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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Invernos rigorosos

Afinal continua a chover, está frio e à noite, muitas vezes não podemos sair com os cães, porque a chuva miudinha não o permite. É certo que já há malmequeres nos campos, amarelos e brancos, e o meu PQ já deu conta que as andorinhas estão tranquilamente a chegar, eu ainda não as vi.
Sinto-me ainda um bocadito abalada por este Inverno rigoroso, parece até que não vai acabar nunca, mas vai, " o tempo pode tardar mas não vai faltar" se não é assim a frase, é parecida.
A minha neta cada vez anda melhor, ainda não consegue descer os degraus sem ajuda, mas cada dia percebo que está mais desenrascada. As palavras são também mais variadas, já não diz só "olá" a toda a gente, conhecidos, não conhecidos e outros, agora também diz mamã, papá, batata e acho que mais nada; brinca muito e adora bonecos, na próxima feira de Grândola já lhe vou comprar um Nenuco. A minha filha mais nova, queria sempre o mesmo boneco, em cada feira que íamos, de preferência, com a alcofa igual, tecido, tudo. Estou mais descansada, a minha neta já come melhor, está a engordar e a crescer, dia após dia. Dia após dia eu vou ficando mais velhota, sinto-me assim a ficar mais velhota, às vezes acho que sou como a minha bisavó galucha, velhinha, pequenina, mas sempre pronta para trabalhar, a adorar cães, vivo é noutro tempo, tenho outra formação, posso ter uma velhice talvez mais aceitável. Quando chegar essa altura, aquela em que vou precisar de ser cuidada por terceiros, nós costumamos fazer uma declaração para a Segurança Social: necessita de apoio de 3ª pessoa para as actividades de vida diária. Quer isto dizer, que a pessoa não pode viver sózinha. Quando chegar a essa fase, se tiver essa consciência, vou ser eu a decidir da minha vida, fico tão triste quando vejo as dificuldades porque passa a família a empurrar o velho para um lado, para o outro, a querer a todo o custo livrar-se dessa tarefa, que não vou permitir chegar a esse ponto. Não que tivesse acontecido com a minha bisavó, nós tomámos conta dela, também não durou muito, a seguir a ficar sem o cão, mandado abater pela minha avó Maria Antónia porque tinha hematúria e podia pegar doenças, a minha avó Galucha deve ter tido uma AVC, acho eu agora, ficou acamada, e faleceu quando Deus quis, passados uns 15 dias, nem sequer deu para ficar escariada. Lembro-me de lhe ir levar as refeições e da minha avó passar por lá a ver como ela estava, naquela altura não se levavam as pessoas para os hospitais, o médico ia a casa e decidia o que fazer, muito pouco, a não ser esperar e rezar. Se calhar como rezámos pouco ela morreu depressa. Ainda hoje sinto um nó na garganta quando penso nessa altura, o quarto era pequeno, ela estava deitada, sem luz do dia, o quarto era interior, mal se podia sentar para comer, comia pouco, não falava. Não sei se porque não podia, se porque não queria, hoje parece-me que ela não queria, estava triste demais, mas isso é o que eu sinto agora, e o que eu guardei no meu coração amargurado, não quer dizer que corresponda à verdade. A verdade que hoje eu encontro nos velhos é solidão em todos eles, todos desculpam os filhos que estão longe a fazer a sua vida, não podem e não devem largar os seus empregos, e os velhotes ficam cada vez mais tristes, mais sózinhos, mais sem vontade de comer e de falar. enquanto tem forças vão procurando conversa, na consulta, na sala de espera, nos tratamentos com a enfermeira, na loja da esquina, cada vez mais em vias de extinção, as lojas que dão conversa. Este futuro está um caos, a minha bisavó foi mais feliz, viveu com a infelicidade pouco tempo e Deus quis logo levá-la, não andou a ser empurrada de um lado para o outro, eu vou querer o mesmo, assim o Altíssimo o queira.

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