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terça-feira, 11 de junho de 2013

Queira Deus

Se o Verão não chegar depressa vou descer às profundezas da depressão. Preciso de sol, de manhãs de sol, de tardes de sol, de fins de tarde, bem como de noites de luar, límpidas, cristalinas. Preciso tanto do sol, como de uma refeição gourmet, de uma sesta ou de uma noite de sono repousante. Coisas que verdadeiramente me fazem feliz: ter os pés lavados e com creme quando me deito na minha caminha de lençóis deslumbrantemente lavados; refeição deliciosa com sabores conhecidos numa mesa acutilantemente bem decorada; roupa que me fique bem, de preferência feita à medida, como a minha mãe me fazia, conseguia fazer-me vestidos lindos com desenhos meus, assim assim; faz-me feliz ler um livro, mas um livro que leve tempo a ler, que eu seja obrigada a parar e voltar atrás, que me faça parar um bocado e pensar, de preferência que só perceba ao fim de 2 a 3 leituras; gosto de ir a um espectáculo de ballet, de ópera, mas consigo ser feliz a ouvir música no rádio, gosto mais de ouvir no gira-discos, adoro ouvir a Melanie, a John Baez, e outras mais jovens com música tranquila que agora não me lembro o nome, mas hei-de lembrar! Gosto de ficar à noite em minha casa, sentada como agora, a escrever, com a Carlota, o Fred, o Vicente, a Sarita e a Preta, todos à minha volta, sentindo cada um preocupado em prestar atenção a todos os sons que vêem do exterior. Sinto-me feliz com pequenas coisas, e penso em muitas pequenas coisas quando me falta o sol. Se o Verão não chegar depressa se calhar não vou de férias, para quê se não há sol? Férias precisam de sol, água salgada quente, jantares demorados, conversa, calor, melancia, água fresca e ar condicionado, passeios com sapatos de ténis, conhecer novos sítios e voltar a sítios bem conhecidos.
Como se percebe estou cansada, hoje o dia não foi fácil, fiz muitas consultas, mas fiquei cansada sobretudo com o trabalho que falta fazer para ficar o relatório pronto, não o meu, há muito que esse tempo passou, mas o das minhas internas, e percebi que estão um bocadito atrasadas e a culpa é minha, queira Deus que eu aprenda desta vez!
Quando era pequena, andava talvez na 2ª classe e antes de irmos de férias a professora primária, ainda sei o nome completo dela (IRP) passou-nos trabalhos para casa, uma coisa de loucos, dava para fazer o dia todo das férias grandes todas, resultado: não fiz nada!
Chegou o 1º dia de aulas da 3ª classe, a professora começou a pedir os cadernos com os trabalhos, a maioria não tinha nem metade, mas lá iam escapando às reguadas, quando chegou a minha vez, não fiz mais nada, virei-me para a professora IRP e disse-lhe:
-Professora bata-me que eu não fiz os trabalhos!
-Não fizestes os trabalhos Maria Celestina, então vais apanhar, ai isso vais!!!!
Encolhi-me toda, acho que nunca tinha apanhado, costumava ser a "queridinha" da professora, ela não percebeu, a minha conversa era para lhe chegar ao coração, só consegui chegar ao fígado, estava furiosa.
A medo a Marilena falou:
-O pai dela não a deixou fazer os trabalhos, disse que era um exagero!
-Exagero, o meu Primo António Prates disse isso?
-Disse que eu ouvi!
-Vou falar com ele, hoje ficamos assim, amanhã continuo a ver os outros trabalhos de férias, vamos fazer uma redação....
Livre das réguadas, mas com o coração apertado, ainda sinto hoje esse aperto, quando as férias pespontam no Universo, as lembranças desse Verão regressam sempre. Não me apetece contar o resto, conto noutro dia, o aperto no peito está agora, neste mesminho momento, bem grande, por isso não conto nadinha de nada.
Queira Deus que eu aprenda!

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