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domingo, 13 de novembro de 2011

As nossas estradas

Quando começo a escrever, nunca sei muito bem por onde vou, é assim como se fosse o momento, único no dia em que me permito sair da "minha vereda". Não sei se toda a gente tem uma estradinha que segue no seu dia a dia, eu tenho, e essa estradinha vem desde a minha infância, os seus limites foram-me dados pelos meus pais, avós, irmão e as madrinhas, sempre presentes, mas desde os meus 15 anos de idade eu afastei e começaram a estar cada vez mais ausentes. No entanto, marcaram muito a minha adolescência e mostraram-me outro mundo paralelo ao que eu estava habituada a viver, um mundo em que eu não estava no centro, e contráriamente ao que se possa pensar, deslumbrou-me, um sentimento igual ao que sentimos quando encaramos uma situação nova e bonita, cheia de requinte. Se eu tivesse certezas, que não tenho, diria que esse mundo do luxo e da riqueza??? eu já conhecia bem, estava era adormecido em mim, foi um voltar a casa, embora a casa delas não fosse essa casa por onde eu já tinha vivido, mas adiante. A minha estrada foi construída com muitas balizas: não vás, não faças, não te rias às gargalhadas, não limpes a boca com as mãos tens o guardanapo, a escolha da roupa, a forma como andas, a forma como atendes o telefone, comporta-te e fica calada, e um não mais acabar de regras e etiquetas que durante muito tempo e ainda agora me seduzem e me prendem e com as quais meço os outros, às vezes um desespero, outras vezes um motivo idiota para rir. Lembro-me da roupa e muitas vezes sonho com armários cheios de vestidos com rendas e folhos, muito femininos, compridos, e toda a panóplia de adereços que precisaria, quando o que hoje mais me agrada é andar descalça no quintal a tratar das flores e a regar, a brincar com as gatas e os cães. Voltando às minhas recordações de adolescência, eu vestia-me muito à moda e era motivo de inveja da parte dos meus amigos da escola, melhor dizendo, motivo de olhares diferentes por parte dos amigos e um pouco de inveja por parte das amigas, a roupa era sempre escolhida pela madrinha, a mãe e a filha, na verdade davam as duas a sentença e eu e a minha mãe obedecíamos contentes as duas. Certa vez, no Outono resolvemos mandar fazer um casaco cor de laranja, de malha, cor que eu achei linda e que a minha mãe concordou. Fizemos a compra, mandámos fazer à máquina e no dia em que o estriei fui às madrinhas; não correu bem, porque a cor não ficava bem na minha cor de pele, porque o feito era muito tradicional, enfim dinheiro mal gasto!!!! A tristeza que eu senti nesse momento não tem explicação, senti-me estúpida, achei que a minha mãe não sabia nada de roupa, não tinha o gosto igual ao que me habituou quando eu era pequenina, que eu ia ser sempre uma miúda necessitada de ajuda, e que na verdade o casaco não era tão bonito como eu o tinha achado, na verdade era até bastante feio, conclusão, só fiquei tranquila quando a minha mãe me deixou dá-lo,mas nessa altura também percebi que as madrinhas é que para além de terem muito gosto, não estavam dispostas a achar bonito nada que não partisse delas a ideia, a escolha e o feitio, e senti-me presa desse momento, senti tristeza, mas também um mal estar que não consegui entender, como se me estivessem a pôr um pano na cabeça e a permitir a minha respiração para um lado, nada mais me era permitido; ainda hoje com 55 anos, 2 filhas lindas um genro amoroso e um pretendente a genro que se esforça, 2 gatas e 2 cães, e o meu PQ, ainda hoje, preciso da aprovação do marido, pelo menos. É certo que tenho dias em que saio de casa de manhã, sózinha, vou a uma loja e calmamente compro uma roupinha que depois tem a aprovação de toda a gente, e mais importante ainda, tem a minha aprovação interior, sinto-me mesmo bem, mas só nalguns dias, como me conheço cada vez melhor só compro roupa nesses dias. E pensar que durante muito tempo sofri com essa dificuldade, a falta de gosto para encontrar roupa que desse bem com a cor da minha pele e que sobretudo me favorece-se e por último e não menos importante, estar sempre à frente na moda, é por isso que gosto de comprar as revistas que via em casa das madrinhas, não lhe fico atrás, também conheço a moda e cada vez me conheço melhor, e trato a moda por tu, e em cada dia que passa a moda sou eu que a faço, misturando cores e feitios como me agrada, sou eu que cada vez mais defino melhor a minha estradinha, mas nunca a perco, preciso cada vez mais dela, será que levo toda a família para a minha estrada, ou respeito-os e deixo que cada um escolha a sua? Que confusão.

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