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segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Despida

Sinto-me despida como as árvores, dum dia para o outro ficaram sem folhas. As folhas caídas, amareladas, espalhadas pelo chão, tornam estes últimos dias de Outono, deslumbrantes e assustadores. Cada dia que passa tenho pequenos momentos de tranquilidade, pequenos momentos de felicidade, grandes momentos de angústia, medo, insegurança, tristeza também, descontrole. Se estivesse numa consulta era talvez classificada de bordline, tanto posso ir para um lado, como cair para o outro. E é esta consciência de que não me consigo manter muito equilibrada, que me assusta. Assusta-me quando choro mais, especialmente se também chorar de alegria, assusta-me quando sinto que fico muito cansada, e já não consigo fazer o que fazia dantes, facilmente, assusta-me quando não entendo as filhas e não posso ficar horas sem fim ao telefone, para que o meu coração fique mais tranquilo e em paz. Estou sempre atenta para tentar perceber entre as palavras delas se está tudo bem, se estão felizes, se precisam de alguma coisa, se as tratam bem, se elas tratam bem e são bem educadas, se decidem bem, e continuo a querer interferir nas suas decisões ou indecisões. Claro que vou sendo enxotada, e vão-me dizendo entre palavras: mãe isto não é da tua conta, da tua responsabilidade, sou eu que decido, quero fazer assim, mesmo que a seguir concorde que errei! Sei que esse sair do nosso ninho é assim mesmo, mas fico insegura, fico assustada de não fazer parte da vida delas, de não fazer parte dos seus sonhos, e compreendo e concordo que não devo fazer, ainda bem que não faço. Mas dentro de mim, muito cá dentro gostava de fazer, gostava de estar presente no seu coração diariamente, como diariamente sinto os meus pais dentro de mim, mas também foi assim connosco, durante muitos anos parecia que não tínhamos olhos para mais ninguém que não fosse o nosso ninho e os nossos passarinhos, que eram elas. Cada dia que passa sinto-me mais despida, as folhas estão a cair-me de dia para dia, quero agarrá-las, segurar cada pedacinho, mas não tenho mais como, estou exausta, e ainda que sinta que valeu a pena construir tudo, dar tudo, agora não sei que fazer com todo o amor que tenho para dar. Percebo que devo transformar esse amor, que posso ser útil de variadissimas formas, percebo que posso e devo partir para outros voos, viver outros momentos, mas fico parada no tempo, olhando o meu ninho vazio!  

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