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quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Dilemas

Podia não dizer nada, ficar com essa alegria só para mim, a alegria que tenho agora é porque a minha querida sobrinha afinal é capaz de ter um cancro da mama menos grave do que estávamos a pensar. Talvez precise fazer radioterapia, mas a quimioterapia talvez não seja preciso.
Perguntei-lhe - filha o que te preocupa mais?
Resposta pronta e rápida - tia o cancro é o meu problema menos importante!
Em que é que achas que te posso ajudar?
Em melhorar a minha relação com as pessoas!
A minha sobrinha é um doce de miúda, meiga, atenta, adaptável, capaz de ir ao fim do mundo para ter um momento de paz. Será esse o seu maior problema, o relacionamento com as pessoas? Encontrar o seu canto onde possa viver em paz? Então não sei como ajudá-la, não sei com ajudá-la a encontrar o seu local para a vida.
Este momento ainda não será o mais indicado para se pensar nesse local, agora é o momento para dar paz ao seu corpo de modo a que vença esta batalha, pode estar ganho o primeiro round, mas nada ainda é muito certo.
Continua na minha cabeça e no meu coração a pergunta: filha o que te preocupa mais? Em que é que achas que te posso ajudar?
Não fiquei satisfeita com as respostas, para a perceber tinha-mos que conversar mais e mais até as duas estarmos no mesmo cumprimento de onda e ela tivesse a certeza que podia dizer-me tudo o que lhe vai na alma sem sentir da minha parte qualquer recriminação, qualquer olhar de reprovação, qualquer jeito de quem lhe quer "pôr jeito na vida". Ela foge há tantos anos, já correu meio mundo, ainda não se encontrou, como podia fazê-lo em 3 dias que passou connosco?
A nossa vida é feita destes desencontros, estes desencrontos estão na nossa vida diária, precisamos de trabalhar todos os dias, não temos tempo nem paz de espirito para ouvirmos a nossa voz interior, como é que ia ser capaz de ouvir a minha sobrinha, ouvir só e pronto, sem qualquer juízo de valor ou outro qualquer juízo?
Sinto-me presa do meu trabalho e gosto dele, como posso exigir que ela arranje trabalho se ela ainda não se encontrou? Precisamos trabalhar para o nosso sustento e para sustentarmos os nossos filhos e pais, ela vive sozinha, precisa de tão pouco para ser feliz, mas sempre precisa de alguma coisa.
No futuro os nossos trabalhos, empregos, atividades, qualquer nome que venham a ter, tem que poder adequar-se à nossa necessidade e não ser obrigatório trabalhar oito e mais horas por dia, por vezes 72 horas por semana, para mim vai sendo demais. O trabalho tem que mudar, o meu tempo é cada dia mais rápido, não posso continuar a deixar que este trabalho que adoro me escravize.

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