Translate

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Tudo a dobrar

Este Outono mata-me, deprime, assusta. Os dias estão cada vez mais pequenos, as noites aumentaram, mas nem isso me agrada, as noites podem até já estarem grandes mas, eu realmente preciso, é de dias maiores e de noites com o dobro do tempo. Aliás, se possível queria tudo a dobrar, queria os dias e as noites com o dobro do tamanho, queria as visitas das filhas e da neta a dobrarem, queria beijos e abraços de manhã à tarde e à noite, queria o meu ordenado e do meu PQ claramente a duplicar, queria o tempo que tenho para estar com cada doente a dobrar, fico tão triste quando digo: hoje não podemos continuar a nossa conversa, temos que marcar para outro dia; mas acontece-me esta situação frequentemente, simplesmente porque o tempo que disponho para cada doente são de uns reles 15 minutos, em cada hora tenho 4 doentes, em cada manhã tenho 16, em cada tarde tenho mais uns tantos, há dias que são 20 de manhã e 20 à tarde, quando chego a casa tenho a cabeça feita em água. Não valia a pena trabalharmos tão mal, se pensarmos o que acontece aqui ao lado, em Espanha, cada doente só tem 10 minutos para cada consulta, na Dinamarca, na Holanda e na Inglaterra todos os médicos têm 15 minutos para cada doente, estamos todos errados. Como devia ser? Meia -hora e com toda a calma. Em cada dia que passa, mais nos apercebemos que os problemas que os doentes nos trazem são sobretudo psíquicos, com representação física é certo, a necessidade que tenho tantas vezes de deixar o doente falar, perceber-se com a minha ajuda e empatia, compreensão, mas não pode ser ainda, talvez futuramente, no país que eu sonho isso possa vir a acontecer, não paro de sonhar e acreditar que é possível mudar. O mundo só pode ser melhor amanhã, por isso este Outono mata-me, deprime-me, quero o futuro agora.

Sem comentários:

Enviar um comentário