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domingo, 9 de fevereiro de 2014

Mantém-te em silêncio

O Público de hoje trazia um texto sobre ansiedade que gostei muito. Falar de ansiedade com aquela distância, alguém que diz sofrer desde pequeno de neurose ansiosa, ou todos os outros nomes que lhe foram dando ao longo da vida, agora que já vai para perto dos 40 anos, parece-me bem. Quer dizer que tem feito o seu percurso de entendimento sobre si próprio.O que sinto na minha consulta diária é falta de tempo para fazer psicanálise sem grandes técnicas, até porque não as domino, mas bastava que tivesse um pouco mais de tempo, e podia ir mais ao fundo da questão. Sinto que nem sempre as pessoas que me procuram querem apenas a medicação para alívio rápido, mas também querem. Por outro lado, se estou em dia bom e sou capaz de ter uma escuta activa, certeira, com compaixão, então quase não seria preciso medicação, no entanto, cada vez sinto que é preciso ensinar a saber ter mais paciência e ensinar a escutar-se. A mim assusta-me quando sinto que ando mais ansiosa ou mais depressiva, acho que uma forma rápida de controlar os meus anseios é tomar a medicação que tem também variado ao longa da minha vida. Agora que apenas tenho o yoga, a meditação, a leitura, parece-me que estou a ficar " mais molinha" deixo de querer reagir, ou melhor, já não tenho aquela vontade de ripostar por tudo e nada, parece que deixei a minha querida adrenalina para trás, dou por mim, no entanto a escrever nas reuniões, naquelas em que quero manter-me calada, escrevo no canto da folha de papel que por norma tenho na frente: mantém-te em silêncio! Dar resultado dá, mas sou mais feliz? Ninguém está interessado na minha felicidade, a não ser o meu PQ.
A verdade é que ao ler este artigo, escrito por alguém que não é técnico de saúde me fez muito bem, deu-me um outro olhar sobre esta questão: a doença e o seu entendimento. Os técnicos, os doentes, os técnicos que também são doentes e todos os outros que não são doentes nem técnicos, também opinam, seria muito importante que fossem cada vez mais escutados sobre as suas questões, que por vezes transformamos em doença, por ser mais fácil, mais rápido e menos constrangedor.
Amanhã lá vamos ao funeral da Tia Maria, irmã da minha sogra. Vamos ver alguma família que só vemos nestas alturas, será que são mesmo família, ou porque o dinheiro não abunda não se visitam? O Zé disse há algum tempo que para ter amigos era preciso ter dinheiro, fiquei em choque. Será que para manter a família também é preciso ter dinheiro? Antigamente escrevíamos cartas, agora estamos todos à distância de um click, não é por falta de euros, talvez por falta de paciência, talvez por ansiedade! Na verdade estes encontros quase sempre trazem alguma ansiedade e possibilidade de maledicência?
- Estás na mesma, há quanto tempo não nos víamos!
- Pois é também estás na mesma! É verdade só nestas ocasiões é que nos encontramos, temos que nos encontrar mais vezes!
Mentimos para nos sentirmos bem connosco, o tio não está nada na mesma, está até muito mais velho! E o primo coitado, está um farrapo, nunca foi feliz com aquela mulher, tão poucochinha... e da parte deles o mesmo conversé...
Cada qual mentindo o melhor que sabe, escondendo as suas fraquezas, transformando a sua ansiedade em novo riquismo:
-Fiz e faço e farei, isto aquilo e etc
E falam, falam, eu sorrio, pouco consigo ouvir o que dizem, limito-me a sorrir e a esconder-me atrás dessa boa educação ansiosa - mantém em silêncio!

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