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domingo, 23 de fevereiro de 2014

Energias

A pouco e pouco o sol vem chegando, ainda que com um bocadito de frio. O sábado foi de trabalho, no domingo de manhã fiz uma massagem, que não me libertou completamente do meu lumbago, acho que por ser domingo, e o domingo não é dia para massagem, quando muito é dia para ir à Missa. Cada dia deve ser dedicada à sua tarefa, só assim está tudo devidamente arrumado, mais um pouco e passo a ser, além de uma pessoa depressiva, também obsessiva, não faz mal, ninguém é perfeito; fui às compras, almoçei, fiz uma sesta, tomámos café a seguir ao passeio dominical à aldeia do pico, regressámos a casa, bordei na toalha que já comecei há cerca de 10 anos, quando comecei foi quando a filha mais velha foi para a faculdade, jantámos, a filha mais nova foi para Lisboa, sentei-me no canto do meu sofá e andei a vaguear na net, acabei por aterrar aqui e descansar a cabeça. Escrever descansa-me a cabeça. Viver na província tem destas coisas, é estar em casa, no trabalho, no trabalho e em casa e depois no trabalho novamente; para vermos lojas, cinemas, teatros ou ballets temos que viajar uma hora até Lisboa. Temos coisas boas e outras assim assim; se vivesse em Lisboa ia adorar passar o fim-de-semana no Alentejo, como estou no Alentejo ainda por cima Alentejo Litoral, com 40km de costa, quero ir passar o fim-de-semana a Lisboa, que podemos fazer? Acho que fazemos a ilha em que vivemos, sempre em cada idade, em cada local, em cada estação do ano, sempre à nossa medida, sempre senti essa ilha, portanto a ilha está dentro de mim. Quando vivia em Cabeção, tinha fins-de-semana também assim, sem grande movimento, especialmente quando a primavera tardava em chegar e tínhamos que ficar em casa, só que tinha uma vantagem, tinha grande poder de invenção, de iniciar tarefas, sobretudo trabalhos manuais, acho que nunca levei tanto tempo com uma toalha, como esta que tenho aqui; não interessa, está quase pronta, quando a terminar vou tirar uma foto e se for capaz, junto-a aqui à minha escrita.
As actividades de trabalhos manuais são também uma boa forma de canalizar energia, deixar fluir a energia. Nunca tinha sentido como agora a importância da energia e o que pode acontecer quando bloqueamos esse fluir, inconscientemente. A mim aconteceu-me estar 15 dias, 15 maravilhosos dias com obstipação, sem qualquer outra queixa! Tomei laxantes, fiz massagem abdominal, bebi muita água, tudo o que me poderia ajudar, claro que na tentativa de resolver o problema, fiz clisteres, micros, não como a minha mãe fazia antigamente: o irrigador com água tépida, um litro, um fio de azeite, ela de pé eu deitada de lado, a pipeta do dito enfiada no meu rabito, e a água a entrar dentro do meu intestino grosso e a borbulhar, não era doloroso, apenas desconfortável. Irrigador vazio, ficava deitada de lado o tempo que aguentasse até que ia libertar-me de todos os excessos que tinha acumulado indevidamente e ficava bastante aliviada. Como não tenho irrigador, nessa altura esse tratamento não me passou pela cabeça, se calhar tinha resultado, os microlax não resolveram coisa nenhuma. Fui então ter com o meu instrutor actual de yoga, nessa altura foi apenas e tão só o meu libertador de energia de uma forma mais completa; alinhou-me os chakras com as massagens, recomendou-me uma misturas de sementes e um produto Indiano à base de não sei bem o quê, que apesar de estar um pouco já fora da data de validade foi uma "santa mezinha". O produto ainda ali o tenho, quando for a uma loja Indiana tenho intenções de comprar para ter sempre em casa, acho que para mim foi tão potente que ainda hoje me sinto bem, apesar de já ter passado mais de uma ano; é certo que entretanto também pratico yoga 1 a 2 x por semana o que me vai alinhando; o meu lumbago, ou mais precisamente, lombalgia com irradiação bilateral aos membros inferiores é que precisa ainda de mais alguma ajuda, acho que a natação também pode dar uma mãozinha.
Não sei, mas as palavras são como as cerejas, uma puxa a outra e não tem mais fim a conversa, da ilha interior passei para o intestino, para a natação, para a energia que necessitamos deixar fluir, estou melhor da cabeça?  
Não estou nos meus dias, precisava de ter mais dias para descansar e deixar fluir, mas esses luxos não são para mim, amanhã é dia de trabalho e ainda bem.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Invernos rigorosos

Afinal continua a chover, está frio e à noite, muitas vezes não podemos sair com os cães, porque a chuva miudinha não o permite. É certo que já há malmequeres nos campos, amarelos e brancos, e o meu PQ já deu conta que as andorinhas estão tranquilamente a chegar, eu ainda não as vi.
Sinto-me ainda um bocadito abalada por este Inverno rigoroso, parece até que não vai acabar nunca, mas vai, " o tempo pode tardar mas não vai faltar" se não é assim a frase, é parecida.
A minha neta cada vez anda melhor, ainda não consegue descer os degraus sem ajuda, mas cada dia percebo que está mais desenrascada. As palavras são também mais variadas, já não diz só "olá" a toda a gente, conhecidos, não conhecidos e outros, agora também diz mamã, papá, batata e acho que mais nada; brinca muito e adora bonecos, na próxima feira de Grândola já lhe vou comprar um Nenuco. A minha filha mais nova, queria sempre o mesmo boneco, em cada feira que íamos, de preferência, com a alcofa igual, tecido, tudo. Estou mais descansada, a minha neta já come melhor, está a engordar e a crescer, dia após dia. Dia após dia eu vou ficando mais velhota, sinto-me assim a ficar mais velhota, às vezes acho que sou como a minha bisavó galucha, velhinha, pequenina, mas sempre pronta para trabalhar, a adorar cães, vivo é noutro tempo, tenho outra formação, posso ter uma velhice talvez mais aceitável. Quando chegar essa altura, aquela em que vou precisar de ser cuidada por terceiros, nós costumamos fazer uma declaração para a Segurança Social: necessita de apoio de 3ª pessoa para as actividades de vida diária. Quer isto dizer, que a pessoa não pode viver sózinha. Quando chegar a essa fase, se tiver essa consciência, vou ser eu a decidir da minha vida, fico tão triste quando vejo as dificuldades porque passa a família a empurrar o velho para um lado, para o outro, a querer a todo o custo livrar-se dessa tarefa, que não vou permitir chegar a esse ponto. Não que tivesse acontecido com a minha bisavó, nós tomámos conta dela, também não durou muito, a seguir a ficar sem o cão, mandado abater pela minha avó Maria Antónia porque tinha hematúria e podia pegar doenças, a minha avó Galucha deve ter tido uma AVC, acho eu agora, ficou acamada, e faleceu quando Deus quis, passados uns 15 dias, nem sequer deu para ficar escariada. Lembro-me de lhe ir levar as refeições e da minha avó passar por lá a ver como ela estava, naquela altura não se levavam as pessoas para os hospitais, o médico ia a casa e decidia o que fazer, muito pouco, a não ser esperar e rezar. Se calhar como rezámos pouco ela morreu depressa. Ainda hoje sinto um nó na garganta quando penso nessa altura, o quarto era pequeno, ela estava deitada, sem luz do dia, o quarto era interior, mal se podia sentar para comer, comia pouco, não falava. Não sei se porque não podia, se porque não queria, hoje parece-me que ela não queria, estava triste demais, mas isso é o que eu sinto agora, e o que eu guardei no meu coração amargurado, não quer dizer que corresponda à verdade. A verdade que hoje eu encontro nos velhos é solidão em todos eles, todos desculpam os filhos que estão longe a fazer a sua vida, não podem e não devem largar os seus empregos, e os velhotes ficam cada vez mais tristes, mais sózinhos, mais sem vontade de comer e de falar. enquanto tem forças vão procurando conversa, na consulta, na sala de espera, nos tratamentos com a enfermeira, na loja da esquina, cada vez mais em vias de extinção, as lojas que dão conversa. Este futuro está um caos, a minha bisavó foi mais feliz, viveu com a infelicidade pouco tempo e Deus quis logo levá-la, não andou a ser empurrada de um lado para o outro, eu vou querer o mesmo, assim o Altíssimo o queira.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Água a mais

Pode chover, o vento pode soprar a 180km hora, as ondas podem passar dos 20 metros de altura, que eu não me importo, aliás eu até gosto, está a saber-me bem este ambiente de água por todos os lados. Os cães praticamente nem tentam sair connosco ao fim do jantar, olham com uma expressão elucidativa: ficamos em casa, não é verdade? Bem lá no fundo, têm sempre uma pontinha de esperança que afinal sempre vamos sair, mas quando tomam consciência que volto para o sofá, também eles procuram o melhor local para usufruir do momento em família. Por isso, pode chover até ao Verão que eu "não estou nem aí". A minha depressão está melhor obrigada, a minha neta está a comer bem, a nadar, a brincar com os amiguinhos na creche e a brincar ao esconde esconde com a mãe e o pai, nós os avós esperamos que venham no fim-de-semana, mesmo que chova, a chuva não nos mete medo, gostamos muito de água. Das notícias diárias também não estamos interessados, os telejornais já não os vemos nem ouvimos, os jornais só compramos o Expresso ao fim-de-semana, ao sábado, e ao domingo o Público, nada mais queremos saber. Quero lá saber se o nosso primeiro ministro tem as chaves nas mãos dos quadros Miró, e os sapatos nos pés, daqueles que exportamos e tão bem fazem à nossa economia, interessa-me apenas ir trabalhar de manhã e poder regressar à tarde, para no recanto do meu lar poder descansar, nada mais me interessa. As eleições? Que venham, pois que cumprirei a minha obrigação, vou votar, em branco ou talvez não, nada mais. Quando chegarem as épocas dos peditórios, vou dar a nota do costume para o IPO e o saco com compras para o  banco alimentar, obrigação cumprida. Posso dormir descansada?
Não preciso pensar nas minhas crianças que nem sequer vão à consulta? Algumas também não vão à escola, para quê a preocupação? Estratégias para melhorar a adesão, ou fidelização como agora se diz, para quê? Só para gastar mais dinheiro ao Serviço Nacional de Saúde, nada de ideias, sossegadinha quanto mais, melhor.
Preocupar-me porque não fazem exercício físico e não tem consultas de nutrição os meus obesos, e tenho tantos! Não merece a pena, os obesos vão a pouco e pouco perdendo peso, como estamos a viver "cada vez mais de acordo com a nossa condição económica" vamos passar a emagrecer paulatinamente, sem esses gastos de gente abastada! É só esperar mais um ano e essa questão passará à história, obesidade, qual obesidade, problemas que não são próprios da "nossa condição, a tal, a económica" pois então!
Preocupar-me porque as famílias que me visitam estão desempregadas? Não é verdade, não estão desempregadas sempre, trabalham uns meses, descansam outros tantos, e assim se vai organizando a estatística, o desemprego continua a baixar; não, claro que não me vou preocupar, é menos um problema real, está de acordo com a nossa "verdadeira condição social, de país pobre, a começar a viver como deve ser".
Será que há reencarnações assim tão rápidas, ainda há bem pouco tempo o Hitler se suicidou, querem ver que já cá está, só que agora na nossa terra, a atazanar a nossa vida?
Afinal ainda não devo estar muito boa da cabeça, a ter estes pensamentos, querem ver que estou com água a mais!  

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Mantém-te em silêncio

O Público de hoje trazia um texto sobre ansiedade que gostei muito. Falar de ansiedade com aquela distância, alguém que diz sofrer desde pequeno de neurose ansiosa, ou todos os outros nomes que lhe foram dando ao longo da vida, agora que já vai para perto dos 40 anos, parece-me bem. Quer dizer que tem feito o seu percurso de entendimento sobre si próprio.O que sinto na minha consulta diária é falta de tempo para fazer psicanálise sem grandes técnicas, até porque não as domino, mas bastava que tivesse um pouco mais de tempo, e podia ir mais ao fundo da questão. Sinto que nem sempre as pessoas que me procuram querem apenas a medicação para alívio rápido, mas também querem. Por outro lado, se estou em dia bom e sou capaz de ter uma escuta activa, certeira, com compaixão, então quase não seria preciso medicação, no entanto, cada vez sinto que é preciso ensinar a saber ter mais paciência e ensinar a escutar-se. A mim assusta-me quando sinto que ando mais ansiosa ou mais depressiva, acho que uma forma rápida de controlar os meus anseios é tomar a medicação que tem também variado ao longa da minha vida. Agora que apenas tenho o yoga, a meditação, a leitura, parece-me que estou a ficar " mais molinha" deixo de querer reagir, ou melhor, já não tenho aquela vontade de ripostar por tudo e nada, parece que deixei a minha querida adrenalina para trás, dou por mim, no entanto a escrever nas reuniões, naquelas em que quero manter-me calada, escrevo no canto da folha de papel que por norma tenho na frente: mantém-te em silêncio! Dar resultado dá, mas sou mais feliz? Ninguém está interessado na minha felicidade, a não ser o meu PQ.
A verdade é que ao ler este artigo, escrito por alguém que não é técnico de saúde me fez muito bem, deu-me um outro olhar sobre esta questão: a doença e o seu entendimento. Os técnicos, os doentes, os técnicos que também são doentes e todos os outros que não são doentes nem técnicos, também opinam, seria muito importante que fossem cada vez mais escutados sobre as suas questões, que por vezes transformamos em doença, por ser mais fácil, mais rápido e menos constrangedor.
Amanhã lá vamos ao funeral da Tia Maria, irmã da minha sogra. Vamos ver alguma família que só vemos nestas alturas, será que são mesmo família, ou porque o dinheiro não abunda não se visitam? O Zé disse há algum tempo que para ter amigos era preciso ter dinheiro, fiquei em choque. Será que para manter a família também é preciso ter dinheiro? Antigamente escrevíamos cartas, agora estamos todos à distância de um click, não é por falta de euros, talvez por falta de paciência, talvez por ansiedade! Na verdade estes encontros quase sempre trazem alguma ansiedade e possibilidade de maledicência?
- Estás na mesma, há quanto tempo não nos víamos!
- Pois é também estás na mesma! É verdade só nestas ocasiões é que nos encontramos, temos que nos encontrar mais vezes!
Mentimos para nos sentirmos bem connosco, o tio não está nada na mesma, está até muito mais velho! E o primo coitado, está um farrapo, nunca foi feliz com aquela mulher, tão poucochinha... e da parte deles o mesmo conversé...
Cada qual mentindo o melhor que sabe, escondendo as suas fraquezas, transformando a sua ansiedade em novo riquismo:
-Fiz e faço e farei, isto aquilo e etc
E falam, falam, eu sorrio, pouco consigo ouvir o que dizem, limito-me a sorrir e a esconder-me atrás dessa boa educação ansiosa - mantém em silêncio!

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Cada dia é cada dia

Dia 8 de Fevereiro de 2014, faleceu a Tia Maria. Já nem têm conto os que já partiram. O meu PQ dizia-me à pouco: estão a ir embora os desta geração, depois será a nossa! Olha que simpático, mas é certo que será assim, foram as minhas bisavós, a Ti Marcena, os avôs, as avós, o pai, a mãe e pelo meio alguns tios e amigos, colegas e conhecidos. Agora já não tenho medo que o telefone toque a horas menos próprias, quando os meus pais estavam vivos tinha sempre esse receio, o medo de passar por esse desgosto. Ainda hoje não fiz o luto, nunca mais somos os mesmos quando passamos para primeiro plano, não por passarmos para primeiro plano, mas porque perdemos o colo bom, dos pais. Quando vou a nossa casa, tenho roupa da minha mãe que ainda mantém o cheiro dela, talvez por isso ainda mantenha a nossa casa exactamente como estava, quando eles estavam vivos. Sempre que abro a nossa porta é como se eles estivessem à nossa espera, lá dentro. Quando mudar a casa vou perder isso tudo? Sei que agora já não tenho nada, senão as minhas lembranças, como eu gostava que a minha neta batesse à nossa porta, da casa dos meus pais, e fosse recebida com a alegria imensa que a minha mãe punha em cada reencontro! Quero muito ser uma boa avó, acho que sou uma boa mãe, um bocadinho egoísta, sempre a querer beijos e abraços e colo das minhas filhas, o mundo está virado do avesso, não fui uma boa aluna de minha mãe e de minha avó.
A minha neta está cada vez mais crescida, hoje almoçamos juntos e foi  muito agradável. Vê-la comer com satisfação é uma benção, até já tem bochechas rosadas!
Os dias passam, o tempo vai paulatinamente andando, o nosso caminho na vida é feito de pequenas grandes coisas, coisas de vida e coisas de fim de vida, é preciso aprender em cada dia a nossa lição de vida.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Dizer mal, ou mesmo bem

Durante algum tempo parece que estou a melhorar, mas afinal é um falso aviso do meu eu interior. Que difícil é viver, olho para o lado para ver quem me acompanha, mas não há ninguém! é como se caminhasse sozinha o tempo todo, não tenho ninguém a quem contar, tranquilamente, a minha vidinha. Não preciso de padre, nem de psiquiatra, nem de psicólogo, nem de ninguém que em troca eu pague honorários, preciso de alguém que vibre com a minha conversa, com o meu sentir, com os meus medos, com a minha vontade de "dizer mal" comentar isto e aquilo e não ter que estar sempre escudada na boa educação e- comme il faut-! Na altura em que frequentava a casa das madrinhas, que a gente costumava dizer: lá em casa, também me sentia assim, não entrava nos comentários, nas conversas, nas falas, enfim, não passava de mero ouvinte, por ser pequena, por ser neta da Pató, por ser quem era, NINGUÉM! Depois, quando me tornei mais crescida e deixei as madrinhas e fui à minha vida, parece que me tornei mais senhora de mim e sempre que estava na minha casa, havia sempre alguns momentos dedicados a dizer mal, raramente bem, da vida de amigos, vizinhos, conhecidos e afins, agora não. Não tenho ninguém suficientemente tranquilo, sem segundas intenções com quem dizer mal, ou bem, deste, daquele, do outro e de toda a gente. Em tempos li um estudo, acho que Inglês, onde se apontava como índice de bem estar, o facto de ter uma actividade social onde a "má língua" fosse um hábito regular. Que pena tenho então, de não estar em Inglaterra, que falta me faz dizer mal, ou mesmo bem.
Levo o dia a trabalhar, quase não tenho tempo para olhar para mim, quanto mais olhar para os outros à minha beira. Da vila onde trabalho, quero fazer o que tenho a fazer e voltar para a vila onde vivo. Chego, fecho-me em casa, às vezes, quando chego mais cedo ainda encontro a minha empregada, mas não lhe dou muita conversa, e rapidamente são horas de ir embora, fico com os meus 4 cães e as duas gatas, nenhum deles ainda consegue falar, mas fazem-me tantas festas que tenho que ralhar. O meu PQ conta-me pequenos incidentes da fábrica, pouco mais temos para comentar, quando tenho yoga como hoje, ainda vejo mais umas quantas pessoas, mas somos todos muito certinhos, fazemos yoga não conversamos. Venho para casa, jantamos e rápidamente são horas de dormir. Falta-me o social? Talvez me falte, mas não gosto muito de ser invadida na minha casa, as minhas vizinhas, a da frente sabe sempre quando chego, quando saio, quando estou mais cansada, quando deixo os cães na rua, enfim às vezes quer conversa mas fala tão baixinho que mal percebo o que diz, e ficamos assim, sem dizer mal e muito menos bem, de ninguém!
Durante o dia sinto que andam atrás de mim, parece que ao virar da esquina vou ter conversa, apenas conversa da treta, mas não, é tudo muito bem comportado, quando me abordam é para pedir mais uma consulta, um papel, uma baixa, não é a mim que procuram, procuram a técnica, e eu preciso de me portar menos bem, de rir dos disparates dos outros, de comentar, de troçar, de gozar, como antigamente, ser bem comportada o dia todo, da semana toda, do mês todo e do ano que não tem fim, não tem graça nenhuma, amanhã começo a portar-me mal.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Questões

Aqui e agora, viver o presente, esta é uma mensagem para podermos sermos mais felizes e mais presentes, com toda a nossa alma, na nossa vida diária. Leio esta frase, aqui e agora, vezes sem conta, parece até que me persegue, escolho um livro, uma revista, um jornal, e num qualquer canto, lá aparece ela, aqui e agora, este é o tema, estar o mais possível aqui e agora. Podia ser uma coincidência, mas não me parece, é perseguição. Não aceitei ainda esse desafio, luto até contra ele, porque preciso tanto do meu passado, da minha infância, da infância das minhas pequeninas, até da minha neta, já nasceu há 13 meses, e gosto tanto de me lembrar do meu primeiro momento com ela, do deslumbramento dessas recordações, quer das boas quer das menos boas, acolho as boas, revisito-as, as outras deixo que venham e que tranquilamente se vão. Claro que o Aqui e Agora faz-me pensar que está certo, mas não o posso viver sem estar ligada no passado, sem trazer as emoções, os cheiros, as cores, as vozes, até os sonhos que sonhávamos. Quando era pequena, antes de entrar na primária, não havia televisão, havia o rádio, mas nem eu nem o meu avô dávamos muito atenção a esse entretenimento, especialmente quando estávamos à noite, à lareira. Houve uma época em que eu e ele sonhámos em ter um negócio, pensámos em patos, ovelhas, coelhos, pensámos em fazermos uma criação com o propósito de ganharmos algum dinheiro, ele andava aborrecido de ser sapateiro, tinha pouco trabalho e ganhava pouco, a minha avó estava em casa dos padrinhos e não tinha "jorna" de modo que eu e ele achámos que era boa ideia iniciar um negócio: patos ou borregos!
Explicámos à família, a ideia não foi bem aceite, arranjavam sempre problemas:
- Quem vai com o gado para o campo?
- Onde fica o gado durante a noite?
-Quem compra a ração para o gado?
-Quem compra o gado para ser engordado e depois vendido?
Tantas perguntas, meu Deus, tentamos arranjar sempre respostas, mas o problema mantinha-se, precisávamos da ajuda dos meus pais para o fundo de maneio inicial e na família não havia. Se a minha avó trouxesse o dinheiro que lhe deviam, para cima de 60 contos, nas contas que o meu avô tinha feito, e eram contas feitas assim pela rama, então já tínhamos, mas a resposta era sempre a mesma:
- Vocês não estão bons da cabeça!
Não compreendia muito bem, a minha avó podia ajudar se quisesse mas, não queria aborrecer os padrinhos; esse dinheiro dava para construir a casa nova que o meu pai queria construir, mas que o pai dele, outro meu avô não lhe quis emprestar, e podia; nós queríamos o nosso negócio, e ninguém nos dava ouvidos, não precisávamos desse dinheiro, seria muito menos, mas ninguém tinha vontade de arriscar.
Parámos os nossos sonhos? Não! Os serões eram tão grandes e o meu avô e eu tínhamos conversa para  a noite toda! Essa conversa ainda hoje faz eco no meu coração, tento aderir ao momento presente, tento saborear cada recordação o melhor que sei e ao mesmo tempo estar Aqui e Agora.
Não sei é se o Aqui e Agora mais não é que uma frase de quem não tem momentos inesquecíveis?!