Translate

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

O 3º dia

E ao 3º dia Deus criou... os Céus e a Terra, os homens, os animais, o mais pequenino grão de areia da praia... e por aí fora. Preciso desse tempo em que todas as histórias tinham este encanto, este deslumbramento de aprendizagem, sem dúvidas, sem terceiros sentidos, tudo muito claro, rodeado de tanta fantasia. Agora o dia, o 3º dia do Novo Ano não teve nada de novo, nem sei bem se o Ano sempre mudou  ou se continuamos mais uns meses no Ano antigo, não há dinheiro para nada, se calhar não houve dinheiro para passarmos de ano, e talvez assim tudo se possa equilibrar, a vida, o país, a dívida, os pobres e os ricos, os gastos e as despesas, os medos, as vontades. Está tudo igual, tudo tão igual, decalcado dos dias, dos meses anteriores, cinzento, até o sol está cada vez mais fugaz, tudo tão sem magia.
Procuro nas palavras, nestas palavras que escorregam pelos meus dedos, alguns restos da magia de outrora, quero voltar a sentir o coração aos pulos, a cada nova história ouvida, a cada nova história contada, procuro no horizonte essa magia, no céu, no arco-íris, nas brincadeiras dos meus cães, na conversa com o meu PQ, nas conversas com os doentes, no café com os companheiros de trabalho, o coração não pula mais, não fora a minha neta, e pensaria que tinha hibernado.Estou deprimida? Estou e muito!
Preciso de encontrar de novo a magia do deslumbramento, a magia da aprendizagem, poder encantar-me com uma ida ao teatro ou ao ballet, rir com gosto, gargalhar mesmo, mas continuo agarrada ao sofá, chego do trabalho demasiado cansada, adormeço a qualquer hora, em qualquer canto, quero estar desperta para poder deslumbrar-me, mas o cansaço invade-me e também quero fugir de estar acordada, trago dentro de mim todo o trabalho do dia, o dia está a tornar-se demasiado grande, ultrapassando em muito as 24 horas, e ao 3º dia Deus criou... dias muito pequenos, não cabem todas as tarefas que era suposto poder fazer, fico-me apenas pela minha actividade profissional diária, mais uma ida ao supermercado semanal, o pequeno almoço no café ao fim-de-semana, algum jornal, uma revista de moda por vezes, uma empada... se Deus tivesse levado mais dias a fazer o mundo tudo poderia ser diferente, mas até Deus foi poupado, com tanto tempo que tinha, para quê essa pressa.
E agora aqui estamos, presos neste tempo, neste país, neste corpo, que fazer?
Sair do tempo, só no yoga; sair deste país só para os novos, que embora não sendo um país para velhos, é um país de velhos; sair deste corpo também não é boa ideia, assim como assim já me conheço e até gosto de mim, e posso sempre treinar no yoga, dá muita paz a meditação e faz de conta que somos e temos outros poderes, não sei que fazer?
Cada dia está a ser um peso, o tempo que não tenho faz-me falta; se calhar não passámos mesmo de Ano, continuamos no ano antigo com mais uns mesezinhos à experiência, se formos espertos e empreendedores recanalizamos as nossas energias para atitudes positivas, e nem a troika nos verga, senão ficamos como eu estou hoje, no 3ºdia à espera que Deus repense na criação do Mundo de novo, mas com mais calma.

Sem comentários:

Enviar um comentário