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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Não preparada

Não está fácil viver sem ti. Todos os dias me apetece pegar no telefone para saber como vais, dou por mim a pegar mesmo no auscultador e fico parada porque não sei que número marcar, já não saberia o número. Apetece-me falar-te e contar-te o que fiz hoje, o que ouvi e vi, contar-te as fofoquices, dizer-te que a Zétinha continua feia como o costume e a Titi a mesma espertalhona de sempre. Queria dizer-te para falares com o mano, acho-o tão triste, tão mal arranjado, até as unhas estão a precisar de serem arranjadas, as calças estão desfranjadas nas bainhas, e a camisa não condiz, até o corte de cabelo há muito que não é arranjado por um bom barbeiro, podias dizer-lhe para ir onde vai o meu PQ, ao Pinto's no Apolo 70, é caro, sim, mas é bom, dá logo um outro ar. Queria dizer-te que estamos a pensar arranjar a tua casa de Cabeção, mas fico sem jeito, não sei se achas bem, disseste-me que eu devia tomar conta dela, e agora que legalmente já posso, fizemos hoje uma série de escrituras, queria tanto contar-te, sei que a conversa, a nossa conversa ia ser um "must", entendias no ar o que queria dizer-te e falávamos às vezes só as duas, o pai não gostava que a gente dissesse mal, e a gente gostava de falar tudo; sinto tanto a tua falta. Quantas vezes tenho dúvidas na educação das filhas, como devo conduzir os mal entendidos, o que vai surgindo na vida do dia a dia, eu digo o que acho melhor, e conduzo a família, mas previsava de te ouvir dizer, que sim senhor está bem, ou que não senhor, foste má, ou não estás a ir pelo melhor caminho, se fosses tu não farias assim, ainda há tanta coisa que preciso aprender contigo. A Alice que também sabe muito, já me disse que tu agora estás numa fase de descanso merecido e que não devo nem posso incomodar-te, porque agora és tu que precisas de descanso, sossego e paz, que não deves ser chamada a preocupar-te com estas coisas, que na verdade são tão insignificantes. Se soubesses o que me aconteceu, hoje quando estava a ouvir as leituras das partilhas e foi dose dupla, de manhã e de tarde, senti uma tristeza infinita e não consegui reprimir as lágrimas, chorei que nem uma madalena, sei que não ias gostar de ver isso, para ti seria um sinal de fraqueza, mas foi exactamente isso que senti, uma solidão imensa, não queria estar ali, nem com o meu irmão a dividir as tuas coisas, nem com a tia Vicência e a Zétinha (que afinal está divorciada!!!) a ouvir dividir as coisas que eram do pai, não queria nada daquilo, era a vocês que eu queria, vê lá até saudades tive da vóvó Julinha, vê lá tu como eu estou!! aflita com tantas saudades. Queria dizer-te tanta coisa, dia a dia vou acumulando mais e mais, acho que não vou ser capaz de gerir tanta conversa sem ti, tenho o meu PQ, tenho as filhas, tenho até, vê lá tu, genro e candidato a genro, mas nenhum deles chega aos teus calcanhares, como a gente conversava ninguém conversa agora comigo, às vezes dou comigo a fazer de conta que te falo, mas não é boa ideia. Para esta separação é que a gente não estava preparada, nem eu e acho que tu também não, apesar de eu saber que agora estás bem, sabendo eu que não te devo tirar do teu descanso, apeteceu-me falar-te às escondidas e dizer-te que gosto muito de ti e que vivo bem, ainda que com muitas saudades, se não voltar a falar-te é porque quero respeitar o teu sossego e quero que o aproveites em pleno para ficares completamente restabelecida, uma dia vamos voltar a estar juntas.

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