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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Dizer mal, ou mesmo bem

Durante algum tempo parece que estou a melhorar, mas afinal é um falso aviso do meu eu interior. Que difícil é viver, olho para o lado para ver quem me acompanha, mas não há ninguém! é como se caminhasse sozinha o tempo todo, não tenho ninguém a quem contar, tranquilamente, a minha vidinha. Não preciso de padre, nem de psiquiatra, nem de psicólogo, nem de ninguém que em troca eu pague honorários, preciso de alguém que vibre com a minha conversa, com o meu sentir, com os meus medos, com a minha vontade de "dizer mal" comentar isto e aquilo e não ter que estar sempre escudada na boa educação e- comme il faut-! Na altura em que frequentava a casa das madrinhas, que a gente costumava dizer: lá em casa, também me sentia assim, não entrava nos comentários, nas conversas, nas falas, enfim, não passava de mero ouvinte, por ser pequena, por ser neta da Pató, por ser quem era, NINGUÉM! Depois, quando me tornei mais crescida e deixei as madrinhas e fui à minha vida, parece que me tornei mais senhora de mim e sempre que estava na minha casa, havia sempre alguns momentos dedicados a dizer mal, raramente bem, da vida de amigos, vizinhos, conhecidos e afins, agora não. Não tenho ninguém suficientemente tranquilo, sem segundas intenções com quem dizer mal, ou bem, deste, daquele, do outro e de toda a gente. Em tempos li um estudo, acho que Inglês, onde se apontava como índice de bem estar, o facto de ter uma actividade social onde a "má língua" fosse um hábito regular. Que pena tenho então, de não estar em Inglaterra, que falta me faz dizer mal, ou mesmo bem.
Levo o dia a trabalhar, quase não tenho tempo para olhar para mim, quanto mais olhar para os outros à minha beira. Da vila onde trabalho, quero fazer o que tenho a fazer e voltar para a vila onde vivo. Chego, fecho-me em casa, às vezes, quando chego mais cedo ainda encontro a minha empregada, mas não lhe dou muita conversa, e rapidamente são horas de ir embora, fico com os meus 4 cães e as duas gatas, nenhum deles ainda consegue falar, mas fazem-me tantas festas que tenho que ralhar. O meu PQ conta-me pequenos incidentes da fábrica, pouco mais temos para comentar, quando tenho yoga como hoje, ainda vejo mais umas quantas pessoas, mas somos todos muito certinhos, fazemos yoga não conversamos. Venho para casa, jantamos e rápidamente são horas de dormir. Falta-me o social? Talvez me falte, mas não gosto muito de ser invadida na minha casa, as minhas vizinhas, a da frente sabe sempre quando chego, quando saio, quando estou mais cansada, quando deixo os cães na rua, enfim às vezes quer conversa mas fala tão baixinho que mal percebo o que diz, e ficamos assim, sem dizer mal e muito menos bem, de ninguém!
Durante o dia sinto que andam atrás de mim, parece que ao virar da esquina vou ter conversa, apenas conversa da treta, mas não, é tudo muito bem comportado, quando me abordam é para pedir mais uma consulta, um papel, uma baixa, não é a mim que procuram, procuram a técnica, e eu preciso de me portar menos bem, de rir dos disparates dos outros, de comentar, de troçar, de gozar, como antigamente, ser bem comportada o dia todo, da semana toda, do mês todo e do ano que não tem fim, não tem graça nenhuma, amanhã começo a portar-me mal.

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