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domingo, 4 de dezembro de 2011

Bicicletas

Durante muitos anos fui escrevendo em cadernos, quando começei a ter computador fui escrevendo neles, sem guardar nada, os cadernos andam por aí, os computadores foram avariando e eu fui perdendo um pouco do que escrevi, é certo que não devia ser nada importante. Na altura, nem sabia que podia copiar e guardar para prevenir problemas, agora escrevo e fica no éter? há uma palavra que define onde ficam as escritas - no ciber espaço? Não sei, mas agora não vou perdê-las, a não ser que esse espaço fique completo e alguém resolva limpá-lo e mais uma vez lá vão embora as minhas palavras. Palavras são só palavras, mas é pelas palavras que vamos quer queiramos ou não. Todos os dias sonho, e tenho dias, quer dizer, noites, em que sonho mais que outras, hoje lembro-me que o meu PQ entre outras coisas resolveu ir dar uma volta de bicicleta, tinha apenas uma bicicleta de 1 lugar e um atrelado onde levava algumas coisas que ia precisar. Olhei para ele espantada e aborrecida, se levava apenas uma bicicleta de 1 lugar não estava a pensar levar-me e isso entristecia-me. Respondeu-me que ia sózinho, porque eu não sabia andar de bicicleta; fiquei sem palavras, sem argumentos e acho que lhe perguntei: porque é que tens de ir embora, agora e de bicicleta, assim não posso ir!!! Ele tranquilamente respondeu-me que tinha chegado o momento de ir embora e apetecia-lhe muito ir de bicicleta, como eu não sabia andar, paciência, tinha que ficar. Aborrecida, acordei. Naquele momento do acordar senti apenas um certo desconforto, assim uma necessidade de lhe prestar mais atenção, de lhe dar mais carinho, não quero mesmo que vá embora de bicicleta. Nunca fui capaz de andar de bicicleta. Quando era pequena eu não tinha bicicleta, nem os meus pais achavam importante gastar dinheiro nisso, embora eu lhe explicasse que a Teresa tinha e não me emprestava para eu poder aprender. Desde essa altura que a bicicleta sempre foi para mim um entrave à socialização, haviam os meninos e meninas que sabiam andar e haviam os outros, muito menos, só me lembro de mim, que não sabiam, e às vezes para poder ir com eles eu corria ao lado das bicicletas, o que sempre me humilhou muito, até que um dia me enchi de coragem, saltei para cima da bicicleta da Teresa e andei um bom bocado, quando achava que ia muito bem, caí uma bela queda e foi uma gargalhada geral, que agora ao recordar ainda me faz arrepiar, não as esfoladelas dos joelhos, ou o ralhar da minha mãe e do meu irmão, mas o olhar de desdém dos donos das bicicletas, acho que a partir dessa data nunca mais gostei da Teresa, era da minha idade, mas muito mais feia, sem gosto nenhum para se vestir, com a mania que sabia, e que era rica e que não sei que mais, afinal só tinha a mais que eu uma bicicleta, por isso nunca foi para a minha casa brincar.
Pode parecer que não é importante ter uma bicicleta, mas é muito importante, o meu Pai quando se casou com a minha Mãe, só tinha uma bicicleta que o levava onde era preciso. Um dia foi trabalhar para a barragem do Maranhão, como não havia outro transporte ele ia de bicicleta ao Domingo e vinha no Sábado seguinte, levava tudo o que precisava e depois trazia para a minha mãe arranjar. Como o caminho era cerca de 30 km, levava ainda umas boas horas a chegar, e se chovesse ou fizesse um calor abrasador a viagem era sempre a mesma, porque era preciso trabalhar. Eu ainda não existia, sei esta história porque era uma das histórias que eles contavam com orgulho, e eu também ficava muito contente de ouvir esta e todas as outras histórias que contavam, acho que era um pouco como os filmes de agora, até já sabia as falas, mas era sempre tão bom ouvi-las e fazer de conta que era a 1ª vez. Palavras que guardamos no coração e nos fazem bem.

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