diferença grande, a minha mãe não tinha trabalho fora de casa, eu saio de manhã e chego à tarde, só tenho livre alguns fins de semana e as férias, por isso programo algumas actividades para irmos todos juntos, nos meus anos e nas férias, e somos felizes.
Se sinto a falta da minha mãe, meu Deus como eu sinto? Será que a minha neta sente que eu sinto essa falta, ou para ela eu também sou uma avózinha querida? Só posso ser, com a escola que tive!
Presunção e água benta cada um toma a que quer, dizia a minha avó, e eu quero querer que a maioria das vezes sou querida, quando não sou é porque naturalmente, também temos dias. Parece que os dias da minha depressão estão paulatinamente a passar, só tenho que ficar atenta e quando voltar a nova vaga de tristeza, sei que é por um tempo limitado, porque consigo identificar-me e falar comigo, falar, escrever, pensar, meditar e sem luta, deixar o momento seguir o seu caminho. Cada dia tem o seu encanto, a sua descoberta, preciso apenas de me manter em paz.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Nuvens

O início do ano  não foi pacífico, em conversa de psiquiatra "fui ao fundo" sem nunca deixar de trabalhar, é uma vitória? Não é vitória nem deixa de ser, significa apenas que estou a ser capaz de me conhecer melhor, da próxima vez que estiver a ir ao fundo se calhar não sofro tanto! Posso aceitar, que desse ponto de vista é uma vitória; chegava a casa comia uma sopa, enrolava-me na manta, deitava-me no sofá e adormecia, não fosse o meu PQ e ficava até de manhã. Não sei que astros estão regendo a minha astrologia, mas tem sido forte a pancada; percebi no entanto que esta pancada que me atingiu, atingiu igualmente metade do Centro de Saúde, das enfermeiras às assistentes administrativas e os próprios doentes traziam as mesmas insatisfacções, queixumes e maus estares, onde estão os Astros nossos amigos? Quem me dera poder receitar 1 hora de yoga para cada um que precisasse! A nossa medicina tem que apoiar-se cada vez mais em tratamentos mais completos, alimentares, exercícios físicos, treino da mente e do equilíbrio, o leque de técnicos deveria ser de tal forma alargado que metade das doenças tinha uma remissão completa, ou pelo menos, durante grande período poderiam passar sem medicação.Eu passei, ainda pensei marcar consulta para a psicóloga, para o psiquiatra, para o meu técnico de yoga, não marquei nada, enrolei-me na manta e dormi, dormi sempre que podia estar sózinha, dormia.
Gostaria de ser ainda profissional a trabalhar e ter a possibilidade de prescrever - 1 hora de teatro semanal, estudo do canto gregoriano, praticar sapateado 2 x semana, natação obrigatória para todos, etc, etc,etc,
O Ano Novo desiquilibrou-me mesmo, a cabeça ainda me doi ao fim do dia, escrevo com alguns erros que não consigo corrigir!
Não desisto, amanhã vou continuar a trabalhar, mais uma urgência de 12 horas dia, domingo ainda não sei, talvez arrumar as coisas do Natal, ou se as saudades forem demais vamos almoçar com as filhas e a querida neta, já anda! 3ª feira sabemos o resultado das análises e vamos todos respirar e dormir melhor, por isso já ando a procurar onde ir passar o fim de semana, último do mês, fazemos 40 anos que andamos juntos; estas coisas não são para contar a ninguém, mas apetece-me escrever, quero lá saber do que é próprio e do que é menos próprio, não fiz a promessa no início do ano que ia dar beijos e abraços quando me apetecesse? Então esse fim de semana, vai ser só nosso, vou à procura dum lugar tranquilo para namorar!
O Ano Novo chegou cheio de nuvens quero afastá-las, exorcizá-las, conhece-las! Não é para lutar contra, apenas para olhar e vê-las, identificá-las, e dessa maneira tranquila sem esforço nenhum, serem desfeitas, transformadas em pingos de chuva que tanta falta fazem na terra ressequida. Tranquilamente o conhecimento é poder, o poder é harmonia para poder ser mais feliz em cada dia, tentando sempre, caminhando, caminhando, caminhando, mesmo sabendo que me estou a erguer paulatinamente do fundo.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

O 3º dia

E ao 3º dia Deus criou... os Céus e a Terra, os homens, os animais, o mais pequenino grão de areia da praia... e por aí fora. Preciso desse tempo em que todas as histórias tinham este encanto, este deslumbramento de aprendizagem, sem dúvidas, sem terceiros sentidos, tudo muito claro, rodeado de tanta fantasia. Agora o dia, o 3º dia do Novo Ano não teve nada de novo, nem sei bem se o Ano sempre mudou  ou se continuamos mais uns meses no Ano antigo, não há dinheiro para nada, se calhar não houve dinheiro para passarmos de ano, e talvez assim tudo se possa equilibrar, a vida, o país, a dívida, os pobres e os ricos, os gastos e as despesas, os medos, as vontades. Está tudo igual, tudo tão igual, decalcado dos dias, dos meses anteriores, cinzento, até o sol está cada vez mais fugaz, tudo tão sem magia.
Procuro nas palavras, nestas palavras que escorregam pelos meus dedos, alguns restos da magia de outrora, quero voltar a sentir o coração aos pulos, a cada nova história ouvida, a cada nova história contada, procuro no horizonte essa magia, no céu, no arco-íris, nas brincadeiras dos meus cães, na conversa com o meu PQ, nas conversas com os doentes, no café com os companheiros de trabalho, o coração não pula mais, não fora a minha neta, e pensaria que tinha hibernado.Estou deprimida? Estou e muito!
Preciso de encontrar de novo a magia do deslumbramento, a magia da aprendizagem, poder encantar-me com uma ida ao teatro ou ao ballet, rir com gosto, gargalhar mesmo, mas continuo agarrada ao sofá, chego do trabalho demasiado cansada, adormeço a qualquer hora, em qualquer canto, quero estar desperta para poder deslumbrar-me, mas o cansaço invade-me e também quero fugir de estar acordada, trago dentro de mim todo o trabalho do dia, o dia está a tornar-se demasiado grande, ultrapassando em muito as 24 horas, e ao 3º dia Deus criou... dias muito pequenos, não cabem todas as tarefas que era suposto poder fazer, fico-me apenas pela minha actividade profissional diária, mais uma ida ao supermercado semanal, o pequeno almoço no café ao fim-de-semana, algum jornal, uma revista de moda por vezes, uma empada... se Deus tivesse levado mais dias a fazer o mundo tudo poderia ser diferente, mas até Deus foi poupado, com tanto tempo que tinha, para quê essa pressa.
E agora aqui estamos, presos neste tempo, neste país, neste corpo, que fazer?
Sair do tempo, só no yoga; sair deste país só para os novos, que embora não sendo um país para velhos, é um país de velhos; sair deste corpo também não é boa ideia, assim como assim já me conheço e até gosto de mim, e posso sempre treinar no yoga, dá muita paz a meditação e faz de conta que somos e temos outros poderes, não sei que fazer?
Cada dia está a ser um peso, o tempo que não tenho faz-me falta; se calhar não passámos mesmo de Ano, continuamos no ano antigo com mais uns mesezinhos à experiência, se formos espertos e empreendedores recanalizamos as nossas energias para atitudes positivas, e nem a troika nos verga, senão ficamos como eu estou hoje, no 3ºdia à espera que Deus repense na criação do Mundo de novo, mas com mais calma.