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quarta-feira, 5 de junho de 2013

Mistérios

Ando um bocadito cansada, ir para Lisboa todos os dias cansa, amanhã será o último, desta leva. Fico contente quando faço uma formação e aprendo uma pequena coisa, que vou guardando como relíquia, e basta-me uma pequena coisa em cada formação, desta vez a quantidade da aprendizagem é muito maior, têm sido várias coisas, claro que vou guardar, mas como é que consigo aprender muitas coisas? O tema não é novo, o tema é agradável, tem sido dado de uma maneira leve, o espaço é agradável e eu "estou disponível", esse é o factor estatisticamente forte para este meu sucesso, a estatística pode explicar o que o eu interior sente? O tempo tem-me protegido e ensinado e este é um tempo de aprendizagem abençoado. Há tempos para tudo, quando o nosso tempo interior está de acordo com o tempo exterior ficamos em paz e a energia flui sem stress. Antigamente achava que a paz interior era castradora, a paz interior não me permitia ter uma adrenalina suficientemente forte para me manter alerta, e achava que a aprendizagem era tanto melhor quanto mais stressada, agora sinto o contrário, quanto mais tranquila mais aprendo, não para coleccionar informação, mas para aprender a ser feliz. Esta manhã lembrei-me das 2ª feiras, o meu avô Luís de avental azul, bem engomado, impecavelmente limpo, azul da cor dos olhos dele, no cimo da nossa rua abria os braços como se fosse espreguiçar-se e dizia: Ai quem mi dera morrer! A frase nunca me angustiou, o seu olhar nessas alturas brilhava, a face estava feliz, toda a linguagem corporal contrariava a frase, de fim do mundo dele. Nunca senti tristeza, quando a ouvia ou agora quando a recordo, esta manhã percebi, na verdade ele devia ser muito infeliz, porque o seu semblante o seu corpo ao pedir esse momento ficava calmo e tranquilo, o seu corpo estava de acordo com o seu espírito, em paz para essa passagem, o que é que a morte tinha tão bom que a vida não lhe dava? Morreu num dia de Verão sentado nos degraus da praça, de enfarte, de avc, não sabemos, eu não sei, tinha 17 anos, andava no Serviço Cívico, aguardava a entrada para a Faculdade, e foi uma perda que me causou um grande desgosto, resolvido o desgosto nessa altura. A frase que ainda ecoa no meu coração preparou-me para a sua partida? O meu avô ainda é para mim um mistério, a sua forma de viver, o seu desprendimento das coisas materiais, o seu amor pela minha avó, a sua educação numas mãos ásperas de sapateiro, continua tudo ainda muito embrulhado em muito amor, mas um mistério. Ando um bocadito cansada.

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