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quarta-feira, 11 de abril de 2012

Memórias com tempo

Hoje o dia foi pouco imaginativo, trabalhei de manhã, trabalhei à tarde, vim para casa lanchei a correr, porque queria muito ir ainda um bocadito para o quintal e, se não me despacha-se, vinha a noite e à noite, as plantas precisam de descansar. Agora, antes de jantar não ligamos a televisão, ouvimos música, cds, fica ridiculo escrito assim, mas na verdade ouvimos cds, ontem e hoje foi música brasileira. Ao som da música,baixinho, lemos, falamos, descansamos e eu também saboreio o lume, ainda apetece muito fazer lume e ficar aconchegada a olhar. Tanta coisa que preciso fazer em casa, mas o tempo que me sobra do trabalho é muito curto e, se fosse fazer só o que me apetecia, deitáva-me a descansar, porque adoro preguiçar, mas não pode ser, tenho que inventar qualquer actividade. Senti que nesta Páscoa, fizemos uma boa viagem em família, mas não cumprimos nenhum ritual e eu preciso de rituais. Podíamos combinar para as próximas Páscoas: vamos sempre passar 4 a 5 dias juntos e viajar; podíamos, mas não podemos, porque a crise não nos permite estas ideias tresloucadas, não sabemos como vamos viver no Amanhã, mas podemos definir a Páscoa como um ritual em família, mesmo que seja só juntos em casa, se todos nos sentirmos bem. Os rituais fazem-me falta, a pouco e pouco temos deixado de praticar essas festas, porque agora estou a falar de festas, temos deixado de praticar essas festas em família, e na minha memória era muito agradável quando os praticávamos na casa de meus pais. Na Páscoa obrigatóriamente o meu pai compráva, quando já não tinha na horta, compráva um borrego; a Joana não gostava, a minha mãe tirava um bocadinho especial e dizia-lhe que era "peitinho de galinha" e ela saboreava deliciada. Havia amêndoas, procissão e colchas à janela; havia luminárias à porta, proibição de comer carne antes do Domingo, podíamos comer tudo menos qualquer tipo de carne, às vezes a gente prevaricava, mas às escondidas da minha avó Maria Antónia, quando ela ainda mandáva muito na casa de meus pais, que afinal era a dela. Tudo parece um pouco baralhado, mas hoje estou assim, as memórias estão encadeadas como cerejas, puxo uma e logo chegam dúzias delas, mas persiste a memória do Domingo de Páscoa como a memória predominante, missa de domingo, amêndoas, a benção avô, e o almoço reforçado, sempre com batatas fritas em azeite, com um sabor inconfundível; quando ficámos abastados comprámos um fogão a gaz e as batatas começaram a ser fritas em óleo porque era melhor para a saúde, palermices; e por último, mas não menos importante, os fatos eram os melhores, eu gostava sempre de estrear qualquer coisa nova, mas acho que na Páscoa não tive muitos novos, era mais na altura da Feira de Cabeção em fins de Agosto / Setembro; tive um ano que estriei 3 vestidos novos, fantástico, na Páscoa não me lembro assim de roupa importante; este ano em Barcelona repeti a proeza, também fui muito feliz, por tudo, e por ter 2 vestidinhos novos e uma saia, maravilha. Vamos combinar que na próxima Páscoa vamos cumprir o ritual de estarmos uns dias juntos, sem trabalho, sem tarefas, sem stress, com colchas à janela, borrego, "peitinho de galinha" e luminárias à porta.

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