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quarta-feira, 7 de março de 2012

Cansaço dos dias

Dias, são daqueles dias em que o cansaço suplanta tudo, cansaço físico, emocional, psíquico, e mais que agora nem me lembro. Sei da importância que é tirar uns momentos em cada dia, para ficar só para mim e comigo; mas muitas vezes dou comigo a chegar a casa e a pensar: amanhã de manhã quando chegar ao trabalho vou fazer isto aquilo e aqueloutro, mas faço sempre o mesmo, atender doentes, atender doentes, tomar um café a meio da manhã, e trabalho, trabalho, trabalho. Gostava até que o dia tivesse mais horas de trabalho, para não deixar trabalho atrasado, e depois quando chego a casa estou cansada, nem consigo ler um jornal. Mesmo assim consigo vir aqui desabafar um bocadito, faz-me bem deixar sair as ideias muito bem embrulhadas em palavras.Até quando vou ser capaz de trabalhar neste ritmo? Será que quem está a aprender comigo se sente bem? Na verdade este é daqueles dias em que as dúvidas se amontoam, sem vislumbrar a luz. E tantas são as histórias que talvez se escrever a última me sinta mais liberta: A Raquel é uma menina que ficou grávida aos 15 anos, e teve os seus 1ºs gémeos; nunca precisou de ser chamada para vir à consulta, nem se esqueceu das vacinas dos seus meninos, bem apoiada pela familia do marido e dela, mas essa está mais longe, na Madeira. O ano passado decidiram, ela e o marido, voltar a ter mais bébés, e assim foi, engravidou, seguiu-se uma gravidez calma e tranquila, de gémeos novamente, mas em que há um bébé que não se desenvolve, acaba por morrer, mas o outro cresce com um desenvolvimento bom e sempre dentro dos percentis; esperámos até as 40 semanas, em que foi enviada a 1ª vez para o Hospital para ser observada, estava tudo bem, voltou para casa, voltou passados 3 dias conforme o combinado e voltou de novo para casa, com a indicação se nada acontecesse sábado ia ser induzido o parto. 4ª feira à noite caíu nas escadas e 5ª feira de manhã foi ter comigo para saber o que fazer: o que sentes? A Raquel refere perda de liquido incolor abundante e um pouco de sangue! Então vais já para o Hospital, eu chamo a ambulancia! Não é preciso Doutora, eu chamo o meu marido e ele leva-me! Está bem, que corra tudo bem, depois quando nascer dizes logo. Está bem, adeus, adeus.
Ontem à hora do almoço, a enfermeira comentou que o funeral ia ser à tarde! Funeral? Sim, da bébé da Raquel! Da bébé da Raquel? Sim, só nasceu na 2ª feira por cesariana e morreu de hemorragia? Mas foi dia 1, e só fizeram cesariana a 5? Não sei mais nada, comenta a enfermeira!
A Raquel chegou mais tarde, a sutura da cesariana estava a incomodá-la, abracámo-nos, dissemos as duas palavras, palavras que achámos importantes, ela chorou e eu também, e vamos continuar a olhar para os dias que vão vir. Os meninos parece que estão bem, viram a mana e comentaram que era muito bonita!!!
Dias, são daqueles dias em que me sinto exausta, e não há como ficar melhor.

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