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sábado, 1 de fevereiro de 2014

Questões

Aqui e agora, viver o presente, esta é uma mensagem para podermos sermos mais felizes e mais presentes, com toda a nossa alma, na nossa vida diária. Leio esta frase, aqui e agora, vezes sem conta, parece até que me persegue, escolho um livro, uma revista, um jornal, e num qualquer canto, lá aparece ela, aqui e agora, este é o tema, estar o mais possível aqui e agora. Podia ser uma coincidência, mas não me parece, é perseguição. Não aceitei ainda esse desafio, luto até contra ele, porque preciso tanto do meu passado, da minha infância, da infância das minhas pequeninas, até da minha neta, já nasceu há 13 meses, e gosto tanto de me lembrar do meu primeiro momento com ela, do deslumbramento dessas recordações, quer das boas quer das menos boas, acolho as boas, revisito-as, as outras deixo que venham e que tranquilamente se vão. Claro que o Aqui e Agora faz-me pensar que está certo, mas não o posso viver sem estar ligada no passado, sem trazer as emoções, os cheiros, as cores, as vozes, até os sonhos que sonhávamos. Quando era pequena, antes de entrar na primária, não havia televisão, havia o rádio, mas nem eu nem o meu avô dávamos muito atenção a esse entretenimento, especialmente quando estávamos à noite, à lareira. Houve uma época em que eu e ele sonhámos em ter um negócio, pensámos em patos, ovelhas, coelhos, pensámos em fazermos uma criação com o propósito de ganharmos algum dinheiro, ele andava aborrecido de ser sapateiro, tinha pouco trabalho e ganhava pouco, a minha avó estava em casa dos padrinhos e não tinha "jorna" de modo que eu e ele achámos que era boa ideia iniciar um negócio: patos ou borregos!
Explicámos à família, a ideia não foi bem aceite, arranjavam sempre problemas:
- Quem vai com o gado para o campo?
- Onde fica o gado durante a noite?
-Quem compra a ração para o gado?
-Quem compra o gado para ser engordado e depois vendido?
Tantas perguntas, meu Deus, tentamos arranjar sempre respostas, mas o problema mantinha-se, precisávamos da ajuda dos meus pais para o fundo de maneio inicial e na família não havia. Se a minha avó trouxesse o dinheiro que lhe deviam, para cima de 60 contos, nas contas que o meu avô tinha feito, e eram contas feitas assim pela rama, então já tínhamos, mas a resposta era sempre a mesma:
- Vocês não estão bons da cabeça!
Não compreendia muito bem, a minha avó podia ajudar se quisesse mas, não queria aborrecer os padrinhos; esse dinheiro dava para construir a casa nova que o meu pai queria construir, mas que o pai dele, outro meu avô não lhe quis emprestar, e podia; nós queríamos o nosso negócio, e ninguém nos dava ouvidos, não precisávamos desse dinheiro, seria muito menos, mas ninguém tinha vontade de arriscar.
Parámos os nossos sonhos? Não! Os serões eram tão grandes e o meu avô e eu tínhamos conversa para  a noite toda! Essa conversa ainda hoje faz eco no meu coração, tento aderir ao momento presente, tento saborear cada recordação o melhor que sei e ao mesmo tempo estar Aqui e Agora.
Não sei é se o Aqui e Agora mais não é que uma frase de quem não tem momentos inesquecíveis?!  

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