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sábado, 31 de outubro de 2015

Conversas

Há muitas maneiras de viver. A fingir, a olhar para o lado, a olhar para o umbigo, a olhar para os pés ou para as nuvens, com medo, com poder, humilhado, triste, depressivo, alegre, divertido, contando histórias, milhares são as maneiras de viver a vida. Acho que já passei por elas quase todas e de cada vez, é sempre uma novidade.
Se me perguntar como estou agora a viver a minha vida, diria: com medo, a não permitir-me viver, a não permitir-me ser feliz, a não permitir-me nada senão trabalho-casa-trabalho-casa ou antes casa-trabalho-trabalho-casa. Dei comigo a ter consciência desta realidade e assustei-me. E ter consciência é obra, dói que se farta. Olhei para trás no tempo e encontrei os olhos de minha mãe:
- Filha que andas a fazer?
- Nada, não vês que trabalho muito!
- Sei que sim, mas chegas a casa e não fazes nada!!!!
- Não me sinto com forças, não vês o meu cansaço?
- Vejo e sinto uma grande tristeza por te ver assim; esperava que fosses mais forte, mais enérgica, que esperas para acabar a blusa da tua filha que começaste há tanto tempo, quando ela foi para a Faculdade, não foi?
- Foi nessa altura, mas sabes que só faltam as mangas e pouco mais, e não tenho a agulha de cozer as lãs!
- Desculpas, não faças isso contigo. Compra a agulha e termina a blusa. Começa qualquer trabalho, não fiques a ver televisão, a fingir que lês o jornal ou a jogar no telemóvel, não gosto nada de te ver assim!!!! Sabes que não te faz bem à cabeça, não faz bem à alma, não faz bem a nada.
- Sei disso minha mãe, mas tu fazes-me falta, tanta falta, não tenho ninguém com quem conversar, Joana. Se ao menos pudéssemos falar de vez em quando, minha mãe as saudades que tenho tuas! Nunca me tinhas dito que um dia ia ser a tua vez de partir, não estava nos nossos planos esta separação, esta loucura de saudades que me impedem de ver com a clareza que tu sempre me ensinaste e que sempre tentei seguir e ensinar às filhas. Sinto-me órfã sabendo no meu coração que o não sou, estou sem rumo!
- Olha para mim, vê bem no fundo dos meus olhos se em algum momento da nossa vida te deixei sozinha?
- Nunca fiquei sozinha, minha mãe, mas preciso do teu colo, das massagens que me fazias na cabeça, nos pés, preciso das massagens dos teus olhos nos meus olhos!
- Tens isso tudo. Massagens faço com as mãos do teu PQ, ele faz-te diariamente e eu guio-lhe as mãos, colo diariamente tens de tanta gente, dos amigos, das filhas, dos genros, da tua neta, minha querida bisneta e eu guio-lhe os gestos e diariamente os meus olhos acariciam os teus, bem dentro da tua alma e tu bem sabes! Tens tudo isso e ainda tens um pouco mais, as filhas e as netas e os homens que amam as tuas filhas, a tua casa está cada vez mais cheia, e eu estou no meio de todos vocês zelando para que nada vos falte, guiando, amando, rindo e chorando, vivendo em cada um e em todos.
- Sei que sim, mas queria-te só para mim, com fazíamos em Cabeção, quando me levantava cedo, vinha para o teu lado, na lareira, me fazias torradas e uma caneca com leite quente e conversávamos até que os outros todos começassem a chegar, queria-te só para mim...
- E continuas a ter, porque continuamos a conversar as duas como agora, mais ninguém está aqui, que mais podemos querer?
- Minha mãe queria ver-te, tocar-te, cheirar-te, dar-te beijos e sentir o teu abraço, sentir os teus braços nos meus braços!
- As palavras são terapêuticas como tu costumas dizer, que eu bem oiço, então tens isso tudo com a nossa conversa. Olha para mim!
- Estou Olhando!
- Que vês?
- Amor!
- Só isso precisas para continuares, que vais fazer?
- Acabar a blusa, escrever a carta de Natal e se for capaz fazer umas prendinhas para o Natal!
- Beijos filha, vai correr tudo bem!
- Obrigada mãe eu acredito!

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Aqui estou!

Parar é morrer. Estive para desistir de tudo, da vida, do céu, da terra, do mar e de mim. Hoje ganhei coragem e voltei, na verdade não quero. Não quero desistir nem da vida, nem do céu, nem da terra, nem do mar e ainda menos de mim. Fiz a minha travessia no deserto e agora aqui estou! Se estou pronta para contar esta aventura que fiz dentro de mim? Nem pouco mais ou menos. Ainda sinto momentos de grande tristeza, de zanga, de amargura e de dor, mas são momentos que já vou tolerando com alguma resiliência. Precisava deste afastamento? Claro, pois se não conseguia enxergar nada à frente do nariz, não ia conseguia escrever duas letras seguidas. Estive cega e fiquei surda, perdi o sabor do momento, pensei atirar-me do carro para dentro do futuro, pensei tanta coisa, de tanto pensar endoidei, brutal a dor que nos cega, torna surdos e mudos, incapazes de respirar. Como se não houvesse amanhã. O meu estômago encolheu, perdi o controle da fome e naturalmente perdi uns quilitos. A dor é nossa amiga. Costumava ensinar que a tosse é nossa amiga, que a dor é nossa amiga, que a obstipação é nossa amiga, que todos os sinais que o nosso corpo nos vai dando servem para nos porem alerta, são por isso nossos amigos, desconhecia era a dimensão que tais sinais podiam atingir. Desconhecia tanta coisa, tanta coisa que até me parece mentira, de tal maneira assim é, que não posso contar a ninguém o que aprendi, por ser transcendental, por ser primário, secundário e terciário e pertencer a dimensões que a ciência ainda não aprovou e eu sou uma mulher de ciência!
Se algum dia vou abrir esse livro? Só se a ciência mo permitir e isso acho que ainda está longe. Aceito o desafio de alguém adivinhar! Tenho momentos que até eu duvido e vivi-os. Não fui raptada por nenhum ovni, mas gostava, tenho até sonhado sonhos que conheço bem. Não fui para outro país viver, mas fui passear e adorei, mas não se trata disso, de viver longe ou de passear, trata-se de tomar contacto com realidades inimagináveis para mim que sou uma mulher de ciência e a ciência ainda não explica esses fenómenos. Afinal trata-se de momentos de vivencia esquizofrénica? Quem dera, como eu pedi para voltar ao passado, quando de tudo e de todos recebia amor e me achava o centro do Universo! Não era esquizofrenia, era a realidade, a vivencia da realidade na mais profunda mentira, no mais profundo engano.
Agora aqui estou, depois de ter tomado consciência da vida como ela é, com os enganos e desenganos, com as mentiras e as maldades, com a loucura da dor profunda, com a dor gravada na alma, mas com a certeza que a mentira será sempre vencida pelo amor, com a certeza que a dor será sempre vencida pelo amor, com a certeza que até a nossa alma é resgatada pelo amor, só pelo amor, por isso não me perdi. Aqui estou! 

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

O amor é ridículo

Não são só as cartas de amor que são ridículas, o amor é ridículo. O amor dói, prende, corrompe, causa tristeza sem fim, limita, nuns dias; noutros o amor é doce, liberta, tem postura, é elegante e cativa, aumenta a auto estima, dão-se gargalhadas, ficamos horas sem fim para encontrarmos "aquele olhar" que vai fundo no nosso coração, nem que dure breves instantes e parece que nessa altura o céu se abate sobre a nossa alma, a respiração acelera, tudo é adrenalina e somos as princesas dos príncipes encantados. O amor é ridículo, como ridículas são as cartas, as mensagens, os SMS, tudo. Fazemos em nome dele, do amor, barbaridades, promessas, mentimos, enganamos, morremos em vida e com vida, por amor, mas persistimos nessa vontade de continuar a amar, quando esse amor nos mata, nos tira o bom senso, a razão. No amor, todos esses adjetivos não passam de palavras ocas. No amor não há nem bom senso, nem razão, nem nada, apenas amor e como há amor!  Não são só as cartas de amor que são ridículas, nós somos ridículos; inventamos desculpas, mentimos momentos, ficamos com a alma perdida, incapaz de raciocinar, incapaz de falar o que nos vai na cabeça, porque o coração é o maior órgão do nosso corpo, apanhados nessa rede do amor nunca mais somos os mesmos, e mesmo que eu pudesse " amar este, aquele o outro e toda a gente, amar, amar e não amar ninguém", não posso porque este amor não mo permite. Não deve ser fácil viver sem amor, mas viver com ele, assim, com todo o nosso corpo, alma, com todo o passado, presente e futuro é ridículo, deveria poder ser mais contido, mais calmo, mais tranquilo, não tem que ser por inteiro com esta intensidade louca, esta vontade de passar a ser um em dois. Porque às vezes os príncipes encantaram-nos e não tem nada de encantados, e quando vamos a olhar e ver, perdeu-se o encanto; às vezes as princesas só vem o príncipe com os olhos desse amor, que perturba, que confunde, que preenche e por isso não precisamos de mais nada, apenas desse amor, falta saber se estamos nesse momento os dois com o mesmo amor louco. O amor não é só ridículo, o amor não é só sofrimento, nem só alegria o amor é assim, alimento, água pura, oxigénio que ilumina, que brilha nos olhos, que faz da nossa aura um hino à luz. O amor é ridículo e ridículas são as pessoas que amam; que felicidade a minha, também sou ridícula e gosto.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Etiquetas

Já escrevo neste blogue há algum tempo, cerca de 3 anos e ainda não sei quase nada como funciona e já tenho quase 5000 visitas. Não estou nada interessada em colocar fotografias, desenhos, gráficos, pensamentos de gente importante, ganhar dinheiro, dar receitas de beleza, doces ou migas, e como eu sei fazer migas, especialmente as de rins e miolos ou as de espargos, nada disso me interessa. Só as palavras. Tive o azar de colocar a fotografia da flor que tive no laguinho e até ao momento ainda não fui capaz da tirar. É certo que podia já ter pedido ajuda mas isso não é o mais interessante. Vou descobrir um dia destes. A minha labuta é interior, comigo mesma e com as palavras. são as palavras que me ajudam a perceber os meus dias, os meus momentos de angústia, de depressão de perda ou de doença como agora, estou tão farta desta gripe que já dura há mais de 1 mês, dias melhores, semanas piores e lá vou andando, na certa a minha imunidade está toda virada do avesso, também não faço nada para a melhorar, amanhã já vou ao Yoga para alinhar os meus chacras. Devia estar a treinar a contemplação, como me encomendou a minha psicóloga Alice e faço tudo menos isso, olhar eu olho, já não faço comentários a torto e a direito como era meu hábito, e o hábito era fazer comentários viperinos, irónicos, com graça, sempre me acharam muita graça, a minha filha mais nova uma vez perguntou-me se eu na escola era tipo bobo!!!! Não gostei, mas fingi que não percebi e respondi que era uma miúda muito "in" sempre em cima, comandante das outras todas, e muitas vezes dos rapazes também. Era engraçada porque tinha mesmo graça sem nunca saber contar uma anedota, sempre a brincar, a correr, a saltar, a pregar partidas e a sofrer partidas, naturalmente. Nunca me bateram e eu bati uma a duas vezes, uma das quais parti a cabeça a uma amiga, foi assim um bocadito sem querer mesmo, mas ela estava na direcção da pedra, enfim coisas de gaiatas, para esta conversa não interessa. Já não tenho essa idade, não salto nem corro, senão quando a minha neta me pede. Agora ainda acho que tenho graça, na minha maneira de comentar isto e aquilo, mas a pouco e pouco vou tendo mais tento na língua, mas não na cabeça, guardo só para mim, não comento mas também não contemplo o que é uma pena, estou a perder alguma coisa que ainda desconheço. Quando perguntei à Alice o que ia aprender com a contemplação ela fez um sorriso daqueles enigmáticos que interpretei como : nem tu sabes!  E ainda não sei. Hoje fui a Évora a mais uma reunião e fui apresentada ao colega chefe da Unidade de Saúde Funcional (USF), modernices que chamam agora a alguns Centros de Saúde, que me pega na mão e beija a dele, para ter graça? Não teve. Para ser educado, não foi! Não percebi e não disse nada, saiu-me: muito gosto, muito rápido, não fosse a minha boca atraiçoar-me e sair: está a treinar? E sabendo de antemão que diria: quem eu? Eu lhe faria sentir o seu ridículo, a sua figurinha com uma boa dose de brincadeira sádica. Não fiz nem disse nada, olhei mas não contemplei, julguei-o tão mal, caso ele tivesse adivinhado o meu pensamento, não haveria buraco fundo o necessário para se encafifar. E a seguir não fiz qualquer comentário com o colega que mo apresentou, nadinha. Antigamente era capaz de o ter achincalhado. Melhorei, mas ainda não estou a contemplar sem ajuizar, sem colocar etiquetas: és burro, és bonito, gosto de ti, não vales nada, que pena teres aparecido, olha como és simpático, és, não és, e por aí adiante, num sem fim de comentários. Vou melhorar, sei que vou, mas é uma melhoria tão pequenina que muita vez nem eu dou por ela, não fosse o caso de escrever, hoje não teria reflectido que afinal até nem foi mau de todo!

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Bisbilhotices

O frio não pára e as mortes por causa deste tempo também não; imaginem se vivêssemos nos países do Norte da Europa, era uma mortandade; parece que estou a ouvir a minha avó Maria Antónia: com estas coisas não se brinca, menina! E eu lá me encolhia, disfarçava e começava outra conversa, para esquecermos o frio e as mortes. Tínhamos de falar de coisas sem importância, coisas que me fazem tanta falta agora para conversar, fofoquices, naquela altura dizia-se bisbilhotices -Ah fulana é muito bisbilhoteira, sicrana é muito ajuizada não se ouve ela falar de ninguém, bla bla bla bla... Eu sempre quis ser muito ajuizada, certinha, sabedora e humilde, boa dona de casa, com cultura sobre literatura, história Universal e sobre Arte, boa cozinheira, fazer renda, bordados, falar Francês e um pouco de Inglês e claro o piano, saber tocar piano, também aprendi a montar, faltou-me aprender a andar de bicicleta, nunca ninguém me quis ensinar, nunca ninguém segurou a parte de trás da bicicleta para eu não cair, por isso sempre tive receio, sei que andar de bicicleta não era importante para a minha condição! A condição de falar Francês, bordar e tocar piano, claro que a parte da bisbilhotice era para os momentos mortos, um pequeno fait divert!!!
Não tenho momentos mortos agora, sinto-me é morta ao fim de um dia de trabalho, leio pouco, mantenho ainda a vontade de bordar, estou a terminar uma toalha de mesa a ponto de cruz que comecei há mais de 10 anos, sem exagero, foi quando a minha filha mais velha foi para a Faculdade, pois ela já terminou há muito, já fez um mestrado, casou e teve a minha querida neta, por isso talvez esteja já um pouco atrasada, mas termino este mês.
Também não tenho hipótese de bisbilhotice, não tenho com quem bisbilhotar, assim como quem não quer a coisa, muito ao de leve, sem dar muito nas vistas; mas não consigo companhia, vou de manhã para o trabalho e regresso à tarde capaz de ir para a cama; ainda pratico yoga 2 x semana e tinha vontade de voltar à música, vamos ver quando o sol regressar se me dá força suficiente e tardes maiores para recomeçar.
Falar a falta que me faz, falar com toda a gente da minha meninice, até nem me importava de voltar a casa das madrinhas, ficar sossegada a ouvir todos os barulhos, toda aquela azáfema que não me dizia respeito mas que adorava olhar, a falta que me faz; mas não, aconteceu que a mortandade foi atingido toda a gente minha conhecida e daqui a pouco resto eu e as minhas memórias e não vale a pena ralhares minha avó, que estou a falar a sério e estou triste, fazes-me tanta falta!

sábado, 17 de janeiro de 2015

Os tempos do tempo

Almocei com a minha neta, estivemos um bocadinho, ela foi dormir a sesta e nós fomos ao cinema. Para ser mais feliz precisava ter ficado mais tempo com ela, ia ao cinema e depois voltávamos a encontrar para lanchar e conversar e estar só por estar. O tempo não permite. Quando terminou o cinema eram 18h, já era de noite, para chegar a casa da filha demorava bem uma meia hora, e então não lanchávamos, aguardávamos a hora de jantar, por outro lado, tínhamos que regressar a casa, os animais nossos amigos também precisam de comer; claro que voltámos para casa felizes, mas sempre a querer mais. O cinema foi bom, vimos a história de Alan Tuning e a forma como fez a descodificação do código que os Alemães usaram na 2ª Guerra Mundial construindo o primeiro computador, desconhecia por completo, gostei, chorar só chorei no fim, mas obviamente que chorei, choro sempre.
No caminho a conversar com o meu PQ desabafei que fico sempre com saudades da filha, estou um bocadinho com ela e queria estar o dia inteiro, a noite, a semana e os meses carregados de anos, acabamos sempre por ficar uns ridículos minutos, nunca dá jeito ficar e eu a morrer de saudades. Porque será necessária esta separação? Sei que ela cresceu, que casou, que tem a minha querida neta, mas eu preciso tanto de estar com ela, é assim como a necessidade que tenho de estar com a minha mãe, uma saudade muito cá de dentro que nem consigo descrever bem, parece até uma saudade física, muito física. Sei que podemos e falamos ao telefone, que nos visitamos, que pensamos uma na outra que nos gostamos muito, mas preciso da companhia, da sentir perto, de perceber se está bem, se está mais dias felizes do que menos, preciso de falar tantas coisas e limito-me a olhar, a contemplar, a dar uma graça, um sorriso. Só sinto esta saudade desta filha? Sim, porque com a minha filha mais nova estou mais tempo, trabalhamos às vezes juntas, partilhamos alguns medos, algumas tristezas e alegrias de fim de semana, por isso não sinto tanta falta. Vamos ter que resolver estas saudades, porque é fácil; difícil são as saudades da minha mãe, até mais que do meu pai, porque será? Sempre que pegava no telefone, ouvia do outro lado: filha? e a conversa não tinha mais fim, como eu gostava de saber os mexericos da vila, o que tinha acontecido de bom, de mau, ou assim assim; se por acaso vinha o meu pai ao telefone, acontecia: espera aí que eu vou passar à mãe! O meu pai ouvia mal ao telefone, não tinha aquela conversa de mulheres que a minha mãe tinha, e eu sinto muito a falta da fala dela, era uma conversa parecida a colo, acho que até me lembro do cheiro da conversa.
Preciso de estar mais tempo com as filhas e a neta, com o pai Marco e o futuro pai André, preciso muito desse mimo. O tempo não nos dá esse tempo, temos mesmo que o provocar, porque a gente faz do tempo o que a gente quiser.  

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Dilemas

Podia não dizer nada, ficar com essa alegria só para mim, a alegria que tenho agora é porque a minha querida sobrinha afinal é capaz de ter um cancro da mama menos grave do que estávamos a pensar. Talvez precise fazer radioterapia, mas a quimioterapia talvez não seja preciso.
Perguntei-lhe - filha o que te preocupa mais?
Resposta pronta e rápida - tia o cancro é o meu problema menos importante!
Em que é que achas que te posso ajudar?
Em melhorar a minha relação com as pessoas!
A minha sobrinha é um doce de miúda, meiga, atenta, adaptável, capaz de ir ao fim do mundo para ter um momento de paz. Será esse o seu maior problema, o relacionamento com as pessoas? Encontrar o seu canto onde possa viver em paz? Então não sei como ajudá-la, não sei com ajudá-la a encontrar o seu local para a vida.
Este momento ainda não será o mais indicado para se pensar nesse local, agora é o momento para dar paz ao seu corpo de modo a que vença esta batalha, pode estar ganho o primeiro round, mas nada ainda é muito certo.
Continua na minha cabeça e no meu coração a pergunta: filha o que te preocupa mais? Em que é que achas que te posso ajudar?
Não fiquei satisfeita com as respostas, para a perceber tinha-mos que conversar mais e mais até as duas estarmos no mesmo cumprimento de onda e ela tivesse a certeza que podia dizer-me tudo o que lhe vai na alma sem sentir da minha parte qualquer recriminação, qualquer olhar de reprovação, qualquer jeito de quem lhe quer "pôr jeito na vida". Ela foge há tantos anos, já correu meio mundo, ainda não se encontrou, como podia fazê-lo em 3 dias que passou connosco?
A nossa vida é feita destes desencontros, estes desencrontos estão na nossa vida diária, precisamos de trabalhar todos os dias, não temos tempo nem paz de espirito para ouvirmos a nossa voz interior, como é que ia ser capaz de ouvir a minha sobrinha, ouvir só e pronto, sem qualquer juízo de valor ou outro qualquer juízo?
Sinto-me presa do meu trabalho e gosto dele, como posso exigir que ela arranje trabalho se ela ainda não se encontrou? Precisamos trabalhar para o nosso sustento e para sustentarmos os nossos filhos e pais, ela vive sozinha, precisa de tão pouco para ser feliz, mas sempre precisa de alguma coisa.
No futuro os nossos trabalhos, empregos, atividades, qualquer nome que venham a ter, tem que poder adequar-se à nossa necessidade e não ser obrigatório trabalhar oito e mais horas por dia, por vezes 72 horas por semana, para mim vai sendo demais. O trabalho tem que mudar, o meu tempo é cada dia mais rápido, não posso continuar a deixar que este trabalho que adoro me escravize.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Esta agora!

O Ano vai andando, hoje já é dia de Reis; só hoje acabei a carta de Natal, ainda a enviei para os meus amores e mais duas amigas, não tive coragem de enviar a mais ninguém. Também abusei um bocadito, escrevi quase três páginas sem fotografias sem nada a enfeitar e tão cedo que a comecei a escrever, continuo a ter alguma dificuldade em cumprir prazos de escrita e de arrumação. Dois temas que vou ter que melhorar este ano, acho que vou melhorar mesmo, vou tentar todos os dias.
Estou um tudo nada angustiada, hoje: quando temos um doente com uma doença muito grave, cancro muito maligno, com tratamentos protocolados habituais, que parece que melhoram a vida, prolongam a vida, quase sempre, e o doente não quer, que fazer? Vai querer fazer tratamentos alternativos que a gente não sabe nada, ou quase nada, fazemos o quê, Meu Deus ajuda-me! Como podemos ajudar nestas circunstâncias? Sei que a palavra última é do doente mas estou habituada a seguir a minha estradinha, tento não me desviar, seguir sempre em frente, sem maltratar nada nem ninguém, sem passar à frente, sem dar cotoveladas, sem cuspir para o chão nem tirar macaquinhos do nariz, quando me deparo com uma pessoa que adoro e que é exatamente o meu oposto, que quebra por norma todas as barreiras e protocolos, que diz não com muita frequência, que vive do que "apanha", que não tem emprego nem dinheiro dela própria, não sei como ajudar a pescar quem não come peixe. A minha mãe não me preparou para várias coisas:
- A minha mãe nunca falou comigo sobre a morte, que um dia eu ia viver sem ela, não me preparou para esse momento e a minha tristeza e a minha saudade não tem fim;
- A minha mãe sempre me ensinou a obedecer e palavra de médico era sagrada, nem pensar em questionar o Senhor Doutor;
- A minha mãe sempre manteve toda a família à sua volta, e fazíamos tudo para a deixar feliz, obedecíamos; se refilávamos era baixinho, só muito mais tarde é que pouco a pouco falávamos e podíamos não estar muito de acordo ao princípio, mas no fim da conversa já falávamos a uma só voz e nunca fomos para a cama zangadas;
- A minha mãe partiu, já não sabia dizer o meu nome, mas tinha - me no seu coração que eu sei;
- A minha mãe partiu cedo demais, deixou ainda muita coisa para me ensinar, coisas que eu precisava aprender com ela.

Mas se é assim eu vou ser capaz, porque sei que vou tendo a ajuda dela, dentro de mim sei que vou tendo, e só eu sei!

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

É coisa para me assustar?

Há quanto tempo? Deixei de vir aqui escrever, o meu antigo computador deu o berro, não conseguia escrever nada, e o Pai Natal, o Menino Jesus, quem quiserem, deram-me esta prenda, um computador maior e MUITO MAIS RÁPIDO, fiquei tão contente (eu sei que foste tu que me deste, mais ninguém sabia desse meu problema, adorei).
Agora aqui estou, tenho uma carta de Natal que ainda não terminei exatamente porque não tinha aonde escrever, acho que vou ser capaz de a acabar para os Reis. Nesta máquina vou escrever de acordo com o novo acordo ortográfico, para evitar as minhas palavras sublinhadas a vermelho, escolho o que me dá mais satisfação, palavras limpas à maneira moderna.
Voltar aqui agora, faz-me sentir um misto de emoções, alegria - ter uma folha branca e deitar-me sobre ela com as minhas palavras, como se desbravasse um tesouro que só eu sei como encontrar; de alegria porque acho que quem gostava de ler as minhas letras, vai poder partilhar comigo esses momentos, escrevo para eu reler e me encontrar e quem quiser me acompanhar, faça favor; de alegria porque essa é a emoção com que comecei este ano, com muita alegria, fartei-me de dançar, é certo que dançamos sempre da mesma maneira, não temos escola nenhuma, mas sentimos muito prazer em dar uns passinhos de dança e este ano, acho que senti dentro de mim a música como nunca tinha acontecido antes, preciso mesmo de aprender uns passos de dança para poder libertar-me; dançámos até não pudermos mais, as pernas ficaram tão doídas que fraquejavam, por pouco não caí na pista de dança... fartámos de rir, e não caí, foi só o susto; de alegria porque sim, só isso; que mais emoções tive nestes 2 dias do Ano Novo? Não sei se tranquilidade é emoção, mas sinto muita tranquilidade, sinto uma calma que por vezes me deixa ver e sentir o que até aqui deixava escapar, o gosto, o tacto, (tenho pena, fica com traço a vermelho, mas tacto é tacto e não tato!) o cheiro, a visão e a audição, toda a gente sabe que sou surda, que uso aparelhos auditivos para ouvir melhor, mas uso-os só para trabalhar, ou para ouvir uma musica na radio, em casa, em vez de ligar a TV. Se tranquilidade é emoção, também sinto. Das antigas emoções, de tristeza, desânimo, não ter vontade, ter pensamentos feios, esses momentos todos estão a pouco e pouco a deixar-me em paz, não sei que me aconteceu, mas fui-me descobrindo em cada momento que parei, em cada momento que não pensei em nada, em cada aula de yoga, em cada sorriso que dei e que recebi, em cada abraço, não sei mesmo, não sei se não é a minha neta, pode ser, sinto-me com muita energia boa quando partilhamos cantigas, desenhos, quando vamos às compras, este ano foi divinal, ir às comprar com a minha querida neta: este livro é para o pai, este é para a mãe, avó quero este navio com este crocodilo verde!! Que loucura, foram duas tardes que não troco por nada, que venham mais momentos destes. Este ano ela teve medo do Pai Natal, ele fez uma voz mais rouca, tinha uns grandes óculos e ela já tinha um bocadito de sono, de modo que a visita foi mais curta, deixou os presentes e abalou numa correria, com um choro fininho a acompanhar.
O Natal e a Passagem de Ano ficam-me na memória e nalgumas fotografias, poucas, que tirámos, para mais tarde recordarmos com as minhas palavras e as fotos.
Desejos também escrevi, nada que se compare com os anos anteriores, fazia verdadeiros testamentos, pus no papel tudo, desde as viagens que queria e muitas delas ainda quero, até ao armário que precisamos mudar, ao papel, aos lençóis ou toalhas, às arrumações que queria e ainda quero fazer, que escrita eu fazia, este ano mudei, parece que esses desejos também existem mas outros maiores e mais importantes tenho dentro de mim, escrevi alguma coisa é certo, mas se resumisse agora diria que não passou de: um Ano Novo com muita Paz e Amor, estou a ficar zen, é coisa para me assustar? Ok vou marcar uma consulta para a Alice!