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quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Dentadas públicas

Estou com uma gripe terrível, continuei no entanto a ir trabalhar, contra todas as recomendações da boa evidência médica; tinha tantas crianças marcadas, não tinha como as atender antes do ano terminar, que resolvi ir, como não há Medicina do Trabalho que vigie esta gente doida como eu, que vai trabalhar doente, atender crianças saudáveis carregada de gripe, fui. Depois, à tarde tinha reunião de orientadores, internos de Medicina Geral e Familiar,  Internos do Ano Comum, Internos de Saúde Pública e respectivos orientadores. Não foi nada bom para a minha Interna que apresentou um trabalho sobre a Obesidade Infantil, em 20 minutos, ela que não é Portuguesa, fez tudo sózinha sem a minha ajuda, sem qualquer erro de ortografia, com uma boa dicção, um bocadito à pressa porque fez 50 slides para 20 minutos. Levou com algumas críticas justas, mas a maioria foram críticas desajustadas ao que ela pretendia mostrar, que era tão só, como melhorar a técnica de explicar aos cuidadores das crianças, pais, pessoal da saúde e professores o que é a obesidade e como devemos falar dela, corajosamente, logo na mulher grávida. Foi um horror, a pequena não aguentou e saíu da sala, chorou, sentiu-se traída, não consegui fazer ouvir a minha voz, até porque a gripe ma roubou.
No final percebi que as críticas que foram dirigidas a ela, tinham como alvo principal, eu, era exactamente eu, porque é assim que eu costumo ser, demasiado exigente com todas as apresentações de toda a gente; no caso dela, não fui mais exigente, primeiro porque não tivemos tempo, depois porque estou de facto doente, depois porque a minha neta ainda não está bem, melhorou um pouco, mas obviamente estou muito preocupada, de modo que não lhe dei a devida atenção, e também achei que para o objectivo que ela tinha traçado, estava muito bom. Eles acharam que não e expressaram-se como se expressa um cão, quando vê um gato desconhecido, à dentada, a rasgar, até ferir profundamente.Devo ter errado muito no passado para ter concentrado tanta raiva contra mim, as pessoas deviam ser mais educativas, não tinham que errar como eu tenho feito. Por mim aprendi, e faço como sempre faço quando levo na cabeça: obrigada, assim aprendo mais depressa, dóie mais, mas ao ficar mais presente a dor na alma, não vou esquecer, na próxima vez que estiver numa reunião desta natureza, vou ter muito cuidado com o que digo, como o digo, e a quem o digo, com que intenção o faço. Os nossos melhores amigos são aqueles que nos mostram caminhos, não são os que nos batem nas costas e estão sempre de acordo com o que faço, queria que ela, a minha interna fosse capaz de aprender com os nossos erros e com os erros nossos reflectidos nos nossos colegas, eles fizeram o que eu tenho feito, eu ensinei-os mal, vou ter que voltar a fazer o trabalho de casa, ensiná-los melhor, ainda que à custa de muito sofrimento. São muito pouco imaginativos para terem as mesmas atitudes que eu tive, eu não sou assim tão importante, para copiarem o meu comportamento. Amanhã será outro dia, queria tirar de cima dela todo o sofrimento que infelizmente lhe causei, involutáriamente.
Aprendi que o amor tudo vence, que se for preciso darei a outra face, preciso é que a minha neta fique boa. A minha gripe até pode continuar, mas a minha neta tem que melhorar; posso não ser a melhor orientadora desta vida, mas em cada dia tento melhorar, porque quero ensinar à minha neta que só o amor é vida.

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