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quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Bisbilhotices

O frio não pára e as mortes por causa deste tempo também não; imaginem se vivêssemos nos países do Norte da Europa, era uma mortandade; parece que estou a ouvir a minha avó Maria Antónia: com estas coisas não se brinca, menina! E eu lá me encolhia, disfarçava e começava outra conversa, para esquecermos o frio e as mortes. Tínhamos de falar de coisas sem importância, coisas que me fazem tanta falta agora para conversar, fofoquices, naquela altura dizia-se bisbilhotices -Ah fulana é muito bisbilhoteira, sicrana é muito ajuizada não se ouve ela falar de ninguém, bla bla bla bla... Eu sempre quis ser muito ajuizada, certinha, sabedora e humilde, boa dona de casa, com cultura sobre literatura, história Universal e sobre Arte, boa cozinheira, fazer renda, bordados, falar Francês e um pouco de Inglês e claro o piano, saber tocar piano, também aprendi a montar, faltou-me aprender a andar de bicicleta, nunca ninguém me quis ensinar, nunca ninguém segurou a parte de trás da bicicleta para eu não cair, por isso sempre tive receio, sei que andar de bicicleta não era importante para a minha condição! A condição de falar Francês, bordar e tocar piano, claro que a parte da bisbilhotice era para os momentos mortos, um pequeno fait divert!!!
Não tenho momentos mortos agora, sinto-me é morta ao fim de um dia de trabalho, leio pouco, mantenho ainda a vontade de bordar, estou a terminar uma toalha de mesa a ponto de cruz que comecei há mais de 10 anos, sem exagero, foi quando a minha filha mais velha foi para a Faculdade, pois ela já terminou há muito, já fez um mestrado, casou e teve a minha querida neta, por isso talvez esteja já um pouco atrasada, mas termino este mês.
Também não tenho hipótese de bisbilhotice, não tenho com quem bisbilhotar, assim como quem não quer a coisa, muito ao de leve, sem dar muito nas vistas; mas não consigo companhia, vou de manhã para o trabalho e regresso à tarde capaz de ir para a cama; ainda pratico yoga 2 x semana e tinha vontade de voltar à música, vamos ver quando o sol regressar se me dá força suficiente e tardes maiores para recomeçar.
Falar a falta que me faz, falar com toda a gente da minha meninice, até nem me importava de voltar a casa das madrinhas, ficar sossegada a ouvir todos os barulhos, toda aquela azáfema que não me dizia respeito mas que adorava olhar, a falta que me faz; mas não, aconteceu que a mortandade foi atingido toda a gente minha conhecida e daqui a pouco resto eu e as minhas memórias e não vale a pena ralhares minha avó, que estou a falar a sério e estou triste, fazes-me tanta falta!

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