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sábado, 17 de janeiro de 2015

Os tempos do tempo

Almocei com a minha neta, estivemos um bocadinho, ela foi dormir a sesta e nós fomos ao cinema. Para ser mais feliz precisava ter ficado mais tempo com ela, ia ao cinema e depois voltávamos a encontrar para lanchar e conversar e estar só por estar. O tempo não permite. Quando terminou o cinema eram 18h, já era de noite, para chegar a casa da filha demorava bem uma meia hora, e então não lanchávamos, aguardávamos a hora de jantar, por outro lado, tínhamos que regressar a casa, os animais nossos amigos também precisam de comer; claro que voltámos para casa felizes, mas sempre a querer mais. O cinema foi bom, vimos a história de Alan Tuning e a forma como fez a descodificação do código que os Alemães usaram na 2ª Guerra Mundial construindo o primeiro computador, desconhecia por completo, gostei, chorar só chorei no fim, mas obviamente que chorei, choro sempre.
No caminho a conversar com o meu PQ desabafei que fico sempre com saudades da filha, estou um bocadinho com ela e queria estar o dia inteiro, a noite, a semana e os meses carregados de anos, acabamos sempre por ficar uns ridículos minutos, nunca dá jeito ficar e eu a morrer de saudades. Porque será necessária esta separação? Sei que ela cresceu, que casou, que tem a minha querida neta, mas eu preciso tanto de estar com ela, é assim como a necessidade que tenho de estar com a minha mãe, uma saudade muito cá de dentro que nem consigo descrever bem, parece até uma saudade física, muito física. Sei que podemos e falamos ao telefone, que nos visitamos, que pensamos uma na outra que nos gostamos muito, mas preciso da companhia, da sentir perto, de perceber se está bem, se está mais dias felizes do que menos, preciso de falar tantas coisas e limito-me a olhar, a contemplar, a dar uma graça, um sorriso. Só sinto esta saudade desta filha? Sim, porque com a minha filha mais nova estou mais tempo, trabalhamos às vezes juntas, partilhamos alguns medos, algumas tristezas e alegrias de fim de semana, por isso não sinto tanta falta. Vamos ter que resolver estas saudades, porque é fácil; difícil são as saudades da minha mãe, até mais que do meu pai, porque será? Sempre que pegava no telefone, ouvia do outro lado: filha? e a conversa não tinha mais fim, como eu gostava de saber os mexericos da vila, o que tinha acontecido de bom, de mau, ou assim assim; se por acaso vinha o meu pai ao telefone, acontecia: espera aí que eu vou passar à mãe! O meu pai ouvia mal ao telefone, não tinha aquela conversa de mulheres que a minha mãe tinha, e eu sinto muito a falta da fala dela, era uma conversa parecida a colo, acho que até me lembro do cheiro da conversa.
Preciso de estar mais tempo com as filhas e a neta, com o pai Marco e o futuro pai André, preciso muito desse mimo. O tempo não nos dá esse tempo, temos mesmo que o provocar, porque a gente faz do tempo o que a gente quiser.  

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