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quarta-feira, 28 de maio de 2014

Repetições


Desde há cerca de 20 anos que escrevo para o nosso jornal aqui da vila, desta vez apeteceu-me transcrever o artigo que escrevi para o mês de Abril de 2014.
 "A Nossa Saúde
Repetir é uma das formas que temos para aprender, fazemos isso em crianças, para aprender as primeiras palavras, fazemos isso para decorarmos matéria para os exames, continuamos a repetir-nos quando temos mais idade, para não esquecermos. Não faz mal repetir, falar e falar sobre o que nos atormenta ou pelo contrário, falarmos das coisas que mais adoramos ou até das que nos metem medo. Comemorar datas, aniversários, épocas festivas religiosas ou pagãs, Natal, Páscoa, equinócios ou carnavais, são importantes para nos libertarem da rotina, para nos fazerem acreditar que há mais vida para além do défice, da corrupção de influências, das burlas económicas / financeiras, dos ajustes orçamentais que acabam sempre na redução de salários, pensões e afins.
Abril é mês de revolução, passados 40 anos, é preciso continuar a repetir e a falar da liberdade, das conquistas, das perdas, dos ganhos, dos sonhos, porque sonhar é preciso.
Em cada dia que passa, sou confrontada cada vez com mais frequência com sonhos perdidos, com vidas destroçadas, com dores e lutos, então preciso agarrar-me a sonhos para poder lidar melhor com a realidade que me entra consultório dentro.
Partilhar faz bem, por isso partilho. Não sei como ajudar a resolver uma das últimas questões que me foi dado tomar conhecimento:
- F.P. homem com 68 anos, com cancro do colon, colostomizado, a viver sozinho, numa habitação que ainda não visitei, mas que sem grande esforço imagino, com uma higiene deficiente, procura-me por dor forte no membro inferior esquerdo. Depois de ter efectuado o exame objectivo, confrontei-me com um emagrecimento marcado, de ter o diagnóstico agravado com uma anemia ferropénica, de ter decidido a terapêutica para a dor que o trouxe à consulta, olhando bem para ele percebi que estava triste demais, por isso ficámos mais um pouco e conversámos sobre a vida, a sua vida, a sua solidão, e sugeri:
- E se fosse passar um tempo com o filho?
-Não, não posso, ele tem uma casa muito pequenina, só tem 2 quartinhos, tenho 2 netas, não pode ser!
- Então e se fosse passar o dia ao Centro de Dia tinha companhia, tratavam-lhe da roupa, da comida, sentia-se talvez melhor senhor F.P.  
- Não senhora Doutora!
Choramingando, continua em surdina:
-O meu filho está desempregado, o dinheiro que tenho da pensão é para ele!
E ficámos em silêncio.
É preciso repetir, tantas vezes quantas as necessárias, para aprendermos, para decorarmos, para não esquecermos."
Cada um de nós tem cerca de 30 histórias para contar ao longo da nossa vida, parece que eu vou arranjado um pouco mais. 
Ultimamente tenho tido dias com muita preguiça, muito cansaço e o sono agarra-me em cada momento em que me sento para descansar. Espero com o chegar do Verão que as coisas melhorem, o tempo quente sempre me fez bem, e as tardes no meu quintal dão anos de vida. Vamos ver! 

domingo, 11 de maio de 2014

Paciência

Estou um bocadito agoniado com a época de caça ao voto que se vai iniciar hoje, cada vez acho que os políticos são mais aldrabões, mas não são só os nossos, os políticos são igualmente aldrabões por esse mundo fóra. Não sei o que é possível fazer para que esta carneirisse deixe de existir, esta possibilidade de votar sempre nos mesmos devia poder ser alterada, mas não sei como, quem quer ser o novo 1º ministro? Faz-me lembrar a história da carochinha, que se pôs à janela: quem quer casar com a carochinha que é bonita e formosinha? Não tenho paciência para esta gente!
 Não vi o festival da canção, vi apenas "aquela figurinha" que ganhou, homem, mais mulher que homem, vestido à mulher com todos os trejeitos de uma menina tonta, com uma barba ridícula, e ainda por cima vindo da Áustria, o que é que se passa? O mundo está a mudar ou está tudo doido?  Não tenho paciência para esta gente!
O professor Marcelo diz que está tudo doido, quando comenta a política nacional, eu digo que está tudo doido, mas o mundo em geral.
Assusta-me a minha querida neta estar a crescer numa doidice destas, o que vale é que ela parece estar a crescer tranquilamente, com os pézinhos bem assentes no chão, esta primavera já aprendeu a gostar de caracóis o que é bom, já faz companhia.
A falta que faz ter companhia, antigamente ficava muito contente quando ia a Cabeção e percebia o contentamento dos meus pais quando a gente chegava, depois quando a família começou a crescer já não sabia se ficavam contentes por mim, ou apenas porque a família era cada vez maior, agora percebo um bocadinho, ficamos contentes com a companhia, ponto. Primeiro ficamos contentes com as filhas, depois ficamos ainda mais contentes porque para além das filhas ainda temos os seus homens e ainda mais contentes ficamos quando começam a  aparecer os netos, no nosso caso, ainda só uma neta. Ficamos contentes sobretudo e acima de tudo que gostam de nós como gostamos deles todos, ficamos contentes que nos beijem como gostamos de beijar, que nos cocem as costas como  gostamos de fazer massagens nas costas, nos pés, em todo o lado, ficamos contentes porque podemos conversar ao vivo, cada vez gostamos mais de conversar ao vivo, sem ser pelo telefone, skype e afins, como gostamos de conversar frente a frente, gostamos também e muito dos silêncios, porque são silêncios tão saborosos, silêncios acompanhados, são do melhor que há. A felicidade que é apenas poder sentir que não estamos sós em casa, a nossa casa fica demasiado grande quando estamos sózinhos.
Afinal não me assustam só os políticos, também me sinto assustada com a solidão. Tenho muita coisa que fazer, mas fico enrolada sobre mim, a pensar, a sentir, a fazer de conta que leio, a sonhar, a não fazer nada, é assim a preguiça ou tão só a possibilidade de descansar?
Baralhada, ainda ando muito baralhada, estou um bocadito farta de mim!