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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

os filmes e as falas

Começa por ser bom, depois passa a ser uma necessidade e depois passa a ser habitual, parece que falo de amor, mas estava apenas a falar de vir aqui escrever, depois de jantar e do passeio a pé. Sento-me no sofá rodeada do Vicente e da Carlota, os meus cães, da Sarita e da Safira, mais conhecida por preta, as minhas gatas, e do meu PQ. A televisão interessa-me cada vez menos, gosto de ver os noticiários mas assim de 2 em 2 dias, porque se for diariamente não merece a pena, repetem-se tanto que a gente acaba por saber "as falas", parece assim como os filmes que já vimos vezes sem conta, sabemos de cor as cenas todas. Hoje tive um doente que me fez lembrar a minha adolescência; e não me contive e dei-lhe conselhos, passados estes anos todos ainda caio na asneira em dar conselhos, não é isso que ele precisa, vamos a ver se o ajudo, mesmo errando. Assim em traços largos, é um homem que se fez à vida com 17 anos de idade, e que aos 40 anos, tinha uma família normal, com um enteado e 2 filhas gémeas lindas, a mulher ainda não percebi bem o que significa para ele; para além da família construiu um pequeno império com 80 empregados e alguns sócios; havia dinheiro, casas, carros, até parecia que nada ia voltar atrás, aos tempos da miséria, e não foi fazendo contas aos gastos, descuidou-se do império? Não percebi! Só sei o que ele sentiu vontade de contar. Há cerca de 4 anos que os negócios começaram a ser mais lentos e com menos lucros, a sogra morreu, o enteado morreu, as filhas não lhe falam, ele tem os nervos virados do avesso, começou a beber, e se não bastasse tem problemas em tribunal porque era fiador dos negócios do enteado que não deixou nada escrito e estava divorciado, maior enleio não deve haver. Eu entro porque uma das gémeas está a passar-se e o pai também, cada um para seu lado, e eu que posso fazer, como posso ajudar? Expliquei a este homem que a vida é uma roda, umas vezes estamos em cima outras vezes estamos em baixo, que a vida é assim, que o tempo pode tardar, mas não falha. Ele acha que este momento negro da sua vida tem a ver com alguma coisa sobrenatural, que ele até nem acreditava, mas que acha que deve haver. Tanto pior para mim, eu que em princípio sou apenas uma mulher da ciência e para a ciência, como dou a volta? Tentei que ele entendesse que tem a seu favor, as 2 coisas mais importantes para o fazer sair deste momento: o saber feito de muitos anos de trabalho, que esse saber é só dele, e tal como no passado foi capaz de dar a volta à vida, agora com mais idade e com mais experiencia, ia ser capaz de fazê-lo novamente, a sabedoria nunca se perde, mesmo que ele se sinta perdido, é preciso parar e tentar ver onde mais ninguém vê! Depois deve sentir confiança, porque a inveja que sentia por parte das pessoas com quem se cruzava, só existe porque ele tem "poder e beleza", só se inveja quem é mais que nós, ninguém inveja o feio e o indigente, mais um ponto a seu favor. E por fim, mas mais importante que tudo, a família, tem uma família onde pode e deve apoiar-se, e por isso não precisa carregar nas costas com todas as responsabilidades, pode e deve falar do que o preocupa, para de certo modo ensinar as filhas a serem alguém, a saberem também elas que podem ajudar a encontrar uma solução e que não serão mais um problema, e doloroso como está a ser. E o homem diz-me que isso é muito difícil, as filhas, sobretudo a que conheço fecha-se muito, não gosta de falar. E tentei explicar-lhe que estava a enterrar a cabeça na areia, porque não tinha sido capaz de acompanhar o crescimento das miúdas e agora que estavam maiozinhas achava que elas não se interessavam por ele. Falei, quando devia ouvi-lo, falei e arranjei-lhe hipóteses de soluções quando devia apenas ouvi-lo, e acabei por confessar-lhe que não sabia como poderia e devia ajudá-lo mas que ia falar com o meu colega da psiquiatria e depois conversaríamos; bonito serviço, mandei-o embora com um antidepressivo e um indutor do sono; bonito serviço; mas fiquei desorientada com tanta coisa a correr mal para um homem só, e já tinha conversado 2 x com a filha e percebi a raiva que ela tem contra ele e ao mesmo tempo a necessidade que ela tem de colo e ele a necessidade que tem dela, a miúda tem 13 anos, tudo muito dificil, e eu com 15 minutos para cada consulta; no fundo no fundo, acho que não me portei muito mal, vamos a ver o que diz o Bernardo; o tempo tarda mas não falta? E desta vez eu não conhecia as falas, apesar de já ter viso este filme.

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