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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Sem livro de instruções

Todos os dias vejo a caixa do correio, sei que a minha Zulmira está atenta e traz - me sempre o correio para dentro, mas pode ser que não tenha visto bem, de modo que, dou uma última olhadela. Vou ao meu mail, vou ao mail do trabalho e por vezes pego no telefone, parece que ainda espero que não seja verdade, porque espero uma carta, um telefonema, uma mensagem de, nem sei bem quem, eu sei quem eu gostava, mas já se torna doentio pensar assim: preciso tanto de falar com a minha mãe, com o meu pai, com os meus avós, e olhando para mim, assim sem ser ao espelho, só posso dizer-me: não estás boa da cabeça, os avós já partiram há muitos anos, o pai partiu a 01.03.2000, quando faço as contas, quer dizer que já foi há cerca de 12 anos, e eu ainda mantenho a casa com tudo o que lhe pertencia, o gel de banho, o champô, tudo, sinto-me a guardiã e na verdade sinto-me à espera! Sei que tenho 55 anos, à beira dos 56, e não tinha ainda metido  na minha cabeça que um dia os meus pais iam partir e eu ia ficar, a guardar os seus bens materiais? Não, mas também, e sei que a sua casa era muito importante para todos nós. A minha mãe partiu há menos tempo, dia 09.08.2011, no dia em que a minha querida sobrinha Rita faz anos, mas na verdade já estava tão doente que sinto que partiu há tanto tempo como o meu pai, e sinto-me assim, muito órfã! Não estava nos meus planos envelhecer sem eles, a vida não está bem estruturada, envelhecer devia ser em conjunto, os pais fazem-nos tanta falta! E cada dia que passa sinto um aperto no meu coração, no meu interior, no meu estomâgo, que se pode dizer me vai magoando cada vez mais, a vida devia ter permitido que continuássemos juntos. Não tenho correio que me satisfaça, não tenho mails suficientes, tomo o meu antidepressivo diário para não me tornar muito agreste para a minha querida família, as filhas, o Marco, o André, o meu PQ. Esta família é agora a minha, como eu gostava de mostrar aos meus pais como a gente está bem, somos felizes, adoro-os e sou adorada, mas sou muito egoísta, queria também ainda ter o colo de minha mãe! Será que vou ser capaz de mostrar às filhas e aos netos que espero ansiosamente, que o meu tempo também é limitado, que um dia também eu vou partir e que eles devem continuar a ser felizes e a não esperar nem cartas, nem mails, nem telefonemas? A vida prega-nos partidas e ninguém nos mostrou o livro de instruções!!!

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