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terça-feira, 5 de junho de 2012

Talvez na mesma

Quando acabo o dia fico assim assim, um pouco mais ou menos na mesma, como diz a minha querida sogra quando lhe perguntamos: então como é que está? - Estou pouco mais ou menos na mesma!
Ficamos esclarecidos, para não complicar, na mesma; e é assim que eu hoje me sinto, na mesma, tive um dia de trabalho recheado de coisas boas, menos boas e até um pouco mais desagradáveis, mas tive mais um caso complicado de diagnóstico, 2ª feira vou ter que perguntar ao Bernardo, o meu colega psiquiatra, não devia dizer nomes, mas assim não me engano, e tenho medo de me esquecer, a minha mãe faleceu com uma demência grave, a minha avá Maria Antónia também, assim como a minha bisavó Cachica, de modo que se a Alice estiver correcta eu já não vou ter o mesmo fim, mas tenho um medo brutal, por volta dos meus 72 anos posso ficar doente, quero deixar as minhas escritas o mais certo que eu conseguir, sabendo que quando a gente conta a história do dia contamos sempre do nosso ponto de vista. Bom, mas estava a tentar contar o problema do rapaz de 13 anos, com insucesso escolar, está no 5º ano e os coleguinhas chamam-lhe tarado sexual, porque em qualquer situação que lhe desperte a libido ele não se controla, fica com erecção e masturba-se em qualquer sítio; para abreviar a história de vida, tão curta, mas tão complicada, o jovem sofreu a separação dos pais quando tinha 2 anos de idade, a mãe já teve mais 2 filhos e o pai já teve mais dois filhos, o filho mais velho deste pai, o rapaz foi abusado sexualmente pelo irmão, o jovem que me calhou em sorte observar, o Pedro. E agora? Estive a falar hoje com ele e com a mãe, não fosse a história que contaram, pareciam uma família normal, mas não são, têm um passado de separações, de mães que maltrataram os filhos, de filhos que maltrataram irmãos, é tão cruel que fico boquiaberta como é possível viver, continuar a viver? Que passado tem esta criança que sofre horrores, que tem pânico em adormecer porque os sonhos o amedrontam tanto, sonhos que ele conhece e sabe que está a sonhar e só quando morre no sonho é que consegue pará-lo, porque finalmente acorda, acorda a chorar ainda com lágrimas nos olhos!! Quem é que pede para morrer no sonho, porque não aguenta tanta perseguição, tanto medo? Como vou poder ajudar esta criança, que a mãe tirou da Pedo-psiquiatra porque a professora o achava muito parado com a medicação? Então porque é que a professora pede para ser observado por mim?
Na próxima semana vou desenlear uma pequena ponta deste emaranhado, sinto é que, TALVEZ, não valesse a pena este Pedro sofrer e fazer sofrer tanto, as coisas não acontecem por acaso? Tudo tem uma razão?
Mudemos rápidamente de assunto, a filha fez uma ecografia e o bébé não deixou ver o sexo, a colega acha que deve ser uma rapariga, eu continuo a achar que vai ser um rapaz e o meu PQ continua a achar que vai ser uma menina, que felicidade poder ser avó.

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