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terça-feira, 22 de abril de 2014

Uma questão de bom senso

A Primavera tarda em chegar e nós cá vamos andando com a nossa depressãozinha. Hoje fui ao cabeleireiro e arranjei os pés e as mãos, pois as 3, eu e as duas pequenas que me prestaram cuidados, as 3 estavámos todas com uma neura difícil de avaliar qual a maior, caso isso fosse possível. Por um lado foi bom perceber que não estou sózinha nesse sentir as emoções, mas por outro, assustou-me: se contabilizassemos as pessoas com falta de vontade para executar a mais pequena tarefa, seria um número impressionante. E se para além dessa contabilidade, ainda fossemos contabilizar a quantidade de pessoas que têm pensamentos auto destrutivos ainda era pior, vale é que o que predomina no fim é o bom senso. Dizia-me a cabeleireira com um olhar de sofrimento:
- Não imagina a quantidade de vezes que passo na ponte 25 de Abril e fecho bem as janelas, acelero o carro, sabe, quanto mais depressa passar, menos probabilidade vou ter de parar e atirar-me lá de cima.
Ollho-a e vejo um sofrimento imenso, uma face triste, com uns olhos que já desistiram, mas uns lábios esborratados de baton vermelho a pedirem: olhem por mim, preciso de colo, e continuou:
- Acho que o meu problema maior são os meus traumas de infância, ainda guardo da minha infância esses problemas, agora com 50 anos de idade parece-me que cada vez estão mais perto de mim.
Não preciso dizer nada, ela vai continuando a desfiar o seu sofrimento, olho-a com compaixão e com vontade de lhe prestar os meus cuidados ali mesmo, mas o barulho do secador com a música de fundo, e a minha audição a 40% não permitiram mais do que um sorriso de compreensão e no fim cedo-lhe o telefone da minha psicóloga, as 2 ficaram de marcar consulta.
Que sofrimento é este que nos faz pensar e dizer coisas que sabemos melhor que ninguém que estão errados? O que precisamos fazer para alcançarmos um pouco mais de felicidade? O que precisamos fazer para sermos capazes de amar, amar perdidamente,... amar mais este aquele o outro e toda a gente... amar, amar e não amar ninguém...Os poetas transformam em arte a sua depressão, os artistas plásticos em belas telas, os músicos em belas sinfonias, nós, os simples, não transformamos nada, apenas nos lamentamos, nos queixamos, sofremos sem qualquer transformação, lambemos, lambemos, lambemos, até ficarmos cansados, com as feridas a sangrar...
Decidi que mesmo que a Primavera este ano não chegue eu vou começar a andar, começo amanhã, por isso hoje comprei todo o equipamento, andar aumenta a dopamina, hormona de felicidade, andar, andar, andar só por andar vai fazer-me bem.

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