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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Água a mais

Pode chover, o vento pode soprar a 180km hora, as ondas podem passar dos 20 metros de altura, que eu não me importo, aliás eu até gosto, está a saber-me bem este ambiente de água por todos os lados. Os cães praticamente nem tentam sair connosco ao fim do jantar, olham com uma expressão elucidativa: ficamos em casa, não é verdade? Bem lá no fundo, têm sempre uma pontinha de esperança que afinal sempre vamos sair, mas quando tomam consciência que volto para o sofá, também eles procuram o melhor local para usufruir do momento em família. Por isso, pode chover até ao Verão que eu "não estou nem aí". A minha depressão está melhor obrigada, a minha neta está a comer bem, a nadar, a brincar com os amiguinhos na creche e a brincar ao esconde esconde com a mãe e o pai, nós os avós esperamos que venham no fim-de-semana, mesmo que chova, a chuva não nos mete medo, gostamos muito de água. Das notícias diárias também não estamos interessados, os telejornais já não os vemos nem ouvimos, os jornais só compramos o Expresso ao fim-de-semana, ao sábado, e ao domingo o Público, nada mais queremos saber. Quero lá saber se o nosso primeiro ministro tem as chaves nas mãos dos quadros Miró, e os sapatos nos pés, daqueles que exportamos e tão bem fazem à nossa economia, interessa-me apenas ir trabalhar de manhã e poder regressar à tarde, para no recanto do meu lar poder descansar, nada mais me interessa. As eleições? Que venham, pois que cumprirei a minha obrigação, vou votar, em branco ou talvez não, nada mais. Quando chegarem as épocas dos peditórios, vou dar a nota do costume para o IPO e o saco com compras para o  banco alimentar, obrigação cumprida. Posso dormir descansada?
Não preciso pensar nas minhas crianças que nem sequer vão à consulta? Algumas também não vão à escola, para quê a preocupação? Estratégias para melhorar a adesão, ou fidelização como agora se diz, para quê? Só para gastar mais dinheiro ao Serviço Nacional de Saúde, nada de ideias, sossegadinha quanto mais, melhor.
Preocupar-me porque não fazem exercício físico e não tem consultas de nutrição os meus obesos, e tenho tantos! Não merece a pena, os obesos vão a pouco e pouco perdendo peso, como estamos a viver "cada vez mais de acordo com a nossa condição económica" vamos passar a emagrecer paulatinamente, sem esses gastos de gente abastada! É só esperar mais um ano e essa questão passará à história, obesidade, qual obesidade, problemas que não são próprios da "nossa condição, a tal, a económica" pois então!
Preocupar-me porque as famílias que me visitam estão desempregadas? Não é verdade, não estão desempregadas sempre, trabalham uns meses, descansam outros tantos, e assim se vai organizando a estatística, o desemprego continua a baixar; não, claro que não me vou preocupar, é menos um problema real, está de acordo com a nossa "verdadeira condição social, de país pobre, a começar a viver como deve ser".
Será que há reencarnações assim tão rápidas, ainda há bem pouco tempo o Hitler se suicidou, querem ver que já cá está, só que agora na nossa terra, a atazanar a nossa vida?
Afinal ainda não devo estar muito boa da cabeça, a ter estes pensamentos, querem ver que estou com água a mais!  

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