Translate

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Aborrecida

Não gosto nada que modifiquem as minhas coisas sem a minha autorização; ainda agora quando entrei neste meu caderno, é assim que sinto este espaço, em vez de ter o espaço de "mensagens" tenho outro nome no mesmo sítio - postagem!Postagem? mas o que é isso, tipo postito, pequena mensagem para mais tarde relembrar? Não merece a pena andarem, quem quer que o faça, a alterar este espaço, porque isso não significa que a gente escreva mais e melhor, e também não é por isso que quem se sente bem a ler as minhas conversas o faça mais vezes, por isso não gastem energias a inventar o que está inventado, façam realmente coisas novas, e não mudem apenas e tão só, palavras. Já esta tarde disse o mesmo a minha querida chefe, quase "querida lider", que me propôs fazer 5 horas seguidas, mas com que intenção? Eu já lhe expliquei que não estou interessada em trabalhar a correr, que gosto do que faço e gosto de trabalhar devagar, que sou quem mais doentes vê neste Centro de Saúde, quem tem os indicadores mais simpáticos, então não se mexe na equipa que está a ganhar. Não percebo que se modificar só para se dizer que se está atento, que se mexe, que se manda, não preciso que me digam quem manda, que eu já não tenho idade, paciência, estatuto e conhecimentos para me estarem a dar música, e fiquei um tudo nada irritada, merece a pena? Claro que não, ainda sou experimentada diáriamente, e continuo a ripostar quando devia "deixar passar" ou como o meu pai dizia com muita graça: Dá-lhe passagem.
Ao longo da nossa vida vamos cada vez conhecendo melhor as pessoas e quando pensamos que as conhecemos bem, na verdade surpreendem-nos, não interessa em que dimensão nos surpreendem, mas até isso eu não gosto. Realmente quem me tira do meu sitío de conforto não me é símpático, quando na verdade devia agradecer.
Hoje estou mais uma vez cansada, daí esta algazarra, amanhã vou estar melhor.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Macacos

Não é fácil escrever quando a nossa facilidade com esta máquina que é o computador às vezes não é boa, ou porque sabemos pouco ou porque a dita não quer colaborar. Faço tentiva erro, mas mesmo assim não é fácil. Desta vez andei bem uma meia hora às voltas com este "macaco" é assim que o meu PQ chama a tudo que não consegue resolver, e consegui porque na verdade não gosto muito de ficar a perder, não gosto nada. Passaram as festas de Natal, e de religiosidade pouco tiveram, mas foram calmas e tranquilas. De reliogiosidade se pensarmos na ida à missa do galo, ou a outra missa qualquer, fui este ano, quando fomos passear a Santiago de Compostela e ambos gostámos muito da envolvente, só não percebi porque é que o meu PQ saíu à pressa quando começou a altura de as pessoas se cumprimentarem!!! Deu-me uma desculpa esfarrapada e eu aceitei acreditar e não perguntei mais nada, mas ainda hoje sinto essa dor, a dor do engano ou da mentira. Tantas coisas na minha cabeça, não é um dia bom para escrever quando passei tanto tempo a tentar perceber o que se passava com este macaco. Só gosto de escrever aqui porque vejo melhor as palavras do que quando escrevo no papel, a minha letra está cada vez mais desfeita, mas agora vou terminar, amanhã é um dia novo, isso ninguém nos tira e eu estou cheia de dúvidas.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Dias bons

Estamos no fim do dia, deste dia de Natal que eu tanto esperei, vieram as filhas, os genros (meu Deus), a querida sogra, o cunhado e a cunhada e a sobrinha. A casa esteve cheia, senti-me bem. As filhas foram queridas como sempre, senti-me tão bem ao pé delas, os genros também, começam a entender-me e à nossa forma de viver, em paz sem correrias, a sogra mais calma, porque eu não reajo, vive cada momento e agradeci a benção de estar com eles todos. A minha casa respira alegria, quem vê a casa de fora sente que há calor cá dentro. Podíamos fazer um pouco mais, mas todos os dias fazemos, hoje gostei de ser um pouco egoísta. A minha querida sobrinha do México telefonou e eu fiquei muito feliz. A outra sobrinha não disse nada, mas já tinhamos almoçado no fim de semana anterior e foi muito bom. Hoje o Sol foi quente, reparador, demos um passeio a pé com a Carlota e o Vicente, o meu PQ, eu e a sogra e foi bom.
Se faltou alguma coisa? Não. É bom poder estar em casa e virem vesitar-nos, mas podemos vesitar, é bom estar junto. Percebo que se pode melhorar cada momento, que se pode melhorar o presente sempre, mas só melhora se for carregadinho de amor e com um grande laço, nem parece ser assim tão importante o que contém. Este Natal parece que consegui que a paz permanecesse bem juntinha a nós. Com muito egoísmo, a viver só para a família, sem me preocupar com mais ninguém.
Amanhã vou trabalhar, mas não faz mal, parece até que nem fez mal o fim de semana ser só fim de semana, o facto de não poder ter mais dias, obrigou-me a saborear melhor cada minuto.
Foltou fazer tanta coisa, mas no próximo ano ainda vamos melhorar e deixar um pouco o nosso egoísmo ser cada vez mais pequeno, queria tanto ser cada dia mais perfeita, não sei bem se é ser perfeita, mas preciso ser mais tolerante, mais aberta ao exterior, sem medo que os outros me abafem, já nem preciso de contar tanto as minhas histórias, já sinto que oiço mais do que conto, do que falo, e isso parece-me bem.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Festas

Tenho andado arredada das palavras escritas, ando cansada. Nesta altura do ano, com a chegada destas festas familiares fico toda excitada, contente, é de tal maneira que até durmo a correr, acordo mais cedo, não durmo a sesta e trabalho muito para ver se chega a noite de Natal, gosto do cheiro da família. Fazem-me muita falta o aconchego dos meus pais, do lume em Cabeção, de fazer as azevias no dia em que passava na televisão o "Natal dos Hospitais". Levávamos a tarde e a noite a fazer as azevias, e vinham as vizinhas ajudar, umas faziam as ditas e outras fritavam-nas, eram dois alguidares grandes de barro cheios, e o meu pai tinha sempre medo que não chegassem. Depois os outros doces, o leite creme, o pudim de ovos, as farófias e mais algum doce novo que nos apetecesse fazer, fazíamos nos dias a seguir. Só para preparar a comida era necessário uma semana, só para fazer, porque já se tinha decidido muito antes a ementa. E tão agradável era a preparação como a nossa preocupação em devidir a ementa. Fazíamos o presépio, a casa não se acomodava bem com uma árvore de Natal, agora o presépio era uma alegria; quando era mais pequena o meu irmão arreliava-me, porque acelerava a chegada dos Reis Magos e de todos os que levavam presentes ao Menino Jesus, quando só deviam chegar na noite, na noite em que também nós recebíamos os presentes, como se no Natal todos nós renascessemos, ainda hoje sinto vontade de recomeçar tudo em cada Natal. Para mim é um momento de amor, e com esse amor dou, recebo e renovo os votos para a vida. Mesmo agora na minha casa, com filhas, com genros, sobrinhas e sobrinhos - netos, ainda hoje em que não tenho feito presépio, nem tenho o meu irmão a mexer nas pecinhas, ainda hoje sinto o coração aos pulos com a alegria do nascimento: do Menino? Acho que não, acho que sinto que todos podemos nascer, todos podemos ser felizes, todos temos um calor, um mimo para dar e receber, nessa noite mágica, eu adoro prolongar essa magia dentro do meu coração.
Se tenho saudades do passado? Meu Deus como eu tenho, se me sinto sózinha nesta época? Não, sinto-me acompanhada com as saudades e com todos os que me rodeiam, com todos os meus queridos, e sempre com o meu PQ. Ainda sinto o colo da minha mãe e da minha avó prolongar-se no colo de todos os que vivem à minha beira; hoje deram-me uma prenda tão querida: um coração feito de tecido fofinho, todos ou quase, recebemos no Centro de Saúde, coração com umas cores tão garridas e tão quentes. Um coração para ostentar ao peito, lindo. Foi feito pela Gabriela, filha de uma funcionária administrativa que já foi lá atendida e que passou de um mau momento para um momento bom, e como se sente bem, partilhou o seu amor connosco, gostei tanto, porque sinto que também sou responsável pelo seu bem estar interior e sinto-me orgulhosa de ela ter conseguido, é um renascer para a vida, uma vida mais agradável e boa de viver. A noite de Natal já começou e a minha alegria é tanta que até me faz doer o coração. É bom ter fundo de maneio, ser financeiramente estável, mas é tão bom saber estar emocionalmente bem, e o Natal apesar de me fazer sentir um peso no corpo todo com tanta saudade, não consegue impedir o coração de pular dentro do peito, amanhã é um dia novo e vamos estar juntos. Eu preciso de uma certa normalidade, de um certo ritual, de fazer as coisas com muita tranquilidade. Amanhã ainda tenho as últimas coisas para acertar, a mesa para embelezar, os presentes para arrumar debaixo da Árvore e a carta de Natal e o artigo do Jornal para escrever, mas para poder saborear todos esses momentos deliciosos tenho que fazer cada coisa bem devagar, em cada assunto resolvido embrulho um pouco mais de carinho e amor até que o meu coração fica em paz, sem doer.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Gente importante

Todos os dias nos surpreendemos, admirados, às vezes amedrontados e outras vezes, emocionados. Hoje à hora do almoço foi com misto de saudade e de alívio que recordei tempos de escola, acompanhada por outras, só mulheres, que recordaram comigo esses momentos. Saudade porque me revi na 1ª fila, amiguinha da professora que era prima do meu pai, que conversava com ele e com a minha mãe, quando se cruzavam na vila, e a vila era e é tão pequena. Depois aliviada e muito,porque já não vou sofrer por falta dos trabalhos de casa, ou porque não estudei, e já não sofro quando e porque invento histórias que justifiquem a minha falta com os trabalhos de casa. Hoje fartamo-nos de rir, porque a Lena, querida enfermeira, contou a sua história e como era despachada com a professora da escola primária. Um dia a dita professora disse à jovem Lena:
-Maria Helena diz ao teu pai para vir falar comigo!
A Maria Helena tinha mais que fazer, brincar, brincar, brincar, e nunca mais se lembrou ou quis dar o recado ao pai.
De manhã ao inicio da aula, a professora:
-Maria Helena o teu pai não veio falar comigo! Então?
-Ele manda dizer que não tem vagar para essas coisas.
- Não tem vagar, ele disse isso? Então hoje vais levar este bilhete escrito para que ele me mande uma resposta.
Bom, as coisas estavam a complicar-se, mas chegada a casa, ou antes à loja do pai, pega no carimbo e coloca uma carimbadela no papel, e ficou contente: já está!
-Maria Helena a resposta do teu pai?
- Está aqui, e mostra o papel carimbado.

Claro que a conversa não ficou por ali, a vila em África era tão pequena com a minha em Cabeção e rápidamente se encontraram, professora e Sr.º António, e falaram, falaram!!!

Hoje ao recordarmos, rimos em gargalhads gostosas, aliviadas, já não haviam professoras assim, e ninguém andava a ver se estudavamos ou não, atrás de nós; e, na mesma onda, sentimos saudades boas; cumprimos os desígnios dos pais e das professoras, ainda estudamos, pouco às vezes, mas sabemos que somos boas trabalhadoras, com ética, com amor, com dedicação, no trabalho em casa, na rua, em qualquer lugar,e que saudades boas guardamos no coração: desde pequenas sabemos que somos importantes para alguém e isso ninguém nos pode tirar, a importância de sermos nós.






De

domingo, 11 de dezembro de 2011

Natais

O fim de semana já foi, daqui a pouco estamos no Natal, este ano assusta-me um pouco, quase não tenho tempo para preparar a ceia, e sou eu que gosto de fazê-lo. Quando íamos a Cabeção eu ia sempre uns dias antes para ajudar a minha mãe, depois quando ficamos em Grândola havia sempre tempo e com toda a calma, também só eramos 4, era quase deprimente? Não era bem isso que queria dizer, talvez a palavra certa seja assustador de tão pouca gente. Agora já somos pelo menos 7 na ceia, assim já vale a pena, para quando um pequenino? Sei que devia pensar nos outros, ter uma atitude mais caridosa, preparar-me para nesse dia ser confortável estar em casa e ser importante estar com pessoas que precisam, sei que não faltam, mas também olho para mim e penso: todos os dias estou com pessoas que precisam, esta noite vou ser egoísta, vou estar comigo e com os meus e pronto, quero estar com muita gente que seja pouca. Quero dar e receber colo sem constrangimentos, quero receber prendas e também dar e saborear esse momento. Tive muitos Natais e foram muito bons, em que a minha mãe colocava ao canto da chaminé uma sombrinha de chocolate da Regina e eu gostava muito, posso vir a ter mais Natais com sombrinhas de chocolate, mas este ano ainda tenho algumas prendinhas que me deram muito gosto comprar e embrulhar e vou escrever uma carta aberta para a família e vai ser bom. Noutra altura conto como passaram a ser os Natais quando comecei a reparar que na casa das minhas madrinhas haviam muitas prendas, pois o que fiz? Comprei lenços de assoar para todos, e foi assim que os meus Natais começaram a ter outras prendas. Natal é igual a prenda? Pode ser, por enquanto ainda é, mas também é igual a meiguice, a festas na cabeça, a mimos, a risos, a gargalhadas, a ficar contente, a estar muito juntinho do meu PQ e das filhas e agora também dos genros, assim eu sinto-me com muito colo! É egoismo, sou consumidora? Deixá-lo, não posso ser perfeita.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Histórias

Dia tão grande, a manhã foi dedicada às crianças, tantas. A 1ª foi a Leonor, 9 anos acabados de fazer, foi com a avó, o pai faleceu este ano e a mãe já vive com outro homem, de quem tem 1 irmão. A Leonor é uma menina que come mal, está magrinha e tem um olhar triste e perdido; foi a 1ª vez que a vi, trazia um papelinha escrito pela mãe a dizer que ela não podia fazer natação? Observei a Leonor, tentei falar-lhe ao coração, e no fim levou como recomendação ir para a cama às 9h da noite, fazer natação, andar de bicicleta, correr, pular, fazer ginástica e tudo o mais que ela gosta e tenha tempo para fazer, será que vi um sorriso muito dentro do seu coraçãozinho?
Fiquei a pensar que a Leonor é uma criança tão doce e perspicaz, como será que avalia a mãe que eu ainda não conheço? Como será a dor de ter perdido o pai, pela 2ª vez, pois que os pais já se tinham divorciado? Não sei nada daquela família, mas trouxe a Leonor comigo no coração, a avó queria vitaminas, mandei fazer uns exames de rotina e depois logo se vê; a criança é boa aluna, tenho mesmo que conhecer a mãe e o padrasto. Não gosto nem de madrastas nem de padrastos, lembro-me dos contos da gata borralheira, da princesa pele de burro, lembro-me do horror que sentia em pequena quando algum menino era orfão, imaginava que devia sofrer muito, e imaginava tanta coisa, que agora, se calhar não estou muito longe de acreditar que sofrem tormentos. Já não sei quem foi que outro dia me disse: gostava de ter uma família diferente, com pai e mãe e que se dessem bem, pois é, quem não gosta? Não sei porquê mas os casais cada vez duram menos, o amor está pela hora da morte, costumam culpar-se uns aos outros, querem modificar-se uns aos outros mas não querem nunca conhecer-se melhor, quando digo isto, quero dizer, cada pessoa primeiro tem que procurar dentro de si um conhecimento cada vez melhor sobre si própria, em cada dia, para poder a pouco e pouco conhecer o outro; se a gente não gostar da gente quem gosta? Se não gostarmos da gente como é que podemos gostar de alguém?
Estou cansada, a tarde também foi cheia de gente, mas já é tarde, o sono está há muito a espreitar, a minha hora de ir para a cama até já passou; as histórias dos livros de contos são verdadeiras, o final é que é sempre diferente de história e de vida para vida; qual é o nosso final? Casaram e foram felizes para sempre, as histórais deviam acabar sempre assim.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Não preparada

Não está fácil viver sem ti. Todos os dias me apetece pegar no telefone para saber como vais, dou por mim a pegar mesmo no auscultador e fico parada porque não sei que número marcar, já não saberia o número. Apetece-me falar-te e contar-te o que fiz hoje, o que ouvi e vi, contar-te as fofoquices, dizer-te que a Zétinha continua feia como o costume e a Titi a mesma espertalhona de sempre. Queria dizer-te para falares com o mano, acho-o tão triste, tão mal arranjado, até as unhas estão a precisar de serem arranjadas, as calças estão desfranjadas nas bainhas, e a camisa não condiz, até o corte de cabelo há muito que não é arranjado por um bom barbeiro, podias dizer-lhe para ir onde vai o meu PQ, ao Pinto's no Apolo 70, é caro, sim, mas é bom, dá logo um outro ar. Queria dizer-te que estamos a pensar arranjar a tua casa de Cabeção, mas fico sem jeito, não sei se achas bem, disseste-me que eu devia tomar conta dela, e agora que legalmente já posso, fizemos hoje uma série de escrituras, queria tanto contar-te, sei que a conversa, a nossa conversa ia ser um "must", entendias no ar o que queria dizer-te e falávamos às vezes só as duas, o pai não gostava que a gente dissesse mal, e a gente gostava de falar tudo; sinto tanto a tua falta. Quantas vezes tenho dúvidas na educação das filhas, como devo conduzir os mal entendidos, o que vai surgindo na vida do dia a dia, eu digo o que acho melhor, e conduzo a família, mas previsava de te ouvir dizer, que sim senhor está bem, ou que não senhor, foste má, ou não estás a ir pelo melhor caminho, se fosses tu não farias assim, ainda há tanta coisa que preciso aprender contigo. A Alice que também sabe muito, já me disse que tu agora estás numa fase de descanso merecido e que não devo nem posso incomodar-te, porque agora és tu que precisas de descanso, sossego e paz, que não deves ser chamada a preocupar-te com estas coisas, que na verdade são tão insignificantes. Se soubesses o que me aconteceu, hoje quando estava a ouvir as leituras das partilhas e foi dose dupla, de manhã e de tarde, senti uma tristeza infinita e não consegui reprimir as lágrimas, chorei que nem uma madalena, sei que não ias gostar de ver isso, para ti seria um sinal de fraqueza, mas foi exactamente isso que senti, uma solidão imensa, não queria estar ali, nem com o meu irmão a dividir as tuas coisas, nem com a tia Vicência e a Zétinha (que afinal está divorciada!!!) a ouvir dividir as coisas que eram do pai, não queria nada daquilo, era a vocês que eu queria, vê lá até saudades tive da vóvó Julinha, vê lá tu como eu estou!! aflita com tantas saudades. Queria dizer-te tanta coisa, dia a dia vou acumulando mais e mais, acho que não vou ser capaz de gerir tanta conversa sem ti, tenho o meu PQ, tenho as filhas, tenho até, vê lá tu, genro e candidato a genro, mas nenhum deles chega aos teus calcanhares, como a gente conversava ninguém conversa agora comigo, às vezes dou comigo a fazer de conta que te falo, mas não é boa ideia. Para esta separação é que a gente não estava preparada, nem eu e acho que tu também não, apesar de eu saber que agora estás bem, sabendo eu que não te devo tirar do teu descanso, apeteceu-me falar-te às escondidas e dizer-te que gosto muito de ti e que vivo bem, ainda que com muitas saudades, se não voltar a falar-te é porque quero respeitar o teu sossego e quero que o aproveites em pleno para ficares completamente restabelecida, uma dia vamos voltar a estar juntas.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Bicicletas

Durante muitos anos fui escrevendo em cadernos, quando começei a ter computador fui escrevendo neles, sem guardar nada, os cadernos andam por aí, os computadores foram avariando e eu fui perdendo um pouco do que escrevi, é certo que não devia ser nada importante. Na altura, nem sabia que podia copiar e guardar para prevenir problemas, agora escrevo e fica no éter? há uma palavra que define onde ficam as escritas - no ciber espaço? Não sei, mas agora não vou perdê-las, a não ser que esse espaço fique completo e alguém resolva limpá-lo e mais uma vez lá vão embora as minhas palavras. Palavras são só palavras, mas é pelas palavras que vamos quer queiramos ou não. Todos os dias sonho, e tenho dias, quer dizer, noites, em que sonho mais que outras, hoje lembro-me que o meu PQ entre outras coisas resolveu ir dar uma volta de bicicleta, tinha apenas uma bicicleta de 1 lugar e um atrelado onde levava algumas coisas que ia precisar. Olhei para ele espantada e aborrecida, se levava apenas uma bicicleta de 1 lugar não estava a pensar levar-me e isso entristecia-me. Respondeu-me que ia sózinho, porque eu não sabia andar de bicicleta; fiquei sem palavras, sem argumentos e acho que lhe perguntei: porque é que tens de ir embora, agora e de bicicleta, assim não posso ir!!! Ele tranquilamente respondeu-me que tinha chegado o momento de ir embora e apetecia-lhe muito ir de bicicleta, como eu não sabia andar, paciência, tinha que ficar. Aborrecida, acordei. Naquele momento do acordar senti apenas um certo desconforto, assim uma necessidade de lhe prestar mais atenção, de lhe dar mais carinho, não quero mesmo que vá embora de bicicleta. Nunca fui capaz de andar de bicicleta. Quando era pequena eu não tinha bicicleta, nem os meus pais achavam importante gastar dinheiro nisso, embora eu lhe explicasse que a Teresa tinha e não me emprestava para eu poder aprender. Desde essa altura que a bicicleta sempre foi para mim um entrave à socialização, haviam os meninos e meninas que sabiam andar e haviam os outros, muito menos, só me lembro de mim, que não sabiam, e às vezes para poder ir com eles eu corria ao lado das bicicletas, o que sempre me humilhou muito, até que um dia me enchi de coragem, saltei para cima da bicicleta da Teresa e andei um bom bocado, quando achava que ia muito bem, caí uma bela queda e foi uma gargalhada geral, que agora ao recordar ainda me faz arrepiar, não as esfoladelas dos joelhos, ou o ralhar da minha mãe e do meu irmão, mas o olhar de desdém dos donos das bicicletas, acho que a partir dessa data nunca mais gostei da Teresa, era da minha idade, mas muito mais feia, sem gosto nenhum para se vestir, com a mania que sabia, e que era rica e que não sei que mais, afinal só tinha a mais que eu uma bicicleta, por isso nunca foi para a minha casa brincar.
Pode parecer que não é importante ter uma bicicleta, mas é muito importante, o meu Pai quando se casou com a minha Mãe, só tinha uma bicicleta que o levava onde era preciso. Um dia foi trabalhar para a barragem do Maranhão, como não havia outro transporte ele ia de bicicleta ao Domingo e vinha no Sábado seguinte, levava tudo o que precisava e depois trazia para a minha mãe arranjar. Como o caminho era cerca de 30 km, levava ainda umas boas horas a chegar, e se chovesse ou fizesse um calor abrasador a viagem era sempre a mesma, porque era preciso trabalhar. Eu ainda não existia, sei esta história porque era uma das histórias que eles contavam com orgulho, e eu também ficava muito contente de ouvir esta e todas as outras histórias que contavam, acho que era um pouco como os filmes de agora, até já sabia as falas, mas era sempre tão bom ouvi-las e fazer de conta que era a 1ª vez. Palavras que guardamos no coração e nos fazem bem.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Rotinas

Começa por ser bom, depois passa a ser uma necessidade e depois passa a ser habitual, parece que falo de amor, mas estava apenas a falar de vir aqui escrever, depois de jantar e do passeio a pé. Sento-me no sofá rodeada do Vicente e da Carlota, os meus cães, da Sarita e da Safira, mais conhecida por preta, as minhas gatas, e do meu PQ. A televisão interessa-me cada vez menos, gosto de ver os noticiários mas assim de 2 em 2 dias, porque se for diáriamente não merece a pena repetem-se tanto que a gente acaba por saber "as falas", parece assim como os filmes que já vimos vezes sem conta, sabemos de cor as cenas todas. Hoje tive um doente que me fez lembrar a minha adolescencia; e não me contive e dei-lhe conselhos, passados estes anos todos ainda caio na asneira em dar conselhos, não é isso que ele precisa, vamos a ver se o ajudo, mesmo errando. Assim em traços largos, é um homem que se fez à vida com 17 anos de idade, e que aos 40 anos, tinha uma família normal, com um enteado e 2 filhas gémeas lindas, a mulher ainda não percebi bem o que significa para ele; para além da família construíu um pequeno império com 80 empregados e alguns sócios; havia dinheiro, casas, carros, até parecia que nada ia voltar atrás, aos tempos da miséria, e não foi fazendo contas aos gastos, descuidou-se do império? Não percebi! Só sei o que ele sentiu vontade de contar. Há cerca de 4 anos que os negócios começaram a ser mais lentos e com menos lucros, a sogra morreu, o enteado morreu, as filhas não lhe falam, ele tem os nervos virados do avesso, começou a beber, e se não bastasse tem problemas em tribunal porque era fiador dos negócios do enteado que não deixou nada escrito e estava divorciado, maior enleio não deve haver. Eu entro porque uma das gémeas está a passar-se e o pai também cada um para seu lado, e eu que posso fazer, como posso ajudar? Expliquei a este homem que a vida é uma roda, umas vezes estamos em cima outras vezes estamos em baixo, que a vida é assim, que o tempo pode tardar, mas não falha. Ele acha que este momento negro da sua vida tem a ver com alguma coisa sobrenatural, que ele até nem acreditava, mas que acha que deve haver. Tanto pior para mim, eu que em principio sou apenas uma mulher da ciencia e para a ciencia, como dou a volta? Tentei que ele entendesse que tem a seu favor, as 2 coisas mais importantes para o fazer sair deste momento: o saber feito de muitos anos de trabalho, que esse saber é só dele, e tal como no passado foi capaz de dar a volta à vida, agora com mais idade e com mais experiencia, ia ser capaz de fazê-lo novamente, a sabedoria nunca se perde, mesmo que ele se sinta perdido, é preciso parar e tentar ver onde mais ninguém vê! Depois deve sentir confiança, porque a inveja que sentia por parte das pessoas com quem se cruza só existe porque ele tem "poder e beleza", só se inveja quem é mais que nós, ninguém inveja o feio e o indigente, mais um ponto a seu favor. E por

Preguiça

Olho para o tempo e vejo a Primavera no Outono, é como se nem as plantas soubessem orientar-se nesta nossa transformção, tudo à nossa volta se transforma a uma velocidade assustadora. Eu gosto que o tempo passe devagar, gosto de levar algum tempo a pensar, a olhar, a fingir, a surpreender o meu eu interior. Não sei se já experimentaram, eu experimentei e é devastador, de tão deslumbrante até me meteu medo, não é bem medo, é "parece mentira". Já fiz várias vezes massagens de shiatsu, isto é, para ser mais precisa, já recebi muitas vezes massagens de shiatsu, mas só as massagens dadas pela Mariana eram perfeitas. Não sei porquê, mas quando ficava com ela, a minha alma transbordava de paz, e numa dessas vezes em que estava deitada de decúbito dorsal, senti por breves instantes uma forma acizentada vinda de dentro de mim, que mais ou menos a meio do meu corpo, saíu e espreitou a minha face, senti que quis ver ao vivo o que se estava a passar, e nesse preciso momento os nossos olhares encontraram-se e foi um mistério, como se o facto de nos termos visto sabíamos que não nos era permitido, aconteceu e não devia ter acontecido, e rápidamente a imagem sorridente de mim, desapareceu, e também senti essa alegria e essa sensação "já viste mais do que te era permitido", deslumbrante. Pode ser que eu tenha apenas vivido dentro da minha imaginação este experiência, muito dentro de mim foi um acontecimento verdadeiro, porque ainda agora que o recordo sinto um grande conforto no meu coração, no meu coração físico, e ao redor dele, neste espaço todo que é onde eu acho que também vive a minha alma. Estes momentos que por vezes nos é dado observar, não podem nunca ser uma questão fé, ou de crença, porque nunca li, nem nunca ninguém me disse que podia acontecer, é apenas uma interpretação minha desse momento, que me sabe bem recordar. Por isso eu gosto de parar, de ficar quieta e sossegada a preguiçar, a passar os olhos pelo jornal ou revista, ou apenas a olhar para o lume e deixar que o pensamento vaguei sem pressas ou itenerários pré destinados, sem rumo, sem norte, e às vezes quando começo a conversar com o meu PQ também é assim e é bom, sabe bem e faz bem, agora também vou preguiçar.