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quarta-feira, 24 de julho de 2013

Caiados de Verão

Nunca desistir é um bom lema, nunca desistir. Tem sido difícil, mas agora que me sinto bem melhor, com muito mais energia, sabe-me bem ter tentado todos os dias e ter consciência do processo porque passei, comigo mesma, não falando a não ser com o meu PQ, que tem uma paciência de santo. Saber que posso preguiçar nas próximas 4 semanas, na companhia dos meus queridos todos, alegra-me a alma e dá-me ainda mais alento, mas não é só isso embora seja também isso; perceber que posso descansar, ler um livro do princípio ao fim, uma revista, um jornal, apanhar sol, arrumar uma gaveta, pequenos prazeres que são para mim suficientes para recuperar ainda mais energia. Depois, como vou arrumar a casa, vai ser toda pintada e por isso a seguir será preciso arrumar, dá-me vontade de mudar alguma coisa, um cortinado, um edredon, pouco mais posso mudar, não tenho móveis que se possam mudar, mas terei um maneira nova de arrumar os livros, as fotografias e posso sempre arranjar mais fotografias. Antigamente, era nesta altura que a minha mãe fazia os caiados, era uma agitação lá em casa, de manhã vinham as mulheres, 2 ou 3 conforma a minha mãe achava importante, porque a mulher é que organizava os caiados, caiados porque as paredes eram caiadas com cal. A preparação dos caiados começava muitas semanas antes, íamos a casa da Branca conversar, era uma tarde inteira, combinava-se o que iam fazer, combinava-se quem seria preciso contratar, a quantidade de cal que a minha mãe havia de comprar, a altura em que podiam começar, se iam almoçar lá em casa, combinava-se tudo, tudinho ao pormenor, e eu ali ao lado a ouvir com toda a atenção, a guardar no coração as palavras:
-Joana, então as paredes queres caiadas até ao tecto?
-Branca o que é que achas, parece-me que este ano tem que ser, o ano passado fizemos só um baixinho, este ano acho que precisa tudo, as paredes são velhas e eu durante o ano não caiei nada!
- E já tens mais alguém apalavrado?
- Já falei com a Deolinda, as duas se calhar chega, aí umas 2 a 3 semanas, prefiro ter menos pessoas lá em casa, do que muitas, depois só atrapalha, o que é que achas?   
- Eu também gosto assim, mas como são as paredes até lá acima, se a Emília estivesse livre, fazíamos mais depressa e era também bom!
- És capaz de ter razão, não me tinha lembrado dela, também gosto do trabalho dela...
E a conversa dali partia para todo o lado, as filhas, a feira, o marido da Emília, o filha da Deolinda, os filhos da Branca uma conversa sem fim, até que:
-Bom então estamos combinadas, começamos daqui a 2 semanas, o preço é o costume?
-Por mim é, e cada um almoça na sua casa, para não teres mais trabalho!
-Está bem, adeus Branca.
-Adeus Joana.
E lá vínhamos nós, de mão dada, contar ao meu pai que adorava a época das limpezas; a minha avó que era na verdade a dona da casa, também queria dar ordens mas quem mandava mesmo era a mãe, depois o meu avô opinava por trás, ou não merece a pena, ou agora fizeram finalmente o que era preciso, caiaram a chaminé, era um sem fim de conversas, até a Tia Marcena entrava no conversé à noite à porta, que o calor apertava e não havia ar condicionado nem televisão, as histórias continuavam até noite dentro a afastar os mosquitos.
Faziam-se os caiados, limpavam-se todas as gavetas, lavava-se toda a roupa, copos, tudo era lavado, móveis tirados do sítio, tudo era lavado, era como uma lavagem enorme que chegava ao fundo  de cada um, havia uma limpeza e mudança de cadeiras que renovava a nossa alma.
Não vou conseguir mudar os móveis mas vou tirar tudo das gavetas e volto a colocar, tiro o pó, já é bom, para quem já não tem a Branca, a Deolinda e a Emília é o melhor que se pode fazer, vou conseguir lavar até à alma, renovando toda a nossa energia, tentar vou tentar.

2 comentários:

  1. Recordar com o coração, sonhar com emoção, viver com alegria.
    Bjs

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    1. Verdade! Às vezes, o difícil é continuar, mas vale a pena, tentar sempre, o caminho faz-se caminhando!

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