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terça-feira, 22 de novembro de 2011

Injecções

Hoje sinto-me muito cansada, muito fraquinha. Quando era bem pequena, antes de entrar para a escola primária era muito magrinha, só pele e osso, brincava o dia todo, recordo-me que às vezes comia à pressa para ir para a brincadeira, mas sem dar muito nas vistas, senão era certo e sabido que havia lição de moral, o meu pai ralhava com a minha mãe porque eu não estava sossegada??? Porque não ralhava directamente comigo??? Bom, mas como era muito magrinha, e como o Padrinho Martins era veterinário, a minha madrinha Toninha (nomes há muitos, ninguém vai saber quem é, e se se souber, paciência) resolveu aprender a dar injecções; não sei bem porquê mas a cobaia fui eu. De modo que o Padrinho receitou as vitaminas, ela dáva-me a injecção diariamente para ver se eu melhorava, e eu achava bem, doía que se fartava, mas como era a minha madrinha a dar-me estava tudo bem, logo nessa altura devia ter-me apercebido que eu não era muito "boa da cabeça". A seringa e a agulha eram do médico da Miseridórdia, o meu vizinho, Dr.º Guedes, mas ele acho que nem sequer sabia, quem fervia a seringa e a agulha era a minha avó Maria Antónia num tachinho de esmalte mesmo próprio, mas quem as trazia era a que fazia de enfermeira, a ...Bia??? estou a lembrar-me lindamente da cara e do corpo, mas o nome, não sei! Aquilo era uma festa, primeiro ferviam-se os instrumentos, agulha grande e gorda, seringa enorme de vidro, o líquido uma boa quantidade e a habilidade da aprendiz não sei, na verdade não guardo lembrança da dor, se calhar estava tão contente que nem tinha dor! Maria Custódia, parece que era o nome da ajudante, mas tanto faz, o meu rabo devia ser bem pequeno, a seringa enorme, e nem um ai. Engordei? Não, fui crescendo sempre na mesma, magrinha, mas aos nove anos, quando fui menstruada comecei a ter umas pernas mais gordinhas e um corpinho diferente, e as pessoas perguntavam à minha mãe:
- Joana, então a Maria Celestina já é menstruada?
- Já já minha prima, ou ...

Naquela altura, Cabeção em peso tinha de certa forma uma ligação familiar, era quase tudo da mesma família. Mas porque é que não falavam directamente comigo?
Sinto-me tão fraquinha, não estou magrinha, mas talvez me fizesse bem levar uma dúziazinha de injecções, mas dadas pela madrinha.
Agora ninguém pergunta nada, sei que já não estou pele e osso, mas sinto-me tão fraquinha, a precisar de tanto mimo, não me importava de ser eu mesmo a responder:
-Já já minha prima, ou...

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